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sexta-feira, junho 10, 2011

Mais uma cretinice do falecido governo que afecta o ensino superior na área das Ciências



Recebi esta carta de um docente de Física-Química, que não quero identificar. A questão que ele coloca parece-me pertinente. Acho muito bem que haja exames de Filosofia, mas não entendo por que razão eles hão-se substituir os exames de Física-Química para quem queira seguir uma carreira científico-técnica!

"Na qualidade de docente de Física-Química do ensino secundário gostaria de dar a conhecer mais um decreto-lei pernicioso para a qualidade do ensino das ciências em Portugal.

Através do Decreto-Lei nº 50/2011, de 8 de Abril, o governo anterior permitiu, vergonhosamente, que alunos do secundário, da área de ciências, possam trocar um dos exames de Física-Química A ou Biologia-Geologia pelo exame de Filosofia.

Tal decreto lei é altamente nefasto para estas áreas disciplinares, tornando, pelo menos uma delas, subalterna em relação à Filosofia, algo difícil de compreender numa área disciplinar de ciências.

Penso que o sr Professor (...) poderia denunciar esta situação, e quem sabe se o próximo governo não revogaria este decreto-lei?

Numa altura em que é certo e sabido que o ensino em Portugal caminha, a passos largos, para uma enorme falta de qualidade e nivelamento por baixo, este decreto-lei é apenas mais uma machadada na destruição do ensino público e na castração dos alunos mais pobres, dando-lhes a entender que é possível subir na hierarquia social simplesmente fugindo do trabalho, do esforço e do rigor."

Ora nem mais! Os alunos com formação socrática poderão dizer com razão " sei que nada sei"...

in De Rerum Natura - post do Doutor Carlos Fiolhais

NOTA:Se calhar esta estranha decisão tem a ver com outra ainda mais estranha, dada hoje pelo Expresso: "José Sócrates vai viver para Paris e estudar filosofia" (ler AQUI). Só não se sabe se José Sócrates vai aprender Filosofia para fazer o exame e entrar num curso superior a sério, se vai para aprender Francês Técnico ou se vai descansar um ano...

