terça-feira, julho 01, 2008

150 de Evolucionismo - notícia no Público II

A teoria nasceu há 150 anos
01.07.2008 - Clara Barata

Vinte anos a pensar numa ideia e de repente Wallace disse eureka

A 1 de Julho de 1858, a ideia de que as espécies evoluem ao longo dos tempos através da descendência com modificações foi pela primeira vez apresentada ao público, na Sociedade Lineana de Londres. Mas nem o respeitado naturalista britânico Charles Darwin, nem o mais jovem Alfred Russel Wallace - que, com uma carta enviada da Indonésia, fez Darwin decidir-se a tornar pública a ideia em que vinha a trabalhar há 20 anos - estavam lá. Quem apresentou o artigo "Sobre a Tendência das Espécies para formar variedades; e sobre a perpetuação das variedades e espécies através da selecção" foram dois cientistas amigos de Darwin, Charles Lyell e Joseph Hooker.

Nesse dia, Darwin ficou na sua casa de Down, de luto devido à morte de um dos filhos, e Wallace estava na ilha de Ternate, na Indonésia, a muitos quilómetros de distância, onde tinha chegado a um momento de eureka enquanto sofria com febre devido a um ataque de malária. Darwin e os seus amigos moveram-se rapidamente para apresentar as ideias dos dois cientistas juntas, mas de forma a garantir a primazia de Darwin - que, afinal de contas, andava a pensar nisso há duas décadas.

Mas a leitura do artigo enviado por Wallace a Darwin, mais alguns excertos de ensaios de Darwin, não teve grande impacte, nem nesse serão nem durante os meses seguintes. De tal forma que o presidente da Sociedade Lineana, ao fazer o resumo do ano de 1858, nem sequer a mencionou: "O ano que passou não foi marcado, de facto, por alguma descoberta fantástica daquelas que revolucionam a ciência."

O que trouxe a teoria de Darwin para a ribalta (e ofuscou Wallace, que foi remetido quase para uma nota de rodapé da história), e tornou a evolução através da selecção natural tema de conversa universal, desde os cafés e salões de barbearia até aos mais bem frequentados serões culturais, foi a publicação, em Novembro de 1859, do livro Sobre a Origem das Espécies. Neste livro, o cientista expunha as conclusões de duas décadas de reflexão cuidadosa - e angustiada - sobre o tema, explicado e reexplicado para que as suas ideias fossem compreendidas por todos, e não apenas pelos homens de ciência.

Quando a discussão sobre a teoria da evolução através da selecção natural se espalhou na sociedade, alguns contemporâneos de Darwin sentiram-se mesmo ofendidos, como se ele estivesse a matar Deus. Tirava o homem do centro da natureza, tal como Copérnico, no século XVI, tinha tirado a Terra do centro do sistema solar, substituindo-a pelo Sol. Tal como o heliocentrismo de Copérnico, a teoria da evolução desencadeou uma revolução científica, ao ligar-se, anos mais tarde, com a genética.

A ideia de evolução das espécies não era propriamente nova. Já outros tinham falado nisso, notando, pela ampla observação do mundo natural, dos fósseis e da geologia, que a Terra não podia ter apenas cerca de 6000 anos, como calculou um bispo britânico, baseando-se exclusivamente nos dados relatados no Velho Testamento. Nem as espécies se mantiveram sempre imutáveis, tal como Deus as tinha criado. Havia amplas provas disso, embora faltasse dar o passo fundamental para que esta ideia tivesse pés para andar: descobrir um mecanismo que explicasse como podiam as espécies mudar.

A novidade de Darwin foi propor esse mecanismo: a selecção natural. Este mecanismo diz-nos que características que conferem vantagens aos indivíduos na adaptação ao meio em que vivem - ter músculos das pernas fortes para correr, ou uma boa visão, tanto para distinguir a presa como o predador entre a folhagem, por exemplo - aumentam o sucesso reprodutivo desses indivíduos. Trocando por miúdos: quem for mais eficaz a evitar transformar-se no jantar de outra espécie tem mais oportunidades de ter mais filhos, passando as suas características favoráveis à próxima geração. Ao longo de muitas gerações, as espécies poderiam sofrer modificações importantes, que as transmutavam noutra espécie com características bem diferentes das originais.
E talvez ainda mais importante - e com consequências mais duradouras, no que toca à aceitação da sua teoria -, Darwin não excluía destas leis naturais o próprio homem. O Homo sapiens, apesar de se considerar especial e feito à imagem de Deus, não escapava à regra da selecção natural, como uma corça ou um leão. Também o homem descendia de outras espécies - provavelmente, partilharia antepassados recentes com os grandes primatas, como os chimpanzés e os gorilas, cujas parecenças com os homens são ainda tão fortes.

