O Curso de Geologia de 85/90 da Universidade de Coimbra escolheu o nome de Geopedrados quando participou na Queima das Fitas.
Ficou a designação, ficaram muitas pessoas com e sobre a capa intemporal deste nome, agora com oportunidade de partilhar as suas ideias, informações e materiais sobre Geologia, Paleontologia, Mineralogia, Vulcanologia/Sismologia, Ambiente, Energia, Biologia, Astronomia, Ensino, Fotografia, Humor, Música, Cultura, Coimbra e AAC, para fins de ensino e educação.
D. Pedro II (Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1825 – Paris, 5 de dezembro de 1891), alcunhado de o Magnânimo, foi o segundo e último soberano do Império do Brasil, tendo sido chefe de estado durante um período de 58 anos. Nascido no Rio de Janeiro, foi o filho mais novo do imperador Pedro I do Brasil e da imperatriz Maria Leopoldina de Áustria e, portanto, membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança. A abrupta abdicação do pai e a sua partida para Portugal,
tornaram Pedro imperador com apenas cinco anos. Obrigado a passar a
maior parte do seu tempo estudando na preparação para reinar, conheceu
poucos momentos de alegria e amigos de sua idade. As suas experiências com
intrigas palacianas e disputas políticas durante este período tiveram
grande impacto na formação de seu caráter. O imperador D. Pedro II
tornou-se um homem com forte senso de dever e devoção ao seu país e seu
povo. Por outro lado, ele ressentiu-se cada vez mais de seu papel como
monarca.
Teve a maioridade
decretada para assumir o governo e evitar a desintegração do Império,
tendo deixado ao sucessor republicano um país caracterizado como
potência emergente na arena internacional. A nação distinguiu-se de seus
vizinhos hispano-americanos devido à sua estabilidade política, à
liberdade de expressão zelosamente mantida, respeito pelos direitos
civis excetuando os escravos, ao seu crescimento económico vibrante e
especialmente pela sua forma de governo: uma funcional monarquia
parlamentar constitucional. O Brasil também foi vitorioso em três
conflitos internacionais (a Guerra do Prata, a Guerra do Uruguai e a Guerra do Paraguai)
sob o seu reinado, assim como prevaleceu em outras disputas
internacionais e tensões domésticas. Sob o reinado de D. Pedro II foram
tomadas medidas de abolição gradual da escravatura, apesar da oposição
poderosa de interesses políticos e económicos. Um erudito, o imperador
estabeleceu uma reputação como um vigoroso patrocinador do conhecimento,
da cultura e das ciências. Ele ganhou o respeito e admiração de
estudiosos como Graham Bell, Charles Darwin, Victor Hugo e Friedrich Nietzsche, e foi amigo de Richard Wagner, Louis Pasteur e Henry Wadsworth Longfellow, dentre outros.
Apesar de não haver desejo por uma mudança na forma de governo
pela maior parte dos brasileiros, o imperador foi retirado do poder em
15 de novembro de 1889, por meio de um golpe de Estado.
D. Pedro II não permitiu nenhuma medida contra a sua remoção e não apoiou
qualquer tentativa de restauração da monarquia. O imperador deposto
passou os seus últimos dois anos de vida no exílio na Europa, vivendo
só. Os homens que o exilaram logo começaram a enxergá-lo como um modelo
para a república brasileira. Algumas décadas após sua morte, a sua
reputação foi restaurada e os seus restos mortais foram trazidos de volta
ao Brasil no meio de amplas celebrações.
(...)
Os seus últimos dois anos de vida foram solitários e melancólicos, vivendo
em hotéis modestos com quase nenhum recurso, ajudado financeiramente
pelo seu amigo Conde de Alves Machado, e escrevendo em seu diário sobre sonhos em que lhe era permitido regressar ao Brasil.
Certo dia realizou um longo passeio pelo rio Sena
numa carruagem aberta, apesar da temperatura extremamente baixa. Ao
regressar ao hotel Bedford à noite, sentiu-se constipado. A doença
evoluiu nos dias seguintes até tornar-se uma pneumonia.
O estado de saúde de Pedro II rapidamente piorou até à sua morte, às
00.35 da manhã do dia 5 de dezembro de 1891. As suas últimas palavras
foram: "Deus que me conceda esses últimos desejos - paz e prosperidade
para o Brasil."
