sexta-feira, junho 27, 2008

Palestra sobre Astronomia em Lisboa

Observatório Astronómico de Lisboa

Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa

Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa



O Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) promove Palestras públicas mensais que têm lugar no Edifício Central, pelas 21h30 da última sexta-feira de cada mês. A próxima sessão decorrerá no dia 27 de Junho e terá como tema:

Viagens no espaço-tempo
Prof. Paulo Crawford
FCUL/OAL/CAAUL

Para Newton, existia um tempo absoluto, verdadeiro, matemático que fluía constantemente da mesma forma para todos os observadores. Os relógios de todas as espécies não passavam de meros reflexos, aproximações do tempo metafísico. Quando Einstein estabelece os seus dois princípios, para construir a sua nova teoria, hoje conhecida por Relatividade Restrita,surgem consequências dramáticas. Sendo a velocidade da luz no vácuo uma velocidade finita que estabelece o limite da velocidade de transmissão da informação, não mais é possível falar em acontecimentos distantes no espaço e simultâneos no tempo de uma forma absoluta. Por outras palavras, a simultaneidade de acontecimentos distantes é um fenómeno relativo, que depende do referencial onde esses acontecimentos são observados. Como consequência, o tempo perde o seu carácter absoluto e passa a ser entendido com sendo relativo. Diferentes observadores medem tempos diferentes. Isto abre a possibilidade de se fazer uma viagem no tempo, no sentido em que um dado observador poderá viajar, em certas condições, até ao futuro de outros observadores: um astronauta poderá em teoria fazer uma viagem de 20 anos e voltar à Terra para observá-la após100 anos da sua partida. A grande questão que se abre à discussão científica é a possibilidade de se fazer ou imaginar viagens ao passado, observar a Terra, por exemplo, antes dos nossos avós nascerem. Será isto ciência ou ficção?

VIDEODIFUSÃO DA PALESTRA PÚBLICA

É com enorme prazer que anunciamos que o OAL fará a transmissão da sua Palestra Mensal através da Internet.

No dia 27 de Junho a partir das 21h30 visite o seguinte endereço:
http://live.fccn.pt/oal/

A entrada na Tapada da Ajuda faz-se pelo portão da Calçada da Tapada, em frente ao Instituto Superior de Agronomia.

No final de cada palestra, e caso o estado do tempo o permita, fazem-se observações dos corpos celestes com telescópio. Convida-se o público a trazer os seus binóculos ou mesmo pequenos telescópios caso queiram realizar as suas próprias observações ou ser ajudados com o seu funcionamento.

Para mais informações use o telefone 213 616 730 ou consulte:
http://www.oal.ul.pt/palestras

Dinossáurios de Portugal...pegadas

Do Blog Ciência ao Natural, do divulgador científico, paleontólogo e geólogo Luís Azevedo Rodrigues publicamos o seguinte post:

É com enorme alegria que vejo que o primeiro paleontólogo de vertebrados português (neste caso uma paleontóloga) a adaptar a sua tese e a publicá-la sob a forma de obra de divulgação científica.


É um livro sobre o registo de pegadas de dinossáurio em Portugal, onde é abordado o seu valor científico e patrimonial.

Para além de todas as jazidas portuguesas, individualizadas, é feita introdução sobre os diversos tipos de dinossáurios e os processos geológicos que proporcionaram a sua fossilização.
Acima de tudo, um livro muito pedagógico, com excelentes ilustrações de Mário Estevens, também ele doutorado em Paleontologia.

"Em Portugal existem pegadas e pistas de dinossáurios em zonas litorais e em antigas pedreiras. O estudo destes icnofósseis permite conhecer a anatomia dos pés e das mãos dos dinossáurios que os produziram, o seu modo de locomoção, o seu comportamento individual e social, os ambientes que frequentaram, entre outros aspectos. As jazidas com pegadas de dinossáurios são, assim, uma importante fonte de informação sobre este grupo de animais já extintos há 65 milhões de anos e constituem, igualmente, locais privilegiados para o ensino de temas relacionados com a Geologia e a Paleontologia.

O presente trabalho pretende divulgar o conhecimento científico adquirido com o estudo destas jazidas, realçando o seu valor científico, cultural, pedagógico e patrimonial, e contribuir para a sua preservação."

