Fósseis encontrados na Austrália antecipam registo de vida animal
Modelo virtual da esponja
O frio tomava conta do planeta há 650 milhões de anos, mas a vida animal já era suficientemente abundante para ficar registada nas rochas. Por sorte, uma equipa de geólogos investigava o clima desta época em rochas no Sul da Austrália, quando tropeçou em formas gravadas que poderão ter sido feitas pelas mais antigas esponjas.
“Reparámos em formas repetidas que encontrávamos [nas rochas] – formas em v, anéis, canais perfurados", explicou Adam Maloof em comunicado, da Universidade de Princeton, em New Jersey, nos Estados Unidos. Segundo o investigador, a equipa pensou inicialmente que eram apenas fenómenos geológicos. "Durante o segundo ano, apercebemo-nos que tínhamos tropeçado nalgum tipo de organismo, e decidimos analisar os fósseis.” Os resultados foram publicados agora na revista científica Nature Geoscience.
Há 650 milhões de anos a Terra vivia um dos períodos mais frios da sua história. Segundo muitos autores, o clima glaciar fez com que todo o planeta ficasse coberto por gelo pelo menos duas vezes, em alturas diferentes. Há 635 milhões de anos as condições começaram a melhorar, mas durante muito tempo a vida animal continuou a ser muito escassa.
Só cerca de cem milhões de anos depois é que apareceu a maioria dos grupos animais que hoje se conhecem, um fenómeno que os cientistas chamam de explosão do Câmbrico. O fóssil de animal mais antigo que já se encontrou tem cerca de 555 milhões de anos e é anterior a esta explosão. Pensa-se que pertencia a um ser de corpo mole e os cientistas englobaram-no nos moluscos, o grupo onde estão animais como as amêijoas ou os polvos.
Até agora, a esponja mais antiga de que há registo tinha apenas 520 milhões de anos. Estes seres marítimos são filtradores de água e estão na sua forma adulta completamente imóveis. Externamente têm uma parede com espículas para protecção e internamente têm uma camada de células que retira o alimento da água. São os animais menos complexos que se conhece e através do relógio molecular tinha-se estimado que o aparecimento deste grupo seria anterior ao registo fóssil que existia.
A descoberta da equipa de Princeton vai de encontro a esta estimativa. Os cientistas não associaram imediatamente as marcas às esponjas. Primeiro, utilizaram tecnologias digitais para reconstruir a forma do animal. O modelo tridimensional que resultou é parecido com as esponjas. O tamanho destes antigos seres marinhos variava entre milímetros e centímetros e tinha pequenos canais que poderiam servir para a água passar.