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sexta-feira, março 22, 2024

As cinco maiores extinções em notícia...

Os ensinamentos das cinco extinções maciças da história

 

   

Durante o Pérmico tardio, era possível encontrar predadores como o gorgonopsídeo gigante Inostrancevia - nesta imagem, encontra-se ao lado da sua presa, um dicinodonte, enquanto afugenta a espécie Cyonosaurus, muito mais pequena


Certa Primavera, há 66 milhões de anos, um dinossauro levantou os olhos para o céu. O ponto brilhante que aparecera minutos antes estava cada vez maior. meteorito Chicxulub, com cerca de 14 quilómetros de diâmetro, aproximava-se da Terra a uma velocidade incrível. Conforme demonstrado por estudos posteriores, a enorme rocha demorou apenas 20 segundos a atravessar a atmosfera e a cair na costa da península do Iucatão, berço de grandes civilizações pré-colombianas.

A energia libertada criou uma onda de choque que derrubou qualquer ser vivo que se encontrasse num raio de centenas de quilómetros, provocando tsunamis enormes e vaporizando milhares de toneladas de rochas sulfurosas que acidificaram os oceanos e taparam o Sol durante anos.

A extinção maciça do Cretácico-Paleogénico pôs fim a aproximadamente dois terços das espécies da Terra, incluindo todos os répteis e dinossauros não-voadores com mais de 40 quilogramas, exceto tartarugas e crocodilos. Graças aos eventos ocorridos após o impacto, os mamíferos rapidamente se encontraram num mundo com pouquíssima concorrência e começaram a dominar o planeta – até à atualidade. No entanto, embora esta extinção seja a mais conhecida, é apenas a última de uma longa lista que dura até aos dias de hoje e que já se conhece como “a sexta extinção maciça”.

 

AS PRIMEIRAS: AS EXTINÇÕES MACIÇAS DO ORDOVÍCICO-SILÚRICO

Quando a vida complexa estava a dar os seus primeiros passos após a Explosão Câmbrica, centenas de famílias de espécies evoluíram para se adaptarem a um ambiente em mudança. No enorme oceano Pantalassa, que cobria a maior parte da superfície do planeta, espécies conhecidas, como as trilobites, viviam ao largo da costa e os primeiros peixes começaram a nadar nas águas quentes. Neste período, também apareceram as primeiras espécies que viviam em terra firme, como certas plantas e, supostamente, os primeiros artrópodes.

No entanto, há entre 450 e 440 milhões de anos, aproximadamente 60 por cento de todos os géneros que habitavam o planeta desapareceram, e pensa-se que 85 por cento das espécies marinhas se tenham extinguido. Existem diferentes hipóteses sobre o que causou esta perda de biodiversidade. A mais aceite atualmente é que houve uma série de glaciações, embora as suas causas não sejam claras e sejam tema de debate. Algumas das opções são o vulcanismo, o deslocamento dos polos e o impacto de radiação vinda de uma supernova, mas não existem provas suficientemente sólidas para demonstrar qual a causa concreta – ou se o sucedido foi uma combinação destas.

 

AS EXTINÇÕES MACIÇAS DO FINAL DO DEVÓNICO

Estima-se que apenas cinco milhões de anos após as extinções do Ordovícico-Silúrico, os ecossistemas tenham recuperado a sua biodiversidade. Depois disto, começou aquilo que se conhece informalmente como “a Idade dos Peixes”, uma época durante a qual surgiu uma infinitude de espécies marinhas, das quais se destacam os peixes ósseos, que chegaram até aos nossos dias, bem como corais, esponjas, artrópodes e cefalópodes.

No Devónico, apareceram também as primeiras florestas. As mais antigas de que há conhecimento datam de há 390 milhões de anos, e foram descobertas recentemente nas falésias do sudoeste de Inglaterra. Estas florestas eram formadas por plantas vasculares, com um tronco oco que poderia assemelhar-se – na forma – às palmeiras atuais, atingindo uma altura máxima de cerca de dez metros de altura. Além disso, as plantas desenvolveram as primeiras sementes, um passo essencial na reprodução vegetal.

Após cerca de 70 milhões de anos de relativa tranquilidade, até 83 por cento destas espécies desapareceram rapidamente. Mais uma vez, a causa não é completamente clara. Existe a hipótese de ter ocorrido uma glaciação semelhante à anterior, mas também não se descarta a possibilidade de vulcanismo ou de impactos de meteoritos. Em 2020, uma investigação sugeriu a possibilidade de a camada de ozono se ter desvanecido devido a um aquecimento repentino da superfície terrestre. O desaparecimento da camada de ozono deixaria todos os seres desprotegidos perante a radiação ultravioleta emitida pelo Sol, que tornou a superfície do planeta inabitável. Na opinião dos investigadores, poderá ocorrer um acontecimento semelhante na atualidade, caso se reúnam as condições adequadas.

