No Blog Voz da Pedra, um dos meus preferidos, Pólux publicou, em 16.12.2005, um poema que nos atrevemos citar... É favor ler os comentários ao poema no Post original para entender a beleza poética e astronómica do mesmo.
Entre os lençóis e as árvores
Uma lâmina de frio vara o silêncio
das vidraças do meu quarto
e desce inquieta sobre o teu xaile de lã virgem.
Estás longe. Muito longe!
Presente, apenas o xaile
e o Dezembro gélido e estranho
que navega na célere vertigem
de dobrar o solstício para atingir o Natal.
Abro a janela.
Um silêncio feminil de luar
suspende-se, nocturno,
e desce das copas das árvores,
trespassa os umbrais
e insinua-se, cheio, pelo quarto.
Lânguida e doce, a claridade da lua
derrama-se e fulgura por sobre a seda
núbil do teu corpo adiado.
Num incêndio de êxtase e mel,
surges-me num afresco
por sobre os lençóis da minha noite.
A bordo dos meus dedos de argila
navegam já todas as tintas e os seus segredos.
Mas os dedos, ansiosos e trémulos como a minha mente,
em vez de avivarem a cores quentes a tua presença,
apenas conseguem esboçar uma réplica da tua ausência,
que persiste, agora, no vazio penumbroso e sombrio dum retrato a sépia.
(Entre os lençóis e as árvores,
o epicentro da minha saudade)
2 comentários:
Lindo.
Desconhecia.
Parabéns pelo bom gosto.
Já corrigi (ao ler tinha ficado com algumas dúvidas, mas...). Vou ver o seu outro Blog (obrigado...).
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