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domingo, março 19, 2023

Porque hoje é dia do Pai...

São José, o Carpinteiro, de Georges de La Tour, 1640
        
São José ou José de Nazaré ou José, o Carpinteiro é, segundo o Novo Testamento, o esposo de Maria e o pai de Jesus. O nome José é a versão lusófona do hebraico Yosef, por meio do latim Iosephus. Descendente da casa real de David, é venerado como santo pela Igreja Ortodoxa, Igreja Anglicana e Igreja Católica, que o celebra como seu padroeiro universal. A Liturgia Luterana também dedica um dia - 19 de março - à sua memória, sob o título de "Tutor de Nosso Senhor". Operário, é tido como "Padroeiro dos Trabalhadores", e, pela fidelidade a sua esposa e dedicação paternal a Jesus, como "Padroeiro das Famílias", emprestando o seu nome a muitas igrejas e lugares em todo o mundo.
        
 
    
Ação de graças

Às vezes, com minha filha no chão junto de mim,
Fecho os olhos numa ação de graças...

Mas logo ela galreia,
Nem isso me consente.

E regresso um pouco triste a uma alegria imensa.

01.10.1950
   
  
  
in Poesia-I - Post-Scriptum (1960) - Jorge de Sena

terça-feira, fevereiro 21, 2023

Spinoza morreu há 346 anos...

Bento Espinosa: Amesterdão, 24.11.1632 - Haia, 21.02.1677 (imagem daqui)
 
 
Homenagem a Spinoza
 
Lentes poliu para de Holanda os míopes
que delas precisavam para a escrita
comercial do açúcar e saborearem
os cantos delicados das pinturas.
Judeu sem sinagoga e sem península
ibérica de avós, moral geómetra
os ângulos mediu aos teoremas
da vida humana em lentes tão convexas
que até o latim lhe é como hebraico morto.
E sem de deus teólogo traçou
as linhas da cidade constituída
segundo as leis dos anjos da razão.
E Bento se chamava este coitado
da suma gentileza de existir-se
e de pensar-se em glória a paciência triste
de polir lentes sem ter deus nem pátria.
Mas só assim é que os cristais flamejam
em pura transparência apavorada.


     
  

in Exorcismos (1972) - Jorge de Sena

quarta-feira, dezembro 21, 2022

Porque os astrónomos insistem que hoje começa o inverno...

(imagem daqui)

 

Glosa à chegada do Inverno

Ao frio suave, obscuro e sossegado,
e com que a noite, agora, se anuncia
depois de posto, ao longe, um sol dourado
que a uma rosada fímbria arrasta e esfia…

Da solidão dos homens apartado,
e entregue a tal silêncio, que devia
mais entender as sombras a meu lado
que a terra nua onde se atrasa o dia…

Recordo o amor distante que em mim vive,
sem tempo ou espaço, e apenas amarrado
à liberdade imensa que não tive,

e que não há. Como o recordo agora
que a luz do dia já se não demora,
se apenas de si próprio é recordado?


Jorge de Sena

quinta-feira, dezembro 01, 2022

Poesia adequada à data...!


 (imagem daqui)


   

“QUEM A TEM...”

Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.

Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade. 



in Fidelidade, Poesia-II - Jorge de Sena

quinta-feira, novembro 24, 2022

Baruch de Espinoza nasceu há 390 anos

   
Baruch de Espinoza (Amesterdão, 24 de novembro de 1632 - Haia, 21 de fevereiro de 1677) foi um dos grandes racionalistas e filósofos do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu em Amesterdão, nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.
  

 


Homenagem a Spinoza

 

Lentes poliu para de Holanda os míopes
que delas precisavam para a escrita
comercial do açúcar e saborearem
os cantos delicados das pinturas.
Judeu sem sinagoga e sem península
ibérica de avós, moral geómetra
os ângulos mediu aos teoremas
da vida humana em lentes tão convexas
que até o latim lhe é como hebraico morto.
E sem de deus teólogo traçou
as linhas da cidade constituída
segundo as leis dos anjos da razão.
E Bento se chamava este coitado
da suma gentileza de existir-se
e de pensar-se em glória a paciência triste
de polir lentes sem ter deus nem pátria.
Mas só assim é que os cristais flamejam
em pura transparência apavorada.

 


Jorge de Sena

quarta-feira, novembro 02, 2022

Hoje a poesia de Jorge de Sena precisa de ser cantada...

 

Epígrafe para a arte de furtar

Roubam-me Deus
outros o Diabo
– quem cantarei?

roubam-me a Pátria;
e a Humanidade
outros ma roubam
– quem cantarei?

sempre há quem roube
quem eu deseje;
e de mim mesmo
todos me roubam
– quem cantarei?

roubam-me a voz
quando me calo,
ou o silêncio
mesmo se falo
– aqui D'El-Rei!

