segunda-feira, setembro 14, 2009

A erudição dos políticos


Há muito tempo atrás um político foi quase crucificado por dizer que gostava dos violinos de Chopin. Na altura Santana Lopes era apenas Secretário de Estado mas, e bem, a mácula ficou...

Há poucos dias um pseudo-engenheiro, com um cargo mais grado, resolveu mostrar também a sua erudição. E citou, abundantemente, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, para mostrar a sua sapiência, inteligência e classe, como podem ver NESTE VÍDEO.

Mas, tanta sabedoria, em tão pouco tempo, tinha de dar azar - não é que o moço se enganou a citar o autor dos versos que os assessores, laboriosamente, lhe tinham tentado ensinar...!

É preciso ter falta de sorte com os poetas, caro José Sócrates - que tristeza....

Eis um post do Blog cinco dias que mostra aquilo que os media se recusaram a comentar:

Se calhar também será melhor os marketeiros não o mandarem falar de Chopin

10 de Setembro de 2009 por Francisco Santos

José Sócrates como nunca o viu à SIC (mas já o vimos assim, sim senhor, já vimos muito deste vazio noutras ocasiões):

“Gosto muito da ode do Ricardo Reis, principalmente aquela que fala da Noite, aquela parte em que ele fala dos Portugueses falando de si…….[récita e tal]…..Essa vocação universalista portuguesa tão bem descrita por esse poeta nesse trevo de quatro folhas [certamente passou-se] em que parte de nós atiram aos quatro pontos cardeais é muito próprio da alma portuguesa…ode de Ricardo Reis…fim de citação [Está a ouvir Alexandra? Vá ler poesia, que ele certamente tem lido bastante: ode de Ricardo Reis]

(…)

Uma folha de mim lança para o Norte,
Onde estão as cidades de Hoje que eu tanto amei;
Outra folha de mim lança para o Sul,
Onde estão os mares que os Navegadores abriram;
Outra folha minha atira ao Ocidente,
Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro,
Que eu sem conhecer adoro;
E a outra, as outras, o resto de mim
Atira ao Oriente,
Ao Oriente donde vem tudo, o dia e a fé,
Ao Oriente pomposo e fanático e quente,
Ao Oriente excessivo que eu nunca verei,
Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta,
Ao Oriente que tudo o que nós não temos,
Que tudo o que nós não somos, (…)

ÁLVARO DE CAMPOS *

* Oh, fatalidade! Logo lhe havia de sair o heterónimo que no Opiário diz: Eu fingi que estudei engenharia…”

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