Equipa da GNR é a única a ter o curso de Espeleologia. Poluição de pecuárias, pedreiras ilegais, caça fortuita e aterros a céu aberto são os problemas mais comuns.
Oito horas. As portas do posto da GNR de Rio Maior abrem-se, mas no seu interior, no gabinete da Equipa de Protecção da Natureza e Ambiente em Zona Específica (EPNAZE), três homens preparam, há longos minutos, mais um dia de vigilância no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. São perto de 40 mil hectares, uma área imensa, onde os crimes ambientais se sucedem poluição provocada pelas pecuárias e pela indústria de curtumes, areeiros ilegais, pedreiras que não cumprem a legislação e caçadores fortuitos.
Mas Rui Freire e Vasco Lopes têm outra mais-valia no currículo. São os únicos guardas no país com o curso de Espeleologia, o que lhes dá liberdade para descer às várias grutas existentes na serra, investigando crimes ambientais, fiscalizando os lençóis freáticos ou mesmo o desaparecimento de pessoas. Preparam a criação de uma equipa de resposta, caso seja necessário socorrer vítimas a muitos metros sob o solo, que possa englobar, para além de elementos da GNR, bombeiros e espeleólogos. Enquanto o terceiro elemento da equipa, Alberto Freitas, não se decide se se aventura ou não neste "novo mundo".
O dia está cinzento e o frio da serra pouco convidativo. Em alguns locais, a chuva teima em cair. "Sinal de que as descargas vão aumentar", diz Rui Freire. E não é preciso sair de Rio Maior para encontrar várias ribeiras, onde a cor escura e o cheiro a podre provam que há pecuárias que não cumprem os requisitos legais. Num caminho de terra batida, uma exploração que "devia ter sido encerrada está de novo a funcionar", alerta o guarda.
Na subida para a serra, a equipa passa por Valverde, em Alcanede, Santarém, onde, recentemente, foram detidos mais de duas dezenas de caçadores ilegais. "Trata-se de uma zona de caça municipal, mas as placas foram retiradas", refere Rui Freire. A poucos quilómetros, proliferam inúmeras pedreiras, sobretudo de calçada. Raros são os casos que cumprem escrupulosamente a lei. "Repare, aqui, está a ser feito um bom trabalho de recuperação", sublinha a equipa, apesar da ausência de placas identificativas.
O caminho para a Gruta do Pena é estreito e tortuoso. A maior sala subterrânea do país, com 125 mil metros cúbicos de volume, foi descoberta há 21 anos e tem atraído muitos visitantes, desde que foi inaugurada, em 1997. Mas só desde o final de 2005 é que existem guardas habilitados a descer ao fundo da gruta. Vasco Lopes é o primeiro a aventurar-se, enquanto Rui Freire aguarda alguns minutos. A descida é lenta e cuidadosa. Desta vez, foi só um treino, mas a equipa está pronta para investigar eventuais crimes que ocorram nos inúmeros algares da serra, para detectar fontes de poluição ou para acompanhar visitas de carácter científico, por exemplo, a zonas onde existem morcegos.
Autos
Em 2005, foram levantados 117 autos de contra-ordenação por diversas infracções detectadas pedreiras, resíduos, aterros e construções ilegais. Foi o resultado de mais de 500 solicitações para a EPNAZE de Rio Maior.
Espeleologia
Porque faltava à GNR a vertente do ordenamento do território cársico, dois guardas fizeram o curso. Este ano vai avançar a segunda fase da exploração, que os tornará autónomos no meio.
SEPNA
A EPNAZE integra o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA), uma especialização da GNR, criada em Janeiro de 2001. Os incêndios florestais, os resíduos e a poluição, o controlo sanitário e protecção animal são algumas das áreas prioritárias.
Meios
Dada a dimensão do parque, mais meios humanos seriam necessários. A equipa não tem mãos a medir com tantas denúncias. A gripe das aves fez subir as solicitações.