Comité norueguês pediu libertação do dissidente chinês em Oslo
Uma cadeira vazia recebeu o Nobel por Liu Xiaobo
Liu Xiaobo esteve representado por uma cadeira vazia e uma grande fotografia
Entre críticas ao regime chinês e ovações a Liu Xiaobo, repetiram-se na cerimónia de atribuição do Nobel da Paz os apelos à libertação do dissidente e à democratização na China. Numa cadeira vazia, o Comité norueguês colocou a medalha e o diploma que o académico chinês receberia se estivesse presente em Oslo.
Por várias vezes a plateia levantou-se para aplaudir o discurso do presidente norueguês do Comité, Thorbjorn Jagland, que exigiu a libertação de Liu e voltou o discurso para as críticas ao regime de partido único na China e para pedir a abertura de Pequim ao Ocidente.
Na cerimónia Liu Xiaobo esteve representado por uma cadeira vazia e uma grande fotografia colocada junto do púlpito onde Thorbjorn Jagland discursava.
Enquanto da China chegam relatos de protestos a favor dos direitos humanos, e face à pressão de Pequim nos últimos dias para as representações diplomáticas em Oslo boicotarem a cerimónia, Jagland fez questão de frisar o primeiro parágrafo do discurso do Comité quando, em Outubro, atribuiu o galardão a Liu.
Disse acreditar numa “ligação entre os direitos humanos e a paz” para, a seguir, acrescentar: Esta é uma atribuição “apropriada e necessária”. E logo a plateia arrancava uma longa salva de palmas, levantando-se em homenagem ao académico chinês.
Mas grande parte do discurso serviu para deixar recados ao regime de Hu Jintao.
Jagland disse que este é o momento para a China se democratizar, face ao “rápido crescimento económico”. Momento, sublinhou, que é uma “oportunidade” para fazer cumprir os direitos humanos e aceitar a crítica externa e interna.
Lembrou que as tecnologias da informação são uma oportunidade para abrir o regime e disse em nome do Comité que foi o isolamento da antiga União Soviética nos anos 1970 que levou à queda do regime comunista. E deu, depois, exemplos do processo de abertura democrática à Europa e ao Ocidente, falando na Turquia e na Tunísia.
O elogio ao pensador
A Liu, o Comité referiu-se como homem de “grandes riscos”. Elogiou-lhe a “humildade”, o optimismo e a “dignidade” nas críticas ao regime e lamentou a sua prisão por ter expressado a “sua opinião” sobre o caminho a seguir pelo seu país.
“Liu só exerceu direitos civis”. Por isso, avançou, “tem de ser libertado”, disse Jagland. De novo, arrancou uma longa salva de palmas da assistência.
Da longa descrição do percurso académico de Liu, destacou o papel de conciliador nos protestos de Tiananmen, em Pequim em 1989, quando preveniu o confronto entre as forças da ordem e os estudantes – “tornou-se um ponto importante na vida de Liu”.
No final, o presidente do Comité colocou a medalha e o certificado do Nobel sob a cadeira vazia de Liu, enquanto a plateia aplaudia mais uma vez.
Foi a segunda vez nos 109 anos de história do Nobel da Paz que o Comité colocou simbolicamente uma cadeira vazia para pontuar a impossibilidade de o galardoado – ou de familiares directos ou próximos – poderem receber o prémio.
Para terminar a cerimónia, a actriz Liv Ullmann leu o discurso "Não tenho inimigos", que Liu Xiaobo proferiu durante o seu julgamento a 23 de Dezembro do ano passado.
Para além da China, outros 16 países recusaram estar presentes na cerimónia de Oslo. Os representantes da Rússia, Arábia Saudita, Paquistão, Iraque, Irão, Afeganistão, Ucrânia, Cazaquistão, Venezuela, Filipinas, Vietname, Colômbia, Egipto, Sudão, Marrocos e Cuba, todos declinaram os convites invocando “razões variadas”.