quarta-feira, julho 09, 2008

Ciência Viva no Verão 2008


Ciência Viva no Verão
Edição de 2008 (15 de Julho a 15 de Setembro)

Na praia, no campo, na cidade, de dia ou de noite, faça férias com a Ciência.

Observações astronómicas, passeios científicos, visitas a faróis e a grandes obras de engenharia são algumas das actividades propostas por universidades, centros de investigação, museus, empresas, escolas e associações científicas em todo o país.

Este ano este Blog patrocina e recomenda uma Acção (ver post seguinte...), isto para além das seguintes acções da Geologia no Verão (título com link e resumo incluído) que achamos muito interessantes:

Observar e interpretar a geologia, a geomorfologia e a paisagem na região de Penacova-Buçaco. A importância do rio Mondego na modelação das paisagens.


Num rio, a energia que transporta água e sedimentos, é gerada pelo desnível desde a nascente até ao mar. As alterações climáticas fazem variar o nível do mar e também o regime fluvial (cheias ou estiagens). Vamos conhecer a Geologia entre Penacova e Coimbra, conversando e remando num caiaque pelo Rio Mondego.


Serão apresentadas evidências baseadas na leitura de rochas carbonatadas que nos permitem entender a evolução do ambiente e vida marinha ocorridos em Portugal durante o Jurássico inferior. O registo sedimentar inclui um conjunto de argumentos que comprovam interacções entre a atmosfera e o oceano, entre as quais, um evento à escala global que terá resultado na extinção de invertebrados marinhos.


Observar, analisar e interpretar a paisagem do Parque Natural da Serra da Estrela numa perspectiva múltipla que envolva o ambiente passado e presente, a geologia, os recursos hídricos, a engenharia e a produção de electricidade nos aproveitamentos hidroeléctricos.

Com esta acção pretende-se dar a conhecer aos participantes uma série de locais representativos do património geológico e geomorfológico da Unidade Territorial de Alvaiázere, desde alguns dos maiores megalapiás do Maciço de Sicó até locais como as Fórnias da Cruz e Ucha e Fósseis da Serra da Ameixieira.

Desde a glaciação ao degelo, esta acção pretende dar a conhecer os aspectos geoclimáticos que caracterizaram a região do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, seja através da utilização de tecnologia de realidade virtual existente no Centro Ciência Viva do Alviela ou através da observação in loco. Uma viagem ao longo do tempo onde será também abordado o tema das alterações climáticas.

A riqueza da Gruta do Carvão reside, sobretudo, na grande variedade de aspectos geológicos, com estruturas e fenómenos típicos do vulcanismo que nela se podem observar. Pretende-se proporcionar uma visita guiada à referida gruta, precedida de uma explicação sobre o enquadramento geológico da mesma na ilha e sobre a sua formação, bem como a divulgação de um código de conduta para quem visita grutas.

Visitas às principais nascentes que drenam os aquíferos do Jurássico médio e Inferior do Algarve Central com o objectivo de ilustrar os factores que estão na origem da definição da sua localização. A acção pretende ainda mostrar que estas zonas estão associadas aos locais onde se estabelece conexão hidráulica entre as águas subterrâneas e as Ribeiras do Algarve.

O riquíssimo património natural da região centro litoral é visitado num dos seus locais mais emblemáticos, em que paisagens e ecossistemas do Jurássico Superior se reconstituem a partir do grande Livro da Terra. Os participantes poderão observar fósseis, estruturas sedimentares e rochas, imaginando paisagens deslumbrantes, numa viagem às profundas transformações ambientais que a Terra sofreu.

No Cabo Espichel e na Serra da Arrábida, encontramos evidências geológicas que ilustram a abertura do Oceano Atlântico. Os seres que então habitavam os locais onde se iriam formar as rochas, deixaram as suas marcas (por exemplo pegadas de dinossauro), ou tornaram-se eles próprios parte de rocha (fósseis). O visitante ficará impressionado com a informação que podemos extrair das rochas...

Uma viagem ao passado da Terra, lida num Livro de Rocha, com histórias de antigos continentes e oceanos, ilustradas por fósseis de seres extintos há milhões de anos e encadernadas por uma paisagem deslumbrante marcada por montanhas, vales, rios e...gentes!

Visita guiada ao maciço calcário de Condeixa-Sicó-Alvaiázere e Serra da Lousã, abordando temas da geomorfologia, hidrogeologia, Sedimentologia e Geomonumentos.

A acção permite observar os depósitos relacionados com um antigo litoral situado na Serra dos Candeeiros que permitem considerar a vertente ocidental como uma arriba fóssil. Nos calcários do Jurássico superior da plataforma litoral existem várias grutas no vale encaixado da Ribeira do Mogo onde também se situam as nascentes da Chiqueda que escoam as águas infiltradas na Serra dos Candeeiros.

A acção inicia-se com a visita à Fórnea. Durante o percurso, observam-se aspectos da circulação de águas subterrâneas nas regiões calcárias. De seguida visita-se a gruta da Cova da Velha. À tarde, o percurso passa pelo Polje de Alvados, Portela e visita-se a Gruta da Mouração. A acção termina com a passagem pelas nascentes cársicas do rio Lena.


Na Ribeira da Caranguejeira veja uma nascente de águas com temperatura acima da média regional, visite um vale em canhão escavado pela ribeira, onde foi encontrado o abrigo do Menino do Lapedo, considerado um híbrido entre neandertais e humanos modernos. Conheça ainda as nascentes do Rio Lis entre Reixida e Fontes e a gruta do Buraco Roto.
De manhã desce-se ao Focinho do Cabo Espichel observando-se a saída da Lapa das Pombas invadida pelo mar e, percorrendo um corrimão junto à arriba, entra-se nesta gruta e vê-se a entrada da Furna dos Segredos. Da parte da tarde, visitam-se os sumidouros das águas da depressão da cabeceira do Ribeiro das Terras do Risco e que levam a água até uma nascente litoral, a Gruta dos Morcegos.
A acção inicia-se na nascente do rio Almonda, mostrando-se a represa onde é captada água para a fábrica da Renova, as grutas associadas e os tufos calcários que se depositaram nos terraços do rio. A parte da tarde inclui um passeio pela nascente Rio do Alviela e grutas atravessadas pela ribeira de Amiais, com referência ao enquadramento geológico e aos problemas de contaminação das águas.


sábado, julho 05, 2008

Texto de MFM no Público

Opinião
Os testes de Português podiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola
04.07.2008
Maria Filomena Mónica


Hoje de manhã acordei a pensar no Ministério da Educação. Num mundo ideal, eu seria professora de Português, consistindo a minha missão em sujeitar a exame todos os membros do Gave (Gabinete de Avaliação Educacional), da DGIDC (Direcção-Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular), do GEPE (Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação), da DGRHE (Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação) e da ANQ (Agência Nacional para a Qualificação) usando para o efeito uma “grelha” por mim elaborada.

Este desejo surgiu depois de ter lido os programas, os exames e os critérios de avaliação em vigor. Com filhos crescidos e netos demasiado pequenos para frequentar a escola secundária, tenho andado arredada da matéria, embora, pelo que ia ouvindo, por esquinas e ruas, suspeitasse de que a asneira tivera carta de alforria. Há três semanas, durante uma sessão de autógrafos na Feira do Livro, conversei com algumas professoras do ensino secundário. O encontro despertou o meu apetite por analisar as provas de exame de Português. Havia muito – exactamente desde 1997, quando publiquei "Os Filhos de Rousseau" – que o não fazia.

Não foi difícil obter, na Internet, o seu enunciado, ou antes, não foi difícil depois de o director deste jornal me ter enviado o devido link. Comecei pela Prova Escrita de Português do 12.º Ano de Escolaridade, a qual incluía um texto de Camões, outro de Luís Francisco Rebelo e outro de Guilherme Oliveira Martins. À cabeça, aparecia o extracto do Canto X de "Os Lusíadas", começando em “Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas,/…” e terminando em “Que possuí-los sem os merecer”. Se a inclusão do maior poeta épico português não me admirou, o mesmo não posso dizer das perguntas sobre ele feitas.

No final da primeira parte, pedia-se ao aluno que comentasse, num texto de 80 a 120 palavras, a experiência de leitura de "Os Lusíadas". Com medo de que esta se reduzisse a nada, fornecia-se, em epígrafe, as seguintes linhas de Maria Vitalina Leal de Matos: “Mas o texto é complexo e, por vezes até, contraditório. Em certos momentos exibe uma face menos gloriosa; aquela em que emergem as críticas, as dúvidas, o sentimento de crise.” Não só o excerto era desnecessário, como podia causar perplexidade, uma vez que o esquema a preto e branco inventado pelo Gave não se coadunava com “complexidades”. Por outro lado, pareceu-me extraordinário que, a alunos de 17 e 18 anos, se tivesse de fornecer um glossário, no qual se explicava, por exemplo, o que era o Olimpo. Que andaram os meninos a aprender ao longo de dez anos de aulas de História?

