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quarta-feira, novembro 22, 2023
Benjamin Britten nasceu há cento e dez anos...
Edward Benjamin Britten (Lowestoft, 22 de novembro de 1913 - Aldeburgh, 4 de dezembro de 1976), Barão Britten de Aldeburgh, foi um compositor, maestro, violista e pianista britânico.
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segunda-feira, novembro 22, 2021
Benjamin Britten nasceu há 108 anos
Edward Benjamin Britten (Lowestoft, 22 de novembro de 1913 - Aldeburgh, 4 de dezembro de 1976), Barão Britten de Aldeburgh, foi um compositor, maestro, violista e pianista britânico.
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domingo, novembro 22, 2020
Benjamin Britten nasceu há 107 anos
Edward Benjamin Britten (Lowestoft, 22 de novembro de 1913 - Aldeburgh, 4 de dezembro de 1976), Barão Britten de Aldeburgh, foi um compositor, maestro, violista e pianista britânico.
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quinta-feira, novembro 22, 2018
Benjamin Britten nasceu há 105 anos
Edward Benjamin Britten (Lowestoft, 22 de novembro de 1913 - Aldeburgh, 4 de dezembro de 1976), Barão Britten de Aldeburgh, foi um compositor, maestro, violista e pianista britânico.
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sábado, novembro 23, 2013
Passaram ontem 100 anos sobre o nascimento de um génio da música inglesa
Benjamin Britten, génio tímido que atravessou o século XX
Mário Lopes - 22.11/.2013
Benjamin Britten cresceu enquanto criança prodígio, cresceu como compositor genial que, com a paisagem da sua cidade costeira como eterno refúgio, revolucionou a ópera inglesa, foi intérprete de excepção e pensou a música como meio democrático, acessível a todos. Hoje celebramos o centenário do seu nascimento. Paul Kildea, o seu biógrafo, conduz o PÚBLICO pelo século XX de Britten.
Desde 1948 que Aldeburgh, vila portuária do sudeste inglês, banhada pelo Mar do Norte, acolhe um festival de música. Um festival pouco comum, por se centrar numa pequena localidade no condado de Suffolk, símbolo de uma certa Inglaterra de pequenas comunidades piscatórias e de veraneio. O festival decorre habitualmente em Junho, mas hoje e nos dias que se seguem a vila estará repleta de música. Há muitas razões para celebrar. Cem, para sermos exactos. Assinala-se hoje um século sobre o nascimento do fundador do festival, o compositor Benjamin Britten, e Aldeburgh é o epicentro dos festejos.
“[O festival] É uma das suas contribuições para a Inglaterra”, diz desde a vila Paul Kildea, maestro australiano que foi director musical em Alderburgh, também autor de uma celebrada biografia do compositor inglês, Benjamin Britten: A Life In The Twentieth Century, editada no início do ano. O título não é inocente. Paul Kildea: “O século moldou-o definitivamente e achei que necessitava de ser conhecida tanto a sua importância [na história da música] quanto a sua circunstância.” Britten é o génio que reagiu, com toda a sua idiossincrasia, às turbulências de um século marcado por duas guerras mundiais, por evoluções artísticas fulgurantes, pelo avanço tecnológico, por revoluções políticas e de costumes. O génio que, isolado no silêncio e envolvido pela paisagem natural de uma pequena vila, procurou relacionar-se com o mundo e, se possível (que a sua demanda era pessoal), transformá-lo.
“É cruel, sabe, que a música possa ser tão bela. Tem a beleza da solidão e da dor: da força e da liberdade. A beleza do desapontamento e do amor sempre insatisfeito. A beleza cruel da natureza, e a beleza perene da monotonia.” Assim escreveu em 1937 Benjamin Britten, então um jovem compositor de 24 anos. Naquelas frases, escritas sobre o efeito de Gustav Mahler, mestre do romantismo tardio vienense cuja música o apaixonara, temos uma porta de entrada perfeita para aquele que é considerado não só o mais importante compositor inglês do século XX, o maior desde Purcell, mas igualmente um dos nomes imprescindíveis da música do nosso tempo.