Enquanto preparavam o seu corpo, um pacote lacrado foi encontrado no
quarto com uma mensagem escrita pelo próprio imperador: "É terra de meu
país; desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha
pátria". O pacote que continha terra de todas as províncias brasileiras
foi colocada dentro do caixão.
A Princesa Isabel desejava realizar uma cerimónia discreta e íntima, mas
acabou por aceitar o pedido do governo francês de realizar um funeral de Estado. No dia seguinte, milhares de personalidades compareceram a cerimónia realizada na Igreja de la Madeleine. Além da família de Pedro II, estavam: Francisco II, ex-rei das Duas Sicílias, Isabel II, ex-rainha da Espanha, Luís Filipe,
Conde de Paris, e diversos outros membros da realeza europeia. Também
estavam presentes o General Joseph Brugère, representando o Presidente Sadi Carnot,
os presidentes do Senado e da Câmara, assim como senadores, deputados,
diplomatas e outros representantes do governo francês. Quase todos os
membros da Academia Francesa, do Instituto de França,
da Academia de Ciências Morais e da Academia de Inscrições e
Belas-Artes também participaram.
Representantes de outros governos, tanto do continente americano como
europeu estiveram presentes, além de países longínquos como a Turquia, China, Japão e Pérsia.
Em seguida o caixão foi levado em cortejo até à estação de comboio, de
onde partiria para Portugal. Apesar da chuva incessante e da temperatura
extremamente baixa, cerca de 300 mil pessoas assistiram ao evento. A viagem prosseguiu até a Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa, onde o corpo de Pedro II foi depositado no Panteão dos Braganças, em 12 de dezembro.
Os membros do governo republicano brasileiro, "temerosos da grande
repercussão que tivera a morte do imperador", negaram qualquer
manifestação oficial.
Contudo, o povo brasileiro não ficou indiferente ao falecimento de
Pedro II, pois a "repercussão no Brasil foi também imensa, apesar dos
esforços do governo para a abafar. Houve manifestações de pesar em todo o
país: comércio fechado, bandeiras a meio pau, toques de finados, tarjas
pretas nas roupas, ofícios religiosos".
Foram realizadas "missas solenes por todo o país, seguidas de
pronunciamentos fúnebres em que se enalteciam D. Pedro II e o regime
monárquico".
O Imperador Pedro II no seu leito de morte, a 6 de dezembro de 1891: o livro debaixo
do travesseiro sob a sua cabeça simboliza que, mesmo após a morte, a sua
mente descansa sobre o conhecimento
O incêndio no Museu Nacional foi um incêndio de grandes proporções que atingiu a sede do Museu Nacional na Quinta da Boa Vista, Rio de Janeiro,
na noite de 2 de setembro de 2018, destruindo quase a totalidade do
acervo histórico e científico construído ao longo de duzentos anos, e
que abrangia cerca de vinte milhões de itens catalogados. Além do seu
rico acervo, também o edifício histórico que abrigava o Museu, antiga residência oficial dos Imperadores do Brasil, foi extremamente danificado com rachaduras, desabamento de sua cobertura, além da queda de lajes internas.
(...)
Os três andares do edifício foram bastante destruídos e o teto desabou. Segundo o vice-diretor do museu, Luiz Fernando Dias Duarte, toda a coleção da Imperatriz Teresa Cristina, os afrescos de Pompeia, o Trono do Rei do Daomé, assim como os acervos linguísticos foram perdidos.
Entre os itens que se estimam destruídos pelo fogo está o fóssil humano
mais antigo encontrado no Brasil, achado em 1974 e batizado de Luzia. As coleções de paleontologia que ali se encontravam incluíam o Maxakalisaurus topai, um dinossauro encontrado em Minas Gerais e o primeiro de grande porte montado no Brasil. O acervo de etnologia contava com artefactos da cultura afro-brasileira, africana e indígena, como objetos raros do Tribo tikuna, além de itens polinésios, assim como o trono do rei africano Adandozan (1718-1818), doado pelos seus embaixadores ao príncipe regente, futuro D. João VI, em 1811.