Texto ideológico
Nos Grupos II e III, transcrevia-se um texto de Luís Francisco Rebelo sobre "O Memorial do Convento" de José Saramago, e outro, de Guilherme Oliveira Martins, sobre o P. António Vieira. Do ponto de vista ideológico, o segundo era inócuo, o mesmo não se podendo dizer do primeiro. Depois de um elogio rasgado ao livro, L. F. Rebelo defendia coisas tão etéreas quanto a “a história não é uma categoria imutável e fixa, mas a contínua respiração da realidade, rio cujas águas nunca param e nunca se repetem”, desembocando o seu argumento no conceito de “luta de classes”, após o que remetia para o poema de Brecht, “Perguntas de Um Operário Letrado”, o qual servia de base para defender que "O Memorial do Convento reflectia o conflito entre um “rei beato” e os “servos da gleba”.

A fim de serem facilmente classificadas, muitas questões eram de escolha múltipla, ou seja, a seguir a uma frase vinham quatro opções, o que nos leva a pensar que, segundo a ideologia vigente, há uma e apenas uma Verdade. Como se isto não fosse suficientemente arrepiante, algumas das supostas respostas certas estavam erradas: a vice-presidente da Associação de Professores de Português chamou imediatamente a atenção para a falta de acordo entre os colegas no que dizia respeito às respostas para o grupo II, 7. No último grupo, o III, era pedida ao aluno uma redacção, entre 200 e 300 palavras, sobre a “temática da dignidade humana e do respeito pelos direitos humanos no nosso tempo”. Visto tratar-se de escrever sobre o que passa no século XXI, não entendo a vantagem da inclusão do texto do actual presidente do Tribunal de Contas relativo ao século XVII. Pelos vistos, o contexto temporal desapareceu da cabeça destes pedagogos.

Vale a pena abordar a filosofia subjacente à elaboração do exame. Claro que podia parafrasear algumas passagens do programa da cadeira ou até fornecer um resumo do texto — com 76 páginas — mas isso teria a desvantagem de afastar o leitor da linguagem de quem planeia o ensino em Portugal. Antes de saltar estes parágrafos, lembre-se, por favor, que o esforço que lhe peço não é nada comparado com aquele a que os professores são diariamente sujeitos. Aqui vão alguns extractos retirados do "Programa de Português para os 10.º, 11.º e 12º anos, dos Cursos Científico-Humanísticos e Cursos Tecnológicos", coordenado por Maria da Conceição Coelho, a qual foi, para o efeito, assessorada por João Seixas, José Pascoal, Maria Joana Campos, Maria José Grosso e Maria de La Salette Loureiro.

Eis o começo: “O Português é uma disciplina da formação geral comum aos cursos científico-humanísticos e tecnológicos do ensino secundário que abrange os três anos do ciclo. Visa a aquisição de um corpo de conhecimentos e o desenvolvimento de competências que capacitem os jovens para a reflexão e o uso da língua materna. Em contexto escolar, esta surge como instrumento mas também como conteúdo ou objecto de aprendizagem, tornando-se fundamental, neste ciclo, o aprofundamento da consciência metalinguística e a adopção de uma nomenclatura gramatical adequada que sirva o universo de reflexão.” Abordando a parte 2, eis o que encontramos: “Este programa pretende ser um instrumento regulador do ensino-aprendizagem da língua portuguesa nas componentes Compreensão Oral, Expressão Oral, Expressão Escrita, Leitura e Funcionamento da Língua, instituídas como competências nucleares desta disciplina. (…) Para realizar a interacção entre as diferentes competências, seleccionaram-se vários tipos de textos em que há uma evidente articulação entre protótipos textuais (narrativo, descritivo, argumentativo, expositivo-explicativo, injuntivo-instrucional, dialogal-conversacional) e textos das relações dos domínios sociais de comunicação (relações educativas, relações profissionais, relações com os media, relações gregárias e relações transaccionais). Desta forma, a tipologia textual prevista para o ensino secundário adquire uma dimensão praxiológica, permitindo abordar textos que, cabendo numa das categorias de protótipos textuais, preparam os jovens cidadãos para uma integração na vida sociocultural e profissional.”

Máquina retórica em ritmo automático
No que diz respeito à escrita, eis o que têm a dizer: “Quanto à expressão escrita, pretende-se que seja instituída uma oficina de escrita, em que sejam trabalhadas as tipologias textuais previstas, a partir das quais se desenvolverão as competências naturalmente envolvidas neste tipo de actividade. Propõe-se que esta oficina seja entendida como um trabalho laboratorial, constituindo um espaço curricular em que a aprendizagem e a sistematização de conhecimentos sobre a língua e os seus usos se inscrevem como componentes privilegiadas.” Sobre a leitura, afirma-se: “No âmbito da leitura, promove-se o acesso a textos de várias tipologias, preferencialmente relacionados com a área de formação ou com o interesse dos alunos, bem como a textos dos domínios transaccional e educativo, que contribuem para a formação da cidadania. A leitura do texto literário deverá ser estimulada pois contribui decisivamente para o desenvolvimento de uma cultura geral mais ampla, integrando as dimensões humanista, social e artística, e permite acentuar a relevância da linguagem literária na exploração das potencialidades da língua. Nesse sentido, são seleccionados para leitura obrigatória autores/textos de reconhecido mérito literário que garantam o acesso a um capital cultural comum.” O programador acrescenta: “O convívio com os textos literários acontecerá também quando se puserem em prática contratos de leitura a estabelecer entre professores e alunos.” Que significa um “contrato de leitura” que, ainda por cima, “acontecerá”? Mistério.

Do capítulo dos objectivos, seleccionei apenas três frases, as mais representativas: “Desenvolver capacidades de compreensão e de interpretação de textos/discursos com forte dimensão simbólica, onde predominam efeitos estéticos e retóricos, nomeadamente os textos literários, mas também os do domínio da publicidade e da informação mediática; utilizar métodos e técnicas de pesquisa, registo e tratamento de informação, nomeadamente com o recurso às novas tecnologias de informação e comunicação (TIC); desenvolver práticas de relacionamento interpessoal favoráveis ao exercício da autonomia, da cidadania, do sentido de responsabilidade, cooperação e solidariedade.” Modernaço, não é?

A máquina retórica prossegue em ritmo automático: “A escola deverá promover, no âmbito da consciência linguística, o conhecimento do vocabulário, da morfologia, da sintaxe e da fonologia/ortografia; no que respeita a competência discursiva/textual, o conhecimento das convenções que subjazem à produção de textos orais ou escritos que cumpram as propriedades da textualidade; quanto à competência sociolinguística, o conhecimento das regras sociais para contextualizar e interpretar os elementos linguísticos e discursivos/ textuais; quanto à competência estratégica, o uso de mecanismos de comunicação verbais ou não verbais como meios compensatórios para manter a comunicação e produzir efeitos retóricos.”

Estão fartos? Desculpem, mas não resisto a outra citação: “A aula de Português (…) é, pela especificidade da disciplina, um espaço de transversalidade cultural e linguística, na sua condição de suporte estruturalmente integrado nos outros saberes. (…) Para que os alunos desenvolvam o hábito de ler, propõe-se a criação de um espaço dedicado à leitura recreativa de textos de reconhecido mérito literário, de autores maioritariamente contemporâneos, das literaturas nacional e universal, capazes de transformar os alunos em leitores mais assíduos, quer ao longo do percurso escolar, quer ao longo da vida.” Note-se a aberrante hierarquia: “Nesse espaço, deve ser dada importância aos gostos e interesses dos alunos, cabendo ao professor a sua orientação, sugerindo um leque diversificado de textos a ler. O professor deve constituir-se como entidade facilitadora de práticas de leitura (sublinhado meu) oferecendo aos alunos a possibilidade de encontro com textos interessantes e motivadores, procurando, contudo, suscitar respostas por parte dos leitores durante e após a leitura desses textos.” Só há duas explicações para o programa de Português: ou esta gente é doida ou pretende humilhar os professores.

Não é preciso ir longe para vermos em que fontes andaram os “especialistas” a beber. Basta olhar alguns dos títulos da bibliografia aconselhada: Lussier, D., "Évaluer les Apprentissages dans une Approche Communicative", Paris, Hachette, 1992, Tochon, F.V., "A Língua como Projecto Didáctico", Porto, Porto Editora, 1995, Gohard-Radenkovic, A., "L’Ecrit. Stratégies et Pratiques", Paris, Clé international, 1995, Broncart, J.-P., "Activité Langagière, Textes et Discours", Lausanne, Delachaux et Niestlé S.A., 1996 ou Weaver, C., "Teaching Grammar in Context", Portsmouth, Boynton/Cook Publishers, Inc, 1996 . Todo e qualquer livro, da "La Littérature en Péril" de T. Todorov a "On Looking into the Abyss" de G. Himmelfarb, que ponha em causa a ortodoxia foi banido.