Chegar a estas conclusões não foi fácil para Darwin - apesar de se basearem em muitas experiências e observações minuciosas. Era um pouco como matar Deus - e ele não era propriamente ateu, chegou a estudar para ser padre. "Estou quase convencido (bem ao contrário da opinião com que comecei) de que as espécies não são (é quase como confessar um homicídio) imutáveis", escreveu ele em 1844, numa carta ao amigo botânico Joseph Hooker.

in Público on-line - link não disponível

150 de Evolucionismo - notícia no Público

Quem tem medo de Darwin?
01.07.2008, Clara Barata

Passados 150 anos sobre a apresentação da teoria da evolução, cresce o número dos que preferem a narrativa do Génesis - e a Europa e o mundo muçulmano são áreas de expansão

O Homo sapiens, a espécie a que todos pertencemos, é produto do acaso de milhões de anos de evolução, uma longa linhagem que nos liga aos grandes primatas, aos mamíferos que começaram a conquistar a Terra depois de terem desaparecido os dinossauros, há 65 milhões de anos, e até às primeiras bactérias? Ou é uma criatura feita à imagem de Deus, e por Deus, e cujo surgimento no planeta é relatado fielmente pelo Livro do Génesis? A resposta, talvez surpreendentemente, continua a não gerar unanimidade. As estimativas são muito incertas, mas boa parte dos 6000 milhões de pessoas que hoje vivem na Terra não dá primazia à explicação encontrada por Charles Darwin.

Faz hoje 150 anos que a teoria da evolução através da selecção natural foi pela primeira apresentada publicamente, numa leitura na Sociedade Lineana de Londres. Neste século e meio que passou, a teoria de Darwin - a que o filósofo Daniel Dennet chamou "a ideia mais brilhante que alguém já teve" - vingou e floresceu, unindo-se à genética, a partir do princípio do século XX. A descoberta das leis fundamentais da biologia permitiu o desenvolvimento de maravilhas como os antibióticos (que contrariam as leis naturais ao impedir que milhões de pessoas morram com infecções que antes eram mortais). No entanto, apesar de a teoria da evolução de Darwin se ter transformado numa pedra basilar do cânone da ciência e da cultura, continua a ser contestada por uma parte importante da população.

O paleontólogo e geneticista norte-americano Stephen Jay Gould dizia que a resistência à teoria da evolução de Darwin - um movimento com ideias variadas, mas que pode ser colocado sob o chapéu da designação "criacionismo" - era "uma controvérsia localizada e distintamente americana, como o Tio Sam ou a tarte de Maçã". Mas, nos últimos anos, esse movimento transformou-se num fenómeno internacional, embora de pequena escala, diz o historiador da ciência Ronald Numbers: "O antievolucionismo transformou-se num fenómeno global, um produto tão exportável como as calças de ganga ou o hip-hop."

Criacionismo múltiplo

"O criacionismo é a rejeição da evolução (e princípios científicos relacionados), em favor da criação por uma entidade sobrenatural. A versão mais proeminente, mas não a única, é a que defende que a Terra é muito mais jovem do que dizem os cientistas: apenas umas dezenas de milhares de anos", disse ao P2 Glenn Branch, vice-director do Centro Nacional para a Educação Científica, uma organização com sede na Califórnia que se dedica a combater o criacionismo.
Há criacionistas que aceitam que a Terra será muito mais velha que os 6000 anos estimados pelo bispo inglês James Usher no século XVII, que calculou que a criação do mundo por Deus tinha acontecido a 21 de Setembro de 4004 antes de Cristo. E há um movimento mais recente, ligado ao Instituto Discovery de Seattle, que procura afastar-se das referências bíblicas, para ter um aspecto científico, que é o dos defensores da "concepção inteligente": dizem que o Universo é demasiado complexo para não ter um criador inteligente, uma entidade que obedeceu a um determinado plano. Do acaso da evolução, que agiria de forma gradual, ao longo de gerações, não poderiam ter nascido estruturas complexas como o flagelo que algumas bactérias usam para se propulsionar, como se fosse uma cauda, dizem os partidários da "concepção inteligente", que são normalmente classificados como defendendo uma versão light do criacionismo.

Os muitos rostos da resistência à teoria da evolução têm despontado em vários locais da Europa. Polónia, Holanda, Suíça, Alemanha, Sérvia e Rússia são alguns dos países onde grupos de cidadãos e por vezes ministros expressaram, desde 2000, o desejo de que ideias criacionistas sejam ensinadas lado a lado com a teoria da evolução, como uma explicação alternativa.
No Reino Unido, por exemplo, onde o retrato de Darwin está nas notas de dez libras, gerou-se um escândalo em 2002, quando se soube que uma escola gerida por um grupo religioso, mas apoiada pelo Estado, ensinava a explicação bíblica para a origem da vida, comparando-a com a teoria de Darwin. E una sondagem divulgada em 2006 dava conta de que 12 por cento dos estudantes universitários britânicos aceitavam a explicação do criacionismo, enquanto 19 por cento se sentiam próximos das ideias do movimento da concepção inteligente.

A vanguarda turca

Muitos destes estudantes britânicos andavam nas faculdades de Medicina e eram provenientes de comunidades muçulmanas - o que mostra uma tendência forte dos últimos anos, que é a do crescimento da oposição à evolução entre a população islâmica. Ao que tudo indica, esse crescimento parece ligado à força do ressurgimento religioso na Turquia e, em particular, à actividade de Adnan Oktar (que se apresenta sob o pseudónimo literário Harun Yahya) e da sua Fundação para a Investigação Científica, que produz verdadeiras enxurradas de material defendendo as ideias criacionistas. "Usa elementos do criacionismo dos protestantes americanos, adaptado ao mundo islâmico", diz Glenn Branch.

