Mostrar mensagens com a etiqueta Fernanda Botelho. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Fernanda Botelho. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, agosto 19, 2011

Notícia sobre plantas aromáticas e medicinais no Público


Diário de um passeio de ervas no Festival Andanças 
Fernanda Botelho editou As plantas e a saúde - Guia prático de primeiros socorros (Ariana Editora) e a agenda de 2011 Árvores, arbustos e outras plantas medicinais (Ariana Editora).
Escreve regularmente para o Portal do Jardim e é a autora do blogue Malva Silvestre.
 O festival Andanças realiza-se todos os anos na primeira semana de Agosto, na aldeia de Carvalhais, em São Pedro do Sul. Nos últimos dois anos, Fernanda Botelho foi convidada a orientar workshops e caminhadas de reconhecimento de ervas aromáticas e plantas medicinais pelos montes e vales da região. Em exclusivo para o Life&Style, Fernanda Botelho escreveu o diário da caminhada.

É certo que em Agosto a diversidade de plantas não é muito grande, mas mesmo assim aceitamos o desafio, pois há sempre plantas e árvores com muitas histórias para contar, começando logo à partida pelas árvores que dão origem ao nome da aldeia de Carvalhais: os carvalhos que, para meu grande espanto, muitos do cerca de 40 participantes da caminhada, desconheciam.
Em tempos de escassez, as bolotas de carvalhos eram muito apreciadas como alimento, sendo as de sabor mais doce as do Quercus rotundifólia- uma subespécie do Q.ilex- que, para além de serem ingeridas cruas, cozidas, torradas em forma de café, eram ainda moídas e misturadas com outros cereais no fabrico do pão.
De um ponto de vista medicinal, estas bolotas reduzem o fluxo menstrual, tonificando os músculos pélvicos e abdominais, sendo muito úteis em casos de prolápse do útero. No aparelho digestivo são utilizadas para tratar diarreia e disenteria e colite devido à sua acção adstringente. São ainda importantes no tratamento de hemorróidas e varizes. É um conhecido e eficaz remédio para tratar problemas de alcoolismo. Externamente em gargarejos no combate a dores de garganta, amigdalites, infecções da boca e gengivas, frieiras; em lavagens para tratar hemorróidas, feridas, corrimentos vaginais, fissuras anais, pequenas queimaduras.
Em Portugal os Quercus são muito apreciados pela sua resistência ao fogo, pela sua durabilidade e adaptabilidade, pela utilidade das suas bolotas, hoje quase exclusivamente para alimento dos porcos, especialmente do porco preto, mas principalmente para extracção da cortiça.
Portugal é o maior produtor de cortiça do mundo, produzindo cerca de 50 por cento deste material que é a casca do Quercus suber está protegido por lei só podendo ser cortado em situações muito específicas e com autorização especial. A cortiça é extraída de nove em nove anos e não danifica a árvore.

Verdes e rasteiras

Por este andar nem precisamos de ir muito longe, muitas das plantas que crescem à nossa volta são exactamente aquelas que mais nos poderão servir.
Andamos mais 20 metros, olhamos para o chão, e encontramos a tanchagem crescendo ali na beira do caminho, nas partes mais húmidas. Uma excelente planta de primeiros socorros, a tanchagem trata queimaduras, picadas de insectos, inflamações articulares. As suas folhas são um excelente legume que podem ser ingeridas cruas ou cozinhadas, as sementes tenras, ou seja, antes de estarem completamente formadas, têm um sabor a cogumelos puccini. Abundam nos relvados, beiras de caminhos e pradarias.
Sem sequer sair do mesmo lugar descobrimos as silvas, carregadinhas de suculentas amoras, ricas em vitaminas A, B e sobretudo C. Tal como todos os frutos vermelhos, as amoras são muito ricas em anti-oxidantes e tão importantes no combate aos radicais livres!
Para combater os arranhões e o inchaço causados pelos picos das silvas pode utilizar a folha da mesma planta esmagada para desinfectar e estancar o sangue, caso seja necessário. O chá destas folhas é ainda útil no tratamento de diarreia, disenteria, úlceras da boca, gengivites, dores de garganta (podem utilizar-se também em gargarejos), estados gripais, ajuda a baixar a febre e é útil em casos de anemia. Uma vez arrefecido o chá pode ser utilizado como loção para a pele.
As folhas das silvas são bastante adstringentes. Nalgumas culturas mastigam-se os rebentos tenros para aliviar dores de cabeça, sendo que estes também podem ser consumidos em saladas.

Doce como o meliloto

Continuamos a caminhada e encontramos meliloto que muita gente já tinha visto mas que desconhecia o nome e as suas propriedades medicinais. Tal como todas as leguminosas, o meliloto é um excelente fixador de azoto no solo e muito atraente para as abelhas. O seu nome deriva do grego mêli (mel).
É uma planta espontânea, muito comum da nossa flora, que gosta de solos calcários e arenosos. É anti-espasmódica, anticoagulante, sedativa, anti-inflamatória, sobretudo para tratar problemas da vista. Em uso interno e externo, ajuda a tratar varizes e hemorróidas e reduz o risco de flebites e tromboses. Precauções: Não ingerir meliloto se estiver a tomar anticoagulantes.
Depois encontramos malvas, uma das plantas mais utilizadas em Portugal para tratar os mais diversos problemas inflamatórios desde conjuntivites, gengivites, inflamações vaginais ou inflamações cutâneas. Para além dos chás e lavagens, pode usar as folhas em sopas e as flores em saladas.
Encontramos a dedaleira que NÃO se pode consumir em sopas ou saladas devido à sua toxicidade, mas no entanto é muito procurada pela indústria farmacêutica para sintetização dos seus componentes, digitalina e digitoxina, para fabrico de medicamentos cardíacos.
Encontramos fetos e pinheiros, urzes e mentas, todas elas ervas com interesse terapêutico e culinário. A urze é muito eficaz contra infecções urinárias e a menta é reconhecida enquanto planta refrescante e digestiva sendo utilizada na culinária de vários países em molhos, sobremesas, sumos e refrescos.
Encontramos trevos, camomilas, oregãos e celidónia, ou erva-do-betadine, utilizada principalmente para tratar verrugas.
Encontramos plantas tintureiras e outras desconhecidas, plantas venenosas e plantas comestíveis, plantas para as abelhas e plantas para os humanos.
O passeio durou cerca de três horas e saímos de lá todos mais ricos e com vontade de continuar a desvendar mais segredos de plantas. É bom sentir o entusiasmo e interesse de tanta gente fascinada com tudo o que as plantas têm para nos revelar.


NOTA: este blog tem divulgado algumas actividades de Fernanda Botelho, nomeadamente Formações em Leiria nesta área...