Aproxima-se, a passos largos, a data em que milhares de alunos de 4º ano (que, antigamente, se chamava 4ª Classe...) e do 6º Ano irão fazer uma espécie de exame, nas áreas de Matemática e Língua Portuguesa.
Dito de outra forma, os alunos vão resolver umas perguntas, numa intitulada
Prova de Aferição, que não contará,
em nada, para a sua avaliação mas que, provavelmente,
servirá para avaliar os professores num futuro próximo -
vide este post d'
A Educação do meu Umbigo, intitulado
O Argumento Decisivo.
Eu, que até sou apoiante da realização de verdadeiros exames no final de cada Ciclo, acho esta fantochada deplorável, até porque, para que os alunos se esforcem, é necessário que isto sirva para alguma coisa (e, não servindo para a avaliação dos alunos e, simultaneamente, para depois avaliar os professores, não tem significado algum...).
Depois, para disfarçar a eventual má prestação dos alunos (o que fica mal nas Tabelas Comparativas dos países...) há sempre hipótese de
quem manda pôr cá fora aberrações do tipo que o Blog
A Educação do meu Umbigo descreveu perfeitamente no post
Noves Fora Nada... Como diz nesse
post o Paulo Guinote, "Basta, por exemplo, aconselhar que não se descontem na cotação certos erros. Aliás basta confirmarem com as
indicações dadas aos correctores da provas de aferição de Matemática de 9º ano realizadas em 2004 (o último ano em que se realizaram) e tudo aquilo que então não se deveria considerar passível de penalização." Mas, depois da celebração dos 90 anos do 13 de Maio, os milagres estão na moda - venham eles...
No caso do concelho em que resido actualmente (Leiria) dá-se ainda o caso de, milagre da planificação e da sabedoria, terem conseguido marcar um destes exames na data do Feriado Municipal de Leiria (22 de Maio, para quem não sabe...) com o que isso implica em termos de logística (convocar funcionários e professores, faltas de alunos que fazem a ponte, transportes escolares, refeições e cantinas, problemas familiares, entre outros...) . Imaginem que estes exames eram marcados no dia 13 de Junho (Dia de Santo António), 24 de Junho (Dia de S. João) ou 4 de Julho (Dia da Rainha Santa Isabel) - o que será que as pessoas de Coimbra, Porto ou Lisboa (e muitos outros munícipios...) diriam?
Mas, para mim, para além das trapalhadas atrás referidas, o que me choca ainda mais são as normas do
Manual do Aplicador (que merecem uma cuidadosa consulta,
porque só lendo é que se acredita...). A forma detalhada como é imposto o
modus operandi deste
arremedo de Exame (que cai no rídiculo de dizer, quase minuto a minuto, o que fazer, e refere,
ipsis verbis, o que o professor tem de dizer em cada momento...!) é um manual do entendimento que o Ministério da Educação tem dos Professores portugueses (que são tratados como
robots acéfalos...) e dos alunos (que merecem um tratamento de deficientes profundos...).
A título de exemplo, cite-se o que ocorrerá no
Pseudo-Exame de Matemática (que se inicia às 10.00 horas...) a partir das dez horas e dez minutos de 24.05.2007, conforme está escrito no atrás referido Manual (textos a ler em
bold/negrito):
ATENÇÃO
A partir deste momento não pode ler nada da prova, nem pode dar qualquer explicação aos alunos.
• Desloque-se pela sala, com frequência. Nessas deslocações:
− certifique-se de que todos os alunos têm em cima da mesa apenas o material necessário à resolução da prova; nas aplicações do 2.º Ciclo os alunos não podem utilizar transferidor;
− verifique se todos os alunos preencheram correctamente os cabeçalhos da capa daprova e confira se o nome de cada um coincide com o da pauta de chamada. Nas aplicações do 2.º Ciclo deve ainda conferir a identidade do aluno face ao seudocumento de identificação;
− rubrique o enunciado no local reservado para o efeito.
• Leia em voz alta, ao fim de:
− 30 minutos – prova do 1.º Ciclo;
− 35 minutos – prova do 2.º Ciclo.
Ainda têm 15 minutos. Quando acabarem de responder a todas as questões, devem aproveitar o tempo que sobrar para lerem com muita atenção as vossas respostas, verem se estão correctas e se não se esqueceram de responder a alguma questão.
• Informe, quando tiverem passado:
− 45 minutos – prova do 1.º Ciclo;
− 50 minutos – prova do 2.º Ciclo.
Acabou o tempo. Não podem escrever mais nada. Agora vão ter o intervalo. Estejam à porta da sala às 11 horas e 20 minutos em ponto. Não se esqueçam. Podem sair.
PS - E o resto é tão ou mais ridículo do que o atrás citado (note-se que o Exame tem intervalo e os alunos têm acesso à totalidade das questões na primeira parte...). Cá vamos, cantando e rindo...