O seguinte texto, escrito por Nuno Crato, inicialmente publicado no Expresso e adaptado para o Blog Sorumbático, vai aqui ser citado na integra...
Como acontece quase sempre que se regista um fenómeno astronómico raro, apareceram notícias sensacionalistas sobre a aproximação de Marte que agora se regista. Houve quem dissesse que o planeta ia aparecer tão grande como a Lua e quem previsse marés mais altas que o habitual. Já disso aqui falámos.
Mas houve agora quem se confundisse e trocasse os pés pelas mãos.
O que está a acontecer com Marte é um fenómeno cíclico que se regista aproximadamente cada 780 dias e a que se chama oposição. Trata-se do alinhamento de Marte, da Terra e do Sol, situando-nos nós entre o planeta vermelho e a nossa estrela. Nessas alturas, Marte aparece-nos visualmente oposto ao Sol.
Os fenómenos de oposição são interessantes por razões várias. Visto da Terra, o planeta está então frontalmente iluminado pelo Sol, portanto mais brilhante. Está também mais perto de nós, pois tanto a Terra como Marte se encontram do mesmo lado das órbitas. Para dar um exemplo clássico, imagine-se uma pista de corridas onde um carro mais lento se move na faixa exterior e um mais rápido circula na interior. De volta e meia em volta e meia o carro interior (a Terra) alcança por trás o carro exterior (Marte). Alcança-o e ultrapassa-o. No momento da ultrapassagem os dois carros alcançam a distância mínima entre eles. Quase que se tocam. Com os planetas passa-se algo semelhante, mas como as órbitas não são circulares - e sim elípticas, com eixos não alinhados -, o momento de oposição difere uns dias do de maior proximidade. O primeiro tem lugar esta segunda-feira dia 7, enquanto o segundo teve lugar no passado domingo, dia 30.
Felizmente para nós, o maior brilho aparente de Marte devido à oposição não é um fenómeno instantâneo. A luminosidade espectacular do planeta vermelho irá manter-se por mais umas noites. Este fim-de-semana, por exemplo, será interessante vê-lo levantar-se a leste por alturas do pôr-do-sol. É um inconfundível ponto de luz avermelhada e fixa, que se ergue no céu à medida que a noite avança.
O fenómeno recebeu algum destaque na imprensa, mas nem sempre com o rigor necessário ao bom jornalismo. Um despacho da Lusa reproduzido no "Público" de sábado passado, dia 29, acumula tantos erros que é difícil saber por onde começar.
Aí se diz, por exemplo, que Marte aparece de dois em dois anos no céu, quando a realidade é que o planeta está habitualmente visível no céu nocturno e só quando está visualmente perto do Sol é que se torna impossível observá-lo. Diz-se também que Marte está agora num alinhamento perfeito entre a Terra e o Sol, quando a verdade é que Marte é um planeta superior, com órbita externa à da Terra, e por isso nunca aparece entre nós e o Sol - nós é que estamos agora entre os dois astros.
Os jornalistas não têm de ser astrónomos nem têm de ser especialistas em todos os fenómenos e acontecimentos. Mas em jornalismo há uma regra de ouro: quando não se sabe procura-se e pergunta-se. E há no nosso país muito boa gente capaz de esclarecer o que se passa nestes eventos celestes. O papel do jornalista é o de mediador entre as fontes e o público. Mal estaríamos se apenas os cientistas pudessem falar de ciência. É bom que os jornalistas o façam. E é o seu dever. Mas, como em tudo, com respeito pelos factos. O Carmo e a Trindade cairiam com grande estrondo se um jornalista se enganasse no partido de um político ou no clube de um treinador de futebol. Não será desrespeito pela ciência e pelos leitores ter menor rigor nos fenómenos astronómicos?
Como acontece quase sempre que se regista um fenómeno astronómico raro, apareceram notícias sensacionalistas sobre a aproximação de Marte que agora se regista. Houve quem dissesse que o planeta ia aparecer tão grande como a Lua e quem previsse marés mais altas que o habitual. Já disso aqui falámos.
Mas houve agora quem se confundisse e trocasse os pés pelas mãos.
O que está a acontecer com Marte é um fenómeno cíclico que se regista aproximadamente cada 780 dias e a que se chama oposição. Trata-se do alinhamento de Marte, da Terra e do Sol, situando-nos nós entre o planeta vermelho e a nossa estrela. Nessas alturas, Marte aparece-nos visualmente oposto ao Sol.
Os fenómenos de oposição são interessantes por razões várias. Visto da Terra, o planeta está então frontalmente iluminado pelo Sol, portanto mais brilhante. Está também mais perto de nós, pois tanto a Terra como Marte se encontram do mesmo lado das órbitas. Para dar um exemplo clássico, imagine-se uma pista de corridas onde um carro mais lento se move na faixa exterior e um mais rápido circula na interior. De volta e meia em volta e meia o carro interior (a Terra) alcança por trás o carro exterior (Marte). Alcança-o e ultrapassa-o. No momento da ultrapassagem os dois carros alcançam a distância mínima entre eles. Quase que se tocam. Com os planetas passa-se algo semelhante, mas como as órbitas não são circulares - e sim elípticas, com eixos não alinhados -, o momento de oposição difere uns dias do de maior proximidade. O primeiro tem lugar esta segunda-feira dia 7, enquanto o segundo teve lugar no passado domingo, dia 30.
Felizmente para nós, o maior brilho aparente de Marte devido à oposição não é um fenómeno instantâneo. A luminosidade espectacular do planeta vermelho irá manter-se por mais umas noites. Este fim-de-semana, por exemplo, será interessante vê-lo levantar-se a leste por alturas do pôr-do-sol. É um inconfundível ponto de luz avermelhada e fixa, que se ergue no céu à medida que a noite avança.
O fenómeno recebeu algum destaque na imprensa, mas nem sempre com o rigor necessário ao bom jornalismo. Um despacho da Lusa reproduzido no "Público" de sábado passado, dia 29, acumula tantos erros que é difícil saber por onde começar.
Aí se diz, por exemplo, que Marte aparece de dois em dois anos no céu, quando a realidade é que o planeta está habitualmente visível no céu nocturno e só quando está visualmente perto do Sol é que se torna impossível observá-lo. Diz-se também que Marte está agora num alinhamento perfeito entre a Terra e o Sol, quando a verdade é que Marte é um planeta superior, com órbita externa à da Terra, e por isso nunca aparece entre nós e o Sol - nós é que estamos agora entre os dois astros.
Os jornalistas não têm de ser astrónomos nem têm de ser especialistas em todos os fenómenos e acontecimentos. Mas em jornalismo há uma regra de ouro: quando não se sabe procura-se e pergunta-se. E há no nosso país muito boa gente capaz de esclarecer o que se passa nestes eventos celestes. O papel do jornalista é o de mediador entre as fontes e o público. Mal estaríamos se apenas os cientistas pudessem falar de ciência. É bom que os jornalistas o façam. E é o seu dever. Mas, como em tudo, com respeito pelos factos. O Carmo e a Trindade cairiam com grande estrondo se um jornalista se enganasse no partido de um político ou no clube de um treinador de futebol. Não será desrespeito pela ciência e pelos leitores ter menor rigor nos fenómenos astronómicos?
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