Baixar o insucesso por via burocrática
Voltando ao exame, intrigou-me a ênfase nos autores contemporâneos. Um anjo da guarda explicou-me o motivo. A 4 de Outubro último, através da portaria 1322/2007, Valter Lemos determinou que, este ano, os exames de Português do 12.º ano passassem a ter como matéria, não o que fora dado ao longo do ciclo, como sucedia, mas apenas o leccionado no 12.º ano. Tal como sucedera no exame de Matemática, a mutilação foi deliberadamente planeada, no sentido de tornar mais simples os exames. Pelo meio, desapareceram autores como Eça de Queiroz e Cesário Verde – declaro, é evidente, um interesse pessoal – substituídos por Luís de Sttau Monteiro e José Saramago, cujas obras, "Felizmente Há Luar" e "O Memorial do Convento", são de leitura obrigatória (dada a fama internacional, Fernando Pessoa manteve-se). Em suma, dos clássicos, apenas Camões.

Como qualquer professor sabe, os alunos apenas estudam o que vem para exame, ficando indignados quando lhes “sai” uma coisa não estipulada. A portaria 1322/2007 deu-lhes autorização para esquecer o que eventualmente tivessem aprendido nos dois anos anteriores. Quem viu os telejornais, não pode ter deixado de notar as declarações no sentido de que o exame de Português tinha sido “canja” e que portanto o futuro iria ser risonho. Não, não vai. Porque os alunos, que hoje ostentam uma face optimista, não tardarão a chorar ao verificarem que não arranjam emprego.

A responsabilidade pelo desastre – porque é de um desastre que se trata – deve ser atribuída a quem ocupa o poder, isto é, em primeiro lugar, a Maria de Lurdes Rodrigues, uma ministra cujo objectivo passou a consistir em baixar o insucesso escolar por via burocrática. Qualquer dia até o meu neto, de seis anos, é capaz de responder satisfatoriamente às provas do final da escolaridade. Uma vez que já sabe escrever o seu nome e que responde prontamente a quem lhe pergunta quanto são dois mais dois, penso que não vale a pena matriculá-lo na 1ª classe, deixando-o no recreio até aos 15 anos, altura em que se poderá apresentar a exame como aluno externo. Nem a família terá de se dar à maçada de o levar à escola nem o Estado será forçado a gastar dinheiro com a sua educação. Aliás, foi isso que, após ter realizado o exame de Português, nos disse Felipe Hasslocher: “Não estudei; a Português ou se sabe ou não vale a pena estudar” ("Diário de Notícias", 19-06-2008). De facto, é assim: ou se aprende em casa ou não vale a pena ir às aulas.

Mas voltemos aos exames. A disciplina de Português, obrigatória para todos os alunos que frequentam o 12.º ano, não é a única que aborda temas literários. Existe uma outra cadeira, optativa, de Literatura Portuguesa, resultado da divisão entre a língua e as obras. Se não é a ler os grandes escritores que se aprende a escrever, então como é? Mas disto não querem saber as luminárias. O programa é, de novo, coordenado pela guru Maria da Conceição Coelho, assessorada, desta feita, por Maria Cristina Serôdio e Maria Joana Campos, não sendo, por conseguinte, necessário voltar a cansar o leitor com citações. Quero apenas notar que a bibliografia, além de tendenciosa, contém lacunas. Manda-se os professores lerem R. Andrews, "The Problem with Poetry", Piladelphia, Open University, 1991 e M. Bores et alia, "Estética Teatral: textos de Platão a Brecht", Lisboa, Fundação Gulbenkian, 1996, mas a "História da Literatura Portuguesa", de A. J. Saraiva e Óscar Lopes, não aparece, como não aparece um único livro de João Gaspar Simões. E, por favor, não me venham dizer que são livros datados.

A prova de Literatura Portuguesa para os 11.º e 12.º anos é melhor do que o programa, até porque os escritores escolhidos para análise são Camões e Camilo Castelo Branco. Dado os adolescentes serem particularmente sensíveis ao tema — razão menor, mas que aceito —, a inclusão do soneto que começa com “Amor é um fogo que arde sem se ver…” e de um extracto do Amor de Perdição não me pareceu má ideia. Trata-se de clássicos cujo mérito ninguém disputa. No Grupo III, pedia-se aos alunos para, baseando-se na sua experiência de leitura da lírica trovadoresca, escreverem um texto sobre o tema do sofrimento amoroso nas cantigas de amor. O exame mais bem elaborado é aquele a que um menor número de alunos se sujeitou. Se calhar, uma coisa está relacionada com a outra.

Propaganda da "nomenklatura" europeia
No final, lembrei-me de ver a prova de Língua Portuguesa do 9.º ano, um exame a que foram sujeitos dezenas de milhares de estudantes. Do programa, simplório, não reza a História. Desta feita, o escândalo é o próprio exame. O principal texto – o A – versa a União Europeia. Retirado da Internet, é um artigo de propaganda. Espero que ninguém tenha a tentação de me vir explicar, a mim, que, nos idos de 1960, queimei as pestanas a tentar perceber o que, na opinião de Althusser, era um AIE (Aparelho Ideológico do Estado), e que, na década seguinte, se deliciou a ouvir o “We don’t need no education” dos Pink Floyd, que a escola transmite valores. Mas uma coisa é estar consciente do facto, outra aceitar que nela se transmita propaganda pura e dura. Ora, é isto que acontece nesta prova.

Não só os meninos foram sujeitos à ideologia veiculada pela "nomenklatura" europeia, como o que lhes era pedido se limitava a comentários de índole escolástica. Eis o início: “A União Europeia (EU) está empenhada no desenvolvimento sustentável. Para tal é necessário um equilíbrio cuidado entre prosperidade económica, a justiça social e um ambiente saudável. De facto, quando visados em simultâneo, estes três objectivos podem reforçar-se mutuamente. As políticas que favorecem o ambiente podem ser benéficas para a inovação e competitividade. Por sua vez, estas impulsionam o crescimento económico, que é vital para atingir os objectivos sociais.”

Se eu tivesse sido sujeita a este exame, reprovaria: não porque tivesse lido mal o que lá vinha, mas por saber que algumas das frases tidas como incontroversas são mais do que duvidosas. Dou um exemplo: “Inquéritos realizados têm demonstrado invariavelmente que a vasta maioria dos cidadãos da EU espera que os responsáveis políticos prestem tanta atenção à política ambiental como à política económica e à social.” Em que países se efectuou tal sondagem? Qual a amostra escolhida? Que margem de erro tinham as respostas? Ninguém sabe. Finalmente, a classificação das respostas – com um “V”, de verdadeira, ou “F”, de falsa – revela uma mente totalitária.

Seguia-se um texto de José Saramago sobre o sorriso. Não vou falar do suposto mérito literário do “nosso” Nobel, mas desejo reiterar que me parece absurdo fomentar a leitura com base em autores contemporâneos. Nem estes são de leitura acessível nem, mais importante, sabemos se têm mérito: um grande escritor é-o quando resistiu à erosão do tempo. Na segunda metade do século XIX, a elite nacional decidiu que o maior poeta português era Tomás Ribeiro, o qual, em 1862, publicara um poema intitulado "D. Jaime". O mais conceituado crítico da época, António Feliciano de Castilho, teve o desplante de considerar a obra como mais importante para o estudo da língua portuguesa do que "Os Lusíadas", o que não suscitou arrepios. Mas alguém é hoje capaz de ler, sem se rir, as linhas com que abre o "D. Jaime": “Meu Portugal, meu berço de inocente,/ lisa estrada que andei débil infante, variado jardim do adolescente,/ meu laranjal em flor sempre odorante/…”? Quem me garante que José Saramago não é o Tomás Ribeiro do século XX?

Fim da autonomia dos docentes
Faltava-me ler, com atenção, as instruções que o Ministério enviou aos professores encarregues de corrigir os exames. Escolhi o caso do exame de Português do 12.º ano. O que vi – quadradinhos com “níveis de desempenho”, listas com os “cenários de resposta” e grelhas com a “correspondência correcta” – deixou-me estarrecida. É certo que as instruções foram transcritas pelos jornais, mas, desacompanhadas dos exames, o leitor não tinha oportunidade de se aperceber da monstruosidade do esquema.