  
 

Jorge de Sena

Jorge de Sena nasceu há 103 anos...

(imagem daqui)
   
Jorge Cândido Alves Rodrigues Telles Grilo Raposo de Abreu de Sena (Lisboa, 2 de novembro de 1919 - Santa Barbara, Califórnia, 4 de junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
 
Obra
Foi um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX, com vasta obra de ficção, drama, ensaio e poesia, além de importante epistolografia com figuras tutelares da literatura portuguesa e brasileira. A sua obra de ficção mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha. Grande parte da sua obra foi publicada postumamente pelos cuidados da viúva, Mécia de Sena.
     
Prémios
Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, pelo conjunto da sua obra poética, e foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago. Em 1980, foi inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara.
 

 

“QUEM A TEM...”

 

Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.

Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
 



in Fidelidade, Poesia-II - Jorge de Sena

domingo, outubro 09, 2022

O venerável Papa Pio XII morreu há 64 anos


Papa Pio XII
(em italiano: Pio XII, em latim: Pius PP. XII; O.P., nascido Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli; Roma, 2 de março de 1876 - Castelgandolfo, 9 de outubro de 1958) foi eleito Papa no dia 2 de março de 1939 até à data da sua morte. Foi o primeiro Papa romano desde 1724.
Foi o único Papa do século XX a exercer o Magistério Extraordinário da Infalibilidade papal – invocado por Pio IX – quando definiu o dogma da Assunção de Maria em 1950, na sua encíclicaMunificentissimus Deus. A sua ação durante a Segunda Guerra Mundial tem sido alvo de debate e polémica devido a sua posição papal de imparcialidade, com relação ao conflito. Ao todo criou 57 cardeais em dois consistórios.

  

Opus iustitiae pax

 

Provas escritas de ordem direta de Pio XII para proteger os judeus foram encontradas no Memorial das Religiosas Agustinas do mosteiro romano "Dei Santissimi Quattro Coronati" onde se lê: "O Santo Padre quer salvar os seus filhos, também os Judeus, e ordena que em todos os Mosteiros se dê hospitalidade a estes perseguidos". A anotação é de novembro de 1943 e inclui a lista de 24 pessoas acolhidas neste Mosteiro como adesão ao desejo do Sumo Pontífice.
A Pave the Way Foundation, uma fundação que se dedica à promoção da paz no mundo por meio do diálogo interreligioso, liderada pelo judeu Gary Lewis Krupp comunicou, em setembro de 2009, ao Papa Bento XVI uma iniciativa que busca dar a Pio XII o título de "Justo entre as Nações" – o que seria equivalente ao reconhecimento que faz a Igreja Católica dos santos - e assim colocar o seu nome no elenco do conhecido jardim dos justos no Yad Vashem de Jerusalém.

   

 

COMO DE VÓS...
À memória do Papa Pio XII que quis ouvir, moribundo, o “Allegretto” da Sétima Sinfonia de Beethoven.


Como de Vós, meu Deus, me fio em tudo,
mesmo no mal que consentis que eu faça,
por ser-Vos indiferente, ou não ser mal,
ou ser convosco um bem que eu não conheço,

importa pouco ou nada que em Vós creia,
que Vos invente ou não a fé que eu tenha,
que a própria fé não prove que existis,
ou que existir não seja a Vossa essência.

Não de existir sois feito, e também não
de ser pensado por quem só confia
em quem lhe fale, em quem o escute ou veja.
 
Humildemente sei que em Vós confio,
e mesmo isto o sei pouco ou quase esqueço,
pois que de Vós, meu Deus, me fio em tudo.


11.10.1958
 

 
in Fidelidade (1958) - Jorge de Sena 

sexta-feira, setembro 23, 2022

Poema para celebrar a chegada do outono...

(imagem daqui)

    

Glosa à chegada do Outono

O corpo não espera. Não. Por nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sede, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo...
Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.

 
in Fidelidade (1958) - Jorge de Sena

sexta-feira, junho 10, 2022

Camões desistiu há 442 anos...

(imagem daqui)
      
Camões dirige-se aos seus contemporâneos
    
Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
    
     

Jorge de Sena

sábado, junho 04, 2022

Hoje, quem cantarei...?!?

 

  

Epígrafe para a arte de furtar

Roubam-me Deus
outros o Diabo
– quem cantarei?

roubam-me a Pátria;
e a Humanidade
outros ma roubam
– quem cantarei?

sempre há quem roube
quem eu deseje;
e de mim mesmo
todos me roubam
– quem cantarei?

roubam-me a voz
quando me calo,
ou o silêncio
mesmo se falo
– aqui del rei!


 

Jorge de Sena

Jorge de Sena morreu há quarenta e quatro anos...

