Ruben Medeiros
Lusa05/08/2007 09:08:9
Conhecida pelas paisagens naturais, a ilha de São Miguel apresenta outros atractivos fora dos roteiros turísticos habituais, que proporcionam aos visitantes uma "experiência intensa" no interior da terra vulcânica.
A Gruta do Carvão, o maior túnel lávico da ilha, localiza-se na zona poente da cidade de Ponta Delgada, numa extensão total de 1.650 metros de comprimento, divididos por três troços.
"Actualmente, só é possível visitar 145 dos 1.650 metros de comprimento da gruta", adiantou à agência Lusa, João Carlos Nunes, o responsável pelo grupo de espeleologia da Associação Ecológica Amigos dos Açores, que tenciona prolongar o percurso para visitantes até aos 500 metros.
Com este aumento da área visitável, a associação gestora do Monumento Natural Regional pretende proporcionar aos visitantes uma "experiência mais intensa" no interior da terra.
A gruta, classificada como Monumento Natural Regional em 2005, possui uma altura máxima de seis metros e uma largura que atinge os 13 metros.
João Carlos Nunes adiantou que, a par do aumento da área visitável da gruta, está por concretizar a abertura de um centro interpretativo, na zona do Carvão, já prometido pelo Governo açoriano.
A infra-estrutura vai conferir maior dignidade às visitas ao túnel lávico, que custam 2,5 euros, e que têm sido solicitadas por grupo de alunos, que efectuam marcações, e turistas continentais e estrangeiros.
Durante o mês de Agosto, a associação está a realizar visitas gratuitas à Gruta do Carvão, integradas no projecto "Ciência Viva no Verão", que foi lançado em 1996 pela Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica.
Alice Palma, 69 anos, uma das primeiras visitantes a chegar à recente estrutura que dá acesso à gruta, na zona do Paim, confessou à Lusa que, apesar das suas dificuldades de locomoção, tinha uma "grande curiosidade" e decidiu lançar-se sozinha nesta aventura.
"Tomei um comprimido para evitar as dores e escolhi calçado mais confortável para poder andar melhor", afirmou a professora reformada, que garantiu ser uma grande amante da Natureza e já ter visitado outras grutas do género no Continente.
Antes da descida à gruta, as quinze pessoas autorizadas por visita podem observar uma exposição de rochas e recebem uma breve explicação sobre o enquadramento geológico das ilhas açorianas e a sua formação, através de um vídeo em português, com imagens das principais cavidades vulcânicas do arquipélago.
Nos Açores, estão inventariadas mais de 200 cavidades naturais, tubos de lava e algares vulcânicos, algumas dos quais com vários quilómetros de caminhos subterrâneos, espalhadas pelas ilhas do Pico, Terceira, São Miguel, São Jorge e Graciosa.
O guia João Fontiela referiu que, brevemente, será realizado um novo filme, com imagens actualizadas, dados mais correctos e traduzido também em inglês.
Antes do grupo colocar os capacetes brancos na cabeça, o guia alerta para o cumprimento rigoroso do código de conduta no interior da gruta, que passa por "não tocar, não deixar e não trazer nada".
"O túnel lávico é frágil e importa tudo fazer para o conservar em bom estado", afirmou João Fontiela, assegurando, porém, que apesar de todas as fendas e buracos existentes no seu interior, a estrutura é segura e já resistiu a várias crises sísmicas.
A visita, que demora aproximadamente uma hora, permite observar paredes estriadas, bancadas a vários patamares, canais sobrepostos e galerias ramificadas, estalactites lávicas, "bolhas de gás" e fendas de arrefecimento.
"Esta gruta, originada por uma corrente de lava, mostra a formação da ilha", explicou o guia, acrescentando que a riqueza reside na variedade de aspectos geológicos, estruturas e fenómenos típicos do vulcanismo basáltico efusivo que podem ser observadas.
Estima-se que a Gruta do Carvão, iluminada por pequenos pontos de luz dispersos ao longo do percurso e pela lanterna do guia, possa ter seis mil anos.
Também a jovem Filipa Tomé, que visitou pela primeira vez a Gruta do Carvão, demonstrou grande admiração com o que viu e ouviu, tendo ficado surpreendida com a mudança de temperatura debaixo da terra.
"Não imaginava que fosse assim, mas estou a gostar muito e a explicação do guia é muito boa", afirmou apressadamente a jovem de 15 anos à Lusa, que não se queria afastar muito do grupo, que entrava já numa outra ramificação da gruta, para não perder nada.
A raiz suspensa de uma árvore fez despertar a curiosidade de todos os visitantes, que ficaram a saber que naquele local a espessura do tecto em relação à superfície não deveria ter mais do que dois a três metros.
No caminho de regresso à superfície, Alice Palma assegurou ter gostado muito da visita, embora o piso de pedra irregular lhe tenha dificultado a locomoção, um aspecto que o guia reconheceu, explicando, porém, que foi mantido propositadamente para assegurar o aspecto natural da gruta.
"Mesmo assim têm vindo muitas pessoas de idades visitar a gruta e todas gostam muito", rematou.
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