O museu era atualmente administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, possuía caráter académico e científico e era um reconhecido centro de pesquisa em história natural e antropológica na América Latina.
Todo o trabalho de cerca de 90 pesquisadores que ali conduziam suas
pesquisas foi perdido. Todo o Arquivo Histórico, que se encontrava
armazenado num ponto intermediário do edifício, foi destruído, assim como duas exposições em duas áreas da frente do prédio principal. O levantamento completo dos danos ainda não pôde ser realizado dada a intensidade do fogo no local e o risco de explosões.
Uma parte do acervo não se encontrava no prédio em chamas e não foi
afetada. No entanto, o fogo terá consumido tudo o que se encontrava em
exposição. O Zoológico do Rio de Janeiro, localizado muito próximo do local tão pouco foi atingido. Os quatro seguranças que se encontravam trabalhando no local conseguiram escapar e não houve vítimas.
Pode-se resumir brevemente a sua atuação dizendo que foi ministro do
Reino e dos Negócios Estrangeiros de janeiro de 1822 a julho de 1823. De
início, colocou-se em apoio à regência de D. Pedro de Alcântara. Proclamada a Independência, organizou a ação militar contra os focos de resistência à separação de Portugal, e comandou uma política centralizadora. Durante os debates da Assembleia Constituinte, deu-se o rompimento dele e de seus irmãos Martim Francisco Ribeiro de Andrada e Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva
com o imperador. Em 16 de julho de 1823, D. Pedro I demitiu o
ministério e José Bonifácio passou à oposição. Após o fechamento da
Constituinte, em 11 de novembro de 1823, José Bonifácio foi banido e exilou-se na França durante seis anos. De volta ao Brasil, e reconciliado com o imperador, assumiu a tutoria do seu filho quando Pedro I abdicou, em 1831. Permaneceu como tutor do futuro imperador até 1833, quando foi demitido pelo governo da Regência.
Cedo demonstrou vocação para as pesquisas científicas. A exploração de minas conhecia um auge considerável com o crescimento das necessidades ligadas à revolução industrial.
José Bonifácio concluiu, em 16 de junho de 1787, o seu curso de Filosofia
Natural e, a 5 de julho de 1788, o de Leis. Recebeu em Portugal apoio
do duque de Lafões, D. João de Bragança, que, em 1780, fundara a Academia das Ciências de Lisboa e, a 8 de julho de 1789 fez, perante o Desembargo do Paço, a leitura que o habilitava a exercer os lugares da magistratura. Cinco meses antes, em 4 de março, fora admitido como sócio livre da Academia, o que lhe abrira os caminhos de uma carreira de cientista.
Por temperamento, interessava-se por estudos de que resultassem em
alguma utilidade, colocando a ciência a serviço do aperfeiçoamento
humano. Tinha por divisa: Nisi utile est quod facimus, stulta est gloria. A sua primeira memória apresentada à Academia foi Memória sobre a Pesca das Baleias e Extração de seu Azeite: com algumas reflexões a respeito das nossas pescarias.
Visita à Europa
Foi comissionado, em 18 de fevereiro de 1790, para empreender, às custa do Real Erário, uma excursão científica pela Europa, para adquirir, por meio de viagens literárias e explorações filosóficas, os conhecimentos mais perfeitos de mineralogia e mais partes da filosofia e história natural.
Assim, nos meados de 1790, José Bonifácio estava em Paris na fase inicial da Revolução Francesa. Cursou, de setembro de 1790 a janeiro de 1791, os estudos de química e mineralogia e, até abril, aulas na Escola Real de Minas. Os seus biógrafos citam contactos com Lavoisier, Chaptal, Jussieu
e outros. Foi eleito sócio-correspondente da Sociedade Filomática de
Paris e membro da Sociedade de História Natural, para a qual escreveria
uma memória sobre diamantes
no Brasil, desfazendo erros. Já não era um simples estudante - começava
a falar com voz de mestre. Partiu depois para aulas práticas na Saxónia, em Freiburgo,
cuja Escola de Minas frequentou em 1792, recebendo dois anos mais tarde
um atestado de que havia frequentado um curso completo de Orictognosia e outro de Geognosia. Ali cursou também a disciplina de siderurgia, com o professor Abraham Gottlob Werner.
