sexta-feira, maio 30, 2014

Bakunin, o teórico do anarquismo, nasceu há dois séculos

Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (Premukhimo, 30 de maio de 1814 - Berna, 1 de julho de 1876), também aportuguesado de Bakunine ou Bakúnine, foi um teórico político russo, um dos principais expoentes do anarquismo em meados do século XIX.
Bakunin é lembrado como uma das maiores figuras da história do anarquismo e um oponente do marxismo no seu caráter autoritário, especialmente das ideias de Marx da Ditadura do Proletariado. Ele continua a ser uma referência presente entre os anarquistas da contemporaneidade, entre estes, nomes como Noam Chomsky.
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Ideais e reflexões
Em sua perspectiva política, Bakunin rejeitou todos os sistemas de governo fosse qual fosse o seu formato. Questionou qualquer governabilidade baseada na escolha divina, bem como toda forma de autoridade externa, que fizesse prevalecer sobre as demais vontades, a vontade de um soberano, ou de elites cuja ascensão possa ser favorecida pela implementação de um sufrágio universal. Em Deus e o Estado (Dieu et l'Etat), publicado postumamente em 1882, ele escreveu:
A liberdade do homem consiste tão somente nisso, de que ele obedeça as leis da natureza as quais ele por si próprio reconhece enquanto tais, e não porque elas foram impostas externamente sobre ele por qualquer vontade exterior, humana ou divina, coletiva ou individual.
De forma similar Bakunin rejeitou a noção de quaisquer posições ou classes privilegiadas, desde que:
esta é a peculiaridade do privilégio e de qualquer posição privilegiada matar o intelecto e o coração do homem. O homem privilegiado, seja ele privilegiado politicamente ou economicamente, é um homem depravado em intelecto e coração.
O entendimento político de Bakunin estava baseado em uma série de conceitos inter-relacionados: (1) liberdade; (2) socialismo; (3) federalismo; (4) ateísmo; e (5) materialismo. Ele também desenvolveu uma crítica ao marxismo e alguns consideram presciente, prevendo que se os marxistas tivessem êxito em ocupar o poder, eles iriam criar uma ditadura de partido "em tudo mais perigosa porque ela se apresentaria como uma falsa expressão da vontade do povo."
Conceito de liberdade de Bakunin Por "liberdade", Bakunin não se referia a um ideal abstrato, mas a uma realidade concreta baseada na liberdade simétrica de outros. Liberdade consiste no "desenvolvimento pleno de todas as faculdades e poderes de cada ser humano, pela educação, pelo treinamento científico, e pela prosperidade material." Tal concepção de liberdade é "eminentemente social, porque só pode ser concretizada em sociedade," não em isolamento. Em um sentido negativo, liberdade é "a revolta do indivíduo contra todo tipo de autoridade, divina, coletiva ou individual."
Anarquismo coletivista A forma de socialismo tal qual a concebia Bakunin era conhecida como "anarquismo coletivista", condição na qual os trabalhadores poderiam administrar diretamente os meios de produção através de suas próprias associações produtivas. Assim haveria "modos igualitários de subsistência, fomento, educação e oportunidade para cada criança, menino ou menina, até a maturidade, e recursos e infraestrutura análoga na idade adulta para dar forma ao seu próprio bem estar através do próprio trabalho."
Federalismo Por federalismo Bakunin entendia a organização da sociedade "da base até o topo - da circunferência ao centro - de acordo com os princípios de livre associação e federação." Consequentemente, a sociedade poderia ser organizada "com base na liberdade absoluta dos indivíduos, das associações produtivas, e das comunas," com "todos os indivíduos, todas as associações, todas as comunas, todas as regiões, todas nações" tendo "o direito absoluto da auto-determinação, de se associar ou não, aliar-se com quem quer que desejassem."
Ateísmo 
Bakunin defendia que "a ideia de Deus implicava na abdicação da razão humana e justiça; esta é a mais decisiva negação da liberdade humana, e necessariamente termina na escravidão da humanidade, na teoria e na prática." Consequentemente, Bakunin invertia o famoso aforismo de Voltaire de que se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo, afirmando que "se Deus realmente existisse, seria necessário aboli-lo."

