23
Mostravam-nos o corpo espedaçado de Khadafi,
depois das primaveras árabes, o mundo
entrava dentro do quarto
a golpes de metralhadora. Os mercados
eram seres bovinos, invisíveis, violando a Europa
num simulacro virtual de Zeus.
Só tu, obstinada, ensanguentavas o olhar, tensíssima,
na tua espera de Deus.
24
Somos o mesmo sangue, querias tu dizer,
e bebias o sumo sem uma palavra.
Um sangue que devia revoltar-se contra o tempo
e escorria das ampolas bebíveis,
ampulhetas sinistras,
quebradas pelos meus dedos.
in De Amore (2012) - Armando Silva Carvalho
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