Aprovado pela Assembleia Geral da Federação Portuguesa de Espeleologia em 13 de Fevereiro de 2005
Preâmbulo
A ética é a pedra de toque da prática da espeleologia. A ética espeleológica pode condensar-se em duas ideias muito simples: o respeito pela equipa e o respeito pelo Ambiente. Sem isso, tudo o resto – o gosto pela exploração, a vocação científica, a proficiência técnica ou desportiva, os interesses económicos ou outros – nada vale. Quem não for capaz de respeitar a ética espeleológica, não é um espeleólogo.
1. Os espeleólogos devem promover a protecção das grutas e do Ambiente. Os grupos de espeleologia devem assumir-se também como organizações de defesa do ambiente, protegendo e valorizando o meio cavernícola e as regiões envolventes, por todos os meios ao seu alcance.
2. Os espeleólogos devem valorizar a segurança, a confiança e o respeito mútuo. Os espeleólogos devem cumprir rigorosamente as regras de segurança e assumir permanentemente uma postura de cooperação e entreajuda. A segurança de um implica a segurança de todos, bem como de terceiros que possam ser chamados a intervir em caso de acidente.
3. Os espeleólogos devem reconhecer reciprocamente o trabalho uns dos outros. O intercâmbio é essencial, seja através de publicações ou de contactos inter-grupos. Um grupo de espeleologia nunca pode considerar como “sua” uma qualquer gruta, pois o meio cavernícola é domínio público e património comum de todos nós, espeleólogos e não só.
4. O acesso às grutas deve em regra ser aberto e natural. O acesso ao meio cavernícola apenas deve ser condicionado por exigências de segurança e protecção ambiental. Os espeleólogos devem abster-se de facilitar ou dificultar artificialmente o acesso às grutas. Devem defender o uso sustentável do meio cavernícola; entre outros aspectos, só devem prestar colaboração à actividade turística em grutas se for assegurada a devida protecção da cavidade e do ambiente envolvente.
5. A progressão nas grutas deve ser feita com o mínimo de intrusão. A equipagem de pontos de fixação deve limitar ao mínimo a artificialização da cavidade. Deve usar-se por sistema apenas o percurso de menor impacto e maior segurança. Deve haver cuidado para não danificar o meio, designadamente formações geológicas, água represada ou corrente, seres vivos, guano, vestígios paleontológicos ou arqueológicos e outros aspectos notáveis.
6. Os habitantes das grutas não devem ser molestados. Apenas para fins de análise científica poderão ser realizadas colheitas, de forma a não afectar o habitat e a comunidade biótica. Devem tomar-se sempre as devidas precauções para minimizar o impacto da visita. Em particular, no caso de cavidades com colónias de morcegos, devem ser evitadas as visitas em períodos críticos (hibernação, criação e período diurno).
7. Não se devem danificar concreções e outras formações. A destruição de formações só é admissível se não houver outra alternativa para atingir uma passagem, ou se for imperativo para evacuar de emergência um acidentado. As desobstruções devem ser sempre efectuadas com bom senso, minimizando o impacto no património.
8. Deve minimizar-se a alteração do clima e da ecologia das grutas. Visitas a zonas remotas ou pouco ventiladas devem ser breves, tanto por motivos de segurança como ambientais. Deve procurar usar-se iluminação de impacto mínimo. Nunca deve ser deixada iluminação permanente durante períodos longos, mesmo para a realização de trabalhos científicos. Os utilizadores do meio cavernícola devem abster-se de fumar no interior das grutas, tanto por respeito para com os outros, como por motivos ecológicos.
9. Os resíduos produzidos nas grutas devem ser removidos. Embalagens, restos de comida, pilhas e óxido de cálcio dos gasómetros devem ser transportados para o exterior e depositados de forma adequada, deixando as cavidades e o terreno limpos. Deve ser evitada a produção de excrementos e, sempre que possível, deve ser prevista a sua evacuação. Lixo encontrado nas cavidades deve ser evacuado sempre que possível.
10. A criação de inscrições ou objectos nas grutas deve ser evitada. Vestígios como graffiti a gasómetro ou esculturas de argila poderão conservar-se durante séculos: pensemos no que queremos legar às próximas gerações de espeleólogos.
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