Falem bem ou falem mal, mas falem da Geologia e falem do Museu da Lourinhã (a propósito, os críticos do concurso de admissão não têm razão nenhuma...).
O Museu da Lourinhã, conhecido sobretudo pelo espólio relacionado com dinossauros do Jurássico Superior, lançou um concurso para a contratação de um funcionário. Entre outras funções, fará a limpeza dos espaços públicos e semipúblicos. Exige também que os candidatos possuam bacharelato ou frequência de licenciatura, dando o ordenado mínimo nacional.
Os moldes em que foi lançado o concurso para a vaga de ‘Guia/recepcionista/apoio à museologia’, foram considerados “caricatos” por alguns potenciais candidatos, devido à exigência de formação curricular elevada para as funções em causa.
O director do museu, Octávio Mateus, entende de maneira diferente e afirma que ele, doutorado, “também faz limpezas” e só lamenta não poder oferecer “o dobro do salário”.
Até agora foram recebidas dez candidaturas, algumas de jovens licenciados. “Mostra de facto como está o País”, diz Octávio Mateus, esclarecendo que “há possibilidade de progressão”.
POUCO PRESTIGIANTE
As condições oferecidas “não prestigiam a classe e incentivam outros empregadores a fazer o mesmo, inclusive os que têm possibilidade de pagar melhor”, lamentam, por outro lado, técnicos do Museu da Lourinhã, contactados pelo CM.
O museu, gerido por uma associação não governamental sem fins lucrativos, pede bacharelato ou frequência de licenciatura e apresenta como condições “preferenciais” formação nas áreas de Museologia, Biologia, Geologia, História, Património, Marketing e Publicidade, Conservação e Restauro, Antropologia, Gestão ou Turismo.
O contrato a celebrar é por “aquisição de serviços, no valor do ordenado mínimo nacional, mais um prémio de desempenho” e o vencimento será pago contra a apresentação de recibo verde.
'PROVOCAÇÃO AOS JOVENS'
Este tipo de concursos é “um pouco desprestigiante”, pois “há muitos jovens sem licenciatura que podem fazer esse trabalho”, disse ao CM Carla Mouro, presidente do Conselho Nacional da Juventude, adiantando que a oferta do salário mínimo nacional é uma “provocação aos jovens que se desgastaram ao longo do curso” em que investiram tempo e dinheiro.
Durante os longos anos de estudo no Ensino Superior, os universitários “não são apoiados”, apesar de as universidades se situarem nos grandes centros urbanos, o que obriga a arranjar alojamento, sabendo-se que não há residências em número adequado.
“Os jovens licenciados que estão no desemprego vivem uma situação desesperada e essa medida poderia ser entendida como uma forma de travar o desemprego, mas os moldes anunciados assemelham-se a uma oferta descarada de trabalho precário.”
in Correio da Manhã, 03.04.2006
4 comentários:
Concordo inteiramente, no entanto, nao deixa de ser um reflexo do estado em que estao as coisas... infortunadamente, recém-licenciados sao "pau para toda a obra", valerá a pena queimar as pestanas durante 4 ou 5 anos para ser recepcionista?
Tudo vale a pena... repare que trabalhar numa instituição como o Museu da Lourinhã dá currículo e há hipótese de progressão... Agora para quem viva longe da Lourinhã, não dará para viver, mas isto está difícil em todas as áreas...
Quem não conhece o Dr. Mateus...que o compre...
É pena que o manto diáfano do anonimato dê para dizer coisas destas...
Não seria melhor assinar o texto e explicar o porquê desta afirmação, caro comentador anónimo?
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