Materialismo
Bakunin refutava a ideia religiosa de livre-arbítrio e defendia uma explicação material dos fenómenos naturais: "as manifestações de vida orgânica, propriedades químicas e reações, eletricidade, luz, calor e atração natural de corpos físicos, constitui da nossa perspectiva, tantas formas diferentes, mas não menos variantes interdependentes da totalidade de elementos reais daquilo que chamamos de matéria" (Escritos Selecionados, pp. 219). A "missão da ciência é, por observação das relações gerais compreender os fatos verídicos, e estabelecer as leis gerais inerentes ao desenvolvimento de um fenómeno no mundo físico e social."
Bakunin, no entanto, rejeitava a noção de "socialismo científico", escrevendo em Deus e o Estado que um "corpo científico, tão logo a ele seja confiado o governo da sociedade, acabaria rapidamente por dedicar-se, não mais para a ciência, mas se envolveria em outro assunto… em sua eterna perpetuação, tomando a sociedade que nele confiou aos seus cuidados, tornando cada vez mais estúpida e, consequentemente, mais necessitada de seu governo e direção.
  
Críticas ao Marxismo
A disputa entre Mikhail Bakunin e Karl Marx realçaram as diferenças entre o anarquismo e o marxismo. Os argumentos de Bakunin - que se contrapunham aos ideais defendidos por um número considerável de marxistas - de que nem todas as revoluções precisam necessariamente ser violentas. Ele também rejeitou fortemente o conceito marxista de "ditadura do proletariado", que os seguidores de Marx na atualidade, traduzem em termos modernos por "democracia dos trabalhadores", mas que mantém o poder concentrado no estado até a futura transição ao comunismo. Bakunin, "que havia abandonado ideais de ditadura revolucionária", insistia que revoluções deveriam ser lideradas pelo povo diretamente enquanto qualquer "elite iluminada" só deveria exercer influência discreta... jamais impondo-se na forma de uma ditadura a outrem... e nunca se aproveitando de qualquer direitos oficiais, em termos de benefício ou significância. Bakunin defendia que o Estado deveria ser imediatamente abolido porque todas as formas de governo eventualmente levariam à opressão.
Eles [os marxistas] defendem que nada além de uma ditadura - a ditadura deles, é claro - pode criar o desejo das pessoas, enquanto nossa resposta para isso é: Nenhuma ditadura pode ter qualquer outro objetivo para além de sua auto-perpetuação, ela pode apenas levar à escravidão o povo que tolerá-la; a liberdade só pode ser criada através da liberdade, isto é, por uma rebelião universal de parte das pessoas e organização livre das multidões de trabalhadores de baixo para cima.
Mikhail Bakunin, Estadismo e Anarquismo
Enquanto os anarquistas sociais e os marxistas compartilham o mesmo objetivo final, a criação de uma sociedade livre e igualitária, sem classes sociais ou estado, eles discordam amplamente em como alcançar este objetivo. Anarquistas acreditam que uma sociedade sem classes ou estado deveria ser estabelecida através da ação direta das massas em organizações e espaços não-hierárquicos, culminando na revolução social, e refutam qualquer estágio intermediário como uma ditadura do proletariado, argumentando que desde seu início tal ditadura teria como objetivo sua auto-perpetuação. Para Bakunin, esta é a contradição fundamental dos marxistas,
anarquismo ou liberdade é a meta, enquanto o estado e a ditadura é o meio, então logo, com o objetivo de libertar as massas, elas devem antes serem escravizadas.
Apesar da oposição veemente à proposta marxista de revolução autoritária, Bakunin sempre conferiu valor a análise de Marx acerca do capitalismo. Este considerava as análises económicas apresentadas por Marx extremamente importantes, tanto que fora o próprio Bakunin o tradutor do O Capital para o idioma russo. Já Marx, quando escreveu sobre a insurreição de Dresden de 1848 afirmou que "no refugiado russo Michael Bakunin eles (os rebeldes de Dresden) encontraram um líder capaz e de cabeça fresca." Marx também escreveria em uma de suas para Engels sobre o encontro com Bakunin em 1864 depois de sua fuga da Sibéria.
No geral ele é um dos poucos, penso eu, que não retrocedeu após estes 16 anos, pelo contrário, avançou ainda mais."
Karl Marx
Mikhail Bakunin foi talvez o primeiro teórico da "nova classe", de intelectuais e administradores componentes de um aparato burocrático estatal. Bakunin afirmava que o "estado sempre foi e sempre será património de alguma classe privilegiada: uma classe sacerdotal, uma classe aristocrática, uma classe burguesa. E finalmente, quando todas as outras classes terem se exaurido, o estado então se tornará o património da classe burocrática e então cairá - ou, se você preferir, se erguerá - a posição de uma máquina."

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