Páginas do livro



NOTA: os nossos parabéns à Doutora Vanda, pelo livro, e ao Luís Azevedo Rodrigues, pela divulgação...

quinta-feira, junho 26, 2008

Actividade no PNSAC com professores

No fim-de-semana de 5 e 6 de Julho de 2008 os professores eleitos para o Conselho Geral Transitório da minha Escola (a famosa Correia Mateus, em Leiria) irão fazer uma actividade no PNSAC, a que os meus amigos que estejam interessados poderão ir (não posso convidar todos para a totalidade da actividade porque implica dormir em casas e só há 6 quartos nas mesmas...).

Poderão ver todos os dados da actividade no Blog GeoLeiria, no post:
http://geoleiria.blogspot.com/2008/06/actividade-no-pnsac-conselho-geral.html


Nota: Post 1.300 deste Blog...! A coisa faz-se...

terça-feira, junho 24, 2008

Mestrados em Geociências - Universidade de Coimbra

CURSO DE MESTRADO EM GEOCIÊNCIAS

(DE ACORDO COM O MODELO DE BOLONHA, QUE VISA A ACREDITAÇÃO DE COMPETÊNCIAS NO ESPAÇO COMUM EUROPEU)



O 2.º Ciclo em Geociências forma mestres em temas essenciais das Ciências da Terra. Pretende-se fornecer uma formação teórica e prática sólida em áreas de grande relevância para a ciência e para o desenvolvimento económico e social do país. As três áreas de especialização propostas reflectem a diversidade de recursos humanos existentes no Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, os seus interesses científicos e a sua interacção com a comunidade científica internacional e a comunidade empresarial.

PERFIL GENÉRICO DE FORMAÇÃO EM GEOCIÊNCIAS

O Mestre em Geociências será um profissional capaz de realizar autonomamente:
  • Trabalhos de cartografia geológica, geral e temática;
  • Trabalhos de prospecção geológica e de recursos naturais;
  • Colaborar em estudos e trabalhos nas áreas do ambiente, planeamento e ordenamento do território;
  • Trabalhos de investigação em áreas específicas das Geociências e de recolher,
  • analisar, interpretar e comunicar eficientemente a informação geológica, não só para especialistas mas também para outros públicos.

ÁREA CIENTÍFICA DO CURSO: Ciências da Terra
NÚMERO DE VAGAS: 30
DURAÇÃO DO CURSO: 4 semestres
NÚMERO DE CRÉDITOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE: 120 ECTS
PRAZOS DE CANDIDATURA - ANO LECTIVO 2008-2009
  • 1ª Fase: 30 de Abril a 18 de Maio
  • 2ª Fase: 2 a 20 de Julho
  • 3ª Fase: 22 a 30 de Setembro
Candidaturas através do site: www.fct.uc.pt


ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOLOGIA OPERACIONAL

O Mestre em Geociências, na área de especialização em Geologia Operacional, será um profissional especializado nas aplicações da Geologia à prospecção e aproveitamento de recursos geológicos, à Geologia de Engenharia e na cartografia geológica.

PLANO CURRICULAR

1º ANO | 1º Semestre
  • Detecção Remota e SIG
  • Avaliação e Gestão de Recursos Geológicos
  • Hidrogeologia Operacional
  • Geofísica Aplicada
  • ou Seminário de Aquisição e Interpretação de Dados
  • Avaliação de Impactes e Requalificação Ambiental
1º ANO | 2º Semestre
  • Cartografia Temática
  • Tectónica Complementar
  • Geotecnia
  • Prospecção Geoquímica
  • ou Recursos Hídricos
  • Prospecção e Sondagens
2º ANO
  • Dissertação em Geologia Operacional

ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM AMBIENTE E ORDENAMENTO

O Mestre em Geociências, na área de especialização em Ambiente e Ordenamento, será um profissional especializado nas aplicações da Geologia aos estudos de avaliação de impactes, monitorização e gestão ambientais e ao ordenamento do território.

PLANO CURRICULAR

1º ANO | 1º Semestre
  • Detecção Remota e SIG
  • Avaliação de Impactes e Requalificação Ambiental
  • Mudanças Globais
  • Seminário de Geologia Ambiental ou Geofísica Aplicada
  • Análise e Gestão de Recursos Naturais
1º ANO | 2º Semestre
  • Cartografia Temática
  • Recursos Hídricos
  • Geoquímica Ambiental
  • Seminário de Geologia e Ordenamento
  • ou Geoconservação
  • Bacias Fluviais e Sistemas Costeiros
2º ANO
  • Dissertação em Ambiente e Ordenamento

ÁREA DE ESPECIALIZAÇÃO EM GEOLOGIA DO PETRÓLEO

O Mestre em Geociências, na área de especialização em Geologia do Petróleo, será um profissional especializado nas aplicações da Geologia à prospecção e acompanhamento da prospecção de hidrocarbonetos.