Além de um site recheado de informação (http://www.harunyahya.com) e de muitas intervenções nas escolas turcas, distribuindo livros e DVD, no ano passado Harun Yahya expandiu-se para a Europa e até para os EUA, enviando a muitas escolas e cientistas cópias do luxuoso livro Atlas da Criação: o livro espanta, pela qualidade das fotografias e da impressão, mas o conteúdo não impressiona. São sobretudo fotos de fósseis e de animais e plantas que existem hoje, e que parecem totalmente iguais (pode-se fazer download do livro a partir do site). Estas imagens servem a Harun Yahya para defender que não houve evolução alguma, que as espécies se mantêm iguais, como sempre, desde que foram criadas.

A actividade de Harun Yahya liga-se à de outro importante movimento de inspiração religiosa turco, com o nome de Fethullah Gulen - este mês, Gulen foi considerado o intelectual mais influente do mundo, numa votação aberta, promovida pelas revistas Foreign Policy e Prospect. Os responsáveis pelas duas publicações dizem que a votação foi manipulada pelos adeptos de Gulen - próximo do partido no poder, o AKP, e em particular do Presidente Abdullah Gul -, que votaram em massa nele. E o site alemão International Relations and Security Network, da universidade de ciência e tecnologia ETH de Zurique (Suíça), diz que o Movimento Gulen se tem empenhado em iniciativas para promover o ensino nas escolas das ideias criacionistas. No ano passado, 600 cientistas turcos assinaram uma petição dirigida ao Ministério da Educação, alarmados com a presença cada vez mais forte das ideias criacionistas nos manuais escolares de Biologia.

Na Europa de Leste, a penetração das ideias criacionistas parece ter sido bem sucedida após a queda do Muro de Berlim, devido aos missionários evangélicos americanos que para lá se deslocaram, diz Glenn Branch, num artigo de 2007 ("Creationism is a Global Phenomenon"). Na Roménia, o Governo foi pressionado a modificar os manuais escolares, para que as crianças não encontrassem ideias contraditórias com as da Bíblia, e na Sérvia chegou a ser mesmo afastada a teoria da evolução dos currículos da escola primária, embora durante pouco tempo (a ministra responsável pela medida foi afastada). Na Rússia, uma aluna de São Petersburgo lançou um processo judicial para que o criacionismo fosse ensinado nas escolas, com o apoio do patriarca Alexius III (a autoridade máxima da Igreja Ortodoxa na Rússia), mas este foi recusado pelo tribunal.

Perigosa igualdade

Todos estes casos levaram o Conselho da Europa a emitir uma declaração, em Outubro de 2007, com um título claro: "Os Perigos do Criacionismo na Educação". "Estamos a assistir a um crescimento de modos de pensamento que desafiam o conhecimento estabelecido acerca da natureza, da evolução, das nossas origens e da nossa posição no Universo", lê-se no documento, que apela à acção para contrariar este movimento: "Há um risco real de se estarem a introduzir graves confusões na mente das nossas crianças, relativamente ao que são convicções e crenças e àquilo que é conhecimento científico. Uma atitude que considera 'todas as coisas em pé de igualdade' pode parecer tolerante e desejável, mas é na verdade perigosa."
Esta declaração é um alerta importante porque, como diz Kenneth Miller, professor de Biologia da Universidade Brown (Rhode Island, EUA) e protagonista da oposição ao avanço do criacionismo nos Estados Unidos, "as comunidades científicas na Europa ainda não começaram a encarar esta ameaça seriamente".

Mas por que está a rejeição da teoria da evolução a crescer? "As sondagens nos Estados Unidos mostram que, desde 1982, o apoio ao criacionismo se tem mantido mais ou menos constante", diz Glenn Branch. "Cerca de 50 por cento dos americanos rejeitam a teoria da evolução, e esta proporção tem-se mantido constante ao longo das décadas", diz Kenneth Miller, através de correio electrónico. "Na Europa, as ideias e tácticas do movimento da Concepção Inteligente são novas. Creio que uma porção substancial [da rejeição da teoria da evolução] se deve a um grande desconforto nas nossas sociedades quanto à ciência moderna. O antievolucionismo é uma forma de as pessoas lutarem contra uma ciência que consideram ameaçadora."

Dimensão política

Esta explicação dá uma dimensão política à rejeição da evolução - que aliás é reconhecida pela declaração do Conselho da Europa: "A guerra contra a teoria da evolução tem muitas vezes origem em várias formas de radicalismo religioso, com relações próximas a movimentos políticos de extrema-direita. O movimento criacionista tem um poder político real."
Se essa relação começa a ser reconhecida na Europa, é já bem conhecida nos EUA. "A evolução é um tema usado pelos membros mais radicais do Partido Republicano para derrotar os republicanos mais moderados nas eleições primárias", comenta, por e-mail, Jon Miller, especialista em literacia científica da Universidade do Michigan, que em 2006 foi o principal autor de um inquérito sobre a aceitação da evolução nos EUA, na Europa e na Ásia, publicado na revista Science. Os países que menos valor davam à teoria de Darwin eram a Turquia e os Estados Unidos.