Britten é o autor de óperas como Peter Grimes ou Billy Budd, o criador de peças orquestrais como War Requiem ou Les Illuminations, o intérprete brilhante, o maestro pouco elegante mas eficiente. Foi criança prodígio que se tornaria adulto com produção prodigiosa, pacifista em tempo de guerra, provinciano que fugiu dos grandes centros urbanos, o homem que, enquanto se discutia a criminalização da homossexualidade em Inglaterra, viveu com o tenor Peter Pears uma relação de décadas, só interrompido pela sua morte. Britten faria hoje 100 anos, não o tivesse traído precocemente um coração doente (morreu em 1976, aos 63 anos), e o mundo prepara-se para o celebrar com a pompa reservada aos grandes nomes.
No site Britten100.org, que acompanha as celebrações da data, que arrancaram no início deste ano e que só terminarão no início do próximo, estão listados 976 acontecimentos de homenagem ao compositor para a data do seu centenário. Neste dia e nos seguintes a celebração espalhar-se-á de Pequim a Moscovo, de Viena a São Francisco, de Berlim a Lisboa, onde domingo a Orquestra Sinfónica Metropolitana apresentará, a partir das 17h30, com Emilio Pomàrico na direcção musical e António Rosado como pianista, o Concerto para Piano e a Sinfonia da Requiem (antecedidas por Quatro Estudos para Orquestra e Jeu de Cartes, Suite do Bailado de Stravinsky).
O pacifismo
Paul Kildea, que conheceu a música de Britten enquanto criança, na Austrália, que desenvolveu depois disso vários trabalhos académicos a ele dedicados, antes de se aventurar na biografia agora editada (mais de 600 páginas de informação bem documentada, tão atraente para o melómano como para o leitor não especializado), aponta em início de conversa que talvez estas celebrações se revelassem uma surpresa para Britten. “Ele nunca pensaria em termos de intemporalidade”. Não por falta de ambição ou presciência. Precisamente o contrário. “Para ele, o importante era fazer o melhor trabalho no momento em que o criava. Estava à frente do seu tempo e, principalmente em Inglaterra em meados do século XX, as pessoas não se apercebiam da enorme importância do seu trabalho."
Paul Kildea, que conheceu a música de Britten enquanto criança, na Austrália, que desenvolveu depois disso vários trabalhos académicos a ele dedicados, antes de se aventurar na biografia agora editada (mais de 600 páginas de informação bem documentada, tão atraente para o melómano como para o leitor não especializado), aponta em início de conversa que talvez estas celebrações se revelassem uma surpresa para Britten. “Ele nunca pensaria em termos de intemporalidade”. Não por falta de ambição ou presciência. Precisamente o contrário. “Para ele, o importante era fazer o melhor trabalho no momento em que o criava. Estava à frente do seu tempo e, principalmente em Inglaterra em meados do século XX, as pessoas não se apercebiam da enorme importância do seu trabalho."
Para Britten, guiado pela mãe Edith, música amadora que, diz-se, ambicionava erguer o filho a quarto “B”,depois de Bach, Beethoven e Brahms, a música era o centro de todo o mundo, a forma de se exprimir, a forma de se inscrever nele. A música: com “a beleza da solidão e da dor”, “da força e da liberdade”. “Aquilo sobre o qual compunha era tão indiscutivelmente parte da sua vida e pensamento que é impossível separar a obra do homem.”
Benjamin Britten nasceu em Lowestoft, a 35 quilómetros de Aldeburgh, a 22 de Novembro de 1913. Data promissora: é o dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos. O conforto da sua vida naquela pequena vila costeira e a natureza que a envolvia marcaram-no para sempre. Teria inevitavelmente que regressar ali, àquelas paisagens imortalizadas pelo pintor romântico John Constable e às pessoas cantadas pelo poeta George Crabbe, aquele a quem resgataria o poema que inspirou a sua ópera mais famosa, Peter Grimes, estreada em 1945 e que o tornaria uma figura pública.
O seu percurso, porém, levou-o bem mais longe que as pequenas fronteiras em que nasceu. Protegido do compositor Frank Bridge, a quem dedicaria, em 1937, Variations On a Theme of Frank Bridge, aprendeu com ele a necessidade de ser meticuloso com todos os detalhes da composição. Estudante na Royal College Of Music, em Londres, depois de ganhar ali uma bolsa em 1930, lamentou o conservadorismo e amadorismo da comunidade musical britânica. Na capital, cruza-se com o poeta W.H. Auden, figura importantíssima no seu percurso inicial. Com Auden trabalha em música para cinema documental ( Night Mail, de 1935, é o filme mais reconhecido), com Auden desenvolve uma consciência política de esquerda, nem sempre coerente, mas em que o pacifismo, visto como absoluto e incorruptível, assoma como marca principal.