(imagem daqui)
     
Jorge Cândido Alves Rodrigues Telles Grilo Raposo de Abreu de Sena (Lisboa, 2 de novembro de 1919 - Santa Barbara, Califórnia, 4 de junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
 
Obra
Foi um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX, com vasta obra de ficção, drama, ensaio e poesia, além de importante epistolografia com figuras tutelares da literatura portuguesa e brasileira. A sua obra de ficção mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha. Grande parte da sua obra foi publicada postumamente pelos cuidados da viúva, Mécia de Sena.
     
Prémios
Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, pelo conjunto da sua obra poética, e foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago. Em 1980, foi inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara.
 

 

Cessação


Quando a morte vier, ou procurada
eu a tiver comigo apenas por um instante,
qual já nem for amante
a esperança conseguida à liberdade,
então do nada que a existência invade
alguma dor virá de não ter dito
que a vida eu sofria como um rito
do Sol de outras manhãs. Expatriada?


Não. Que só a morte nunca existirá.
Sonharei - sonhará,
na treva, a cantiga:
Que luz não amiga
a treva será?


Nem longe, nem perto;
nem riso decerto.
Apenas um rumor de madrugada.
 


in Coroa da Terra (1946) - Jorge de Sena

 

sexta-feira, maio 20, 2022

Poema para um Príncipe que morreu nesta data...

(imagem daqui)
  
  
Cessação


Quando a morte vier, ou procurada
eu a tiver comigo apenas por um instante,
qual já nem for amante
a esperança conseguida à liberdade,
então do nada que a existência invade
alguma dor virá de não ter dito
que a vida eu sofria como um rito
do Sol de outras manhãs. Expatriada?


Não. Que só a morte nunca existirá.
Sonharei - sonhará,
na treva, a cantiga:
Que luz não amiga
a treva será?


Nem longe, nem perto;
nem riso decerto.
Apenas um rumor de madrugada.
 


in Coroa da Terra (1946) - Jorge de Sena

sábado, março 19, 2022

Porque hoje é dia de São José...

São José, o Carpinteiro, de Georges de La Tour, 1640
        
São José ou José de Nazaré ou José, o Carpinteiro é, segundo o Novo Testamento, o esposo de Maria e o pai de Jesus. O nome José é a versão lusófona do hebraico Yosef, por meio do latim Iosephus. Descendente da casa real de David, é venerado como santo pela Igreja Ortodoxa, Igreja Anglicana e Igreja Católica, que o celebra como seu padroeiro universal. A Liturgia Luterana também dedica um dia - 19 de março - à sua memória, sob o título de "Tutor de Nosso Senhor". Operário, é tido como "Padroeiro dos Trabalhadores", e, pela fidelidade a sua esposa e dedicação paternal a Jesus, como "Padroeiro das Famílias", emprestando o seu nome a muitas igrejas e lugares em todo o mundo.
        
 
    
Ação de graças

Às vezes, com minha filha no chão junto de mim,
Fecho os olhos numa ação de graças...

Mas logo ela galreia,
Nem isso me consente.

E regresso um pouco triste a uma alegria imensa.

01.10.1950
  
  
in Poesia-I - Post-Scriptum (1960) - Jorge de Sena

Poema para celebrar o Dia do Pai...


(imagem daqui)


Nasceu-te um Filho

Nasceu-te um filho. Não conhecerás,
jamais, a extrema solidão da vida.
Se a não chegaste a conhecer, se a vida
ta não mostrou - já não conhecerás

a dor terrível de a saber escondida
até no puro amor. E esquecerás,
se alguma vez adivinhaste a paz
traiçoeira de estar só, a pressentida,

leve e distante imagem que ilumina
uma paisagem mais distante ainda.
Já nenhum astro te será fatal.

E quando a Sorte julgue que domina,
ou mesmo a Morte, se a alegria finda
- ri-te de ambas, que um filho é imortal.

  
  
  
in Visão Perpétua (1982) - Jorge de Sena

segunda-feira, fevereiro 21, 2022

Spinoza morreu há 345 anos

Bento Espinosa: Amesterdão, 24.11.1632 - Haia, 21.02.1677 
(imagem daqui)
 
 
Homenagem a Spinoza
 
Lentes poliu para de Holanda os míopes
que delas precisavam para a escrita
comercial do açúcar e saborearem
os cantos delicados das pinturas.
Judeu sem sinagoga e sem península
ibérica de avós, moral geómetra
os ângulos mediu aos teoremas
da vida humana em lentes tão convexas
que até o latim lhe é como hebraico morto.
E sem de deus teólogo traçou
as linhas da cidade constituída
segundo as leis dos anjos da razão.
E Bento se chamava este coitado
da suma gentileza de existir-se
e de pensar-se em glória a paciência triste
de polir lentes sem ter deus nem pátria.
Mas só assim é que os cristais flamejam
em pura transparência apavorada.


