Ascendência e nobreza
Taitu Bitul nasceu ao redor de 1852, a terceira de quatro filhos de uma família aristocrática etíope, à qual se atribuía relações com a dinastia salomónica. O seu pai, o ras
Bitul, era bem menos conhecido que o irmão, Dejazmatch Wube Haile
Maryam, que foi regente da região norte da Etiópia, e o maior inimigo de
Teodoros II da Etiópia, por volta da década de 1840.
A filha de Dejazmach Wube, sua prima, porém, era a Imperatriz Tiruwork Wube, esposa e depois viúva de Teodoros.
O seu pai governava a província de Semien, e reivindicava ser descendente do Imperador Susenius.
Outro ramo lateral da ascendência paterna advinha da poderosa dinastia
que governava o distrito de Yejju, de origem Oromo e que havia se convertido
do cristianismo para o Islão e que, durante quase um século (1779-1855), fez os regentes durante o período em que o país vivia uma espécie de feudalismo, com imperadores fracos no Gondar - período denominado de Zemene Mesafint (ou "Era dos Príncipes).
A mãe de Taitu, Yewubdar, era de uma família nobre secundária do Gondar.
Por isso Taitu teve a reputação de defender ferozmente e com orgulho
sua linhagem paterna, com raízes nobres em três territórios do país.
Casamentos
Taitu foi casada quatro vezes, todos estes matrimónios, entretanto, fracassaram. Os seus dois irmãos Alula Bitul e Wele Bitul, que haviam ficado amigos de Menelik,
então governante do Choa, durante a prisão deste em Magdala, no reinado
de Teodorus, elogiavam a beleza das suas irmãs. Conta-se que, ao ser
apresentado a Taitu, teria Menelik comentado a Wele:
-
- “Por que você deixou para me apresentar a mais bonita por último?”
Menelik, que também vinha de uma série de casamentos mal-sucedidos,
teve com Taitu o seu último casamento. Juntos, tornaram-se Imperador e
Imperatriz da Etiópia, mas não tiveram filhos.
Fundadora de Adis Abeba
Construíra Menelik uma igreja, devotada a Nossa Senhora, no Monte Entoto,
e logo depois um palácio. O local, embora estrategicamente protegido,
não oferecia condições naturais de povoamento, pois a Corte seguira para
lá. Por conta disso, Taitu e as suas damas de companhia passaram a viajar
com frequência para um planaalto a sul do Entoto, banhado pelo rio Finfine.
Este local era mais agradável, além de oferecer condições mais
propícias para o povoamento que junto ao palácio do Monte Entoto. Além da
casa erguida pela rainha, muitas outras foram sendo erguidas pelos
nobres, depois pelos comerciantes. A este lugar denominou Taitu de “Adis
Abeba” (em amárico, “Nova Flor”). Para ali foi transferida – oficialmente em 1887 – a capital de Choa e, mais tarde, capital da própria Etiópia.
Imperatriz
Taitu
é reconhecida na História etíope como uma das mulheres mais poderosas,
durante o período em que foi esposa de Menelik, mesmo antes da coroação
de ambos, em 1889.
Ela comandava a facção conservadora da Corte, que opunha-se aos
progressistas, que lutavam pela modernização e desenvolvimento da
Etiópia segundo parâmetros ocidentais europeus.
Suspeitava profundamente dos reais interesses europeus no país e
atuou como peça fundamental durante o conflito gerado pelo Tratado de
Wuchale, feito com a Itália - país que estendia as suas pretensões imperialistas na Eritreia
- em que a versão italiana abria margem para estender ao território
etíope a condição de protetorado, enquanto a versão em amárico ocultava
tais condições.
A Imperatriz sustentou uma oposição ferrenha aos italianos, e apesar
da pobreza da nação, aquando da invasão italiana do território além
do pactuado, acompanhou o seu esposo na marcha do Exército Imperial -
em grande parte armado de lanças e flechas - que redundou na histórica Batalha de Adwa - onde os etíopes impuseram humilhante derrota aos invasores, no ano de 1894.
Menelik, que habitualmente hesitava e adiava as decisões
desagradáveis, tinha na esposa uma útil aliada, capaz de negar
peremptoriamente, enquanto ele próprio se esquivava de ofender ou
recusar pessoalmente alguns pleitos. Essa estratégia fez com que a
Imperatriz tivesse uma crescente impopularidade, ao passo em que o seu esposo
continuava bem visto pelo seu povo e pela Corte.
Quando a saúde de Menelik começou a declinar, por volta de 1906,
Taitu passou a decidir por ele, enfurecendo os seus adversários, pois passou a nomear os seus favoritos e parentes para as principais posições e
cargos, aumentando o seu poder e influência.
Ocaso
Amplamente desgastada por acusações de xenofobia e nepotismo pela nobreza de Choa e do Tigré,
aliadas dos partidários de Lij Iyasu, neto de Menelik por conta de um
dos seus casamentos anteriores, Taitu foi alvo de conspiração destinada a
afastá-la do poder. Em 1910, finalmente, os seus adversários conseguiram apeá-la do poder, impondo-lhe a regência do ras Tessema Nadew.
A imperatriz ficou adstrita, por imposição, aos cuidados do marido doente - o que ainda mais a enfraqueceu politicamente.
Como não teve nenhum filho com o Imperador, a morte de Menelik em 1913
provocou a ascensão ao trono de Lij Iyasu. Taitu foi, então, banida
para ao velho palácio do Monte Entoto, perto da igreja de Santa Maria
onde havia sido, anos antes, coroada.
Últimos anos
Acredita-se que Taitu teve pouca relevância nos movimentos que provocaram a deposição do imperador Iyasu V, em 1916, e a sua substituição pela sua enteada Zauditu
- embora filha de um outro casamento de Menelik, Zauditu sempre esteve
ligada à madrasta, e era ainda casada com um sobrinho dela, o ras Gusga
Welle.
Taitu viveu os seus últimos anos de vida no velho palácio do Entoto,
onde morreu em 1918. Encontra-se sepultada no Mosteiro Mariano, em
Adis-Abeba.
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