Não contente com a interferência na vida das escolas, o poder central entendeu por bem vigiar os examinadores de forma maníaca, não os deixando desviar uma linha do que os burocratas consideram “a” resposta correcta. A fim de que não se pense que sou tendenciosa, cito a primeira pergunta, relativa a "Os Lusíadas", na qual se pedia ao aluno que expusesse, sucintamente, o conteúdo das três primeiras estâncias. Nos critérios de avaliação enviados às escolas, especificava-se existirem três níveis de desempenho, o N3, no qual se expunha o conteúdo das três primeiras estâncias – a que se deveria dar 9 pontos – o N2, no qual se expunha o conteúdo de duas estâncias – que mereceria 6 pontos – e o N1, no qual se expunha apenas o conteúdo de uma das estâncias – ao qual se deveria dar apenas 3 pontos. É isto normal?

Na pergunta seguinte, depois de se ter afirmado que a “Fama” desempenhava um papel fundamental no processo de imortalidade, pedia-se ao aluno que referisse “três dos aspectos evidenciados nesse desempenho, fundamentando a sua resposta com citações do texto”. Seguia-se uma coisa designada como “cenário de resposta”, cujo objectivo era explicar aos professores o que eles sabem ou deviam saber: “A resposta deve contemplar os seguintes aspectos: a “ilha” (incluindo as Ninfas e Tétis) é o prémio, a recompensa dada aos marinheiros; os “deleites” são os triunfos, os louros (1ª estância); os prémios concedidos pela antiguidade eram atribuídos a quem fazia o difícil percurso da virtude (2ª estância); os deuses não passam de humanos que praticaram feitos de grande valor; daí terem recebido o prémio de imortalidade (3ª estância). Seguiam-se os critérios de avaliação, N3, N2 e N1, com a usual pontuação decrescente.

Na terceira pergunta, pedia-se, entre outras coisas, ao aluno para identificar a apóstrofe presente na estância 92. Lá voltavam a aparecer os “critérios específicos de classificação”, com a respectiva pontuação. No “cenário de resposta”, especificava-se que a resposta certa era “ó vós que as famas estimais”. Se um aluno respondesse, por exemplo, “ó vós” – o que estaria certo –, a resposta teria de ser considerada errada. É isto aceitável?

Demorei-me a analisar este texto porque, de entre todos – e como viram a escolha não é fácil – foi o que mais me escandalizou. Deste novo mundo, labiríntico, burocrático, totalitário, desapareceu a autonomia dos docentes, o dever de julgar e até o estímulo para separar os alunos marrões dos criativos. Se as perguntas de escolha múltipla já me tinham irritado, mais furiosa fiquei ao ver que o método era aplicado ao que antigamente se chamava uma redacção. Em grande medida, estas loucuras derivam da filosofia de avaliação expressa na obra de Valter Lemos, "O Critério do Sucesso: Técnicas de Avaliação da Aprendizagem" (1986).

Se isto choca nas chamadas Ciências Exactas, o facto é, nas Humanidades, uma anormalidade, uma vez que analisar um texto literário não é o mesmo que resolver um problema de Química. Nos anos 1960, a crítica literária teve de se defrontar com o marxismo e, depois, e em rápida sequência, com o estruturalismo, o post-modernismo e a semiótica, correntes demasiado exotéricas para que delas possa, ou queira, falar. A partir de então, a crítica literária foi tida como uma espécie de ciência. Tudo ficou de pernas para o ar, não me devendo eu espantar que a Língua Portuguesa tenha sido separada da História da Literatura nem que a análise do texto o seja dos respectivos autores. A coroar o disparate, o ministério optou por elaborar exames cujo objectivo é escamotear o facto de estarmos a formar uma geração incapaz de pensar, de falar e de escrever.

À volta da elite burocrática sediada no Ministério da Educação, existe hoje um enxame de “especialistas” que determina o que é, ou não, “correcto”. Os exames que elaboram poderiam ser substituídos por uns papeluchos como os do Totobola, nos quais os alunos fariam ao acaso umas cruzinhas, sendo estas posteriormente contadas por uma máquina. O actual secretário de Estado da Educação e os seus anões não pertencem à tradição humanística que fez a glória da cultura ocidental, mas a uma corrente pedagógica que vê o aluno como um robot e o professor como uma máquina registadora. O Português não é a sua pátria.

in Público - retirado daqui

terça-feira, julho 01, 2008

150 de Evolucionismo - notícia no Público II

A teoria nasceu há 150 anos
01.07.2008 - Clara Barata

Vinte anos a pensar numa ideia e de repente Wallace disse eureka

A 1 de Julho de 1858, a ideia de que as espécies evoluem ao longo dos tempos através da descendência com modificações foi pela primeira vez apresentada ao público, na Sociedade Lineana de Londres. Mas nem o respeitado naturalista britânico Charles Darwin, nem o mais jovem Alfred Russel Wallace - que, com uma carta enviada da Indonésia, fez Darwin decidir-se a tornar pública a ideia em que vinha a trabalhar há 20 anos - estavam lá. Quem apresentou o artigo "Sobre a Tendência das Espécies para formar variedades; e sobre a perpetuação das variedades e espécies através da selecção" foram dois cientistas amigos de Darwin, Charles Lyell e Joseph Hooker.

Nesse dia, Darwin ficou na sua casa de Down, de luto devido à morte de um dos filhos, e Wallace estava na ilha de Ternate, na Indonésia, a muitos quilómetros de distância, onde tinha chegado a um momento de eureka enquanto sofria com febre devido a um ataque de malária. Darwin e os seus amigos moveram-se rapidamente para apresentar as ideias dos dois cientistas juntas, mas de forma a garantir a primazia de Darwin - que, afinal de contas, andava a pensar nisso há duas décadas.

Mas a leitura do artigo enviado por Wallace a Darwin, mais alguns excertos de ensaios de Darwin, não teve grande impacte, nem nesse serão nem durante os meses seguintes. De tal forma que o presidente da Sociedade Lineana, ao fazer o resumo do ano de 1858, nem sequer a mencionou: "O ano que passou não foi marcado, de facto, por alguma descoberta fantástica daquelas que revolucionam a ciência."

O que trouxe a teoria de Darwin para a ribalta (e ofuscou Wallace, que foi remetido quase para uma nota de rodapé da história), e tornou a evolução através da selecção natural tema de conversa universal, desde os cafés e salões de barbearia até aos mais bem frequentados serões culturais, foi a publicação, em Novembro de 1859, do livro Sobre a Origem das Espécies. Neste livro, o cientista expunha as conclusões de duas décadas de reflexão cuidadosa - e angustiada - sobre o tema, explicado e reexplicado para que as suas ideias fossem compreendidas por todos, e não apenas pelos homens de ciência.

Quando a discussão sobre a teoria da evolução através da selecção natural se espalhou na sociedade, alguns contemporâneos de Darwin sentiram-se mesmo ofendidos, como se ele estivesse a matar Deus. Tirava o homem do centro da natureza, tal como Copérnico, no século XVI, tinha tirado a Terra do centro do sistema solar, substituindo-a pelo Sol. Tal como o heliocentrismo de Copérnico, a teoria da evolução desencadeou uma revolução científica, ao ligar-se, anos mais tarde, com a genética.

A ideia de evolução das espécies não era propriamente nova. Já outros tinham falado nisso, notando, pela ampla observação do mundo natural, dos fósseis e da geologia, que a Terra não podia ter apenas cerca de 6000 anos, como calculou um bispo britânico, baseando-se exclusivamente nos dados relatados no Velho Testamento. Nem as espécies se mantiveram sempre imutáveis, tal como Deus as tinha criado. Havia amplas provas disso, embora faltasse dar o passo fundamental para que esta ideia tivesse pés para andar: descobrir um mecanismo que explicasse como podiam as espécies mudar.

A novidade de Darwin foi propor esse mecanismo: a selecção natural. Este mecanismo diz-nos que características que conferem vantagens aos indivíduos na adaptação ao meio em que vivem - ter músculos das pernas fortes para correr, ou uma boa visão, tanto para distinguir a presa como o predador entre a folhagem, por exemplo - aumentam o sucesso reprodutivo desses indivíduos. Trocando por miúdos: quem for mais eficaz a evitar transformar-se no jantar de outra espécie tem mais oportunidades de ter mais filhos, passando as suas características favoráveis à próxima geração. Ao longo de muitas gerações, as espécies poderiam sofrer modificações importantes, que as transmutavam noutra espécie com características bem diferentes das originais.
E talvez ainda mais importante - e com consequências mais duradouras, no que toca à aceitação da sua teoria -, Darwin não excluía destas leis naturais o próprio homem. O Homo sapiens, apesar de se considerar especial e feito à imagem de Deus, não escapava à regra da selecção natural, como uma corça ou um leão. Também o homem descendia de outras espécies - provavelmente, partilharia antepassados recentes com os grandes primatas, como os chimpanzés e os gorilas, cujas parecenças com os homens são ainda tão fortes.

