terça-feira, fevereiro 08, 2022

O poeta brasileiro Augusto Frederico Schmidt morreu há 57 anos

(imagem daqui)
   
Augusto Frederico Schmidt (Rio de Janeiro, 18 de abril de 1906 - Rio de Janeiro, 8 de fevereiro de 1965) foi poeta da segunda geração do Modernismo; falou de morte, ausência, perda e amor em seus poemas. Foi também editor, dono da Livraria Schmidt Editora, no Rio de Janeiro. Foi casado com Yedda Ovalle Schmidt.
  
Obra
Entre os seus principais livros estão O Galo Branco (1948), Estrela Solitária (1940) e Prelúdio à Revolução. Como editor, publicou livros importantes como Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freire, e Caetés, de Graciliano Ramos. Na sua fase inicial, foi também o principal editor dos escritores integralistas, principalmente de Plínio Salgado.
  
Carreira
Além de poeta, Augusto Frederico Schmidt também foi presidente do Club de Regatas Botafogo entre 1941 e 1942. Um de seus últimos atos de sua gestão foi idealizar a fusão do clube que presidia com o homónimo de futebol, Botafogo Football Club, criando assim o Botafogo de Futebol e Regatas. A ideia surgiu por causa da morte do atleta de basquetebol Armando Albano durante uma partida entre os dois clubes. Apesar de idealizador, o cargo de presidente do novo clube não ficou com Schmidt, mas sim com Eduardo Góes Trindade, então presidente do outro clube.
De espírito criativo e polivalente, foi também empreendedor, tendo sido um dos fundadores da cadeia de supermercados DISCO no Rio de Janeiro, além de sócio maioritário da ORQUIMA S/A, indústria precursora da energia nuclear brasileira englobada pela Nuclebrás em 1975. Foi amigo pessoal do presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976). Escreveu inúmeros discursos para o presidente e várias de suas ideias vieram a ser realizadas, como a criação da Operação Pan-Americana (OPA), uma iniciativa que iria inspirar a Aliança para o Progresso, criada pelos Estados Unidos na administração Kennedy. Criou o famoso slogan de JK: "50 anos em 5". Foi embaixador do Brasil na ONU e na Comunidade Económica Europeia.
Faleceu em 1965, sem deixar descendentes, sendo sepultado no Cemitério de São João Baptista. Tinha duas irmãs, Anitta e Magdalena, esta última, a sua revisora de textos. Era neto do Visconde de Schmidt (Frederico Augusto Schmidt), um dos homens mais ricos do Império, o qual havia amealhado uma imensa fortuna com uma empresa de importação e exportação - Schmidt & Cia.
   
Livraria Schmidt Editora
Schmidt fundou, em 1930, a Livraria Católica no Rio de Janeiro, que se tornaria, posteriormente, a Livraria Schmidt Editora, e que se transformou no ponto de encontro dos intelectuais modernistas da época. Era ali que se reunia o grupo conhecido como "Círculo Católico". A Livraria Schmidt Editora esteve em atividade até 1939, quando foi absorvida e suas instalações foram adquiridas por Zélio Valverde, de cuja firma Schmidt se tornou sócio. De entre os escritores lançados pela Editora Schmidt figuram autores de peso, tais como Graciliano Ramos, Raquel de Queirós, Vinícius de Morais, Gilberto Freyre e Jorge Amado, entre outros.
  

  
   
A PARTIDA

Quero morrer de noite —
.............As janelas abertas,
Os olhos a fitar a noite infinda

Quero morrer de noite.
.............Irei me separando aos poucos,
.............Me desligando devagar.
A luz das velas envolverá meu rosto lívido.

Quero morrer de noite.
.............As janelas abertas.
Tuas mãos chegarão aos meus lábios
.............Um pouco de água
E os meus olhos beberão a luz triste dos teus olhos.
Os que virão, os que ainda não conheço.
.............Estarão em silêncio,
.............Os olhos postos em mim.

Quero morrer de noite.
.............As janelas abertas,
Os olhos a fitar a noite infinda.

Aos poucos me verei pequenino de novo, muito pequenino.
O berço se embalará na sombra de uma sala
E na noite, medrosa, uma velha coserá um enorme boneco.
Uma luz vermelha iluminará um grande dormitório
E passos ressoarão quebrando o silêncio.
Depois na tarde fria um chapéu rolará numa estrada...

Quero morrer de noite -
.............As janelas abertas.
Minha alma sairá para longe de tudo, para bem longe de tudo.

E quando todos souberem que já não estou mais
E que nunca mais volverei
Haverá um segundo, nos que estão
E nos que virão, de compreensão absoluta.


in O Galo Branco (1948) - Augusto Frederico Schmidt

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