sexta-feira, junho 23, 2023

Alfred Kinsey, o fundador da Sexologia, nasceu há 129 anos

 

Alfred Charles Kinsey (Hoboken, 23 de junho de 1894 - Bloomington, 25 de agosto de 1956) foi um entomologista e zoólogo norte-americano. Em 1947, na Universidade de Indiana, fundou o Instituto de Pesquisa sobre Sexo, hoje chamado de Instituto Kinsey para Pesquisa sobre Sexo, Género e Reprodução. As suas pesquisas sobre a sexualidade humana influenciaram profundamente os valores sociais e culturais dos Estados Unidos, principalmente na década de 60, com o início da chamada "revolução sexual". Ainda hoje as suas obras são consideradas fundamentais para o entendimento da diversidade sexual humana. A sua história foi retratada num filme de 2004 intitulado Kinsey - Vamos falar de sexo.
   
Primeiros momentos
Foi o mais velho de três filhos, a sua mãe tinha poucos estudos e o seu pai, apesar de professor no Instituto de Tecnologia de Stevens, era um conservador rigoroso. Ambos eram devotos da Igreja Metodista. Como eram muito pobres, Alfred Kinsey e os seus irmãos cresceram em condições inadequadas, expostos a inúmeras doenças e tratamentos inadequados. Alfred passou por muitas doenças, como raquitismo, febre tifóide e febre reumática. O raquitismo deixou como herança uma curvatura na espinha, o que levou à sua dispensa para servir nas forças armadas.
   
Formação
Quando jovem, Kinsey já mostrava um grande interesse pelas atividades ao ar livre e pelo estudo da natureza. Na escola, era um rapaz tímido, com pouco interesse para os desportos, mas com grande interesse para os estudos académicos e de piano. Contra a sua vontade, ingressou no Instituto de Tecnologia de Stevens, onde o seu pai, que queria um filho engenheiro, lecionava. Não se adaptando à engenharia e contrariando o pai, Kinsey ingressou no Bowdoin College em 1914, onde se graduou em Biologia e Psicologia. Continuou os seus estudos no Instituto Bossey, da Universidade de Harvard, onde estudou biologia aplicada com William Morton Wheeler, um reconhecido entomologista. Continuando seus estudos em Harvard, defendeu a sua tese de doutoramento em 1919, estudando a diversidade biológica de uma espécie de vespa.
   
Atuação como professor
Após completar o seu doutoramento, Kinsey ingressou como professor assistente do departamento de zoologia da Universidade Bloomington de Indiana, em 1920. Era chamado pelos alunos de Prok, um diminutivo de Professor Kinsey. Lá, conheceu Clara Bracken McMillen, a quem passou a chamar carinhosamente de Mac. Kinsey casou com Clara em 1921, com quem teve quatro filhos. Na Universidade de Indiana, continuou os seus estudos de entomologia durante mais de 16 anos. Para isso, recolheu mais de um milhão de exemplares de vespas, posteriormente doadas ao Museu Nacional de História Natural, em Nova York. O seu principal interesse era a história evolutiva das vespas.
     
Pai da Sexologia
Kinsey iniciou os seus estudos sobre práticas sexuais humanas após uma discussão com o colega Robert Krog, na Universidade de Indiana. Após ter concluído, nos seus estudos de entomologia, que nenhuma vespa era igual à outra, e que as práticas de acasalamento das vespas eram extremamente variadas, Kinsey percebeu que, apesar da falta de estudos sobre a sexualidade humana, essa característica de diversidade sexual era comum entre os animais e, dentre estes, os humanos. Kinsey queria que a educação sexual fosse abordada em uma disciplina exclusiva, algo inexistente na época. Ao fazer isto, Kinsey conseguiu criar a disciplina académica de Sexologia, ciência da qual é considerado o criador. Após muita persistência, em 1935 Kinsey conseguiu recursos financeiros da Fundação Rockefeller e pode, então, iniciar a sua pesquisa sobre a sexualidade humana. Para isso, Kinsey montou e treinou uma equipe que entrevistaria, nos anos seguintes, milhares de pessoas em todo o território dos Estados Unidos.
    