Não é que as ideias criacionistas andem longe da Casa Branca. Pelo menos durante a campanha eleitoral, o Presidente Ronald Reagan apoiava que se ensinasse a palavra da Bíblia lado a lado com a evolução. E George W. Bush manifestou-se partidário de que "se ensinasse a controvérsia" - lema dos defensores da concepção inteligente, levado até às últimas consequências no julgamento de Dover, na Pensilvânia, em 2005, em que uma mãe processou o distrito escolar, que pretendia colocar adendas nos manuais de Biologia pondo em causa a validade da teoria da evolução.

O exemplo do tabaco

Na verdade, a insinuação da narrativa do Livro do Génesis nos currículos de Biologia e na mente dos cidadãos, semeando a dúvida, tem-se feito muito graças a dois factores, que têm longa história em assuntos polémicos de base científica, como os malefícios do tabaco para a saúde e o aquecimento global. Por um lado, a falta de conhecimento do público sobre ciência; por outro, o apelo ao sentimento de justiça, de dar tempo igual às duas partes de um debate.
"Esta questão tem muito a ver com a literacia científica. O problema é que muitos adultos, tanto nos EUA como a União Europeia, têm um conhecimento frágil sobre a forma como funciona a ciência. Aceitam a ideia de que a ciência se baseia em provas e que é metaforicamente semelhante a um julgamento - com dois lados a litigar, apresentando provas. Mas não sabem como se constrói o consenso científico nem distinguir temas que estão muito para além do que se pode debater de forma racional", diz Jon Miller.

"Quando o público se sente confiante sobre os seus conhecimentos numa determinada área, a estratégia de reclamar tempo igual para duas ideias em confronto não resulta. Por exemplo, ainda há pessoas que defendem que o Sol gira em torno da Terra - na verdade, há um número bastante surpreendente - e usam a mesma estratégia retórica, apelando a que se ensinem todas as visões sobre o tema. Mas a opinião pública não lhes dá crédito, porque a grande maioria sabe que este assunto já foi resolvido há muito tempo, e que há amplas provas científicas a demonstrá-lo", adianta Glenn Branch.

"É útil lembrar a mudança que ocorreu na opinião pública sobre o tabaco. Durante muitos anos, a indústria tabaqueira usou a abordagem da igualdade de oportunidades para apresentar os seus argumentos, dizendo que não eram ainda claros os efeitos do tabaco na saúde, ou que os cientistas não se entendiam entre si. Mas esse argumento foi perdendo força nos EUA e agora há muito menos americanos a fumar do que na Europa, no Japão ou na China", recorda Jon Miller.
Com a evolução, há ainda um grande desfasamento entre o que pensam os cientistas e o que pensa o cidadão comum. Esse é que é o problema, sublinha Glenn Branch. "Infelizmente, embora a validade da evolução já tenha sido resolvida há muito tempo, grande parte dos cidadãos não sabe disso, ou foram enganados, de forma a rejeitarem o consenso científico."

in Público on-line - link não disponível

150 de Evolucionismo!



Faz hoje 150 anos que, pela primeira vez, foi feita uma comunicação científica, na Sociedade Lineana de Londres, em que foi apresentada uma teoria da evolução científica.

Embora os autores não estivessem presentes (Alfred Russel Wallace estava na Indonésia e Charles Darwin estava de luto pela morte do filho mais novo, Charles), esta comunicação, feita por amigos de Darwin (Charles Lyell e Joseph Hooker) não foi muito notada e compreendida na altura - só com a publicação do famoso livro de Darwin é que os cientistas e os comuns mortais se aperceberam de todas as implicações desta teoria.

Celebremos a data, por muitos ignorada, neste momento em que uns certos parvos procuram, afanosamente, em nome de crenças religiosas anti-científicas, denegrir e destruir 150 anos de Ciência...



segunda-feira, junho 30, 2008

Evento de Tunguska - 100 anos

tunguska_event.jpg


Há 100 anos, na remota região da Sibéria Central chamada de Tunguska ocorreu um fenómeno (conhecido por Evento de Tunguska) que ainda hoje causa dúvidas e celeuma (até porque há uns maluquinhos que gostam destas coisas e têm as mais disparatadas teorias sobre o assunto...).

Assim, às 07.15 horas locais "de 30 de Junho de 1908, houve uma gigantesca explosão após uma bola de fogo ser vista atravessando o céu. Não foram encontrados vestígios de meteorito, mas uma onda de impacto devastou toda a região do lago Baikal, afectando em menor grau todo o norte da Europa." (in Wikipédia)

A queda de meteoritos os comentas não é um fenómeno raro, é apenas mais um sinal de que o nosso Sistema Solar não é lugar calmo e pacífico que durante muito tempo se pensou. Se um simples pedaço de cometa que ricocheteou na atmosfera fez os estragos que fez (pese embora o facto de este fenómeno ter ocorrido numa remota região quase desabitada...) há que pensar o que aconteceria hoje se este fenómeno se passasse hoje numa grande metrópole. Se o presente é chave para entender o passado, às vezes o passado tem valiosas lições para o presente e futuro que convém que a nossa espécie não esqueça...

