O Príncipe D. Afonso de Portugal (Lisboa, 18 de Maio de 1475 - Santarém, 13 de Julho de 1491) era o único filho e herdeiro de D. João II e de D. Leonor, reis de Portugal. O rei tanto adorava este seu filho que, em sua homenagem, baptizou de "Príncipe" a ilha mais pequena do arquipélago de São Tomé e Príncipe.
Ainda em criança, D. Afonso casou com a princesa Isabel de Aragão, filha mais velha dos reis católicos. Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão tinham um herdeiro, Juan, que era um jovem frágil que não deveria chegar à idade adulta. A princesa Isabel era, portanto, a herdeira mais provável das coroas de Castela e Aragão e, como estava casada com o Príncipe herdeiro de Portugal, adivinhava-se uma união dos reinos ibéricos sob a alçada de Portugal. Os reis católicos tentaram manobrar diplomaticamente para dissolver o casamento, sem sucesso, dada a influência portuguesa junto do Papa. A sua causa estava aparentemente perdida, quando um acidente salvou Castela e Aragão de uma anexação.
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AS PRIMEIRAS LAGRIMAS DE EL-REI
A M. Pinheiro Chagas
I
O principe morrera, e logo os cortesãos, Em prantos derredor do mortuário leito, Erguem a voz em grita aos céus levando as mãos. II El-Rei, João Segundo, a fronte sobre o peito, Contempla dos brandões à luz ensanguentada O filho, e a dor lhe avinca o grave e duro aspeito. III E eis que, a um gesto do rei, a turba consternada A pouco e pouco sai, reina o silêncio, apenas Cortado pelo uivar longínquo da nortada. IV Sobre o filho curvado, immerso em cruas penas, Aquelle rei sinistro, enérgico e tigrino, Tinha na frouxa voz modulações serenas.
V E o filho inerte e mudo! Então num desatino Deixou-se El-Rei cair, ao acaso, num escabelo E quedou-se a pensar no seu atroz destino. VI Um enorme, um confuso e brônzeo pesadelo Caíu-lhe sobre o enfermo espírito enlutado, E o suor inundou-lhe as barbas e o cabelo. VII Talvez que o triste visse, em sonho alucinado. Do Duque de Viseu o espectro vingativo Apontando-lhe, a rir, o Infante inanimado. VIII E escutasse a feroz imprecação que altivo No cadafalso, outrora, o Duque de Bragança Às faces lhe cuspiu com gesto convulsivo.
IX Súbito ergue-se o Rei, e para o leito avança, E uma lágrima então, embalde reprimida. Das barbas lhe caiu no rosto da criança.
X A vez primeira foi que El-Rei chorou em vida.
Gonçalves Crespo
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