PLANO CURRICULAR

1º ANO | 1º Semestre
  • Detecção Remota e SIG
  • Análise de Bacias Sedimentares
  • Seminário de Geologia de Bacias Atlânticas I
  • Seminário de Aquisição e Interpretação de Dados
  • ou Geofísica Aplicada
  • Avaliação de Impactes e Requalificação Ambiental
1º ANO | 2º Semestre
  • Cartografia Temática
  • Petrologia e Análise de Diagénese
  • Estruturas Geológicas e Interpretação Geofísica
  • Micropaleontologia
  • ou Seminário de Geologia de Bacias Atlânticas II
  • Organização e Comunicação Institucional
2º ANO
  • Dissertação em Geologia do Petróleo


COORDENAÇÃO

Geologia Operacional

Prof. Doutor Luís Vítor Duarte - lduarte@dct.uc.pt

Ambiente e Ordenamento
Prof. Doutor Alcides Pereira - apereira@dct.uc.pt

Geologia do Petróleo
Prof. Doutor Rui Pena dos Reis - penareis@dct.uc.pt

10th International Coastal Symposium

Dear Colleagues

In the name of the organizing Committee we would like to invite you to the


10th International Coastal Symposium, ICS 2009


The ICS 2009 will be held in Lisbon (Portugal) from 13th to 18th April 2009, a joint organization of the e-Geo - Geography and Regional Planning Research Centre of the Universidade Nova de Lisboa and the Coastal Education & Research Foundation . All papers accepted, after being peer-reviewed, will be published in a Special Issue of the Journal of Coastal Research , one of the leading journals in the field of coastal research.


The conference themes are: Acoustic Remote Sensing, Barrier Islands, Beach Processes, Climate Change, Coastal Dunes, Coastal Ecosystems, Coastal Engineering, Coastal Evolution, Coastal Geomorphology, Coastal Hazards and Pollution, Coastal Modelling, Coastal Restoration & Mitigation, Coastal Tourism, Coastal Zone Management, Delta Plain Management, Estuarine & Wetland Restoration, GIS and Remote Sensing Applications, Impact of Extreme Storms, Integrated Catchment and Coastal Zone Management


For more information please go to http://e-geo.fcsh.unl.pt/ICS2009/index.html


Nota: recebido via mailing-list da Geopor

Astronomia para jovens nas Férias

OCUPAÇÃO CIENTÍFICA NAS FÉRIAS

Astrofísica Observacional no OAL

Tal como aconteceu no ano passado o Observatório Astronómico de Lisboa (OAL) proporciona aos alunos do ensino secundário a possibilidade de trabalharem durante três dias inteiros com os professores/investigadores, na obtenção e processamento de imagem digital, além de lhes facultar a aprendizagem dos conceitos fundamentais da astrofísica associados ao sol, estrelas, nebulosas e galáxias e ainda participarem do ambiente científico do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa, um centro com muita experiência em observação astronómica avançada.

Parte Prática: Desenvolver técnicas de observação da fotosfera, registo das manchas solares e coroa solar: protuberâncias e ejecções de massa coronal. Observação e realização de astrofotografia digital (com filtros BVRI) de enxames estelares, nebulosas e galáxias. Uso de software para processamento de imagem digital. Imagens em cor real.

Parte Teórica: Lições ligeiras de astrofísica do sol, da física das estrelas e das galáxias. Tópicos sobre óptica e o uso de telescópios, câmaras de CCD, parâmetros físicos observáveis e tratamento de imagem.

Estão previstos 3 estágios a decorrer nas seguintes datas:
  • 2 a 4 de Julho
  • 28 a 30 de Julho
  • 27 a 29 de Agosto

Mais informações e inscrições através do seguinte link da página do Ciência Viva: AQUI

Mestrado em Dinâmicas Sociais, Riscos Naturais e Tecnológicos

Recebido via mailing-list da Geopor:


Boa tarde

Divulgo-vos uma apresentação relativa ao Mestrado e Pós-graduação em Dinâmicas Sociais, Riscos Naturais e Tecnológicos, com candidaturas abertas.

Para informações complementares recomendo que contactem o colega Alexandre Tavares (atavares@dct.uc.pt).

