segunda-feira, setembro 25, 2006

Levantamento do calhau IV

Erecção do menir é uma tarefa «gigantesca»
Arqueólogos e voluntários vão recorrer a uma máquina de rasto


O menir do Barrocal, perto de Reguengos de Monsaraz, voltou hoje a dar «luta» aos arqueólogos e voluntários que o tentaram levantar, tendo a conclusão dos trabalhos sido adiada para segunda-feira, com recurso a tecnologias do século XXI. A notícia é avançada pela Agência Lusa.
«Já demos por terminado o trabalho ao final da tarde e retomamos a operação segunda-feira, às 08:00, para acabar de levantar o menir, desta vez com a ajuda de uma máquina de rasto», disse à agência Lusa Manuel Calado, o arqueólogo que, durante o fim-de-semana, coordenou o «megaconserto» do monumento megalítico.

O menir do Barrocal, na herdade do mesmo nome, a «dois passos» da vila medieval de Monsaraz (Reguengos de Monsaraz), é o maior monólito do distrito de Évora e o segundo maior da Península Ibérica.

Descoberto há alguns anos, no início do enchimento da albufeira de Alqueva, o menir, com 5,70 metros de altura e 15 toneladas de peso, datado de há cerca de sete mil anos, encontrava-se tombado e, recentemente, tinha sido removido da sua posição devido a trabalhos agrícolas.
Esse facto foi aproveitado para, no início deste ano, uma equipa da Faculdade de Letras de Lisboa iniciar o seu estudo, tendo sido decidido, terminada a investigação, que o menir fosse reposto na sua localização original, desta feita já ao alto, como é normal nestes monumentos megalíticos.

A operação, denominada «megaconserto» e iniciada sábado, pretendeu recriar os métodos usados na pré-história para erguer o monólito e, por isso, as centenas de voluntários que acorreram ao local utilizaram apenas a sua força de braços, quer em troncos que serviram de alavancas, quer nas cordas para puxar o monumento.

A jornada de sábado, após mais de cinco horas de intenso esforço, terminou com o menir a «meia altura», num ângulo de 45 graus, esperando os arqueólogos que o trabalho ficasse hoje concluído.
O que não chegou a acontecer, não só porque esta segunda jornada de trabalho apenas contou com a afluência de cerca de meia centena de voluntários, como também porque o levantamento do menir «é, de facto, uma tarefa gigantesca», como frisou Manuel Calado.
«Colocámos mais pedras a servir de base às alavancas e, depois, como havia menos pessoas, utilizámos os jipes para puxar as cordas. O menir ainda subiu mais um bocadinho, mas resolvemos adiar o resto para segunda-feira».

Deixando de lado os métodos pré-históricos, é a vez de tecnologias mais modernas entrarem em campo, ou seja, o menir do Barrocal vai acabar de ser levantado com a ajuda de máquinas pesadas, mas Manuel Calado recusa que o facto seja encarado como uma derrota.
«Vamos recorrer às máquinas que, convencionalmente, se utilizam neste tipo de restauros arqueológicos, mas não por alguma falha. Queríamos fazer uma operação de arqueologia experimental, nunca antes feita em Portugal com um menir deste tamanho, e conseguimos porque o levantámos, embora não totalmente», frisou.

Para o arqueólogo, ficou provado que «erguer este monumento deve ter sido uma tarefa gigantesca e muito difícil, que necessitou de paciência, perícia e muita gente».
«A ajuda das máquinas, nesta fase, explica-se por falta de tempo, porque não dá para prolongar os trabalhos durante os dias ou semanas que os pré-históricos terão tido, e porque os voluntários também já estão cansados», argumentou.

A fase final do levantamento deverá ser «rápida», acrescentou o arqueólogo, garantindo estar «muito satisfeito» com a operação, que vai permitir que, futuramente, em colaboração com os proprietários da herdade e a autarquia de Reguengos de Monsaraz, o menir, já ao alto, possa vir a ser visitado pelo público.

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