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sexta-feira, junho 27, 2008

Palestra sobre Astronomia em Lisboa

Observatório Astronómico de Lisboa

Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa



O Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) promove Palestras públicas mensais que têm lugar no Edifício Central, pelas 21h30 da última sexta-feira de cada mês. A próxima sessão decorrerá no dia 27 de Junho e terá como tema:

Viagens no espaço-tempo
Prof. Paulo Crawford
FCUL/OAL/CAAUL

Para Newton, existia um tempo absoluto, verdadeiro, matemático que fluía constantemente da mesma forma para todos os observadores. Os relógios de todas as espécies não passavam de meros reflexos, aproximações do tempo metafísico. Quando Einstein estabelece os seus dois princípios, para construir a sua nova teoria, hoje conhecida por Relatividade Restrita,surgem consequências dramáticas. Sendo a velocidade da luz no vácuo uma velocidade finita que estabelece o limite da velocidade de transmissão da informação, não mais é possível falar em acontecimentos distantes no espaço e simultâneos no tempo de uma forma absoluta. Por outras palavras, a simultaneidade de acontecimentos distantes é um fenómeno relativo, que depende do referencial onde esses acontecimentos são observados. Como consequência, o tempo perde o seu carácter absoluto e passa a ser entendido com sendo relativo. Diferentes observadores medem tempos diferentes. Isto abre a possibilidade de se fazer uma viagem no tempo, no sentido em que um dado observador poderá viajar, em certas condições, até ao futuro de outros observadores: um astronauta poderá em teoria fazer uma viagem de 20 anos e voltar à Terra para observá-la após100 anos da sua partida. A grande questão que se abre à discussão científica é a possibilidade de se fazer ou imaginar viagens ao passado, observar a Terra, por exemplo, antes dos nossos avós nascerem. Será isto ciência ou ficção?

VIDEODIFUSÃO DA PALESTRA PÚBLICA

É com enorme prazer que anunciamos que o OAL fará a transmissão da sua Palestra Mensal através da Internet.

No dia 27 de Junho a partir das 21h30 visite o seguinte endereço:
http://live.fccn.pt/oal/

A entrada na Tapada da Ajuda faz-se pelo portão da Calçada da Tapada, em frente ao Instituto Superior de Agronomia.

No final de cada palestra, e caso o estado do tempo o permita, fazem-se observações dos corpos celestes com telescópio. Convida-se o público a trazer os seus binóculos ou mesmo pequenos telescópios caso queiram realizar as suas próprias observações ou ser ajudados com o seu funcionamento.

Para mais informações use o telefone 213 616 730 ou consulte:
http://www.oal.ul.pt/palestras

Dinossáurios de Portugal...pegadas

Do Blog Ciência ao Natural, do divulgador científico, paleontólogo e geólogo Luís Azevedo Rodrigues publicamos o seguinte post:

É com enorme alegria que vejo que o primeiro paleontólogo de vertebrados português (neste caso uma paleontóloga) a adaptar a sua tese e a publicá-la sob a forma de obra de divulgação científica.


É um livro sobre o registo de pegadas de dinossáurio em Portugal, onde é abordado o seu valor científico e patrimonial.

Para além de todas as jazidas portuguesas, individualizadas, é feita introdução sobre os diversos tipos de dinossáurios e os processos geológicos que proporcionaram a sua fossilização.
Acima de tudo, um livro muito pedagógico, com excelentes ilustrações de Mário Estevens, também ele doutorado em Paleontologia.

"Em Portugal existem pegadas e pistas de dinossáurios em zonas litorais e em antigas pedreiras. O estudo destes icnofósseis permite conhecer a anatomia dos pés e das mãos dos dinossáurios que os produziram, o seu modo de locomoção, o seu comportamento individual e social, os ambientes que frequentaram, entre outros aspectos. As jazidas com pegadas de dinossáurios são, assim, uma importante fonte de informação sobre este grupo de animais já extintos há 65 milhões de anos e constituem, igualmente, locais privilegiados para o ensino de temas relacionados com a Geologia e a Paleontologia.

O presente trabalho pretende divulgar o conhecimento científico adquirido com o estudo destas jazidas, realçando o seu valor científico, cultural, pedagógico e patrimonial, e contribuir para a sua preservação."

Páginas do livro



NOTA: os nossos parabéns à Doutora Vanda, pelo livro, e ao Luís Azevedo Rodrigues, pela divulgação...

quinta-feira, junho 26, 2008

Actividade no PNSAC com professores

No fim-de-semana de 5 e 6 de Julho de 2008 os professores eleitos para o Conselho Geral Transitório da minha Escola (a famosa Correia Mateus, em Leiria) irão fazer uma actividade no PNSAC, a que os meus amigos que estejam interessados poderão ir (não posso convidar todos para a totalidade da actividade porque implica dormir em casas e só há 6 quartos nas mesmas...).