Saudações,
Pedro Cunha

NOTA: para obterem a apresentação clicar AQUI.

Pedido de colaboração

Recebido por e-mail, aqui fica um inquérito:


Boa tarde:

Elaborei um pequeno Inquérito online sobre Riscos Naturais e Compra de Imóveis e gostava de pedir uma pequena ajuda.

Que respondessem o mesmo ou que ao menos divulgassem entre seus contactos ou via post. São poucas perguntas.

As regras para preenchimento aparecem no formulário online.

Há dois links para resposta:
Luiz Amadeu Coutinho

quinta-feira, junho 19, 2008

Faz hoje 55 anos


No passado 19 de Junho de 1953
19.06.2008

O veredicto tinha sido declarado dois anos antes, após um julgamento que durara apenas 23 dias. A 5 de Abril de 1951, o juiz Irving R. Kaufman tinha sentenciado à morte o casal Julius e Ethel Rosenberg, considerando-os "culpados de conspiração e de espionagem" e de terem "atraiçoado" os Estados Unidos e, mesmo, terem "alterado o curso da História". A execução aconteceu ao pôr-do-sol de 19 de Junho de 1953, na prisão de alta segurança de Sing-Sing, em Nova Iorque. Durante o julgamento, o casal e os seus advogados afirmaram repetidamente a sua inocência, considerando-se "vítimas da histeria política" que se vivia nesses tempos de Guerra Fria mas Julius e Ethel Rosenberg tornaram-se nas duas únicas pessoas executadas na América durante a Guerra Fria por acusação de espionagem, num processo que viria a dar exemplo e pretexto à cruzada da "Caça às Bruxas", logo a seguir dirigida pelo senador McCarthy. O processo dos Rosenberg, assumidos militantes comunistas, e que o tribunal declarou serem também espiões a favor da URSS, teve como motivo a transmissão de segredos de Estado aos soviéticos relativos ao famoso Projecto Manhattan, que nomeava os planos atómicos americanos, no decorrer da 2ª Guerra Mundial. O irmão de Ethel, David Greenglass, trabalhou nesse projecto a partir de 1944, e acabaria por ser ele a denunciar o seu cunhado como espião.


in Público - link não disponível



NOTA: Como bom português que pretendo ser, não poderia deixar passar esta data, pois sou, naturalmente, agora e sempre, anti-pena-de-morte...

segunda-feira, junho 16, 2008

Sopa de Pedra

Já que estamos (e estaremos, por motivos que brevemente aqui revelaremos...) numa de Açores, aqui fica outro post de um célebre Blog terceirense de um professor da Universidade dos Açores, o Desambientado:


Gosto muito de pedras.
Prefiro-as no meu caminho
Do que dentro dos sapatos.
Haverá desimpedimentos,
Sem aborrecimentos?

Gosto muito de areia;
Debaixo dos meus pés
E fora dos meus olhos.

Prefiro a subtileza,

Á falta de clareza.


Gosto muito de calçadas,
Descalças de preconceito,
Onde se anda sempre a eito.


Gosto muito de bordões,
Que nos apoiam, proféticos,
Nos desequilíbrios éticos.


Gosto muito, muito, muito…
Das pedras do meu mundo,
Porque se um homem é pó,
Uma pedra quer dizer
Que depois de aqui viver,
Vai voltar-se a agrupar,
Numa rocha sedimentar,
Que marcará o seu lugar.


Félix Rodrigues

A evolução dos cones vulcânicos surtsianos

Do Blog GEOCRUSOE, que nos merece uma leitura atenta pelo menos uma vez por semana, publicamos o seguinte post:


No Faial surgem esporadicamente preocupações pelo facto do mar, vento e chuva estarem a destruir o edifício da erupção dos Capelinhos, propondo a plantação de espécies vegetais capazes de impedir tal erosão.

Efectivamente, nas erupções basálticas em mar pouco profundo e onde este entra dentro da chaminé vulcânica, designadas de erupções do tipo surtsiano (surtseiano), dão-se grandes explosões, devido ao contacto da lava quente com a água fria. O que origina cones sobretudo de grãos da dimensão das areias e outros maiores e inicialmente soltos: devido à intensa fragmentação do material assim expelido.