     
  

in Exorcismos (1972) - Jorge de Sena

quarta-feira, dezembro 01, 2021

Liberdade!

 

 (imagem daqui)


“QUEM A TEM...”

Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.

Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade. 



in Fidelidade, Poesia-II - Jorge de Sena

terça-feira, novembro 02, 2021

Hoje é dia de cantar poesia de Jorge de Sena...

 

Epígrafe para a arte de furtar

Roubam-me Deus
outros o Diabo
– quem cantarei?

roubam-me a Pátria;
e a Humanidade
outros ma roubam
– quem cantarei?

sempre há quem roube
quem eu deseje;
e de mim mesmo
todos me roubam
– quem cantarei?

roubam-me a voz
quando me calo,
ou o silêncio
mesmo se falo
– aqui del rei!

  
 

Jorge de Sena

Jorge de Sena nasceu há 102 anos

(imagem daqui)
   
Jorge Cândido Alves Rodrigues Telles Grilo Raposo de Abreu de Sena (Lisboa, 2 de novembro de 1919 - Santa Barbara, Califórnia, 4 de junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português.
 
Obra
Foi um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX, com vasta obra de ficção, drama, ensaio e poesia, além de importante epistolografia com figuras tutelares da literatura portuguesa e brasileira. A sua obra de ficção mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha. Grande parte da sua obra foi publicada postumamente pelos cuidados da viúva, Mécia de Sena.
     
Prémios
Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, pelo conjunto da sua obra poética, e foi condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique, por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem de Sant'iago. Em 1980, foi inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara.
 

 

Ação de graças

Às vezes, com minha filha no chão junto de mim,
Fecho os olhos numa ação de graças...

Mas logo ela galreia,
Nem isso me consente.

E regresso um pouco triste a uma alegria imensa.
   

01.10.1950

in Poesia-I - Post-Scriptum (1960) - Jorge de Sena

sábado, outubro 09, 2021

O Papa Pio XII morreu há 63 anos

(imagem daqui)
   
Papa Pio XII (em italiano: Pio XII, em latim: Pius PP. XII; O.P., nascido Eugenio Maria Giuseppe Giovanni Pacelli; Roma, 2 de março de 1876 - Castelgandolfo, 9 de outubro de 1958) foi eleito Papa no dia 2 de março de 1939 até a data da sua morte. Foi o primeiro Papa Romano desde 1724.
Foi o único Papa do século XX a exercer o Magistério Extraordinário da Infalibilidade papal – invocado por Pio IX – quando definiu o dogma da Assunção de Maria em 1950, na sua encíclicaMunificentissimus Deus. A sua ação durante a Segunda Guerra Mundial tem sido alvo de debate e polémica devido a sua posição papal de imparcialidade, com relação ao conflito. Ao todo criou 57 cardeais em dois consistórios.

  

Opus iustitiae pax

 

 Provas escritas de ordem direta de Pio XII para proteger os judeus foram encontradas no Memorial das Religiosas Agustinas do mosteiro romano "Dei Santissimi Quattro Coronati" onde se lê: "O Santo Padre quer salvar os seus filhos, também os Judeus, e ordena que em todos os Mosteiros se dê hospitalidade a estes perseguidos". A anotação é de novembro de 1943 e inclui a lista de 24 pessoas acolhidas neste Mosteiro como adesão ao desejo do Sumo Pontífice.
A Pave the Way Foundation, uma fundação que se dedica à promoção da paz no mundo por meio do diálogo interreligioso, liderada pelo judeu Gary Lewis Krupp comunicou, em setembro de 2009, ao Papa Bento XVI uma iniciativa que busca dar a Pio XII o título de "Justo entre as Nações" – o que seria equivalente ao reconhecimento que faz a Igreja Católica dos santos - e assim colocar o seu nome no elenco do conhecido jardim dos justos no Yad Vashem de Jerusalém.

   

 

COMO DE VÓS...
À memória do Papa Pio XII que quis ouvir, moribundo, o “Allegretto” da Sétima Sinfonia de Beethoven.


Como de Vós, meu Deus, me fio em tudo,
mesmo no mal que consentis que eu faça,
por ser-Vos indiferente, ou não ser mal,
ou ser convosco um bem que eu não conheço,

importa pouco ou nada que em Vós creia,
que Vos invente ou não a fé que eu tenha,
que a própria fé não prove que existis,
ou que existir não seja a Vossa essência.

Não de existir sois feito, e também não
de ser pensado por quem só confia
em quem lhe fale, em quem o escute ou veja.
 
Humildemente sei que em Vós confio,
e mesmo isto o sei pouco ou quase esqueço,
pois que de Vós, meu Deus, me fio em tudo.

11.10.1958
 

 
in Fidelidade (1958) - Jorge de Sena