15.01.2007 - 22h14 LusaOs primeiros seres humanos modernos que chegaram da África há 40 mil anos continuaram a evoluir através do contacto com os Neandertais, revelou um estudo elaborado por vários cientistas, entre eles um investigador português da Universidade de Lisboa.
O estudo, publicado hoje na revista "Proceedings of the National Academy of Sciencies", foi elaborado por um grupo de cientistas europeus e norte-americanos, entre os quais o arqueólogo português João Zilhão, professor do Departamento de Arqueologia da Universidade de Bristol, na Inglaterra, e professor auxiliar do Instituto de Arqueologia da Universidade de Lisboa.
Os cientistas compararam os traços físicos nos restos de crânios dos primeiros seres humanos modernos, encontrados em 2003 na caverna "Petera Cu Oase", no Sudoeste da Roménia, com outras amostras do mesmo período Plistocénico.
Segundo o estudo, as diferenças entre os crânios sugerem "uma complexa dinâmica demográfica, à medida que os seres humanos modernos se dispersavam na Europa".
O estudo indica que os fósseis comparados - fragmentos cranianos e de uma mandíbula - têm mais ou menos a mesma idade (35 mil a 40.500 anos, respectivamente) e constituem o conjunto craniano do ser humano moderno mas antigo jamais encontrado na Europa, assim como a melhor prova da sua aparência física.
Primeiros humanos modernos estabeleceram-se no Este europeuUm comunicado divulgado na semana passado pela revista "Science" assinala que os primeiros seres humanos modernos estabeleceram-se no Este da Europa, nas margens do Rio Don, depois de terem chegado, oriundos da Africa subsahariana, há cerca de 45.000 anos.
Os cientistas indicaram na revista "National Proceedings of the National Academy of Sciences" que a comparação dos fragmentos cranianos romenos com os outros crânios revelou características dos seres humanos actuais, como também dos Neandertais, porém, também características importantes que não se apresentam na moderna estrutura óssea da cabeça.
Segundo os especialistas, estas diferenças incluem um achatamento frontal, uma "protuberância mastóide" bastante grande, assim como molares superiores com uma progressão no tamanho, característica dos Neandertais.
Segundo João Zilhão, as diferenças colocam interrogações importantes sobre o desenvolvimento morfológico dos seres humanos, uma vez que estas "podem ser o resultado de uma regressão evolutiva ou o reflexo de uma amostra paleontológica incompleta da diversidade humana no "Paleolítico Médio".
"Também podem constituir prova de uma mistura com as populações Neandertais, à medida que esses seres humanos se propagavam através da Europa ocidental.
Cientistas acreditam em interacção biológica e cultural entre seres humanos modernos e arcaicosSegundo o arqueólogo português, o resultado desta combinação podem ter sido características arcaicas dos Neandertais e combinações especiais que surgiram da mistura de traços de diferentes conjuntos genéticos.
Para Zilhão, a resolução final destas questões vai ter de aguardar pelo estudo de outras amostras fósseis dos primeiros seres humanos que povoaram a Europa, como também de outros espécimes que intervieram na sua evolução morfológica.
Mesmo assim, o português assinala que os estudos dos crânios, encontrados na Roménia somam-se a "um conjunto já existente de evidências fósseis, genéticas e arqueológicas que indicam uma importante interacção biológica e cultural entre os seres humanos modernos e as populações anatomicamente arcaicas, incluindo os Neandertais, com os quais se iam encontrando no seu avanço até Europa ocidental".
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