Nasceu em Praga, na República Checa, então pertencente ao
Império Austro-Húngaro, e mudou seu nome, originalmente René, para Rainer.
Rilke fez seus estudos nas universidades de
Praga,
Munique e
Berlim. Em
1894 fez sua primeira publicação, uma coleção de versos de amor, intitulados
Vida e canções (
Leben und Lieder). Não exerceu nenhuma profissão, tendo vivido, sempre, à custa de amigas nobres.
Alguns anos depois, em
1899, Rilke viajou para a
Rússia a convite de
Lou Andreas-Salomé, a escritora e depois
psicanalista, filha de um general russo, e que foi sua amante por longos anos. A sua passagem pela
Rússia imprimiu uma inspiração religiosa em seus poemas. Rilke passou a ver a natureza, dadas as dimensões e exuberância das paisagens russas, como manifestação divina presente em todas as coisas. Sobre este aspecto publicou em
1900 a coleção
Histórias do bom Deus.
Em 1901 casou com Clara Westhoff, da qual logo se separou. O século XX trouxe para a poesia de Rilke um afastamento do
lirismo e dos
simbolistas franceses com os quais ele se identificara. Em
1905, publicou
O Livro das Horas, de grande repercussão na época. Nesta obra, seus poemas já apresentavam um estilo concreto, bem característico desta sua fase.
Quando começou a
Primeira Guerra Mundial, em
1914, Rilke morava em
Munique e lá permaneceu durante todo o conflito. Antes de se mudar para
Munique, ele viveu na região do Trieste e publicou, em
1913, a obra
A vida de Maria (
Das Merien Leben) e iniciou a redação das
Elegias de Duíno (
Duineser Elegien), texto que só viria a ser publicado em
1923. Duíno era um castelo na região de
Trieste,
Itália, onde Rilke morou por dois anos antes da Guerra, a convite da princesa Maria von
Thurn und Taxis. Após o conflito na Europa, Rilke mudou-se para a Suíça, a última de suas pátrias de eleição, onde viveu até morrer.
Rilke possui uma obra original, marcada pelo tratamento da forma e pelas imagens inesperadas. Celebra a união transcendental do mundo e do homem, numa espécie de “espaço cósmico interior”. Sua poesia provocava a reflexão
existencialista e instigava os leitores a se defrontarem com questões próprias do desencantamento da primeira metade do
século XX. Sua obra foi influenciada pelo
Expressionismo e influenciou muitos autores e intelectuais em diversas partes do mundo.
Recordação
E tu esperas, aguardas a única coisa
que aumentaria infinitamente a tua vida;
o poderoso, o extraordinário,
o despertar das pedras,
os abismos com que te deparas.
Nas estantes brilham
os volumes em castanho e ouro;
e tu pensas em países viajados,
em quadros, nas vestes
de mulheres encontradas e já perdidas.
E então de súbito sabes: era isso.
Ergues-te e diante de ti estão
angústia e forma e oração
de certo ano que passou.
in O Livro das Imagens (1902) - Rainer Maria Rilke (tradução de Maria João Costa Pereira)