“Estava tão absorvido pelo seu trabalho que, para além dele, pensava em termos absolutos”, aponta Kildea. “‘A guerra é errada em todas as ocasiões’, defendia. Portanto, dizia [durante a II Guerra Mundial] que, caso o Reino Unido fosse invadido, o nazismo de Hitler podia ser vencido com resistência passiva, o que hoje nos parece absurdo. Como os seus princípios eram absolutos, não se via em qualquer outra posição para além da inicial: a guerra é errada.” Tal trouxe-lhe dissabores, quando no início da guerra se mudou para os Estados Unidos, o que levou a fosse acusado de pouco patriótico, no limite do desertor. Ainda para mais, regressaria não para ajudar ao esforço de guerra, mas apresentando-se, tal como Peter Pears, como objector de consciência.
Influência americana
Compositor de uma ética de trabalho prodigiosa, homem de uma timidez difícil de superar, Britten, ícone da música inglesa, teve nos Estados Unidos o seu período formador determinante. Com Peter Pears, acompanhado por W.H. Auden e pelo escritor Isherwood, viveu a boémia artística em todo o seu esplendor e decadência num apartamento nova-iorquino pelo qual passaram também Carston McCullers, Paul Bowles ou Salvador Dalí. “Foi nos Estados Unidos”, considera Paul Kildea, que começou a desabrochar e a desenvolver obras muitíssimo bem trabalhadas, sem uma nota fora do lugar”. Foi também ali, no meio dos excessos entre portas que tanto desagradavam o seu temperamento reservado, vivendo uma cultura que o repelia (“Nova Iorque é o pior, uma massa conflituosa de intrigas, sofisticados superficiais e o mais baixo tipo de todas as raças sob o sol”, escreveu em 1941, citado na biografia de Kildea), que reconheceu a sua irremediável natureza enquanto inglês. Uma Inglaterra peculiar. A da sua infância em Lowenstoft, aquela que tão bem ligava ao seu temperamento. Kildea defende mesmo algo curioso: “Não acho que Britten fosse muito inglês.”
Compositor de uma ética de trabalho prodigiosa, homem de uma timidez difícil de superar, Britten, ícone da música inglesa, teve nos Estados Unidos o seu período formador determinante. Com Peter Pears, acompanhado por W.H. Auden e pelo escritor Isherwood, viveu a boémia artística em todo o seu esplendor e decadência num apartamento nova-iorquino pelo qual passaram também Carston McCullers, Paul Bowles ou Salvador Dalí. “Foi nos Estados Unidos”, considera Paul Kildea, que começou a desabrochar e a desenvolver obras muitíssimo bem trabalhadas, sem uma nota fora do lugar”. Foi também ali, no meio dos excessos entre portas que tanto desagradavam o seu temperamento reservado, vivendo uma cultura que o repelia (“Nova Iorque é o pior, uma massa conflituosa de intrigas, sofisticados superficiais e o mais baixo tipo de todas as raças sob o sol”, escreveu em 1941, citado na biografia de Kildea), que reconheceu a sua irremediável natureza enquanto inglês. Uma Inglaterra peculiar. A da sua infância em Lowenstoft, aquela que tão bem ligava ao seu temperamento. Kildea defende mesmo algo curioso: “Não acho que Britten fosse muito inglês.”
Segundo o biógrafo, o regresso a Inglaterra deve-se essencialmente à sua personalidade, ao desejo de criar para si um casulo onde pudesse dedicar-se, com toda a disciplina, ao acto criativo. “Britten falava naquele sotaque ridículo de ‘oxbridge’, com as vogais muito trabalhadas, mas criativamente era muito mais continental, particularmente depois de observar [nos anos 1930] a forma como a música era ensinada, criada e apresentada na Alemanha e na Áustria." Conclui então: “Foi a sua personalidade que o trouxe de volta. Mas, assim que regressou, chegou determinado a trabalhar num nível muito superior ao habitual em Inglaterra antes da guerra.” Foi precisamente o que fez.
