Duchamp é um dos precursores da arte conceitual e introduziu a ideia de ready made como objeto de arte. Irmão de Jacques Villon, de Suzanne Duchamp e Raymond Duchamp-Villon, estes também artistas que gozaram de reputação no cenário artístico europeu, Marcel Duchamp começou sua carreira como artista criando pinturas de inspiração romantista, expressionista e cubista.
Dessa fase, destaca-se o quadro «Nu descendo a escada», que apresenta uma sobreposição de figura de aspeto vagamente humano numa linha descendente, da esquerda para a direita, sugerindo a ideia de um movimento contínuo. Esse quadro, na época de sua génese, foi mal recebido pelos partidários do Cubismo, que o julgaram profundamente irónico para com a proposta artística por eles pretendida.
Essa fase rendeu-lhe, ainda, o quadro Rei e rainha rodeados por rápidos nus, que sugere um rápido movimento através de duas figuras humanas, e A noiva, que apresenta formas geométricas bastante delineadas e sobrepostas, insinuando uma figura de proporções humanas. Este último foi bastante utilizado no seu projeto mais ambicioso, de que trataremos a seguir.
Sua carreira como pintor estendeu-se por mais alguns anos, tendo como produto quadros de inegável valor para a formação da pintura abstrata. É, no entanto, como escultor que Duchamp vai atingir grande fama. Tendo se mudado para Nova York e largado a Europa numa espécie de estagnação criativa, Duchamp encontra na América um solo fértil para sua arte dadaísta. Decorrente dessa fase, e em virtude de seus estudos sobre perspetiva e movimento, nasce o projeto para a obra mais complexa do artista: «A noiva despida pelos seus celibatários», mesmo ou «O grande vidro».
Trata-se de duas lâminas de vidro, uma sobre a outra, onde se vê uma figura abstrata na parte de cima, que seria a noiva, inspirada no quadro acima mencionado, e, na parte de baixo, se percebe uma porção de outras figuras (feitas de cabides, tecido e outros materiais), dispostas em círculo, ao lado de uma engrenagem (retirada de um moinho de café). Essa obra consumiu anos inteiros de dedicação de Duchamp, e só veio a público muito depois do início de sua construção, intercalada, portanto, por uma série de obras. Não se tem um consenso acerca do que representa essa obra, mas diversas opiniões conflituantes, com base em psicologismos e biografismos, renderam e ainda rendem bastante discussão.