Poderão ver todos os dados da actividade no Blog GeoLeiria, no post:
http://geoleiria.blogspot.com/2008/06/actividade-no-pnsac-conselho-geral.html


Nota: Post 1.300 deste Blog...! A coisa faz-se...

terça-feira, junho 24, 2008

Mestrados em Geociências - Universidade de Coimbra

CURSO DE MESTRADO EM GEOCIÊNCIAS

(DE ACORDO COM O MODELO DE BOLONHA, QUE VISA A ACREDITAÇÃO DE COMPETÊNCIAS NO ESPAÇO COMUM EUROPEU)



O 2.º Ciclo em Geociências forma mestres em temas essenciais das Ciências da Terra. Pretende-se fornecer uma formação teórica e prática sólida em áreas de grande relevância para a ciência e para o desenvolvimento económico e social do país. As três áreas de especialização propostas reflectem a diversidade de recursos humanos existentes no Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, os seus interesses científicos e a sua interacção com a comunidade científica internacional e a comunidade empresarial.

PERFIL GENÉRICO DE FORMAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

O Mestre em Geociências será um profissional capaz de realizar autonomamente:
  • Trabalhos de cartografia geológica, geral e temática;
  • Trabalhos de prospecção geológica e de recursos naturais;
  • Colaborar em estudos e trabalhos nas áreas do ambiente, planeamento e ordenamento do território;
  • Trabalhos de investigação em áreas específicas das Geociências e de recolher,
  • analisar, interpretar e comunicar eficientemente a informação geológica, não só para especialistas mas também para outros públicos.

ÁREA CIENTÍFICA DO CURSO: Ciências da Terra
NÚMERO DE VAGAS: 30
DURAÇÃO DO CURSO: 4 semestres
NÚMERO DE CRÉDITOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE: 120 ECTS
PRAZOS DE CANDIDATURA - ANO LECTIVO 2008-2009
  • 1ª Fase: 30 de Abril a 18 de Maio
  • 2ª Fase: 2 a 20 de Julho
  • 3ª Fase: 22 a 30 de Setembro
Candidaturas através do site: www.fct.uc.pt


ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOLOGIA OPERACIONAL

O Mestre em Geociências, na área de especialização em Geologia Operacional, será um profissional especializado nas aplicações da Geologia à prospecção e aproveitamento de recursos geológicos, à Geologia de Engenharia e na cartografia geológica.

PLANO CURRICULAR

1º ANO | 1º Semestre
  • Detecção Remota e SIG
  • Avaliação e Gestão de Recursos Geológicos
  • Hidrogeologia Operacional
  • Geofísica Aplicada
  • ou Seminário de Aquisição e Interpretação de Dados
  • Avaliação de Impactes e Requalificação Ambiental
1º ANO | 2º Semestre
  • Cartografia Temática
  • Tectónica Complementar
  • Geotecnia
  • Prospecção Geoquímica
  • ou Recursos Hídricos
  • Prospecção e Sondagens
2º ANO
  • Dissertação em Geologia Operacional

ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM AMBIENTE E ORDENAMENTO

O Mestre em Geociências, na área de especialização em Ambiente e Ordenamento, será um profissional especializado nas aplicações da Geologia aos estudos de avaliação de impactes, monitorização e gestão ambientais e ao ordenamento do território.

PLANO CURRICULAR

1º ANO | 1º Semestre
  • Detecção Remota e SIG
  • Avaliação de Impactes e Requalificação Ambiental
  • Mudanças Globais
  • Seminário de Geologia Ambiental ou Geofísica Aplicada
  • Análise e Gestão de Recursos Naturais
1º ANO | 2º Semestre
  • Cartografia Temática
  • Recursos Hídricos
  • Geoquímica Ambiental
  • Seminário de Geologia e Ordenamento
  • ou Geoconservação
  • Bacias Fluviais e Sistemas Costeiros
2º ANO
  • Dissertação em Ambiente e Ordenamento

ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOLOGIA DO PETRÓLEO

O Mestre em Geociências, na área de especialização em Geologia do Petróleo, será um profissional especializado nas aplicações da Geologia à prospecção e acompanhamento da prospecção de hidrocarbonetos.

PLANO CURRICULAR

1º ANO | 1º Semestre
  • Detecção Remota e SIG
  • Análise de Bacias Sedimentares
  • Seminário de Geologia de Bacias Atlânticas I
  • Seminário de Aquisição e Interpretação de Dados
  • ou Geofísica Aplicada
  • Avaliação de Impactes e Requalificação Ambiental
1º ANO | 2º Semestre
  • Cartografia Temática
  • Petrologia e Análise de Diagénese
  • Estruturas Geológicas e Interpretação Geofísica
  • Micropaleontologia
  • ou Seminário de Geologia de Bacias Atlânticas II
  • Organização e Comunicação Institucional
2º ANO
  • Dissertação em Geologia do Petróleo


COORDENAÇÃO

Geologia Operacional

Prof. Doutor Luís Vítor Duarte - lduarte@dct.uc.pt

Ambiente e Ordenamento
Prof. Doutor Alcides Pereira - apereira@dct.uc.pt

Geologia do Petróleo
Prof. Doutor Rui Pena dos Reis - penareis@dct.uc.pt

10th International Coastal Symposium

Dear Colleagues

In the name of the organizing Committee we would like to invite you to the


10th International Coastal Symposium, ICS 2009


The ICS 2009 will be held in Lisbon (Portugal) from 13th to 18th April 2009, a joint organization of the e-Geo - Geography and Regional Planning Research Centre of the Universidade Nova de Lisboa and the Coastal Education & Research Foundation . All papers accepted, after being peer-reviewed, will be published in a Special Issue of the Journal of Coastal Research , one of the leading journals in the field of coastal research.


