Se, por esta ocasião, um eventual extraterrestre olhasse o nosso sistema solar, lá de muito longe, e de uma posição sobre o pólo norte da maioria dos componentes deste conjunto formado pelo Sol e pelo cortejo de planetas que giram à sua volta, veria a Terra, Marte e Saturno praticamente alinhados. Esta noite, Marte encontra-se com Saturno e utrapassa-o, podendo ver-se ambos à vista desarmada, tanto da cidade como do campo.
Tal alinhamento dos três planetas dura poucos dias, pois - seria evidente para o suposto ET - os deslocamentos de Marte e da Terra, por serem relativamente rápidos, em breve farão com que o alinhamento se desfaça. Será a Terra a adiantar-se a Marte, por este se mover mais lentamente, ficando Saturno quase estático, tal a lentidão do seu deslocamento.
No entanto, aos observadores terrestres está vedada tal visão, pelo que a nossa percepção sobre a Terra resulta mais complexa e será preciso algum esforço para se estabelecer uma relação clara entre os deslocamentos observados e a verdadeira disposição dos planetas durante as suas extraordinariamente rápidas viagens em volta do Sol. De facto, nos últimos dias tem sido interessante observar a diminuição de distância angular entre o planeta vermelho e o planeta dos anéis. Trata-se, na verdade, de uma diminuição do ângulo (e, daí, a designação de "distância angular") entre as duas linhas que, imaginariamente, ligassem o observador a cada um dos planetas.
Ainda no princípio do mês se avistava Marte um pouco à esquerda de um par de estrelas (Pólux e Castor) de brilho notável e as mais brilhantes da constelação dos Gémeos, enquanto Saturno permanecia projectado sobre as estrelas que constituem o Caranguejo. Depois, lentamente, o pequeno ponto avermelhado foi-se apresentando mais para a esquerda (para Este), enquanto Saturno pareceu sempre na mesma posição.
Embora a próxima noite seja a data precisa em que Marte ultrapassará Saturno, já há dois ou três dias os dois eram visíveis (quase) lado a lado e também nos próximos dias a separação entre ambos não será muito grande. Daqui a um mês o planeta vermelho passará pela estrela Régulo (a mais brilhante da constelação do Leão), enquanto Saturno permanecerá no Caranguejo.
Se de Marte nem um telescópio consegue dar uma imagem muito interessante, o mesmo não sucederá com Saturno. Sendo certo que só um bom binóculo permitirá perceber uma espécie de anel, um instrumento mais simples (um binóculo que amplie apenas sete vezes, por exemplo) permitirá ver o ponto brilhante correspondente a Saturno. Um pouco ao lado, mas ainda no campo do binóculo, poderá ver-se também um amontoado de pontos correspondentes às estrelas que formam um enxame estelar, designado por "Presépio" ou simplesmente por M44.
Na verdade, os "alinhamentos" que os "objectos celestes" parecem apresentar aos observadores situados sobre um planeta pouca relação têm com a distância entre eles. Com efeito, Marte, embora nos pareça "junto" a Saturno, está apenas a 340 milhões de quilómetros da Terra, enquanto a distância para o planeta dos anéis é já de 1480 milhões. Do M44, agora situado por detrás de Saturno, a luz chega-nos mais de 500 anos depois de ter saído de lá, o que corresponde a uma distância superior a 5000 biliões de quilómetros.
in PÚBLICO (Máximo Ferreira)