quarta-feira, novembro 08, 2023

Fernando de Paços nasceu há um século...!

(imagem daqui)

 

Fernando Zamith de Passos Silva (Viana do Castelo, 8 de novembro de 1923 - Queluz, 18 de junho de 2003), com o pseudónimo Fernando de Paços, foi um tradutor, poeta, cronista e dramaturgo autodidata e nacionalista português.

Fazendo parte do grupo cultural e político Távola Redonda, foi uma das vozes líricas do início da década de 50.

Na sua vida profissional foi secretário e colaborador na revista Távola Redonda (1950-54), publicação oficial do grupo referido acima, e redator da revista Graal (1956-57).

Esteve, desde 1980 até à aposentação, ligado à direção literária da Editorial Verbo.

Era também um pedagogo: "alguém para quem uma das funções do teatro era a de educar divertindo".

... ao lado de um alto grau de exigência, haveria em Fernando de Paços um como que pudor de se exibir na feira literária, com todo o seu ruído, vaidade e emulação. Nem o seu interesse pelo teatro o levou a subir ao palco. Autor de peças infantis e entusiasta de fantoches e marionetas – era, certamente, a faceta lúdica de um homem reservado –, escondia-se atrás da cortina.... A sua vocação não era a de publicista – era, no mundo, a de monge contemplativo.

Era muito amigo dos escritores Luiz Pacheco, de quem era vizinho e mesmo assim com quem trocava correspondência, e de Florentino Goulart Nogueira, com quem colaborou na Graal e depois na revista Tempo Presente.
   
 
 
Momento   
 
 
Portas fechadas a desejos incompletos,
Mitos e vozes da ânsia
De se ter…
Deixa bater a distância
Os corações inquietos
Como se fosse um livro proibido de se ler.
  
Dramas de tantos outros que procuram,
Na baça luz da aurora
Que a vida amanhece,
Tudo aquilo que ignoram e os ignora.
Eu não os creio. Vivem, esquecem
Aquilo que os esquece.
   
Esquecem, absortos
Nas almas de um mundo
Que para si construíram.
E, nas encruzilhadas do Mundo,
Vivos… ou mortos,
Giram.
   
Portas fechadas a desejos incompletos,
Mitos e vozes da ânsia
De se ter…
   
Deixá-los, a olharem a distância,
Inconcretos,
Porque vivem, inconscientes de viver.
Deixá-las, essas vidas que se têm procurado
E só, julgando saber, abraçam
Ilusões que o próprio ser desflora.
Realizam-se… e passam…
Eu, irrealizado,
Espero a Hora.
 
 
Fernando de Paços

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