Chegar a estas conclusões não foi fácil para Darwin - apesar de se basearem em muitas experiências e observações minuciosas. Era um pouco como matar Deus - e ele não era propriamente ateu, chegou a estudar para ser padre. "Estou quase convencido (bem ao contrário da opinião com que comecei) de que as espécies não são (é quase como confessar um homicídio) imutáveis", escreveu ele em 1844, numa carta ao amigo botânico Joseph Hooker.

in Público on-line - link não disponível

150 de Evolucionismo - notícia no Público

Quem tem medo de Darwin?
01.07.2008, Clara Barata

Passados 150 anos sobre a apresentação da teoria da evolução, cresce o número dos que preferem a narrativa do Génesis - e a Europa e o mundo muçulmano são áreas de expansão

O Homo sapiens, a espécie a que todos pertencemos, é produto do acaso de milhões de anos de evolução, uma longa linhagem que nos liga aos grandes primatas, aos mamíferos que começaram a conquistar a Terra depois de terem desaparecido os dinossauros, há 65 milhões de anos, e até às primeiras bactérias? Ou é uma criatura feita à imagem de Deus, e por Deus, e cujo surgimento no planeta é relatado fielmente pelo Livro do Génesis? A resposta, talvez surpreendentemente, continua a não gerar unanimidade. As estimativas são muito incertas, mas boa parte dos 6000 milhões de pessoas que hoje vivem na Terra não dá primazia à explicação encontrada por Charles Darwin.

Faz hoje 150 anos que a teoria da evolução através da selecção natural foi pela primeira apresentada publicamente, numa leitura na Sociedade Lineana de Londres. Neste século e meio que passou, a teoria de Darwin - a que o filósofo Daniel Dennet chamou "a ideia mais brilhante que alguém já teve" - vingou e floresceu, unindo-se à genética, a partir do princípio do século XX. A descoberta das leis fundamentais da biologia permitiu o desenvolvimento de maravilhas como os antibióticos (que contrariam as leis naturais ao impedir que milhões de pessoas morram com infecções que antes eram mortais). No entanto, apesar de a teoria da evolução de Darwin se ter transformado numa pedra basilar do cânone da ciência e da cultura, continua a ser contestada por uma parte importante da população.

O paleontólogo e geneticista norte-americano Stephen Jay Gould dizia que a resistência à teoria da evolução de Darwin - um movimento com ideias variadas, mas que pode ser colocado sob o chapéu da designação "criacionismo" - era "uma controvérsia localizada e distintamente americana, como o Tio Sam ou a tarte de Maçã". Mas, nos últimos anos, esse movimento transformou-se num fenómeno internacional, embora de pequena escala, diz o historiador da ciência Ronald Numbers: "O antievolucionismo transformou-se num fenómeno global, um produto tão exportável como as calças de ganga ou o hip-hop."

Criacionismo múltiplo

"O criacionismo é a rejeição da evolução (e princípios científicos relacionados), em favor da criação por uma entidade sobrenatural. A versão mais proeminente, mas não a única, é a que defende que a Terra é muito mais jovem do que dizem os cientistas: apenas umas dezenas de milhares de anos", disse ao P2 Glenn Branch, vice-director do Centro Nacional para a Educação Científica, uma organização com sede na Califórnia que se dedica a combater o criacionismo.
Há criacionistas que aceitam que a Terra será muito mais velha que os 6000 anos estimados pelo bispo inglês James Usher no século XVII, que calculou que a criação do mundo por Deus tinha acontecido a 21 de Setembro de 4004 antes de Cristo. E há um movimento mais recente, ligado ao Instituto Discovery de Seattle, que procura afastar-se das referências bíblicas, para ter um aspecto científico, que é o dos defensores da "concepção inteligente": dizem que o Universo é demasiado complexo para não ter um criador inteligente, uma entidade que obedeceu a um determinado plano. Do acaso da evolução, que agiria de forma gradual, ao longo de gerações, não poderiam ter nascido estruturas complexas como o flagelo que algumas bactérias usam para se propulsionar, como se fosse uma cauda, dizem os partidários da "concepção inteligente", que são normalmente classificados como defendendo uma versão light do criacionismo.

Os muitos rostos da resistência à teoria da evolução têm despontado em vários locais da Europa. Polónia, Holanda, Suíça, Alemanha, Sérvia e Rússia são alguns dos países onde grupos de cidadãos e por vezes ministros expressaram, desde 2000, o desejo de que ideias criacionistas sejam ensinadas lado a lado com a teoria da evolução, como uma explicação alternativa.
No Reino Unido, por exemplo, onde o retrato de Darwin está nas notas de dez libras, gerou-se um escândalo em 2002, quando se soube que uma escola gerida por um grupo religioso, mas apoiada pelo Estado, ensinava a explicação bíblica para a origem da vida, comparando-a com a teoria de Darwin. E una sondagem divulgada em 2006 dava conta de que 12 por cento dos estudantes universitários britânicos aceitavam a explicação do criacionismo, enquanto 19 por cento se sentiam próximos das ideias do movimento da concepção inteligente.

A vanguarda turca

Muitos destes estudantes britânicos andavam nas faculdades de Medicina e eram provenientes de comunidades muçulmanas - o que mostra uma tendência forte dos últimos anos, que é a do crescimento da oposição à evolução entre a população islâmica. Ao que tudo indica, esse crescimento parece ligado à força do ressurgimento religioso na Turquia e, em particular, à actividade de Adnan Oktar (que se apresenta sob o pseudónimo literário Harun Yahya) e da sua Fundação para a Investigação Científica, que produz verdadeiras enxurradas de material defendendo as ideias criacionistas. "Usa elementos do criacionismo dos protestantes americanos, adaptado ao mundo islâmico", diz Glenn Branch.

Além de um site recheado de informação (http://www.harunyahya.com) e de muitas intervenções nas escolas turcas, distribuindo livros e DVD, no ano passado Harun Yahya expandiu-se para a Europa e até para os EUA, enviando a muitas escolas e cientistas cópias do luxuoso livro Atlas da Criação: o livro espanta, pela qualidade das fotografias e da impressão, mas o conteúdo não impressiona. São sobretudo fotos de fósseis e de animais e plantas que existem hoje, e que parecem totalmente iguais (pode-se fazer download do livro a partir do site). Estas imagens servem a Harun Yahya para defender que não houve evolução alguma, que as espécies se mantêm iguais, como sempre, desde que foram criadas.

A actividade de Harun Yahya liga-se à de outro importante movimento de inspiração religiosa turco, com o nome de Fethullah Gulen - este mês, Gulen foi considerado o intelectual mais influente do mundo, numa votação aberta, promovida pelas revistas Foreign Policy e Prospect. Os responsáveis pelas duas publicações dizem que a votação foi manipulada pelos adeptos de Gulen - próximo do partido no poder, o AKP, e em particular do Presidente Abdullah Gul -, que votaram em massa nele. E o site alemão International Relations and Security Network, da universidade de ciência e tecnologia ETH de Zurique (Suíça), diz que o Movimento Gulen se tem empenhado em iniciativas para promover o ensino nas escolas das ideias criacionistas. No ano passado, 600 cientistas turcos assinaram uma petição dirigida ao Ministério da Educação, alarmados com a presença cada vez mais forte das ideias criacionistas nos manuais escolares de Biologia.

Na Europa de Leste, a penetração das ideias criacionistas parece ter sido bem sucedida após a queda do Muro de Berlim, devido aos missionários evangélicos americanos que para lá se deslocaram, diz Glenn Branch, num artigo de 2007 ("Creationism is a Global Phenomenon"). Na Roménia, o Governo foi pressionado a modificar os manuais escolares, para que as crianças não encontrassem ideias contraditórias com as da Bíblia, e na Sérvia chegou a ser mesmo afastada a teoria da evolução dos currículos da escola primária, embora durante pouco tempo (a ministra responsável pela medida foi afastada). Na Rússia, uma aluna de São Petersburgo lançou um processo judicial para que o criacionismo fosse ensinado nas escolas, com o apoio do patriarca Alexius III (a autoridade máxima da Igreja Ortodoxa na Rússia), mas este foi recusado pelo tribunal.

