Descoberta origem dos 200 meteoritos que chegaram à Terra vindos de Marte
Mosaico do hemisfério Valles Marineris de Marte projetado de modo semelhante à que se veria a partir de uma nave espacial
Os investigadores identificaram os locais específicos de onde a maioria dos cerca de 200 meteoritos marcianos provém.
Uma equipa de investigadores rastreou os meteoritos que chegaram à Terra provenientes de Marte até 5 crateras de impacto em duas regiões vulcânicas do Planeta Vermelho, chamadas Tharsis e Elysium.
O seu estudo foi publicado a semana passada na revista Science Advances.
Os meteoritos marcianos chegam à Terra quando algo
atinge a superfície de Marte com força suficiente para que o material
seja “projetado da superfície e acelerado suficientemente depressa para
escapar à gravidade de Marte”, explica Chris Herd, curador da Coleção de Meteoritos da Universidade de Alberta e professor na sua Faculdade de Ciências.
Este material ejetado é lançado para o espaço, acaba por entrar numa órbita à volta do Sol e parte eventualmente cai no nosso planeta sob a forma de meteoritos. A colisão deixa uma cratera de impacto na superfície de Marte. Isto aconteceu 10 vezes na história recente de Marte.
“Pensamos ter encontrado as crateras de origem de metade dos 10 grupos de meteoritos marcianos”, diz Herd.
Segundo o autor principal do estudo, a compreensão
melhorada dos cientistas acerca da física de exatamente como as rochas
são ejetadas de Marte foi fundamental para esta descoberta.
As descobertas deste estudo são um passo para
desvendar os mistérios de Marte, uma vez que as tentativas anteriores
para determinar as fontes exatas dos meteoritos marcianos tiveram um
sucesso limitado.
“Agora, podemos agrupar estes meteoritos pela sua história comum e pela sua localização na superfície antes de chegarem à Terra”, diz Herd.
Mais conhecimento sobre como e onde em Marte estes
meteoritos tiveram origem dá-nos uma visão adicional sobre as amostras
que já temos na Terra.
A capacidade de contextualizar e posicionar estas amostras dentro da geologia marciana pela primeira vez “permitirá a recalibração da cronologia
de Marte, com implicações para o tempo, duração e natureza de uma vasta
gama de grandes eventos ao longo da história marciana”, dizem os
investigadores.
“Um dos maiores avanços aqui é ser capaz de
modelar o processo de ejeção e, a partir desse processo, ser capaz de
determinar o tamanho da cratera ou a gama de tamanhos de crateras que,
em última análise, poderiam ter ejetado esse grupo particular de
meteoritos, ou mesmo um meteorito em particular”, diz Herd.
“Chamo a isso o elo perdido –
ser capaz de dizer, por exemplo, que as condições em que este meteorito
foi ejetado foram satisfeitas por um evento de impacto que produziu
crateras entre 10 e 30 quilómetros de diâmetro.”
Representação artística da física envolvida na ‘entrega’ de um meteorito marciano à Terra
O conhecimento sobre a origem dos meteoritos, combinado com os
avanços da tecnologia, como a deteção remota, dá aos investigadores uma
estrutura sobre a qual se podem basear.
Herd diz que também podemos restringir os potenciais locais em Marte
que são a origem de meteoritos que ainda temos de investigar. Para isso,
precisamos de certos pormenores sobre quando e como um meteorito foi lançado de Marte e que idade tinha quando cristalizou na superfície do planeta, explica Herd.
“De todas estas crateras potenciais, podemos reduzi-las a 15,
e depois, das 15, podemos reduzi-las ainda mais com base em
características específicas dos meteoritos. Talvez possamos até
reconstruir a estratigrafia vulcânica, a posição de todas estas rochas,
antes de terem sido expulsas da superfície”, diz Herd.
A estratigrafia é o registo geológico de um planeta,
composto por camadas de rochas sedimentares ou, como neste caso,
vulcânicas. É análoga a um livro, onde as camadas de rocha são páginas, e
a partir delas os cientistas podem procurar pistas sobre ambientes
passados no planeta.
“Quando refletimos nisto, é realmente espantoso“, diz Herd. “É o passo mais próximo que podemos ter sem ir a Marte e apanhar uma rocha”.
Quanto à forma de confirmar que uma determinada amostra de meteorito
encontrada na Terra é de facto de Marte, Herd explica que, na década de
1980, os cientistas descobriram que “há uma assinatura, uma impressão digital da atmosfera marciana, que está presa dentro destas rochas”.
Essa impressão digital inclui uma combinação específica de gases
aprisionados na rocha que correspondem aos gases da atmosfera de Marte
medidos pelos ‘landers’ Viking na década de 1970.
Com este quadro em posição, é provável que haja mais descobertas a fazer, uma vez que existem várias crateras, no âmbito do estudo, das quais não foram identificados meteoritos marcianos conhecidos.
Embora possa ser porque não ejetaram qualquer material para o espaço,
Herd diz que há também uma possibilidade real de que os meteoritos
desses eventos de ejeção específicos ainda não tenham chegado à Terra,
ou ainda não tenham sido encontrados.
“A ideia de pegar num grupo de meteoritos que foram todos lançados ao
mesmo tempo e depois fazer estudos específicos sobre eles para
determinar onde estavam antes de serem ejetados – para mim, esse é o
mais excitante próximo passo”, diz Herd. “Isto vai mudar fundamentalmente a forma como estudamos os meteoritos de Marte”.
in ZAP/CCVAlg