Biografia
Filho de Francisco de Bulhão Pato, poeta e
fidalgo português, e da espanhola María de la Piedad Brandy, o poeta nasceu em Bilbau, no
País Basco, e passou os seus primeiros anos no distrito de
Deusto, na época dos dois primeiros cercos de Bilbau (em
1835 e
1836), durante a
Primeira Guerra Carlista. Em
1837, depois de sofrer grandes transtornos, a sua família decide retirar-se para
Portugal.
Em 1845, o jovem Raimundo António matricula-se na Escola Politécnica,
mas não completaria o curso. Ganhou a vida como 2º oficial da 1ª
repartição da Direção-Geral do Comércio e Indústria.
Bon vivant, era apreciador de caçadas, viagens, da
gastronomia e dos
saraus literários, na companhia de intelectuais, como
Alexandre Herculano,
Almeida Garrett,
Andrade Corvo,
Latino Coelho,
Mendes Leal,
Rebelo da Silva e
Gomes de Amorim. Com outras personalidades importantes da sociedade portuguesa da época, forneceu receitas para a obra
O cozinheiro dos cozinheiros, editada em 1870 por
Paul Plantier.
Aderiu à literatura
ultrarromântica
então em voga, acrescentando elementos folclóricos e descrições de
cenas e tipos populares, em linguagem viva e coloquial. O poema
narrativo Paquita, sucessivamente reeditado de 1866 a 1894 e que o tornou célebre, parece já prenunciar um certo
realismo, enquanto a sua poesia satírica reflete uma certa preocupação social.
Em 1850, publica o seu primeiro livro,
Poesias de Raimundo António de Bulhão Pato; em 1862 aparece o segundo,
Versos de Bulhão Pato, e, em 1866, o poema
Paquita. Publicaram-se depois, em 1867 as
Canções da Tarde; em 1870 as
Flôres agrestes; em 1871 as
Paizagens, em prosa; em 1873 os
Canticos e satyras; em 1881 o
Mercador de Veneza; em 1879
Hamlet, traduções das tragédias de
William Shakespeare e do
Ruy Blas de Victor Hugo. Em 1881 seguindo-se outras publicações:
Satyras,
Canções e Idyllios; o
Livro do Monte, em 1896.
Para o
teatro, escreveu apenas uma comédia em um ato,
Amor virgem n'uma peccadora, encenada no
Teatro D. Maria II em 1858 e publicada nesse mesmo ano.
Foi colaborador em diferentes jornais: Pamphletos (1858), a Semana, Revista Peninsular, Revista Contemporanea e Revista Universal, entre outros.
Pelo seu
ultrarromantismo, influenciado por
Lamartine e
Byron, e os seus dotes culinários, Bulhão Pato acreditou ter servido de inspiração a
Eça de Queirós na composição do personagem - algo
caricatural - do poeta "Tomás de Alencar", que aparece em
Os Maias (1888). Ao se crer retratado no
romance - o que Eça negou, numa deliciosa carta ao jornalista
Carlos Lobo d'Ávila -, Bulhão Pato parece ter ficado furioso e, em resposta, escreveu as
sátiras "O Grande Maia" (1888) e "Lázaro Cônsul" (1889).
A Mãe e o Filho Morto
A pobre da mãe cuidava
Que o filhinho inda vivia,
E nos braços o apertavas
O coração que batia
Era o dela, e não do filho,
Que já do sono da morte
Havia instantes dormia.
Olhei, e fiquei absorto
Na dor daquela mulher
Que tinha, sem o saber,
Nos braços o filho morto!
Rezava, e do fundo dalma!
Enquanto a infeliz rezava
O pobre infante esfria
Quando gelado o sentira,
O grito que ela soltou,
Meu Deus! — que dor expressou!
Pensei então: a mulher,
Para alcançar o perdão
De quantos crimes tiver,
Na fervorosa oração,
Basta que Possa dizer:
"Tive um filhinho, Senhor,
E o filho do meu amor
Nos braços o vi morrer!"
Bulhão Pato