Perigosa igualdade

Todos estes casos levaram o Conselho da Europa a emitir uma declaração, em Outubro de 2007, com um título claro: "Os Perigos do Criacionismo na Educação". "Estamos a assistir a um crescimento de modos de pensamento que desafiam o conhecimento estabelecido acerca da natureza, da evolução, das nossas origens e da nossa posição no Universo", lê-se no documento, que apela à acção para contrariar este movimento: "Há um risco real de se estarem a introduzir graves confusões na mente das nossas crianças, relativamente ao que são convicções e crenças e àquilo que é conhecimento científico. Uma atitude que considera 'todas as coisas em pé de igualdade' pode parecer tolerante e desejável, mas é na verdade perigosa."
Esta declaração é um alerta importante porque, como diz Kenneth Miller, professor de Biologia da Universidade Brown (Rhode Island, EUA) e protagonista da oposição ao avanço do criacionismo nos Estados Unidos, "as comunidades científicas na Europa ainda não começaram a encarar esta ameaça seriamente".

Mas por que está a rejeição da teoria da evolução a crescer? "As sondagens nos Estados Unidos mostram que, desde 1982, o apoio ao criacionismo se tem mantido mais ou menos constante", diz Glenn Branch. "Cerca de 50 por cento dos americanos rejeitam a teoria da evolução, e esta proporção tem-se mantido constante ao longo das décadas", diz Kenneth Miller, através de correio electrónico. "Na Europa, as ideias e tácticas do movimento da Concepção Inteligente são novas. Creio que uma porção substancial [da rejeição da teoria da evolução] se deve a um grande desconforto nas nossas sociedades quanto à ciência moderna. O antievolucionismo é uma forma de as pessoas lutarem contra uma ciência que consideram ameaçadora."

Dimensão política

Esta explicação dá uma dimensão política à rejeição da evolução - que aliás é reconhecida pela declaração do Conselho da Europa: "A guerra contra a teoria da evolução tem muitas vezes origem em várias formas de radicalismo religioso, com relações próximas a movimentos políticos de extrema-direita. O movimento criacionista tem um poder político real."
Se essa relação começa a ser reconhecida na Europa, é já bem conhecida nos EUA. "A evolução é um tema usado pelos membros mais radicais do Partido Republicano para derrotar os republicanos mais moderados nas eleições primárias", comenta, por e-mail, Jon Miller, especialista em literacia científica da Universidade do Michigan, que em 2006 foi o principal autor de um inquérito sobre a aceitação da evolução nos EUA, na Europa e na Ásia, publicado na revista Science. Os países que menos valor davam à teoria de Darwin eram a Turquia e os Estados Unidos.

Não é que as ideias criacionistas andem longe da Casa Branca. Pelo menos durante a campanha eleitoral, o Presidente Ronald Reagan apoiava que se ensinasse a palavra da Bíblia lado a lado com a evolução. E George W. Bush manifestou-se partidário de que "se ensinasse a controvérsia" - lema dos defensores da concepção inteligente, levado até às últimas consequências no julgamento de Dover, na Pensilvânia, em 2005, em que uma mãe processou o distrito escolar, que pretendia colocar adendas nos manuais de Biologia pondo em causa a validade da teoria da evolução.

O exemplo do tabaco

Na verdade, a insinuação da narrativa do Livro do Génesis nos currículos de Biologia e na mente dos cidadãos, semeando a dúvida, tem-se feito muito graças a dois factores, que têm longa história em assuntos polémicos de base científica, como os malefícios do tabaco para a saúde e o aquecimento global. Por um lado, a falta de conhecimento do público sobre ciência; por outro, o apelo ao sentimento de justiça, de dar tempo igual às duas partes de um debate.
"Esta questão tem muito a ver com a literacia científica. O problema é que muitos adultos, tanto nos EUA como a União Europeia, têm um conhecimento frágil sobre a forma como funciona a ciência. Aceitam a ideia de que a ciência se baseia em provas e que é metaforicamente semelhante a um julgamento - com dois lados a litigar, apresentando provas. Mas não sabem como se constrói o consenso científico nem distinguir temas que estão muito para além do que se pode debater de forma racional", diz Jon Miller.

"Quando o público se sente confiante sobre os seus conhecimentos numa determinada área, a estratégia de reclamar tempo igual para duas ideias em confronto não resulta. Por exemplo, ainda há pessoas que defendem que o Sol gira em torno da Terra - na verdade, há um número bastante surpreendente - e usam a mesma estratégia retórica, apelando a que se ensinem todas as visões sobre o tema. Mas a opinião pública não lhes dá crédito, porque a grande maioria sabe que este assunto já foi resolvido há muito tempo, e que há amplas provas científicas a demonstrá-lo", adianta Glenn Branch.

"É útil lembrar a mudança que ocorreu na opinião pública sobre o tabaco. Durante muitos anos, a indústria tabaqueira usou a abordagem da igualdade de oportunidades para apresentar os seus argumentos, dizendo que não eram ainda claros os efeitos do tabaco na saúde, ou que os cientistas não se entendiam entre si. Mas esse argumento foi perdendo força nos EUA e agora há muito menos americanos a fumar do que na Europa, no Japão ou na China", recorda Jon Miller.
Com a evolução, há ainda um grande desfasamento entre o que pensam os cientistas e o que pensa o cidadão comum. Esse é que é o problema, sublinha Glenn Branch. "Infelizmente, embora a validade da evolução já tenha sido resolvida há muito tempo, grande parte dos cidadãos não sabe disso, ou foram enganados, de forma a rejeitarem o consenso científico."

in Público on-line - link não disponível

150 de Evolucionismo!



Faz hoje 150 anos que, pela primeira vez, foi feita uma comunicação científica, na Sociedade Lineana de Londres, em que foi apresentada uma teoria da evolução científica.

Embora os autores não estivessem presentes (Alfred Russel Wallace estava na Indonésia e Charles Darwin estava de luto pela morte do filho mais novo, Charles), esta comunicação, feita por amigos de Darwin (Charles Lyell e Joseph Hooker) não foi muito notada e compreendida na altura - só com a publicação do famoso livro de Darwin é que os cientistas e os comuns mortais se aperceberam de todas as implicações desta teoria.

Celebremos a data, por muitos ignorada, neste momento em que uns certos parvos procuram, afanosamente, em nome de crenças religiosas anti-científicas, denegrir e destruir 150 anos de Ciência...



segunda-feira, junho 30, 2008

Evento de Tunguska - 100 anos

tunguska_event.jpg


Há 100 anos, na remota região da Sibéria Central chamada de Tunguska ocorreu um fenómeno (conhecido por Evento de Tunguska) que ainda hoje causa dúvidas e celeuma (até porque há uns maluquinhos que gostam destas coisas e têm as mais disparatadas teorias sobre o assunto...).

Assim, às 07.15 horas locais "de 30 de Junho de 1908, houve uma gigantesca explosão após uma bola de fogo ser vista atravessando o céu. Não foram encontrados vestígios de meteorito, mas uma onda de impacto devastou toda a região do lago Baikal, afectando em menor grau todo o norte da Europa." (in Wikipédia)

A queda de meteoritos os comentas não é um fenómeno raro, é apenas mais um sinal de que o nosso Sistema Solar não é lugar calmo e pacífico que durante muito tempo se pensou. Se um simples pedaço de cometa que ricocheteou na atmosfera fez os estragos que fez (pese embora o facto de este fenómeno ter ocorrido numa remota região quase desabitada...) há que pensar o que aconteceria hoje se este fenómeno se passasse hoje numa grande metrópole. Se o presente é chave para entender o passado, às vezes o passado tem valiosas lições para o presente e futuro que convém que a nossa espécie não esqueça...

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sexta-feira, junho 27, 2008

Palestra sobre Astronomia em Lisboa

Observatório Astronómico de Lisboa

Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa



O Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) promove Palestras públicas mensais que têm lugar no Edifício Central, pelas 21h30 da última sexta-feira de cada mês. A próxima sessão decorrerá no dia 27 de Junho e terá como tema:

Viagens no espaço-tempo
Prof. Paulo Crawford
FCUL/OAL/CAAUL

Para Newton, existia um tempo absoluto, verdadeiro, matemático que fluía constantemente da mesma forma para todos os observadores. Os relógios de todas as espécies não passavam de meros reflexos, aproximações do tempo metafísico. Quando Einstein estabelece os seus dois princípios, para construir a sua nova teoria, hoje conhecida por Relatividade Restrita,surgem consequências dramáticas. Sendo a velocidade da luz no vácuo uma velocidade finita que estabelece o limite da velocidade de transmissão da informação, não mais é possível falar em acontecimentos distantes no espaço e simultâneos no tempo de uma forma absoluta. Por outras palavras, a simultaneidade de acontecimentos distantes é um fenómeno relativo, que depende do referencial onde esses acontecimentos são observados. Como consequência, o tempo perde o seu carácter absoluto e passa a ser entendido com sendo relativo. Diferentes observadores medem tempos diferentes. Isto abre a possibilidade de se fazer uma viagem no tempo, no sentido em que um dado observador poderá viajar, em certas condições, até ao futuro de outros observadores: um astronauta poderá em teoria fazer uma viagem de 20 anos e voltar à Terra para observá-la após100 anos da sua partida. A grande questão que se abre à discussão científica é a possibilidade de se fazer ou imaginar viagens ao passado, observar a Terra, por exemplo, antes dos nossos avós nascerem. Será isto ciência ou ficção?

