A Cruz que marca o local do massacre em Eldorado dos Carajás
Dezanove sem-terra foram mortos pela
Polícia Militar do Estado do Pará.
O confronto ocorreu quando 1.500 sem-terra, que estavam acampados na
região, decidiram fazer uma marcha de protesto contra a demora da
desapropriação de terras, principalmente as da Fazenda Macaxeira. A
Polícia Militar foi encarregada de tirá-los do local, porque estariam
obstruindo a rodovia
BR-155, que liga a capital do estado
Belém ao sul do estado.
O episódio deu-se no governo de
Almir Gabriel, o então
governador. A ordem para a ação policial partiu do Secretário de Segurança do Pará,
Paulo Sette Câmara,
que declarou, depois do ocorrido, que autorizara "usar a força
necessária, inclusive atirar". De acordo com os sem-terra ouvidos pela
imprensa na época, os polícias chegaram ao local atirando bombas de
gás lacrimogéneo.
Segundo o
legista
Nelson Massini, que fez as autópsias dos corpos, pelo menos 10
sem-terra foram executados à queima roupa e sete foram mortos por
instrumentos cortantes, como foices e facões.
O comando da operação estava a cargo do coronel Mário Colares Pantoja, que foi afastado, no mesmo dia, ficando 30 dias em
prisão domiciliar, determinada pelo governador do Estado, e depois libertado. Ele perdeu o comando do Batalhão de Marabá. O
ministro da Agricultura, Andrade Vieira, encarregado da
reforma agrária, pediu demissão na mesma noite, sendo substituído, dias depois, pelo senador Arlindo Porto.
Uma semana depois do massacre, o
Governo Federal confirmou a criação do
Ministério da Reforma Agrária e indicou o então presidente do
Ibama,
Raul Jungmann, para o cargo de ministro.
José Gregori, que na época era chefe de gabinete do então ministro da Justiça,
Nelson Jobim,
declarou que "o réu desse crime é a polícia, que teve um comandante
que agiu de forma inadequada, de uma maneira que jamais poderia ter
agido", ao avaliar o vídeo do confronto.
O então presidente
Fernando Henrique Cardoso determinou que tropas do
exército fossem deslocadas para a região em
19 de abril com o objetivo de conter a escalada de violência. O presidente pediu a prisão imediata dos responsáveis pelo massacre.
O
ministro da Justiça,
Nelson Jobim, juntou-se às autoridades policiais e do Judiciário, no
Pará, a pedido do governo federal, para acompanhar as investigações. O
general Alberto Cardoso, ministro-chefe da Casa Militar da Presidência
da República, foi o primeiro representante do governo a chegar a
Eldorado dos Carajás.
No começo de maio de
1996,
o fazendeiro Ricardo Marcondes de Oliveira, de 30 anos, depôs,
responsabilizando o dono da fazenda Macaxeira pela matança. Ele o acusou
de ter pago subornos para que a Polícia Militar matasse os líderes dos
sem-terra. Ele mesmo teria sido procurado para contribuir na coleta. O
dinheiro seria entregue ao coronel Mário Pantoja, comandante da PM de
Marabá, que esteve à frente da operação que resultou no massacre.
Nenhum fazendeiro ou jagunço foi indiciado no inquérito da Polícia.
Os 155 polícias militares que participaram da operação foram indiciados,
sob acusação de homicídio, pelo Inquérito Policial Militar (IPM). Esta
decisão foi tomada premeditadamente, pois pela lei penal do Brasil,
não há como punir um grupo, pois a conduta precisa ser individualizada.
Como não houve perícia nas armas e projéteis para saber quais
policiais atingiram determinadas vítimas, os 21 homicídios e as
diversas lesões, permaneceram impunes. Em outubro do mesmo ano, o
procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, determinou que a
Polícia Federal reconstituísse o inquérito, pois estava repleto de
imperfeições técnicas. Neste parecer, Brindeiro diz ainda que o
governador Almir Gabriel autorizou a desobstrução da estrada e que,
portanto, tinha conhecimento da operação. No final do ano, o processo,
que havia sido desdobrado em dois volumes, ainda estava parado no
Tribunal de Justiça de Belém, que trata dos crimes de lesões corporais,
e no Fórum de
Curionópolis, que ficou encarregado dos homicídios. Em maio de
2012,
o coronel Mário Colares Pantoja e o major José Maria Pereira de
Oliveira foram presos, condenados, o primeiro a 228 anos e o segundo a
158 anos de reclusão, pelo massacre.