Seguindo o exemplo de Henry Purcell, libertou novamente o inglês em formato operático, começando com Peter Grimes, a obra em que aborda, citamo-lo, “a luta do indivíduo perante as massas – quanto mais perverso o indivíduo, mais perversa a sociedade” – Kildea considera essa “uma das mais mensagens mais importantes na sua obra”. A partir de Peter Grimes, com Peter Pears como inspiração e como protagonista das suas peças (não é por acaso que a primeira interpretada no regresso a Inglaterra é uma declaração de amor, Sete Sonetos de Michelangelo), o seu lugar no cenário musical impõe-se.
São celebradas óperas como A Volta do Parafuso, é escolhido para estrear Gloriana na coroação de Isabel II, em 1953, e assiste-se ao nascimento de um dos seus trabalhos mais reconhecido, o War Requiem de 1961, obra de esperança mas povoada de sombras. Paralelamente, fora criando algo como The Young Person’s Guide to The Orchestra (1946), a sua obra mais interpretada, que como o título indica pretende introduzir o ouvido infantil na linguagem musical. Em 1958, chegaria Noye’s Fludde, inspirado no episódio bíblico da Arca de Noé, em que, num gesto inesperado, Britten colocou profissionais e amadores convivendo em palco, incluindo ainda a participação do público – Music for All [ Música para Todos] é o mote das celebrações do centenário em Aldeburgh.
Na crista da onda
Kildea, no intervalo de um ensaio de Noye’s Fludde (dirigiu-o ontem em Aldeburgh), aponta que, do conjunto do trabalho de Britten, é impossível destacar uma obra apenas. “Teremos sempre que olhar para todo o seu repertório. E recordar que era também um intérprete impressionante. Se ouvirmos as suas gravações ao piano, percebemos que passam com distinção o teste do tempo. Não há nelas nada de antiquado. Britten viveu um tempo de muitas transformações, mas estava na crista da onda, até na aceitação da tecnologia, gravando em stereo no final dos anos 1960 para se certificar de que haveria gravações dos seus trabalhos para a posteridade.”
Kildea, no intervalo de um ensaio de Noye’s Fludde (dirigiu-o ontem em Aldeburgh), aponta que, do conjunto do trabalho de Britten, é impossível destacar uma obra apenas. “Teremos sempre que olhar para todo o seu repertório. E recordar que era também um intérprete impressionante. Se ouvirmos as suas gravações ao piano, percebemos que passam com distinção o teste do tempo. Não há nelas nada de antiquado. Britten viveu um tempo de muitas transformações, mas estava na crista da onda, até na aceitação da tecnologia, gravando em stereo no final dos anos 1960 para se certificar de que haveria gravações dos seus trabalhos para a posteridade.”
Foi em Aldeburgh que se refugiou ao regressar a Inglaterra, recolhendo-se num antigo moinho convertido em residência nas redondezas da vila. Foi aí que criou o seu reino musical em escala humana, o festival de Aldeburgh, que fundou com Peter Pears e o libretista Eric Crozier. Foi aí que morreu de ataque cardíaco a 4 de Novembro de 1976. Kildea defende em A Life On The Twentieth Century que enfraquecimento do coração se deveu a sífilis não diagnosticada, o que levantou uma polémica que prossegue por estes dias. Ao PÚBLICO defendeu a sua versão, apoiado no depoimento do cardiologista Hywel Davies, velho amigo do cirurgião que operara Britten anos antes da morte. Falou-nos também do tema mais polémico que acompanhou Britten na vida e na morte, a sua atracção por rapazes adolescentes. “Depois do grande ruído que se seguiu ao caso Jimmy Saville [apresentador da BBC já falecido acusado de pedofilia], os ingleses estavam muito receosos. Por exemplo, o lançamento da moeda [de 50 pence] que celebra o seu centenário foi adiado, por receio que aparecesse alguém a confessar que, na verdade, o comportamento de Britten não fora perfeito. Mas ninguém apareceu. Não podemos negar que se sentia atraído por esse grupo etário, mas parece não ter tido realmente acções censuráveis. É o que sabemos de quem conviveu com ele.”
Havia uma zona cinzenta na vida de Britten. Mas hoje celebra-se a limpidez do génio, uma obra que sobreviveu ao tempo como marca tremendamente pessoal inscrita de forma indelével no turbulento e fascinante século XX.
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