Capa do jornal "L'Aurore" de 13 de janeiro de 1898, com a carta de Zola sobre o caso Dreyfus
J'accuse (em português Eu acuso) é o título do artigo redigido por Émile Zola quando do caso Dreyfus e publicado no jornal L'Aurore do 13 de janeiro de 1898 sob a forma de uma carta ao presidente da República Francesa, Félix Faure. Zola inspirou-se num dossier fornecido em 1896 pelo escritor Bernard Lazare.
Este artigo é publicado três dias após Esterhazy ter sido inocentado pelo Conselho de Guerra (10 de janeiro), o que parece acabar com toda esperança dos que contavam com uma revisão do processo que condenara Dreyfus. Neste artigo, Zola ataca nominalmente os generais e outros oficiais responsáveis do erro judicial
que levou ao processo e à condenação, os especialistas em grafologia
culpados de « relatórios mentirosos e fraudulentos. » Ele ainda acusa o
exército, culpado de uma campanha de imprensa mentirosa, bem como os
dois Conselhos de Guerra: um tendo condenado Dreyfus baseado em uma peça
mantida em segredo, enquanto o segundo inocentou sabidamente um
culpado. Mas, acima de tudo, ele proclama desde o início a inocência de
Dreyfus :
« Mon devoir est de parler, je ne veux pas être complice. Mes
nuits seraient hantées par le spectre de l'innocent qui expie là-bas,
dans la plus affreuse des tortures, un crime qu'il n'a pas commis. »
- Meu dever é de falar, não quero ser cúmplice. Minhas noites seriam atormentadas pelo espectro do inocente que paga, na mais horrível das torturas, por um crime que ele não cometeu.
O artigo faz a manchete do diário, cujos 300 000 exemplares esgotam-se
em poucas horas. A emoção é forte, ocasionando um movimento da opinião
pública. Vários intelectuais assinam uma petição em favor da revisão do
processo, publicada ela também pelo L'Aurore. Entre eles, Anatole France, Georges Courteline, Octave Mirbeau ou Claude Monet, as assinaturas tendo sido recolhidas por estudantes ou jovens escritores como Marcel Proust. Zola recebe diversas mensagens de apoio, mas também cartas injuriosas e ameaças de caráter anti-semita ou xenófobo (o pai de Zola era italiano). O verdadeiro caso Dreyfus, aquele que vai inflamar as multidões durante vários anos, acaba de nascer.
Em conclusão do artigo, Zola esperava um processo em um tribunal
criminal a fim de fazer surgir a verdade. Ele será julgado diversas
vezes, sendo que o resultado final será uma condenação a 1 ano de prisão
e 3 000 francos de multa por seus ataques contra o Estado-Maior (Octave Mirbeau
paga a multa) e uma condenação a 1 mês de prisão e 1 000 francos de
multa por seus ataques contra os três especialistas (cada um recebendo
10 000 francos por prejuízos). Para escapar à prisão, Zola exila-se na Inglaterra,
onde ele passará onze meses à espera de uma revisão do processo
Dreyfus. O comunicado da revisão enviando Dreyfus diante do Conselho de
Guerra de Rennes é publicado em 3 de junho de 1899. Zola pode então retornar à França, onde ele publica no L'Aurore o artigo Justice, no qual ele se felicita pela decisão. Mas o processo de Rennes será decepcionante para os dreyfusards, e Zola continuará a lutar até sua morte pela reabilitação de Alfred Dreyfus.
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Caso Dreyfus - foi um escândalo político que dividiu a França por muitos anos, durante o final do século XIX. Centrava-se na condenação por alta traição de Alfred Dreyfus em 1894, um oficial de artilharia do exército francês, de origem judaica. O acusado sofreu um processo
fraudulento conduzido a portas fechadas. Dreyfus era, em verdade,
inocente: a condenação baseava-se em documentos falsos. Quando os
oficiais de alta-patente franceses se aperceberam disto, tentaram ocultar o erro judicial. A farsa foi acobertada por uma onda de nacionalismo e xenofobia que invadiu a Europa no final do século XIX.
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