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E. M. de Melo e Castro, nome literário de Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro (Covilhã, 1932 - São Paulo, 29 de agosto de 2020), foi um engenheiro, poeta, ensaísta, escritor e artista plástico português.
Figura multifacetada, autor de uma obra caracterizada pela construção de experiências com vários materiais e vários média, a ação de E. M. de Melo e Castro foi particularmente marcante na emergência da poesia experimental em Portugal.
Filho de Ernesto de Campos Melo e Castro (Covilhã, 1896 - Covilhã, 1973), diretor da Escola Industrial e Comercial Campos Melo, neto materno do 1.° Visconde da Coriscada e Comendador da Ordem da Instrução Pública, a 1 de agosto de 1955, e de sua mulher (e duas vezes prima) Maria Gonzaga de Campos e Melo Geraldes.
Foi casado com a escritora Maria Alberta Menéres e pai da cantora Eugénia Melo e Castro.
Licenciatura em Engenharia Têxtil pela Universidade de Bradford (1956); Doutoramento em Letras pela Universidade de São Paulo (1998). Foi professor no Instituto Superior de Arte, Design e Marketing (IADE) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil.
Destacou-se como um dos pioneiros da Poesia Visual (concreta) em Portugal. Ideogramas data de 1962 e reúne 29 poemas concretos, publicados sem qualquer introdução ou nota explicativa; este livro é considerado um marco fundador da Poesia Concreta e do Experimentalismo em Portugal. Participou no primeiro e foi um dos organizadores do segundo número da revista Poesia Experimental, em 1964 e 1966, respetivamente (Ver: Poesia Experimental Portuguesa). Entre as diversas antologias e suplementos em que colaborou, assinale-se a organização de Hidra 2 (1969) e Operação 1 (1967). Também colaborou revista Arte Opinião (1978-1982).
A prática poética de Melo e Castro "tem sido acompanhada por uma teorização sistemática sobre a linguagem e as tecnologias de comunicação. Na sua extensa obra cruzam-se múltiplas práticas e formas experimentais: a explosão grafémica e gráfica que combina a fragmentação da palavra com a espacialização da escrita alfabética e do desenho geométrico; o poema-objeto tridimensional e a instalação; a recombinação intermédia de escrita, som e imagem em movimento; a performance que inscreve a presença corporal, vocal e gestual do autor nas práticas sociais e técnicas de comunicação; a teorização do poema como dispositivo de crítica do discurso no universo saturado dos média". Figura marcante no contexto artístico português dos anos de 1960 e 1970, nas décadas que se seguiram dedicou-se a investigar e a espelhar no seu trabalho as relações entre a arte e o desenvolvimento tecnológico. Foi autor de um conjunto de obras pioneiras na utilização do vídeo e do computador na produção literária, que constituem uma "síntese da consciência autorreflexiva da ciência e da arte contemporânea" (na Universidade Aberta, nomeadamente, desenvolveu entre 1985 e 1989 um projeto de criação de videopoesia denominado Signagens).
A sua prolífica atividade artística foi apresentada em numerosas exposições coletivas, em Portugal e no estrangeiro (entre as quais a histórica Alternativa Zero, 1977); realizou diversas exposições individuais (Galeria 111, Lisboa, 1965; Galeria Buchholz, 1974; Galeria Quadrum, 1978; etc.), espetáculos e happenings (Galeria Divulgação, 1975; Centro de Arte Moderna, Fundação Calouste Gulbenkian, 1985; etc.). Na sua atividade enquanto poeta e crítico publicou dezenas de livros (entre os quais a Antologia da Novíssima Poesia Portuguesa, 1959, em colaboração com Maria Alberta Menéres).
Em 2006, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves apresentou O Caminho do Leve,
uma grande exposição retrospetiva da sua obra; da poesia concreta e
experimental à infopoesia, passando pela videopoesia, sem esquecer a
criação de imagens fractais, a mostra reuniu uma seleção de obras
representativas de quase cinco décadas de trabalho. Em Coimbra, na sua exposição Do Leve à Luz (integrada no ciclo Nas Escritas PO.EX, 2012), apresentou 14 novos Videopoemas.
A 10 de junho de 2017, foi feito Comendador da Ordem do Infante D. Henrique.
Morreu na noite de 29 de agosto de 2020, aos 88 anos, em São Paulo.
in Wikipédia
Aí estás
Aí estás. Solitária entre o pó e os homens,
transposta mas presente, construída
de tão pequenos pensamentos e de tão
leves quase ilusões dos teus sentidos.
Aí estás e não nos tens lembranças,
nem te lembramos, nem te esquecemos,
nem a presença em que estás é nossa
e no entanto és tu.
Para sempre as nossas mãos são actos
do teu querer.
Para sempre os nossos ideais são destroços
de ti.
Aí estás.
Para sempre a nossa ignorância
és tu.
E. M. de Melo e Castro

