Nascido no Quartel Militar de Columbia, perto de Havana, na cidade de
Marianao, onde o seu pai era coronel, Lezama viveu os tempos mais
turbulentos da história de Cuba, lutando contra a ditadura de
Machado, e mais tarde, sobrevivendo ao regime de
Fidel Castro. Sendo
homossexual, a sua obra literária inclui o romance barroco, semiautobiográfico,
Paradiso, de (
1966), a história de um jovem e das suas lutas contra misteriosas doenças, contra a morte do seu pai, e as suas sensibilidades
homossexuais e poéticas em desenvolvimento. Lezama LIma coligiu ainda várias antologias de poesia cubana e colaborou nas revistas
Verbum e
Orígenes, sendo considerado o patriarca das Letras Cubanas na maior parte dos seus últimos anos.
Embora tenha deixado Cuba em pelo menos duas ocasiões (uma viagem à
Jamaica e uma possível viagem ao
México),
a poesia de Lezama Lima, os seus ensaios e dois dos seus romances
inspiraram-se em imagens e ideias de diversas culturas e períodos
históricos. O estilo barroco que ele desenvolveu baseava-se em partes
iguais na sua sintaxe influenciada por Góngora e por uma constelação
assombrosa de imagens invulgares. O primeiro livro publicado de Lezama
Lima, um longo poema intitulado "Muerte de Narciso", foi publicado
quando ele tinha apenas vinte e sete anos, tornando-o instantaneamente
famoso em Cuba e instituiu o estilo de Lezama e os seus temas clássicos.
Para além dos seus poemas e romances, Lezama Lima escreveu diversos ensaios sobre figuras da literatura mundial como
Mallarmé,
Paul Valéry,
Góngora e
Rimbaud, bem como sobre a estética barroca Latino-Americana. Muito notável são também os seus ensaios publicados como
La expresión americana, descrevendo a sua visão do barroco europeu, a sua relação com os clássicos, e com o barroco Americano.
AH, QUE TÚ ESCAPES
Ah, que tú escapes en el instante
en el que ya habías alcanzado tu definición mejor.
Ah, mi amiga, que tú no quieras creer
las preguntas de esa estrella recién cortada,
que va mojando sus puntas en otra estrella enemiga.
Ah, si pudiera ser cierto que a la hora del baño,
cuando en una misma agua discursiva
se bañan el inmóvil paisaje y los animales más finos: antílopes, serpientes de pasos breves, de pasos evaporados,
parecen entre sueños, sin ansias levantar
los más extensos cabellos y el agua más recordada.
Ah, mi amiga, si en el puro mármol de los adioses
hubieras dejado la estatua que nos podía acompañar,
pues el viento, el viento gracioso,
se extiende como un gato para dejarse definir.
in Enemigo Rumor (1941) - José Lezama Lima