domingo, dezembro 26, 2021

Alberto Pimenta nasceu há 84 anos

     
Alberto Pimenta
(Porto, 26 de dezembro de 1937) é um escritor, poeta e ensaísta português.

Destaca-se entre os autores europeus contemporâneos pelo carácter crítico e irreverente da sua obra, bem como pela diversidade dos géneros abordados: poesia, ficção, teatro, linguística, crítica, e até mesmo happenings e performances.

 

Vida e obra

Pimenta foi Leitor de Português em Heidelberg, contratado pelo governo português a partir de 1960. Devido à sua oposição ao regime fascista português e à política colonialista em África, foi demitido em 1963. Porém, não voltou ao seu país nesse momento, pois foi contratado pela Universidade de Heidelberg. Aí permaneceu até voltar a Portugal em 1977, poucos anos depois da Revolução dos Cravos.

Em 1977, publicou o livro de poesia Ascensão de dez gostos à boca, que sintetiza a combinação, típica desse autor, da experimentação formal com o inconformismo social e político. Nesse mesmo ano, realizou um histórico happening no Jardim Zoológico de Lisboa: trancou-se numa jaula (que ficava ao lado de uma outra onde estavam dois macacos) com uma tabuleta indicando "Homo sapiens". O acontecimento foi registado no livro homónimo. Também em 1977, lançou o seu livro mais traduzido, "Discurso sobre o filho-da-puta", obra inclassificável que se avizinha do ensaio.

Entre as suas obras teóricas, destacam-se O silêncio dos poetas (1978), lançado originalmente na Itália, e A magia que tira os pecados do mundo (1995). O primeiro livro corresponde a um estudo sobre a poesia concreta (ou concretismo) e visual, principalmente a brasileira e a de língua alemã. O segundo, a uma obra de base teórica antiplatónica dividida em vinte e duas partes, cada uma delas correspondendo a um dos arcanos maiores do tarot. Mitos, arquétipos, literatura, (Dante, Camões, Shakespeare, Fernando Pessoa, António Boto, Emilio Villa, Murilo Mendes, Haroldo de Campos) e artistas plásticos (Oskar Kokoschka, Yves Klein, Pablo Picasso) estão entre os objetos desse livro invulgar.

A partir da década de noventa, a sua obra passou a referir-se mais directamente aos fenómenos ligados à globalização. Ainda há muito para fazer (1998), por exemplo, é um poema longo que parodia os discursos publicitários e da Internet, e trata dos efeitos sociais da Guerra de Kosovo e da União Europeia. É também nessa década que participa no programa da SIC A Noite da Má Língua.

Em 2005, lançou Marthiya de Abdel Hamid segundo Alberto Pimenta, livro de poemas a respeito da invasão do Iraque pelos Estados Unidos.

O caráter insurrecto e experimental da sua obra ainda tornam Alberto Pimenta um autor controverso no meio académico português. Actualmente é professor aposentado da Universidade Nova de Lisboa.

 

in Wikipédia

 

porco trágico I

conheço um poeta
que diz que não sabe se a fome dos outros
é fome de comer
ou se é só fome de sobremesa alheia.
a mim o que me espanta
não é a sua ignorância:
pois estou habituado a que os poetas saibam muito de si
e pouco ou nada dos outros.
o que me espanta
é a distinção que ele faz:
como se a fome da sobremesa alheia
não fosse
fome de comer
também.



Alberto Pimenta

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