O Vale do Côa
Nas montanhas do nordeste de Portugal, região de extensos olivais, onde no início da primavera (fevereiro e março) florescem amendoeiras e no outono (setembro e outubro) as vinhas se cobrem de folhas cor de fogo, corre para o rio Douro, um afluente cujo nome se tornou universal: é o Côa, que encerra ao longo do vale um expressivo ciclo artístico. Milénio após milénio, as rochas de xisto que delimitam o seu leito foram-se convertendo em painéis de arte, com milhares de gravuras legadas pelo impulso criador dos nossos antepassados.
Remontando ao Paleolítico Superior, estes "painéis" ao ar livre e os “habitat” identificados, são testemunhos do povoamento, de uma vitalidade e de uma mestria de concepção e traços que trouxeram até nós 25.000 anos de tempo. Esta longa galeria de arte dá-nos registos do período Neolítico e da Idade do Ferro, transpondo depois de um só fôlego dois mil anos de História para firmar na Época Moderna representações religiosas, nomes e datas até há poucas dezenas de anos.
Os motivos, na sua quase totalidade gravados, apresentam temáticas, técnicas e convencionalismos comuns às obras contemporâneas da Europa Ocidental que o séc. XIX haveria de descobrir em ambientes fechados nas grutas franco-cantábricas e a viragem do século viria a apelidar de grande arte. É no séc. XX que a arte do Côa surge ao ar livre, onde um jogo diário e sazonal de claridade e sombras a expõe e esconde numa fantástica sequência de revelação e ocultamento.
Os últimos dezassete quilómetros do rio Côa, com centenas de gravuras do Paleolítico nas suas margens e que se estendem até ao Douro, viriam a pertencer ao primeiro parque arqueológico português, incluídas desde 2 de dezembro de 1998 na lista dos monumentos que a UNESCO considera Património da Humanidade.
Todo este magnífico conjunto ao ar livre, que põe de parte o velho mito da arte rupestre encerrada em cavernas, pode ser apreciado na exposição do Museu, através de originais de arte móvel, réplicas de “painéis” e informação interactiva que utiliza as modernas tecnologias digitais e também em visitas organizadas ao vale com guias especializados (mediante reserva).
Na região podem ainda ser visitadas quintas produtoras dos vinhos do Douro e Porto que os comercializam e, em pleno Parque Arqueológico, a Quinta da Ervamoira recebe visitantes e integra o Museu da Quinta, que retrata a região, aspectos ambientais e ocupação humana, com particular destaque para a produção do vinho e da vinha, uma das riquezas desta região de Portugal.
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