Percebia o atraso de Coimbra em relação a outros centros de estudo na
Europa - a escola de Freiberg marcaria sua orientação. Ali teve como
amigos Alexander von Humboldt, Leopold von Buch e Del Río. Percorreu minas do Tirol, da Estíria e da Caríntia. Foi a Pavia, na Itália, ouvir lições de Alessandro Volta; em Pádua, investigou a constituição geológica dos Montes Eugâneos, escrevendo a respeito um trabalho em 1794, chamado Viagem geognóstica aos Montes Eugâneos. Onde deu completo desenvolvimento a seus estudos foi na Suécia e na Noruega, a partir de 1796, caracterizando em jazidas locais quatro espécies minerais novas (entre os quais a petalita e o diópsido) e oito variedades que se incluíam em espécies já conhecidas - a todos esses minerais descreveu pela primeira vez e deu nome.
Viajou mais de dez anos pela Europa, absorto em seus trabalhos
científicos e, aos 37 anos, era um cientista conhecido e consagrado.
Regressou a Portugal em setembro de 1800. Visitara, além dos países
citados, a Dinamarca, a Bélgica, os Países Baixos, a Hungria, a Inglaterra e a Escócia.
O projeto de lei que extinguia a escravidão no Brasil foi apresentado à Câmara Geral, atual Câmara do Deputados,
pelo ministro Rodrigo Augusto da Silva, no dia 8 de Maio de 1888. Foi
votado e aprovado nos dias 9 e 10 de maio de 1888, na Câmara Geral.
A Lei Áurea foi apresentada formalmente ao Senado Imperial
pelo ministro Rodrigo A. da Silva no dia 11 de maio. Foi debatida nas
sessões dos dias 11, 12 e 13 de maio. Foi votada e aprovada, em
primeira votação no dia 12 de maio. Foi votada e aprovada em
definitivo, um pouco antes das treze horas, no dia 13 de maio de 1888,
e, no mesmo dia, levado à sanção da Princesa Regente.
Foi assinada no Paço Imperial por Dona Isabel e pelo ministro Rodrigo Augusto da Silva às três horas da tarde do dia 13 de maio de 1888.
Camélias, símbolo do movimento abolicionista - Dona Isabel foi presenteada diversas vezes com camélias do Quilombo do Leblon
Dª Isabel, Princesa Imperial do Brasil e regente do Império quando da assinatura da Lei Áurea, pela qual ficou conhecida como A Redentora
Segundo Emília Viotti da Costa a estrutura construída na Independência
fez com que fosse organizado um sistema político que colocava os
municípios dependentes das províncias e estas, ao poder central; e ainda
"adotaram um sistema de eleições indiretas baseado no voto
qualificado (censitário), excluindo a maior parte da população do
processo eleitoral. Disputaram avidamente títulos de nobreza e
monopolizaram posições na Câmara, no Senado, no Conselho de Estado e nos
Ministérios".
Tal "Conselho de Estado", implementava o Poder Moderador
instituído por Pedro I, quando dissolvera a Constituinte: formado por
membros vitalícios, nomeados pelo monarca, não mais que em número de
dez, tinham por função ser ouvidos "em todos os negócios graves e
medidas gerais de pública administração, principalmente sobre a
declaração de guerra, ajuste de paz, negociações com as nações
estrangeiras, assim como em todas as ocasiões em que o imperador se
propunha exercer qualquer das atribuições do Poder Moderador" - e ao qual se opunham fortemente os liberais.
Ocorrera em 1830 em França uma revolta liberal que depusera o rei Carlos X, e influenciara os demais países com as ideias liberais. No Brasil surgem jornais como o Aurora Fluminense, no Rio, que fazem forte oposição ao ministério conservador imposto por Pedro I.
Evaristo da Veiga escrevera, no Aurora: "Se a vontade do povo for dominada pelo terror, a nossa liberdade será reduzida, necessariamente, a uma mera sombra". Em São PauloLibero Badaró comandava o periódico Observador Constitucional,
onde protestava contra autoridades, muitas delas ainda portuguesas.
Badaró, um jornalista italiano radicado no Brasil, é assassinado numa
emboscada, causando tal crime profunda impressão na opinião pública.