 

A GRANDE MORTANDADE: EXTINÇÃO PÉRMICO-TRIÁSSICA

Chamar “A Grande Mortandade” a um evento dá pistas sobre a enorme quantidade de espécies que desapareceram na maior extinção da história. Estima-se que tenham desaparecido até 95 por cento das espécies marinhas e 70 por cento das terrestres ao longo de 200.000 anos. Neste caso, a hipótese mais sólida é corroborada pelas enormes formações de rochas de origem vulcânica da Sibéria (os “trapps siberianos”) e pelas formações de dolomitas italianas. As rochas siberianas resultam de algumas das maiores erupções vulcânicas dos últimos tempos, enquanto as dolomitas evidenciam a erosão provocada por acidez.

Destes eventos infere-se que, há aproximadamente 252 milhões de anos, ocorreram enormes erupções vulcânicas que libertaram quantidades crescentes de gases para a atmosfera. Estima-se que a temperatura tenha aumentado até 5 graus e que alguns elementos tenham alterado a geoquímica global. Por exemplo, estima-se que enxofre possa ter acidificado o solo, chegando a atingir, segundo indicam alguns estudos, um pH de 2,3 em algumas zonas especificas – uma acidez semelhante à do sumo de limão. Estas condições provocaram a extinção de muitas algas e invertebrados com concha, além de impedirem o crescimento das plantas em terra. 

A Grande Mortandade foi uma provação dura para a vida terrestre, mas quando as condições se estabilizaram, formou-se um caldo perfeito para o desenvolvimento dos dinossauros e proto-mamíferos, que começaram então a povoar o planeta.

 

A EXTINÇÃO DO TRIÁSICO-JURÁSSICO

Apenas 50 milhões de anos após a última extinção, há 201 milhões de anos, um evento extinguiu 75 por cento de todas as espécies que habitavam o nosso planeta. Esta extinção foi o início do domínio global dos dinossauros, já que a maioria dos arcossauros, terápsideos e grandes anfíbios desapareceram. Mais uma vez, as hipóteses mais sólidas apontam para os vulcões, que aumentaram a quantidade de gases com efeito de estufa e acidificaram os oceanos.

Mais concretamente, as evidências sugerem a ocorrência de erupções numa zona conhecida como “província magmática do Atlântico Central”. Esta região, formada pela fragmentação do supercontinente Pangeia, teve atividade vulcânica durante pelo menos 600.000 anos e os especialistas consideram-na uma das maiores em termos de volume de magma expelido. No entanto, também não se descarta a possibilidade de a extinção ter sido desencadeada pelo impacto de um ou vários meteoritos mais pequenos do que o da extinção do Cretácico-Paleogénico.

 

O METEORITO e OS DINOSSAUROS, A EXTINÇÃO DO CRETÁCICO-PALEOGÉNICO

O início deste artigo refere-se a esta extinção, que pôs fim ao reinado dos dinossauros não-voadores e deu lugar a uma época dominada por mamíferos e aves. Sendo a mais próxima, é desta que dispomos de mais evidências, já que se podem ver claramente algumas das consequências do impacto no México. Atualmente, analisa-se a trajetória e a órbita de milhares de objetos que se aproximam da Terra para assegurar que nenhum chocará com o nosso planeta nas próximas centenas de anos.

 

A SEXTA EXTINÇÃO MACIÇA. O que está a acontecer agora?

O ritmo de aparecimento e desaparecimento de espécies foi relativamente tranquilo nos últimos milhões de anos. No entanto, esta tendência mudou rapidamente e ritmo de desaparecimento de espécies aumentou consideravelmente. Mais concretamente, depois de analisar milhares de espécies animais e vegetais, estima-se que o ritmo de desaparecimento das espécies seja várias ordens de magnitude superior ao dos últimos dois milhões de anos.

Este processo, desencadeado pelas alterações climáticas antropogénicas, pode ter consequências devastadoras para os ecossistemas, que poderão perder a sua resiliência perante ameaças externas. Atualmente, também se está a estudar se o enorme volume deCO₂ libertado para a atmosfera poderá provocar um cenário semelhante ao de algumas das extinções provocadas pelas enormes erupções vulcânicas.

O desaparecimento de certas espécies não augura nada de bom, já que a perda de biodiversidade pode ter efeitos inesperados. Estes efeitos vão desde a perda das simbioses existentes e a rutura das cadeias tróficas até ao aumento do risco de surtos de novas doenças. Por isso, os esforços de conservação e estudo das consequências das atividades humanas são essenciais para assegurar a sobrevivência das espécies atuais.

 

in Nat Geo España