O vulcão dos Capelinhos durante um período de actividade eruptiva do tipo surtsiano, os jactos negro são grãos que construíram o cone


[Foto publicada em: Machado, F. e Forjaz, V. H. - in Actividade Vulcânica do Faial - 1957-67 (1968) Ed. Com. Reg. Turismo Distrito da Horta]


As "areias" acumuladas durante a actividade surtsiana são conhecidas por cinzas vulcânicas - cientificamente o nome é complexo: hialopiroclastitos (sensivelmente significa: fragmentos vítreos formados pelo fogo) - e dão origem a cones fáceis de destruir pelo mar, vento e chuva. Nos Capelinhos, dos mais de 2 km quadrados iniciais, hoje resta talvez menos de 1.


Mas com o tempo, as mesmas chuvas, sais e seres vivos cimentam os grãos, transformando-os naquilo que as pessoas chamam de tufo vulcânico e a erosão passa a ser muito mais lenta. Então a superfície cobre-se de vegetação e quase nem vemos que a destruição continua.


Infelizmente e ao longo de milhares de anos, os grandes edifícios surtsianos continuam a reduzir em tamanho, o mar abre brechas e a erosão intensifica-se ligeiramente.


Então, com o passar dos anos, talvez outros milhares, os grande cones passam a pequenos ilhéus, parecem recifes... até ao dia em que desaparecem no mar como baixios e tornam-se em montes submarinos.

Todos os Faialenses gostam da estrutura construída pelos Capelinhos, interferir artificialmente com a evolução das coisas pode ser tentador, mas a longo prazo não resulta. A Natureza fez o mundo assim e para quem sabe olhar a beleza da Terra, verifica que esta constrói-se com as suas Regras Naturais.

domingo, junho 15, 2008

Poesia

Meditação

Quedei-me no silêncio
Das minhas mágoas
E fiquei prostrado
A ouvi-las.
Levanto-me em silêncio
E comigo trago-as
Sob um sol apagado
...A(s)sumi-las.


in Eu e o Outro, Adelino (1998)

Nascer

Nando

Aqui estou, mundo desconhecido.
Grito, a todos os pulmões, a minha presença.
Sei que sou fruto do Amor de meus Pais,
que estou aqui para algum fim.

Mas tudo é estranho e desconhecido.
Frio.
Seco.
Talvez me habitue.
Talvez se habituem a mim...

Obrigado.


Pedro Luna - poema inédito

O meu dia de anos

Faço hoje 41 anos. Eu, que quase partilhei a data com Fernando Pessoa (e com o dia da morte de Santo António) queria deixar aqui um seu poema, retirado de um interessantíssimo site brasileiro:
http://www.pessoa.art.br/


Aniversário

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar pela vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui – ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui…
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas – doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado –,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!…

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!…



Álvaro de Campos - Poemas

Poesia de Fernando Pessoa

Gládio

Deus-me Deus o seu gládio, porque eu faça
.....A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em génio e em desgraça,
As horas em que um frio vento passa
.....Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre o ombros, e doirou-me
.....A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer-justiça são Seu nome
....Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
.....Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois venha, o que vier, nunca será
.....Maior do que a minha alma!


Ataca, n° 3, 1934, pp. 81
Fernando Pessoa - Poemas Ocultistas (21.07.1913)

Mensagem - Fernando Pessoa

I - Os campos
Primeira Parte | Brasão
Primeiro - O dos Castelos

A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar esfíngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.


08.12.1928

Fernando Pessoa - Mensagem

Fernando Pessoa - Ode de Ricardo Reis

Do Que Quero

Do que quero renego, se o querê-lo
Me pesa na vontade. Nada que haja
Vale que lhe concedamos
Uma atenção que doa.
Meu balde exponho à chuva, por ter água.
Minha vontade, assim, ao mundo exponho,
Recebo o que me é dado,
E o que falta não quero.

O que me é dado quero
Depois de dado, grato.

Nem quero mais que o dado
Ou que o tido desejo.


Ricardo Reis - Odes

Fernando Pessoa - poesia de Álvaro de Campos

Ridículas


Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos),
São naturalmente
Ridículas.)


Álvaro de Campos (21.10.1935)

Fernando Pessoa - poesia de Alberto Caeiro

I

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr do Sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
É se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do Sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,
Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predilecta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural –
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.

Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos (08.03.1914)

Poesia de Fernando Pessoa

Desenho retirado daqui

Teus Olhos Entristecem


Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham esquecem...
Não me ouves, e prossigo.

Digo o que já, de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.

Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.


Fernando Pessoa - Cancioneiro (19.10.1935)