Procurando minimizar os ânimos liberais, empreende o imperador uma viagem a Minas Gerais, com intuito de minimizar as agitações liberais que eram capitaneadas por Bernardo Pereira de Vasconcelos; mas lá o recebem friamente.
Quando retorna à Corte, teria já o imperador pensado na abdicação. Os
portugueses locais realizam uma manifestação em seu apoio, com
luminárias, entrando em conflito com os nacionais, naquela que passou à
história com o nome de Noite das Garrafadas.
A inabilidade de Pedro I faz com que, a um Ministério moderado, nomeie
um absolutista, em substituição. O povo exige a volta da equipe
anterior, ajuntando-se no Campo da Aclamação. O Imperador, sendo
comunicado da exigência popular, responde que "Tudo farei para o povo, nada, porém, pelo povo".
As tropas aderem ao movimento, deixando o monarca sem o apoio das
armas. Numa última tentativa de compor um novo ministério, desta feita
de acordo com os anseios populares, procura o Senador Vergueiro. Mas este não é encontrado.
Abdicação e partida
Usando do direito que a Constituição
me concede, declaro que tenho muito voluntariamente abdicado na pessoa
de meu muito amado e prezado filho, o Senhor D. Pedro de Alcântara.
Boa Vista, 7 de abril de mil oitocentos e trinta e um, décimo da Independência e do Império."
Pedro
Após escrever sua abdicação, o agora ex-imperador entrega o papel da renúncia ao mesmo major Miguel de Frias e Vasconcelos (comandante da Fortaleza de São José da Ilha das Cobras) que lhe viera comunicar o estado de ânimo das tropas e do povo, dizendo-lhe então, com os olhos marejados: "Aqui está a minha abdicação; desejo que sejam felizes! Retiro-me para a Europa e deixo um país que amei e que ainda amo." Eram duas horas da madrugada do dia 7 de abril de 1831.
Viriato Correia fez a seguinte descrição dos momentos seguintes:
"As crónicas da época pintam de
uma maneira emocionante o momento em que Pedro I, depois da abdicação,
se foi despedir do filho imperador. É noite. O monarca menino dorme
tranquilamente no seu leito de criança. D. Pedro entra no quarto e pára
junto do menino. Não tem coragem de acordá-lo. Fita-o demoradamente.
As lágrimas ensopam-lhe os olhos; os soluços vão sufocar-lhe a garganta
e ele, temendo aquela fraqueza, sai do aposento, enxugando os olhos."
Na manhã do mesmo dia o ex-Imperador embarca no navio inglêsWarspite, acompanhado da Imperatriz D. Amélia e da filha, D. Maria, deixando no Brasil, além de Pedro II, as meninas D. Januária (com 9 anos), D. Paula (8 anos) e D. Francisca (7 anos), filhos de seu primeiro casamento; D. Amélia estava, então, grávida de três meses.
A nau inglesa, contudo, não partiu para a Europa. Dias depois do embarque o ex-monarca transfere-se com a esposa para a fragataVolage, enquanto D. Maria segue na corvetafrancesaLa Seine - estas sim partindo rumo à Europa. Como tutor do futuro imperador o monarca deixou José Bonifácio, com quem se reconciliara pouco tempo antes.
Na Europa, D. Pedro empreende uma luta contra seu irmão, D. Miguel,
a fim de assegurar para a filha Maria a sucessão do trono português.
No Brasil, dada a menoridade de Pedro II, tem início o conturbado e
importante período regencial.
D. Maria Leopoldina e seus filhos (ao
colo o futuro Imperador D. Pedro II do Brasil e, do lado esquerdo, de
caracóis castanhos, a futura Rainha D. Maria II de Portugal)
D. Maria Leopoldina e seus filhos (ao
colo o futuro Imperador D. Pedro II do Brasil e, do lado esquerdo, de
caracóis castanhos, a futura Rainha D. Maria II de Portugal)
D. Pedro II (Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1825 – Paris, 5 de dezembro de 1891), alcunhado de o Magnânimo, foi o segundo e último soberano do Império do Brasil, tendo sido chefe de estado durante um período de 58 anos. Nascido no Rio de Janeiro, foi o filho mais novo do imperador Pedro I do Brasil e da imperatriz Maria Leopoldina de Áustria e, portanto, membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança. A abrupta abdicação do pai e a sua partida para Portugal,
tornaram Pedro imperador com apenas cinco anos. Obrigado a passar a
maior parte do seu tempo estudando na preparação para reinar, conheceu
poucos momentos de alegria e amigos de sua idade. As suas experiências com
intrigas palacianas e disputas políticas durante este período tiveram
grande impacto na formação de seu caráter. O imperador D. Pedro II
tornou-se um homem com forte senso de dever e devoção ao seu país e seu
povo. Por outro lado, ele ressentiu-se cada vez mais de seu papel como
monarca.
