(imagem daqui)
O acto fundador da República consistiu em dois crimes de sangue
impunemente perpetrados contra as pessoas dos mais altos
representantes do Estado português.
Muito antes do fatal desenlace que mergulharia Portugal no caos, numa
escusada série de violências, abusos e na total e reconhecida inépcia
no exercício do governo deste país, os republicanos souberam
aproveitar o regime de liberdades públicas existentes na nossa terra,
liberdades essas garantidas pela Carta Constitucional e pela
instituição que superiormente representava o Estado: a Coroa
Se numa fase inicial desta República brutalmente implantada, os seus
responsáveis prodigamente se vangloriaram do Regicídio,
inadvertidamente também deram a conhecer ao mundo quem afinal eram os
novos senhores do poder em Portugal. Os desastres que os acontecimentos
de 1908 e 1910 despoletaram na nossa sociedade, foram por si
suficientes para uma decidida e bastante oficial política de forçado
esquecimento do acto primordial da fundação do regime de 5 de outubro
de 1910. O Regicídio foi deliberadamente apagado da memória, o seu
Processo Legal escandalosamente desapareceu, mercê da intervenção dos
detentores do poder ilegitimamente tomado pela força dos tiros da
artilharia, assassinatos indiscriminados, repressão sindical e da
imprensa. Durante quatro gerações, os donos das três Repúblicas
ingloriamente tentaram apontar outros responsáveis por um ato do qual
eles e apenas eles foram os beneficiários morais e materiais.
Com o assassinato do Rei D. Carlos e do Príncipe D. Luís Filipe, os
republicanos desferiram o penúltimo golpe que despojaria Portugal da
sua normal evolução para uma sociedade ainda mais livre e progressiva.
Apesar dos rotineiros contratempos políticos propiciados por um regime
fortemente parlamentar já bem enraizado, o nosso país beneficiou de
décadas de progresso material e intelectual. Durante a Monarquia
Constitucional, Portugal integrou-se plenamente naquilo a que à época
era a Europa do liberalismo oitocentista. Os avanços materiais foram
evidentes e sem paralelo na nossa história, o país modernizou as suas
infra-estruturas e integrou-se no comércio mundial. O período
monárquico constitucional foi um alfobre de grandes nomes da nossa
cultura e também garantiu a nossa futura presença em todo o mundo,
participando Portugal na delimitação de esferas de influência que
muitas décadas mais tarde dariam origem à Comunidade de Países de
Língua Portuguesa.
O Rei D. Carlos foi um dos maiores entre os grandes da nossa História.
Culto e aberto àquilo que a seu tempo eram as novidades da ciência e
das artes, mereceu o respeito político e pessoal dos seus
contemporâneos estrangeiros, enquanto em Portugal enfrentava só e
indefeso, as contingências impostas pelo próprio regime de liberdades
que não o soube proteger de afrontas, esmagadoras calúnias e na fase
final do seu reinado, da conspiração subversiva que não apenas fez
ilegalmente tombar o trono, como também irremediavelmente ditaria o
catastrófico século XX que o povo português resignadamente sofreu.
Quiseram os assassinos abater o monarca que por sinal, era um homem
bom e generoso. Procurando eliminar toda a Família Real, julgavam poder
obliterar oito séculos de uma história ininterrupta. Não o
conseguiram e cento e cinco anos decorridos após o crime que de forma
indelével enodoa o regime a que ainda hoje todos nos submetemos, já
se adivinha o total alijar da canga imposta pelo silêncio que viu na
ignorância das gentes, a suprema garantia de um poder prepotente e sem
peias.
O ajuste de contas chegará, já não existe qualquer dúvida. Não virá de
um outro acto violento que imponha a vontade de uma minoria, pois
esse acerto de contas com a História já começou. D. Carlos e os seus
encontram-se hoje perfeitamente reabilitados. O estudo que propicia o
conhecimento da verdade já não conhece obstáculos e são precisamente os
mais jovens quem decidida e porfiadamente tem quebrado as grilhetas do
preconceito, da mentira e da despudorada prepotência que tem
humilhado e menorizado Portugal.
Uma vez mais, o Regicídio não foi esquecido. Jamais o será.
in Estado Sentido - post de Nuno Castelo-Branco
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