O cientista Ricardo Serrão Santos garantiu hoje que Portugal “dá cartas no Mundo” na investigação científica das fontes hidrotermais no Atlântico, campos a grande profundidade que estão a merecer a atenção da indústria farmacêutica.
Portugal “dá cartas no mundo em termos de investigação científica nas fontes hidrotermais e é mesmo o nono país em termos de produtividade de artigos científicos”, assegurou à agência Lusa o director do departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores.
Segundo disse, esta prestação de Portugal deve-se, em grande parte, “ao papel que a Universidade dos Açores desempenha” nesta investigação submarina, através do departamento universitário da cidade da Horta. “Há alguns domínios específicos em que a Universidade dos Açores é mesmo a primeira a nível mundial, nomeadamente no estudo dos mexilhões das hidrotermais, porque instalou na Horta um laboratório único que lhe permite fazer estudos sobre fisiologia e genética”, explicou o investigador.
Um dos objectivos da investigação científica é encontrar respostas para sectores como a medicina e a indústria farmacêutica, que continuam a financiar as grandes missões aos campos hidrotermais dos oceanos. Cada vez mais as grandes missões científicas em todo o mundo estão associadas a empresas farmacêuticas, que financiam parte dos trabalhos, procurando mais tarde tirar dividendos das descobertas efectuadas.
Este tipo de investigação científica assume uma maior importância numa altura em que Portugal poderá vir a ter jurisdição sobre uma área do fundo do mar até 350 milhas náuticas, mais 150 milhas do que a actual Zona Económica Exclusiva. O departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) é uma das entidades envolvidas, a par do Governo Regional, na preparação da candidatura a reserva natural das fontes hidrotermais de profundidade existentes ao largo das ilhas.
Candidaturas a aprovar num futuro próximo
Segundo Ricardo Serrão Santos, além das candidaturas recentemente aprovadas pela Convenção OSPAR, entidade encarregue da protecção marinha no Atlântico, outras mais poderão surgir num futuro próximo. A Convenção OSPAR (Oslo/Paris) aprovou recentemente a reclassificação de um conjunto de áreas (Corvo e Canal Pico/Faial) e de fontes hidrotermais (Lucky Strike e Menez Gwen) dentro das 200 milhas da ZEE dos Açores, incluindo, pela primeira vez na história, uma área fora da jurisdição portuguesa, a fonte “Rainbow”, situada 40 milhas para além do limite da ZEE nacional.
“Há muitos anos que estamos a desenvolver um dossier sobre as questões das áreas marinhas protegidas em alto-mar, que têm sido financiadas pelo Governo Regional”, recordou aquele investigador. Em Outubro de 2006, numa reunião do Grupo de Trabalho de Habitats e Espécies da OSPAR, realizada na cidade da Horta, foi formalmente apresentada uma candidatura à protecção das fontes hidrotermais.
“Todos os documentos técnicos foram preparados pelo DOP em colaboração com a Direcção Regional do Ambiente, enquanto a Estrutura de Missão para o Alargamento da Plataforma Continental preparou o enquadramento jurídico e específico do Rainbow”, explicou Ricardo Santos.
A candidatura do Rainbow (curiosamente o mais pequeno dos três campos hidrotermais), situado a 2.300 metros de profundidade, foi o que mais destaque mereceu pelo facto de ficar fora das 200 milhas da ZEE dos Açores, embora dentro da área de alargamento da plataforma continental portuguesa. Para o director do DOP, “trata-se de uma área muito importante”, que “traz uma mais valia para a investigação científica”.
Investir num submersível
Segundo explicou, o local é fértil em “espécies únicas”, que suscitam o interesse dos investigadores, que procuram descobrir propriedades anti-cancerígenas nos organismos de profundidade, que conseguem sobreviver em condições extremas (libertação de gases e temperaturas elevadas).
Ricardo Serrão Santos entende, também, que Portugal deveria investir na construção de um submersível para que possa ter “alguma autonomia na investigação que faz”. Mas isso, realça, implica que o país invista também em navios apetrechados para trabalhar com esses equipamentos.
Actualmente, em toda a Europa, apenas países como a Inglaterra, a Alemanha e a França dispõem de pequenos submarinos, alguns dos quais não tripulados, que permitem descer a grandes profundidades.
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