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quarta-feira, março 02, 2011

Hoje é dia de Sócrates receber ordens e pedir desculpas e dinheiro

Sócrates põe. Merkel dispõe


Em linguagem oficial, Sócrates "aceitou um convite da chanceler alemã Angela Merkel para uma reunião em Berlim no dia 2 de Março". Em linguagem comum, usada por alguns jornais para intitular a notícia, "Merkel chamou Sócrates a Berlim".

Entre uma e outra situa-se a controversa questão do livre arbítrio: será que o Homem (no caso, o nosso homem em S. Bento) tem de alguma autonomia face ao que a divindade (ou, como diz a dra. Ferreira Leite, "quem paga") dispõe? Em termos ainda mais simples, poderia Sócrates (ou outro nas mesmas circunstâncias) ter recusado o "convite"?

O encontro - marcado, por coincidência, para o dia de mais um dos animados leilões da dívida portuguesa - destinar-se-ia a "discutir" a flexibilização, pretendida por Portugal e a que a Alemanha tem posto as maiores reservas, do Fundo Europeu de Estabilização Financeira. Tendo porém em conta a capacidade negocial de Portugal na matéria, o mais certo é que a senhora Merkel tenha convocado Sócrates só para lhe comunicar o que já decidiu.

Sócrates tem dito e repetido que não quer o FMI a dar ordens em Portugal. Pelos vistos, prefere recebê-las directamente da senhora Merkel. Assim os portugueses sempre podem manter-se na ilusão de que, de 4 em 4 anos, elegem quem os representa e governa e não meros porta-vozes.

As crónicas estarão a partir de hoje de férias, regressando, se a senhora Merkel não dispuser outra coisa, em Abril. 

terça-feira, dezembro 21, 2010

O intrujão, as ordens de Bruxelas e Berlim e o pacote de vagas intenções

«Dito & Feito»
Por José António Lima

NA VÉSPERA da cimeira de Bruxelas, onde vai prestar contas à senhora Merkel e restantes parceiros europeus, José Sócrates anunciou um pacote de meia centena de medidas para aumentar a competitividade da economia - das quais, apesar de tão numerosas, pouco ou nada de concreto se sabe.

O que se sabe é que este extenso rol de medidas é o resultado directo das exigências feitas, há uma semana e meia, pelos eurocratas de Bruxelas a Portugal e, em particular, ao agora quase mudo ministro Teixeira dos Santos (que, contrafeito com o papel a que se viu remetido - de ouvir raspanetes nas reuniões europeias e andar a vender a dívida portuguesa porta a porta por esse mundo fora - se auto-impôs uma greve parcial de declarações públicas). O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, pediu a Teixeira dos Santos «novas medidas de consolidação orçamental», o comissário Olli Rehn insistiu com mais passos «nas reformas estruturais, como a da legislação laboral». E o resultado aí está.

Mas o que parece é que este pacote de 50 intenções vagas, conhecendo nós demasiado bem o estilo e as práticas de Sócrates, se destina mais a iludir os seus colegas europeus e a sossegar as suas exigências do que a ter qualquer efeito na competitividade da economia portuguesa.

Ainda assim, há aqui um padrão de comportamento que se repete. Foi também exactamente na véspera de uma importante cimeira europeia, do Ecofin, no final de Setembro, que Sócrates e Teixeira dos Santos anunciaram ao país o terceiro e mais drástico pacote de medidas de austeridade: corte de 5% nos salários da Função Pública, congelamento de pensões e subsídios sociais, aumento do IVA para 23%, etc. E foi também como resultado das crescentes pressões de Bruxelas que esse pacote foi aprovado em Conselho de Ministros.

Ou seja, o Governo, que há muito perdeu a autonomia e a iniciativa das decisões, passou a ser comandado ao ritmo das directivas de Bruxelas. E a aprovar pacotes de medidas em todas as vésperas de reuniões ou cimeiras europeias. Quanto a Sócrates, continua a dar profusas entrevistas, a desmentir a realidade e a vender ilusões. Reduziu-se a uma espécie de marketeer político. Antes de sair de cena.

«SOL» de 17 Dez 10