VIDEODIFUSÃO DA PALESTRA PÚBLICA

É com enorme prazer que anunciamos que o OAL fará a transmissão da sua Palestra Mensal através da Internet.

No dia 27 de Junho a partir das 21h30 visite o seguinte endereço:
http://live.fccn.pt/oal/

A entrada na Tapada da Ajuda faz-se pelo portão da Calçada da Tapada, em frente ao Instituto Superior de Agronomia.

No final de cada palestra, e caso o estado do tempo o permita, fazem-se observações dos corpos celestes com telescópio. Convida-se o público a trazer os seus binóculos ou mesmo pequenos telescópios caso queiram realizar as suas próprias observações ou ser ajudados com o seu funcionamento.

Para mais informações use o telefone 213 616 730 ou consulte:
http://www.oal.ul.pt/palestras

Dinossáurios de Portugal...pegadas

Do Blog Ciência ao Natural, do divulgador científico, paleontólogo e geólogo Luís Azevedo Rodrigues publicamos o seguinte post:

É com enorme alegria que vejo que o primeiro paleontólogo de vertebrados português (neste caso uma paleontóloga) a adaptar a sua tese e a publicá-la sob a forma de obra de divulgação científica.


É um livro sobre o registo de pegadas de dinossáurio em Portugal, onde é abordado o seu valor científico e patrimonial.

Para além de todas as jazidas portuguesas, individualizadas, é feita introdução sobre os diversos tipos de dinossáurios e os processos geológicos que proporcionaram a sua fossilização.
Acima de tudo, um livro muito pedagógico, com excelentes ilustrações de Mário Estevens, também ele doutorado em Paleontologia.

"Em Portugal existem pegadas e pistas de dinossáurios em zonas litorais e em antigas pedreiras. O estudo destes icnofósseis permite conhecer a anatomia dos pés e das mãos dos dinossáurios que os produziram, o seu modo de locomoção, o seu comportamento individual e social, os ambientes que frequentaram, entre outros aspectos. As jazidas com pegadas de dinossáurios são, assim, uma importante fonte de informação sobre este grupo de animais já extintos há 65 milhões de anos e constituem, igualmente, locais privilegiados para o ensino de temas relacionados com a Geologia e a Paleontologia.

O presente trabalho pretende divulgar o conhecimento científico adquirido com o estudo destas jazidas, realçando o seu valor científico, cultural, pedagógico e patrimonial, e contribuir para a sua preservação."

Páginas do livro



NOTA: os nossos parabéns à Doutora Vanda, pelo livro, e ao Luís Azevedo Rodrigues, pela divulgação...

quinta-feira, junho 26, 2008

Actividade no PNSAC com professores

No fim-de-semana de 5 e 6 de Julho de 2008 os professores eleitos para o Conselho Geral Transitório da minha Escola (a famosa Correia Mateus, em Leiria) irão fazer uma actividade no PNSAC, a que os meus amigos que estejam interessados poderão ir (não posso convidar todos para a totalidade da actividade porque implica dormir em casas e só há 6 quartos nas mesmas...).

Poderão ver todos os dados da actividade no Blog GeoLeiria, no post:
http://geoleiria.blogspot.com/2008/06/actividade-no-pnsac-conselho-geral.html


Nota: Post 1.300 deste Blog...! A coisa faz-se...

terça-feira, junho 24, 2008

Mestrados em Geociências - Universidade de Coimbra

CURSO DE MESTRADO EM GEOCIÊNCIAS

(DE ACORDO COM O MODELO DE BOLONHA, QUE VISA A ACREDITAÇÃO DE COMPETÊNCIAS NO ESPAÇO COMUM EUROPEU)



O 2.º Ciclo em Geociências forma mestres em temas essenciais das Ciências da Terra. Pretende-se fornecer uma formação teórica e prática sólida em áreas de grande relevância para a ciência e para o desenvolvimento económico e social do país. As três áreas de especialização propostas reflectem a diversidade de recursos humanos existentes no Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, os seus interesses científicos e a sua interacção com a comunidade científica internacional e a comunidade empresarial.

PERFIL GENÉRICO DE FORMAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

O Mestre em Geociências será um profissional capaz de realizar autonomamente:
  • Trabalhos de cartografia geológica, geral e temática;
  • Trabalhos de prospecção geológica e de recursos naturais;
  • Colaborar em estudos e trabalhos nas áreas do ambiente, planeamento e ordenamento do território;
  • Trabalhos de investigação em áreas específicas das Geociências e de recolher,
  • analisar, interpretar e comunicar eficientemente a informação geológica, não só para especialistas mas também para outros públicos.

ÁREA CIENTÍFICA DO CURSO: Ciências da Terra
NÚMERO DE VAGAS: 30
DURAÇÃO DO CURSO: 4 semestres
NÚMERO DE CRÉDITOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE: 120 ECTS
PRAZOS DE CANDIDATURA - ANO LECTIVO 2008-2009
  • 1ª Fase: 30 de Abril a 18 de Maio
  • 2ª Fase: 2 a 20 de Julho
  • 3ª Fase: 22 a 30 de Setembro
Candidaturas através do site: www.fct.uc.pt


ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOLOGIA OPERACIONAL

O Mestre em Geociências, na área de especialização em Geologia Operacional, será um profissional especializado nas aplicações da Geologia à prospecção e aproveitamento de recursos geológicos, à Geologia de Engenharia e na cartografia geológica.

PLANO CURRICULAR

1º ANO | 1º Semestre
  • Detecção Remota e SIG
  • Avaliação e Gestão de Recursos Geológicos
  • Hidrogeologia Operacional
  • Geofísica Aplicada
  • ou Seminário de Aquisição e Interpretação de Dados
  • Avaliação de Impactes e Requalificação Ambiental
1º ANO | 2º Semestre
  • Cartografia Temática
  • Tectónica Complementar
  • Geotecnia
  • Prospecção Geoquímica
  • ou Recursos Hídricos
  • Prospecção e Sondagens
2º ANO
  • Dissertação em Geologia Operacional

ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM AMBIENTE E ORDENAMENTO

O Mestre em Geociências, na área de especialização em Ambiente e Ordenamento, será um profissional especializado nas aplicações da Geologia aos estudos de avaliação de impactes, monitorização e gestão ambientais e ao ordenamento do território.

PLANO CURRICULAR

1º ANO | 1º Semestre
  • Detecção Remota e SIG
  • Avaliação de Impactes e Requalificação Ambiental
  • Mudanças Globais
  • Seminário de Geologia Ambiental ou Geofísica Aplicada
  • Análise e Gestão de Recursos Naturais
1º ANO | 2º Semestre
  • Cartografia Temática
  • Recursos Hídricos
  • Geoquímica Ambiental
  • Seminário de Geologia e Ordenamento
  • ou Geoconservação
  • Bacias Fluviais e Sistemas Costeiros
2º ANO
  • Dissertação em Ambiente e Ordenamento

ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOLOGIA DO PETRÓLEO

O Mestre em Geociências, na área de especialização em Geologia do Petróleo, será um profissional especializado nas aplicações da Geologia à prospecção e acompanhamento da prospecção de hidrocarbonetos.

PLANO CURRICULAR

1º ANO | 1º Semestre
  • Detecção Remota e SIG
  • Análise de Bacias Sedimentares
  • Seminário de Geologia de Bacias Atlânticas I
  • Seminário de Aquisição e Interpretação de Dados
  • ou Geofísica Aplicada
  • Avaliação de Impactes e Requalificação Ambiental
1º ANO | 2º Semestre
  • Cartografia Temática
  • Petrologia e Análise de Diagénese
  • Estruturas Geológicas e Interpretação Geofísica
  • Micropaleontologia
  • ou Seminário de Geologia de Bacias Atlânticas II
  • Organização e Comunicação Institucional
2º ANO
  • Dissertação em Geologia do Petróleo


COORDENAÇÃO

Geologia Operacional

Prof. Doutor Luís Vítor Duarte - lduarte@dct.uc.pt

Ambiente e Ordenamento
Prof. Doutor Alcides Pereira - apereira@dct.uc.pt

Geologia do Petróleo
Prof. Doutor Rui Pena dos Reis - penareis@dct.uc.pt

10th International Coastal Symposium

Dear Colleagues

In the name of the organizing Committee we would like to invite you to the


10th International Coastal Symposium, ICS 2009


The ICS 2009 will be held in Lisbon (Portugal) from 13th to 18th April 2009, a joint organization of the e-Geo - Geography and Regional Planning Research Centre of the Universidade Nova de Lisboa and the Coastal Education & Research Foundation . All papers accepted, after being peer-reviewed, will be published in a Special Issue of the Journal of Coastal Research , one of the leading journals in the field of coastal research.