The conference themes are: Acoustic Remote Sensing, Barrier Islands, Beach Processes, Climate Change, Coastal Dunes, Coastal Ecosystems, Coastal Engineering, Coastal Evolution, Coastal Geomorphology, Coastal Hazards and Pollution, Coastal Modelling, Coastal Restoration & Mitigation, Coastal Tourism, Coastal Zone Management, Delta Plain Management, Estuarine & Wetland Restoration, GIS and Remote Sensing Applications, Impact of Extreme Storms, Integrated Catchment and Coastal Zone Management


For more information please go to http://e-geo.fcsh.unl.pt/ICS2009/index.html


Nota: recebido via mailing-list da Geopor

Astronomia para jovens nas Férias

OCUPAÇÃO CIENTÍFICA NAS FÉRIAS

Astrofísica Observacional no OAL

Tal como aconteceu no ano passado o Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) proporciona aos alunos do ensino secundário a possibilidade de trabalharem durante três dias inteiros com os professores/investigadores, na obtenção e processamento de imagem digital, além de lhes facultar a aprendizagem dos conceitos fundamentais da astrofísica associados ao sol, estrelas, nebulosas e galáxias e ainda participarem do ambiente científico do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa, um centro com muita experiência em observação astronómica avançada.

Parte Prática: Desenvolver técnicas de observação da fotosfera, registo das manchas solares e coroa solar: protuberâncias e ejecções de massa coronal. Observação e realização de astrofotografia digital (com filtros BVRI) de enxames estelares, nebulosas e galáxias. Uso de software para processamento de imagem digital. Imagens em cor real.

Parte Teórica: Lições ligeiras de astrofísica do sol, da física das estrelas e das galáxias. Tópicos sobre óptica e o uso de telescópios, câmaras de CCD, parâmetros físicos observáveis e tratamento de imagem.

Estão previstos 3 estágios a decorrer nas seguintes datas:
  • 2 a 4 de Julho
  • 28 a 30 de Julho
  • 27 a 29 de Agosto

Mais informações e inscrições através do seguinte link da página do Ciência Viva: AQUI

Mestrado em Dinâmicas Sociais, Riscos Naturais e Tecnológicos

Recebido via mailing-list da Geopor:


Boa tarde

Divulgo-vos uma apresentação relativa ao Mestrado e Pós-graduação em Dinâmicas Sociais, Riscos Naturais e Tecnológicos, com candidaturas abertas.

Para informações complementares recomendo que contactem o colega Alexandre Tavares (atavares@dct.uc.pt).

Saudações,
Pedro Cunha

NOTA: para obterem a apresentação clicar AQUI.

Pedido de colaboração

Recebido por e-mail, aqui fica um inquérito:


Boa tarde:

Elaborei um pequeno Inquérito online sobre Riscos Naturais e Compra de Imóveis e gostava de pedir uma pequena ajuda.

Que respondessem o mesmo ou que ao menos divulgassem entre seus contactos ou via post. São poucas perguntas.

As regras para preenchimento aparecem no formulário online.

Há dois links para resposta:
Luiz Amadeu Coutinho

quinta-feira, junho 19, 2008

Faz hoje 55 anos


No passado 19 de Junho de 1953
19.06.2008

O veredicto tinha sido declarado dois anos antes, após um julgamento que durara apenas 23 dias. A 5 de Abril de 1951, o juiz Irving R. Kaufman tinha sentenciado à morte o casal Julius e Ethel Rosenberg, considerando-os "culpados de conspiração e de espionagem" e de terem "atraiçoado" os Estados Unidos e, mesmo, terem "alterado o curso da História". A execução aconteceu ao pôr-do-sol de 19 de Junho de 1953, na prisão de alta segurança de Sing-Sing, em Nova Iorque. Durante o julgamento, o casal e os seus advogados afirmaram repetidamente a sua inocência, considerando-se "vítimas da histeria política" que se vivia nesses tempos de Guerra Fria mas Julius e Ethel Rosenberg tornaram-se nas duas únicas pessoas executadas na América durante a Guerra Fria por acusação de espionagem, num processo que viria a dar exemplo e pretexto à cruzada da "Caça às Bruxas", logo a seguir dirigida pelo senador McCarthy. O processo dos Rosenberg, assumidos militantes comunistas, e que o tribunal declarou serem também espiões a favor da URSS, teve como motivo a transmissão de segredos de Estado aos soviéticos relativos ao famoso Projecto Manhattan, que nomeava os planos atómicos americanos, no decorrer da 2ª Guerra Mundial. O irmão de Ethel, David Greenglass, trabalhou nesse projecto a partir de 1944, e acabaria por ser ele a denunciar o seu cunhado como espião.


in Público - link não disponível



NOTA: Como bom português que pretendo ser, não poderia deixar passar esta data, pois sou, naturalmente, agora e sempre, anti-pena-de-morte...

segunda-feira, junho 16, 2008

Sopa de Pedra

Já que estamos (e estaremos, por motivos que brevemente aqui revelaremos...) numa de Açores, aqui fica outro post de um célebre Blog terceirense de um professor da Universidade dos Açores, o Desambientado:


Gosto muito de pedras.
Prefiro-as no meu caminho
Do que dentro dos sapatos.
Haverá desimpedimentos,
Sem aborrecimentos?