Teve a maioridade
decretada para assumir o governo e evitar a desintegração do Império,
tendo deixado ao sucessor republicano um país caracterizado como
potência emergente na arena internacional. A nação distinguiu-se de seus
vizinhos hispano-americanos devido à sua estabilidade política, à
liberdade de expressão zelosamente mantida, respeito pelos direitos
civis excetuando os escravos, ao seu crescimento económico vibrante e
especialmente pela sua forma de governo: uma funcional monarquia
parlamentar constitucional. O Brasil também foi vitorioso em três
conflitos internacionais (a Guerra do Prata, a Guerra do Uruguai e a Guerra do Paraguai)
sob o seu reinado, assim como prevaleceu em outras disputas
internacionais e tensões domésticas. Sob o reinado de D. Pedro II foram
tomadas medidas de abolição gradual da escravatura, apesar da oposição
poderosa de interesses políticos e económicos. Um erudito, o imperador
estabeleceu uma reputação como um vigoroso patrocinador do conhecimento,
da cultura e das ciências. Ele ganhou o respeito e admiração de
estudiosos como Graham Bell, Charles Darwin, Victor Hugo e Friedrich Nietzsche, e foi amigo de Richard Wagner, Louis Pasteur e Henry Wadsworth Longfellow, dentre outros.
Apesar de não haver desejo por uma mudança na forma de governo
pela maior parte dos brasileiros, o imperador foi retirado do poder em
15 de novembro de 1889, por meio de um golpe de Estado.
D. Pedro II não permitiu nenhuma medida contra a sua remoção e não apoiou
qualquer tentativa de restauração da monarquia. O imperador deposto
passou os seus últimos dois anos de vida no exílio na Europa, vivendo
só. Os homens que o exilaram logo começaram a enxergá-lo como um modelo
para a república brasileira. Algumas décadas após sua morte, a sua
reputação foi restaurada e os seus restos mortais foram trazidos de volta
ao Brasil no meio de amplas celebrações.
(...)
Os seus últimos dois anos de vida foram solitários e melancólicos, vivendo
em hotéis modestos com quase nenhum recurso, ajudado financeiramente
pelo seu amigo Conde de Alves Machado, e escrevendo em seu diário sobre sonhos em que lhe era permitido regressar ao Brasil.
Certo dia realizou um longo passeio pelo rio Sena numa carruagem aberta, apesar da temperatura extremamente baixa. Ao regressar ao hotel Bedford à noite, sentiu-se constipado. A doença evoluiu nos dias seguintes até tornar-se uma pneumonia.
O estado de saúde de Pedro II rapidamente piorou até à sua morte, às
00.35 da manhã do dia 5 de dezembro de 1891. As suas últimas palavras
foram: "Deus que me conceda esses últimos desejos - paz e prosperidade
para o Brasil."
Enquanto preparavam seu corpo, um pacote lacrado foi encontrado no
quarto com uma mensagem escrita pelo próprio imperador: "É terra de meu
país; desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha
pátria". O pacote que continha terra de todas as províncias brasileiras
foi colocada dentro do caixão.
A Princesa Isabel desejava realizar uma cerimónia discreta e íntima, mas
acabou por aceitar o pedido do governo francês de realizar um funeral de Estado. No dia seguinte, milhares de personalidades compareceram a cerimónia realizada na Igreja de la Madeleine. Além da família de Pedro II, estavam: Francisco II, ex-rei das Duas Sicílias, Isabel II, ex-rainha da Espanha, Luís Filipe, Conde de Paris, e diversos outros membros da realeza europeia. Também estavam presentes o General Joseph Brugère, representando o Presidente Sadi Carnot,
os presidentes do Senado e da Câmara, assim como senadores, deputados,
diplomatas e outros representantes do governo francês. Quase todos os
membros da Academia Francesa, do Instituto de França,
da Academia de Ciências Morais e da Academia de Inscrições e
Belas-Artes também participaram.