      
O Relatório Kinsey
A publicação do primeiro volume do famoso relatório sobre a sexualidade masculina (Sexual Behavior in the Human Male), em 1948, deu origem a uma enorme polémica nos Estados Unidos. O livro foi um dos mais vendidos naquele ano. Rapidamente, Kinsey se transformou numa celebridade, considerado até hoje como uma das personalidades mais polémicas do século XX. Foi capa dos principais jornais e revistas do país. O segundo volume, abordando a sexualidade das mulheres (Sexual Behavior in the Human Female) foi publicado em 1953.
A controvérsia que daí resultou foi inevitável, pois certos dados chocavam a estrutura clássica da família americana no final da década de 40 e início da década de 50. A América acabava de descobrir que, segundo os estudos de Kinsey, 92% dos seus homens e 62% das suas mulheres se masturbava. E que 37% dos homens e 13% das mulheres já tinham tido uma relação homossexual que lhes tinha proporcionado um orgasmo. Neste caso, os factos foram noticiados pela imprensa sensacionalista como uma verdadeira bomba.
Os seus relatórios foram vistos por muitos como o início da revolução sexual da década de 60. Apesar de ainda hoje encontrarmos dados resultantes do Relatório Kinsey, há que ter em conta que esses mesmos dados têm cerca de 50 anos e que, certamente, muitas das práticas e percentuais da época podem certamente ter se modificado.
    
A classificação de Kinsey
Para Kinsey, os seres humanos não se classificam quanto à sexualidade em apenas duas categorias (exclusivamente heterossexual e exclusivamente homossexual), mas apresentam diferentes graus de uma ou outra característica extrema.
        
Críticas e pedofilia
O trabalho de Kinsey tem sofrido, ao longo das décadas, vários questionamentos e refutações de ordem científica. Além disso, grupos conservadores, especialmente cristãos, atacaram Kinsey devido aos dados de seus estudos, considerados por eles imorais e perigosos.
Kinsey já foi acusado de ser um praticante de inúmeras práticas sexuais consideradas "anormais". Na biografia realizada por James H. Jones, ele é referido como bissexual, sádico e masoquista. Supostamente, teria seduzido estudantes e colegas. Segundo afirmam alguns biógrafos, teria ainda feito uma circuncisão em si próprio, sem anestesia. Outros afirmam que ele teria instigado o sexo grupal entre colegas, e coagido a sua mulher e amigos a praticarem sexo, sendo filmados. Kinsey e seu grupo realizaram inúmeros filmes sobre práticas sexuais com fins científicos.
Um artigo na revista Super Interessante mostra um Kinsey masoquista e debilitado por práticas sexuais extremadas que o levaram a morte, além de mostrá-lo como condescendente com a pedofilia. Kinsey teria entrevistado um certo Sr. X, que teria mantido relações sexuais com mais de 600 pré-adolescentes. Além disso, Kinsey acreditava que a diversidade sexual não poderia excluir determinadas parafilias, como a pedofilia. Noutro artigo há uma enorme polémica entre conservadores e religiosos sobre a estreia de um filme sobre Kinsey, estrelado por Liam Neeson
Jones acrescentou que a esposa de Kinsey manteve relações sexuais com outros homens, mas que o casal manteve-se unido durante 35 anos, numa relação sexualmente ativa até o ponto em que Kinsey ficou gravemente doente, falecendo pouco depois. Outro biógrafo, Jonathan Gathorne-Hardy, considera que os filmes realizados por Kinsey na sua segunda etapa de estudos não são científicos, mas simplesmente pornográficos. Entretanto, todas as críticas sobre o comportamento sexual de Kinsey são consideradas especulações, pois não são confirmadas pelo Instituto Kinsey.
Uma das mais conhecidas críticas de Kinsey é a Dra. Judith A. Reisman, chefe da RSVPAmerica (Restore Sexual Virtue and Purity to America). Segundo ela, Kinsey e sua equipe teriam abusado de crianças para chegar a certos dados do relatório Kinsey. No entanto, o coordenador do Instituto Kinsey, John Bancroft, alega que essa temática não é verdadeira, e que teria sido escolhida como apelo emocional para desacreditar os estudos de Kinsey.
Outra organização bastante cética aos trabalhos de Kinsey é o FRC (Family Research Council). O FRC é uma organização religiosa que conta com a participação de políticos conservadores influentes nos Estados Unidos. Além de reforçar as denúncias de Judith Reisman, o FRC procura associar os trabalhos de Kinsey especificamente às questões de orientação sexual e à homossexualidade, consideradas por eles como uma tentativa de afirmação da homossexualidade.
Estatisticamente, há os que também consideram o relatório não representativo. Segundo esses críticos, as parcelas da população americana envolvidas nos questionários não seriam cientificamente representativas à época, já que a maioria dos entrevistados era de cor branca, de classe média, com menos de 35 anos e com formação universitária, bem distante do que seria uma representação fiel dos Estados Unidos na década de 40.
   

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