Gosto muito de areia;
Debaixo dos meus pés
E fora dos meus olhos.

Prefiro a subtileza,

Á falta de clareza.


Gosto muito de calçadas,
Descalças de preconceito,
Onde se anda sempre a eito.


Gosto muito de bordões,
Que nos apoiam, proféticos,
Nos desequilíbrios éticos.


Gosto muito, muito, muito…
Das pedras do meu mundo,
Porque se um homem é pó,
Uma pedra quer dizer
Que depois de aqui viver,
Vai voltar-se a agrupar,
Numa rocha sedimentar,
Que marcará o seu lugar.


Félix Rodrigues

A evolução dos cones vulcânicos surtsianos

Do Blog GEOCRUSOE, que nos merece uma leitura atenta pelo menos uma vez por semana, publicamos o seguinte post:


No Faial surgem esporadicamente preocupações pelo facto do mar, vento e chuva estarem a destruir o edifício da erupção dos Capelinhos, propondo a plantação de espécies vegetais capazes de impedir tal erosão.

Efectivamente, nas erupções basálticas em mar pouco profundo e onde este entra dentro da chaminé vulcânica, designadas de erupções do tipo surtsiano (surtseiano), dão-se grandes explosões, devido ao contacto da lava quente com a água fria. O que origina cones sobretudo de grãos da dimensão das areias e outros maiores e inicialmente soltos: devido à intensa fragmentação do material assim expelido.


O vulcão dos Capelinhos durante um período de actividade eruptiva do tipo surtsiano, os jactos negro são grãos que construíram o cone


[Foto publicada em: Machado, F. e Forjaz, V. H. - in Actividade Vulcânica do Faial - 1957-67 (1968) Ed. Com. Reg. Turismo Distrito da Horta]


As "areias" acumuladas durante a actividade surtsiana são conhecidas por cinzas vulcânicas - cientificamente o nome é complexo: hialopiroclastitos (sensivelmente significa: fragmentos vítreos formados pelo fogo) - e dão origem a cones fáceis de destruir pelo mar, vento e chuva. Nos Capelinhos, dos mais de 2 km quadrados iniciais, hoje resta talvez menos de 1.


Mas com o tempo, as mesmas chuvas, sais e seres vivos cimentam os grãos, transformando-os naquilo que as pessoas chamam de tufo vulcânico e a erosão passa a ser muito mais lenta. Então a superfície cobre-se de vegetação e quase nem vemos que a destruição continua.


Infelizmente e ao longo de milhares de anos, os grandes edifícios surtsianos continuam a reduzir em tamanho, o mar abre brechas e a erosão intensifica-se ligeiramente.


Então, com o passar dos anos, talvez outros milhares, os grande cones passam a pequenos ilhéus, parecem recifes... até ao dia em que desaparecem no mar como baixios e tornam-se em montes submarinos.

Todos os Faialenses gostam da estrutura construída pelos Capelinhos, interferir artificialmente com a evolução das coisas pode ser tentador, mas a longo prazo não resulta. A Natureza fez o mundo assim e para quem sabe olhar a beleza da Terra, verifica que esta constrói-se com as suas Regras Naturais.

domingo, junho 15, 2008

Poesia

Meditação

Quedei-me no silêncio
Das minhas mágoas
E fiquei prostrado
A ouvi-las.
Levanto-me em silêncio
E comigo trago-as
Sob um sol apagado
...A(s)sumi-las.


in Eu e o Outro, Adelino (1998)

Nascer

Nando

Aqui estou, mundo desconhecido.
Grito, a todos os pulmões, a minha presença.
Sei que sou fruto do Amor de meus Pais,
que estou aqui para algum fim.

Mas tudo é estranho e desconhecido.
Frio.
Seco.
Talvez me habitue.
Talvez se habituem a mim...

Obrigado.


Pedro Luna - poema inédito

O meu dia de anos

Faço hoje 41 anos. Eu, que quase partilhei a data com Fernando Pessoa (e com o dia da morte de Santo António) queria deixar aqui um seu poema, retirado de um interessantíssimo site brasileiro:
http://www.pessoa.art.br/


Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar pela vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui – ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas – doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado –,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!…

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…



Álvaro de Campos - Poemas

Poesia de Fernando Pessoa

Gládio

Deus-me Deus o seu gládio, porque eu faça
.....A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em génio e em desgraça,
As horas em que um frio vento passa
.....Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre o ombros, e doirou-me
.....A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer-justiça são Seu nome
....Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
.....Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha, o que vier, nunca será
.....Maior do que a minha alma!


Ataca, n° 3, 1934, pp. 81
Fernando Pessoa - Poemas Ocultistas (21.07.1913)

Mensagem - Fernando Pessoa

I - Os campos
Primeira Parte | Brasão
Primeiro - O dos Castelos

A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.


08.12.1928

Fernando Pessoa - Mensagem