Representantes de outros governos, tanto do continente americano como
europeu estiveram presentes, além de países longínquos como a Turquia, China, Japão e Pérsia.
Em seguida o caixão foi levado em cortejo até à estação de comboio, de
onde partiria para Portugal. Apesar da chuva incessante e da temperatura
extremamente baixa, cerca de 300 mil pessoas assistiram ao evento. A viagem prosseguiu até a Igreja de São Vicente de Fora, em Lisboa, onde o corpo de Pedro II foi depositado no Panteão dos Braganças, em 12 de dezembro.
Os membros do governo republicano brasileiro, "temerosos da grande
repercussão que tivera a morte do imperador", negaram qualquer
manifestação oficial.
Contudo, o povo brasileiro não ficou indiferente ao falecimento de
Pedro II, pois a "repercussão no Brasil foi também imensa, apesar dos
esforços do governo para a abafar. Houve manifestações de pesar em todo o
país: comércio fechado, bandeiras a meio pau, toques de finados, tarjas
pretas nas roupas, ofícios religiosos".
Foram realizadas "missas solenes por todo o país, seguidas de
pronunciamentos fúnebres em que se enalteciam D. Pedro II e o regime
monárquico".
O Imperador Pedro II no seu leito de morte, a 6 de dezembro de 1891: o livro de baixo
do travesseiro sob a sua cabeça simboliza que, mesmo após a morte, que a sua
mente descansa sobre o conhecimento
Carlos Gomes nasceu em Campinas e ficou conhecido por Nhô Tonico, nome com que assinava, até, suas dedicatórias. Nasceu numa segunda-feira numa humilde casa da Rua da Matriz Nova, na "cidade das andorinhas". Foram seus pais Manuel José Gomes (Maneco Músico) e dona Fabiana Jaguari Gomes.
A
vida de Antônio Carlos Gomes foi, sempre, marcada pela dor. Muito
criança ainda, perdeu a mãe, tragicamente, assassinada aos vinte e oito
anos. O seu pai vivia em dificuldades, com diversos filhos para
sustentar. Com eles, formou uma banda musical, onde Carlos Gomes
iniciou seus passos artísticos. Desde cedo, revelou os seus pendores
musicais, incentivado pelo pai e depois por seu irmão, José Pedro de
Sant'Ana Gomes, fiel companheiro das horas amargas.
É na banda
do pai, que mais tarde Carlos Gomes viria a substituir, que ele vai
fazer, em conjunto com os seus irmãos, as primeiras apresentações em
bailes e em concertos. Nessa época, Antônio Carlos Gomes alternava o
tempo entre o trabalho numa alfaiataria costurando calças e casacos, e o
aperfeiçoamento dos seus estudos musicais.
Aos quinze anos de idade, compõe valsas, quadrilhas e polcas. Aos dezoito anos, em 1854, compõe a primeira Missa, Missa de São Sebastião, dedicada ao pai e repleta de misticismo. Na execução cantou alguns solos.
A emoção que lhe embargava a voz comoveu a todos os presentes,
especialmente ao irmão mais velho, que lhe previa os triunfos. Em 1857, compõe a modinhaSuspiro d'Alma com versos do poeta romântico português Almeida Garrett.
Ao
completar 23 anos, já apresentara vários concertos, com o pai. Moço
ainda, lecionava piano e canto, dedicando-se, sempre, com afinco, ao
estudo das óperas, demonstrando preferência por Giuseppe Verdi. Era conhecido também em São Paulo, onde realizava, frequentemente, concertos, e onde compôs o Hino Académico, ainda hoje cantado pela mocidade da Faculdade de Direito.
Aqui, recebeu os mais amplos estímulos e todos, sem discrepância,
apontavam-lhe o rumo da Corte, em cujo conservatório poderia
aperfeiçoar-se. Todavia, Carlos Gomes não podia viajar porque não tinha
recursos.