The conference themes are: Acoustic Remote Sensing, Barrier Islands, Beach Processes, Climate Change, Coastal Dunes, Coastal Ecosystems, Coastal Engineering, Coastal Evolution, Coastal Geomorphology, Coastal Hazards and Pollution, Coastal Modelling, Coastal Restoration & Mitigation, Coastal Tourism, Coastal Zone Management, Delta Plain Management, Estuarine & Wetland Restoration, GIS and Remote Sensing Applications, Impact of Extreme Storms, Integrated Catchment and Coastal Zone Management


For more information please go to http://e-geo.fcsh.unl.pt/ICS2009/index.html


Nota: recebido via mailing-list da Geopor

Astronomia para jovens nas Férias

OCUPAÇÃO CIENTÍFICA NAS FÉRIAS

Astrofísica Observacional no OAL

Tal como aconteceu no ano passado o Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) proporciona aos alunos do ensino secundário a possibilidade de trabalharem durante três dias inteiros com os professores/investigadores, na obtenção e processamento de imagem digital, além de lhes facultar a aprendizagem dos conceitos fundamentais da astrofísica associados ao sol, estrelas, nebulosas e galáxias e ainda participarem do ambiente científico do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa, um centro com muita experiência em observação astronómica avançada.

Parte Prática: Desenvolver técnicas de observação da fotosfera, registo das manchas solares e coroa solar: protuberâncias e ejecções de massa coronal. Observação e realização de astrofotografia digital (com filtros BVRI) de enxames estelares, nebulosas e galáxias. Uso de software para processamento de imagem digital. Imagens em cor real.

Parte Teórica: Lições ligeiras de astrofísica do sol, da física das estrelas e das galáxias. Tópicos sobre óptica e o uso de telescópios, câmaras de CCD, parâmetros físicos observáveis e tratamento de imagem.

Estão previstos 3 estágios a decorrer nas seguintes datas:
  • 2 a 4 de Julho
  • 28 a 30 de Julho
  • 27 a 29 de Agosto

Mais informações e inscrições através do seguinte link da página do Ciência Viva: AQUI

Mestrado em Dinâmicas Sociais, Riscos Naturais e Tecnológicos

Recebido via mailing-list da Geopor:


Boa tarde

Divulgo-vos uma apresentação relativa ao Mestrado e Pós-graduação em Dinâmicas Sociais, Riscos Naturais e Tecnológicos, com candidaturas abertas.

Para informações complementares recomendo que contactem o colega Alexandre Tavares (atavares@dct.uc.pt).

Saudações,
Pedro Cunha

NOTA: para obterem a apresentação clicar AQUI.

Pedido de colaboração

Recebido por e-mail, aqui fica um inquérito:


Boa tarde:

Elaborei um pequeno Inquérito online sobre Riscos Naturais e Compra de Imóveis e gostava de pedir uma pequena ajuda.

Que respondessem o mesmo ou que ao menos divulgassem entre seus contactos ou via post. São poucas perguntas.

As regras para preenchimento aparecem no formulário online.

Há dois links para resposta:
Luiz Amadeu Coutinho

quinta-feira, junho 19, 2008

Faz hoje 55 anos


No passado 19 de Junho de 1953
19.06.2008

O veredicto tinha sido declarado dois anos antes, após um julgamento que durara apenas 23 dias. A 5 de Abril de 1951, o juiz Irving R. Kaufman tinha sentenciado à morte o casal Julius e Ethel Rosenberg, considerando-os "culpados de conspiração e de espionagem" e de terem "atraiçoado" os Estados Unidos e, mesmo, terem "alterado o curso da História". A execução aconteceu ao pôr-do-sol de 19 de Junho de 1953, na prisão de alta segurança de Sing-Sing, em Nova Iorque. Durante o julgamento, o casal e os seus advogados afirmaram repetidamente a sua inocência, considerando-se "vítimas da histeria política" que se vivia nesses tempos de Guerra Fria mas Julius e Ethel Rosenberg tornaram-se nas duas únicas pessoas executadas na América durante a Guerra Fria por acusação de espionagem, num processo que viria a dar exemplo e pretexto à cruzada da "Caça às Bruxas", logo a seguir dirigida pelo senador McCarthy. O processo dos Rosenberg, assumidos militantes comunistas, e que o tribunal declarou serem também espiões a favor da URSS, teve como motivo a transmissão de segredos de Estado aos soviéticos relativos ao famoso Projecto Manhattan, que nomeava os planos atómicos americanos, no decorrer da 2ª Guerra Mundial. O irmão de Ethel, David Greenglass, trabalhou nesse projecto a partir de 1944, e acabaria por ser ele a denunciar o seu cunhado como espião.


in Público - link não disponível



NOTA: Como bom português que pretendo ser, não poderia deixar passar esta data, pois sou, naturalmente, agora e sempre, anti-pena-de-morte...

segunda-feira, junho 16, 2008

Sopa de Pedra

Já que estamos (e estaremos, por motivos que brevemente aqui revelaremos...) numa de Açores, aqui fica outro post de um célebre Blog terceirense de um professor da Universidade dos Açores, o Desambientado:


Gosto muito de pedras.
Prefiro-as no meu caminho
Do que dentro dos sapatos.
Haverá desimpedimentos,
Sem aborrecimentos?

Gosto muito de areia;
Debaixo dos meus pés
E fora dos meus olhos.

Prefiro a subtileza,

Á falta de clareza.


Gosto muito de calçadas,
Descalças de preconceito,
Onde se anda sempre a eito.


Gosto muito de bordões,
Que nos apoiam, proféticos,
Nos desequilíbrios éticos.


Gosto muito, muito, muito…
Das pedras do meu mundo,
Porque se um homem é pó,
Uma pedra quer dizer
Que depois de aqui viver,
Vai voltar-se a agrupar,
Numa rocha sedimentar,
Que marcará o seu lugar.


Félix Rodrigues

A evolução dos cones vulcânicos surtsianos

Do Blog GEOCRUSOE, que nos merece uma leitura atenta pelo menos uma vez por semana, publicamos o seguinte post:


No Faial surgem esporadicamente preocupações pelo facto do mar, vento e chuva estarem a destruir o edifício da erupção dos Capelinhos, propondo a plantação de espécies vegetais capazes de impedir tal erosão.

Efectivamente, nas erupções basálticas em mar pouco profundo e onde este entra dentro da chaminé vulcânica, designadas de erupções do tipo surtsiano (surtseiano), dão-se grandes explosões, devido ao contacto da lava quente com a água fria. O que origina cones sobretudo de grãos da dimensão das areias e outros maiores e inicialmente soltos: devido à intensa fragmentação do material assim expelido.


O vulcão dos Capelinhos durante um período de actividade eruptiva do tipo surtsiano, os jactos negro são grãos que construíram o cone


[Foto publicada em: Machado, F. e Forjaz, V. H. - in Actividade Vulcânica do Faial - 1957-67 (1968) Ed. Com. Reg. Turismo Distrito da Horta]


As "areias" acumuladas durante a actividade surtsiana são conhecidas por cinzas vulcânicas - cientificamente o nome é complexo: hialopiroclastitos (sensivelmente significa: fragmentos vítreos formados pelo fogo) - e dão origem a cones fáceis de destruir pelo mar, vento e chuva. Nos Capelinhos, dos mais de 2 km quadrados iniciais, hoje resta talvez menos de 1.


Mas com o tempo, as mesmas chuvas, sais e seres vivos cimentam os grãos, transformando-os naquilo que as pessoas chamam de tufo vulcânico e a erosão passa a ser muito mais lenta. Então a superfície cobre-se de vegetação e quase nem vemos que a destruição continua.


Infelizmente e ao longo de milhares de anos, os grandes edifícios surtsianos continuam a reduzir em tamanho, o mar abre brechas e a erosão intensifica-se ligeiramente.


Então, com o passar dos anos, talvez outros milhares, os grande cones passam a pequenos ilhéus, parecem recifes... até ao dia em que desaparecem no mar como baixios e tornam-se em montes submarinos.

Todos os Faialenses gostam da estrutura construída pelos Capelinhos, interferir artificialmente com a evolução das coisas pode ser tentador, mas a longo prazo não resulta. A Natureza fez o mundo assim e para quem sabe olhar a beleza da Terra, verifica que esta constrói-se com as suas Regras Naturais.