domingo, fevereiro 06, 2011

O país de Socas, Milu & Isabelinha - ano 2045

O Futuro do Ensino

Em 2045, num qualquer hospital perto de si
.
- Então o que se passa?
- Senhor doutor, tenho aqui uma dor muito forte, do lado direito do abdómen, por baixo do umbigo. Passei a noite a vomitar.
- Que bom, não sei nada de barrigas, o senhor vai ser um doente muito interessante!
- Como assim, não sabe nada de “barrigas”?!
- Caro amigo, médicos com conhecimento estruturado, de barrigas ou de outra coisa qualquer, já não existem. Isso era antigamente, quando tinham de decorar uma data de coisas. E era logo no primeiro ano. Começavam por uma disciplina a que chamavam “Anatomia”: era um calhamaço inteiro para aprender de cor, imagine-se!
- Então mas isso não é importante?
- Não, de todo! Eles aprendiam de cor mas não percebiam nada do que estavam a ler! Só papagueavam. Sabiam falar-lhe durante horas da aorta ou da veia cava mas se calha nunca tinham visto nenhuma! E essa quantidade estéril de informação tolhia-lhes o cérebro, por isso praticavam uma medicina muito pouco criativa.
- Então e o sr. doutor, como é que aprendeu medicina?
- Pois aí é que está, eu não aprendi. Não lhe disse já que não percebo nada de barrigas? Mas, mais importante, aprendi a aprender medicina. Ou seja, apesar de não saber nada, sei potencialmente tudo. Já viu a sua sorte em ter vindo bater-me à porta?
- Isso é o que vamos ver... Mas espero que em todo o caso tenha tido bons médicos como professores...
- Médicos a ensinar medicina?! Valha-me Deus, que ideia mais medieval! Não meu caro amigo, os médicos foram erradicados do ensino da medicina há mais de vinte anos.
- ?!
- Não percebo o seu espanto. Então acha razoável que as aulas sejam leccionadas por médicos enfadonhos, sem competências ao nível dos processos de ensino/aprendizagem, e que se limitam a debitar umas teorias estéreis virados para o quadro? Eram muito pedantes esses professores, achavam-se o centro das atenções. E os alunos, claro, não percebiam nada. E o pior é que todos os dias se tornavam menos criativos, menos espontâneos, menos empenhados... Não, meu amigo, hoje temos um ensino moderno, as coisas já não funcionam assim! No final do século XX assistimos a enormes progressos no campo da pedagogia. Começou-se por dar formação aos professores do Ensino Básico e Secundário. Depois, progressivamente, as novas metodologias começaram a entrar nas universidades. Primeiro de mansinho, com o processo de Bolonha. Isto aconteceu no início do século. Curiosamente, o meu curso, Medicina, ainda foi o que resistiu mais tempo. Mas ninguém pára o progresso, e ainda bem: com a criação das Direcções Regionais do Ensino Superior, por volta de 2025, já ninguém podia leccionar no Superior sem uma forte preparação nas modernas correntes pedagógicas.
- Mas como funcionam?
- Para começar, temos de perceber que o conceito de professor está ultrapassado. Já não existem professores, o que existe são orientadores/facilitadores das aprendizagens. E as aprendizagens dependem do interesse dos alunos. Eu por exemplo sempre me interessei muito por pés, logo os meus orientadores facilitaram-me essa aprendizagem.
- Por pés?!
- Sim, é que gosto muito da bola, sabe? O meu power-point de fim de Mestrado é sobre a relação entre o tendão de Aquiles e a potência de remate. Ficou espectacular, fiz com recurso a uma ferramenta das novas tecnologias, um software de medicina dinâmica...
- Então mas qual é a formação desses “facilitadores das aprendizagens”?
- É muito variada... seguiram um pequeno módulo de três meses sobre medicina propriamente dita. A partir daí, estudaram pedagogia, sociologia, psicologia, administração pública... são umas pessoas muito completas.
- Não sei como é que pessoas com esse perfil “diversificado” o conseguiram avaliar...
- Avaliar?! Decididamente, o meu amigo parece ter vivido no século passado! Há muito que se sabe que a avaliação não ajuda a consolidar as aprendizagens. Muito pelo contrário, até desajuda. Quem estuda tendo em vista um exame não aprende nada. A avaliação foi inventada pelas elites por forma a poderem manter a sua supremacia. Eram uns fascistas, não queriam que os saberes caíssem à rua.
- Por falar em “saberes”, o que me parece é que o senhor doutor não sabe fazer nada...
- Não diga isso caro amigo, vai ver que vai ficar contente com o meu trabalho. Olhe que tirei nota máxima nas disciplinas de Medicina em Contexto e Comunicação da Medicina. Fazia umas redacções muito interessantes.
- Tirou nota máxima? Então não me disse que nunca foi avaliado?
- Pois, mas tivemos todos nota máxima. É natural, não é? Cada ser humano é único. Dentro da especificidade de cada um, todos somos excelentes.
- Senhor doutor, eu não o quero interromper, mas estou mesmo aflito. Será que pode então tratar-me?
- Sim, meu caro senhor, vamos a isso! Ora bem, como lhe expliquei, não sei nada de barrigas, mas daqui a nada já vou saber tudo. Mas antes, vou ter de fazer umas investigações.
- “Investigações”?!
- Sim. Investigações. Não me pergunte porquê, mas essa palavra (tal como aprendizagens e competências) deve ser usada sempre no plural. Vou usar as investigações para construir o meu próprio conhecimento. Quer conhecimentos mais robustos e genuínos do que aqueles que são construídos pelo próprio sujeito?
- Devo-lhe dizer que começo a ficar desconfiado. Em que consistem essas investigações?
- Ora bem, vou dirigir-me aqui ao meu terminal e interrogar o maior especialista de medicina clínica que existe: a internet. Como disse, isto vai ser mesmo muito interessante.
- A internet?!
- Exactamente! Ninguém sabe mais do que a internet, isso é mais do que óbvio. Hoje tudo está à distância de um clique, não tenho de abrir aqueles livros enfadonhos a preto e branco que conservamos na secção de museologia do hospital, em sinal de aviso às gerações futuras, para que não voltem a cair no erro do culto ao conhecimento estático.
- Então vamos lá.
- Sim, desculpe. Ora bem, deixe-me escrever aqui a minha procura “dor barriga lado direito”. Enter. Pronto, a informação já jorra! Huuumm... pois... tal como suspeitava... sim... sim...
- Já sabe o que tenho?
- Sim, é um problema simples, mas espere um pouco, deixe-me fazer aqui copy-paste para colocar no seu relatório. Agora, para confirmarmos o diagnóstico tenho só de lhe tirar uma radiografia, para ver se aparece uma imagem parecida com esta aqui. Não percebo muito bem o que representa, mas se a sua for igual é porque tem a mesma coisa. A única chatice é que a máquina de raios-X está avariada. Mas não se preocupe, vou já telefonar ao engenheiro biomédico de serviço.

(Passados dez minutos entra o engenheiro)

- Então o que se passa, senhor doutor?
- Queria fazer uma radiografia a este doente, senhor engenheiro, mas a máquina está avariada...
- Que bom! Não sei nada de máquinas de raios-X! Vai ser um serviço muito interessante...

in De Rerum Natura - post de Filipe Oliveira

domingo, setembro 12, 2010

Acesso ao Ensino Superior - já saíram os resultados de 2010

Saíram há pouco no site da Direcção-Geral do Ensino Superior os resultados das candidaturas ao Ensino Superior:


Numa primeira análise parecem-nos favoráveis às instituições que ministram cursos de Geologia e ciências aparentadas com ela - nos próximos dias iremos analisar estes resultados...

Para quem o quiser fazer, aqui fica o link para ficheiro MS Excel sobre todas as colocações - AQUI.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Acesso ao Ensino Superior 2008 e Geociências

A passada noite de sábado para domingo foi muito longa para as famílias (e os próprios...) dos candidatos à Universidade (e afins...). Como de costume este Blog tinha previsto, logo que conseguisse ter um tempinho (a avaliação dos docentes e as outras burocracias estão a levar os professores à loucura logo no início do ano lectivo) publicar os dados do acesso deste ano.

Felizmente tal não foi necessário, pois o Doutor Jorge Dinis, da Universidade de Coimbra, teve a feliz ideia de avançar com esse trabalho, que publicamos agora, num ficheiro MS Excel, com 3 folhas com os resultados globais a nível nacional e na área da Geologia e do Ambiente em particular.

LINK para Ficheiro Excel - AQUI

Mais tarde, logo que a coisa amaine, iremos fazer uma análise aos resultados, bem como fazer o mesmo na 2ª fase das colocações...