Primeira ópera
Em 4 de setembro de 1861, foi cantada, no Teatro da Ópera Nacional, A Noite do Castelo, o primeiro trabalho de fôlego de Antônio Carlos Gomes, baseado na obra de Antônio Feliciano de Castilho.
Constituiu uma grande revelação e um êxito sem precedentes, nos meios
musicais do País. Carlos Gomes foi levado para casa em triunfo por uma
entusiástica multidão, que o aclamava sem cessar. O Imperador, também
entusiasmado com o sucesso do jovem compositor, agraciou-o com a Imperial Ordem da Rosa.
Carlos
Gomes conquistou logo a Corte. Tornou-se uma figura querida e popular.
Os seus cabelos compridos eram motivo de comentários, e até ele ria
das piadas. Certa vez, viu um anúncio, que fora emendado: de "Tônico
para cabelos", fizeram "Tonico, apara os cabelos!". Virou-se para seu
inseparável amigo Salvador de Mendonça
e disse, sorrindo: - Será comigo? Francisco Manuel costumava dizer, a
respeito do jovem músico: "O que ele é, só a Deus e a si o deve!"
A
saudade de sua querida Campinas e de seu velho pai atormentava-lhe o
coração. Pensando também na sua amada Ambrosina, com quem namorava,
moça da família Correia do Lago, Carlos Gomes escreveu essa jóia que se
chama Quem sabe?, de uma poesia de Bittencourt Sampaio, cujos versos "Tão longe, de mim distante… " ainda são cantados pela nossa geração.
Dois anos depois desse memorável triunfo, Carlos Gomes apresenta sua segunda ópera, Joana de Flandres, com libreto de Salvador de Mendonça, levada à cena em 15 de setembro de 1863.
Como corolário do êxito, na Congregação da Academia Imperial de Belas Artes, foi lido um ofício do diretor do Conservatório de Música, comunicando ter sido escolhido o aluno Antônio Carlos Gomes para ir à Europa, às expensas da Empresa de Ópera Lírica Nacional, conforme contrato com o Governo Imperial. Estava, assim, concretizada a velha aspiração do moço campineiro,
que, mesmo comovido, ao ir agradecer ao Imperador a magnanimidade,
ainda se lembrou do seu velho pai e solicitou para este o lugar de
mestre da Capela Imperial. Dom Pedro II, enternecido ante aquele gesto de amor filial, acedeu.
Europa
O Imperador preferia que Carlos Gomes fosse para a Alemanha, onde pontificava o grande Wagner, mas a Imperatriz, Dona Teresa Cristina, napolitana, sugeriu-lhe a Itália.
A 8 de novembro de 1863,
o estudante partiu, a bordo do navio inglês Paraná, entre calorosos
aplausos dos amigos e admiradores, que se comprimiam no cais. Levava
consigo recomendações do Imperador Dom Pedro II para o Rei Fernando, de Portugal, pedindo que apresentasse Carlos Gomes ao diretor do Conservatório de Milão, Lauro Rossi. O jovem compositor passou por Paris, onde assistiu a alguns espetáculos líricos, mas seguiu logo para Milão.
Lauro Rossi, encantado com o talento do jovem aluno, passou a protegê-lo e a recomendá-lo aos amigos. Em 1866,
Carlos Gomes recebia o diploma de mestre e compositor e os maiores
elogios de todos os críticos e professores. A partir dessa data, passou a
compor. A sua primeira peça musicada foi Se sa minga, em dialeto milanês, com libreto de Antonio Scalvini, estreada, em 1 de janeiro de 1867, no Teatro Fossetti. Um ano depois, surgia Nella Luna, com libreto do mesmo autor, levada à cena no Teatro Carcano.
Carlos
Gomes já gozava de merecido renome na cidade de Milão, grande centro
artístico, mas continuava saudoso da pátria e procurava um argumento
que o projetasse definitivamente. Certa tarde, em 1867, passeando pela
Praça do Duomo, ouviu um garoto apregoando: "Il Guarany! Il Guarany!
Storia interessante dei selvaggi del Brasile!" Tratava-se de uma
péssima tradução do romance de José de Alencar, mas aquilo interessou
de súbito o maestro, que comprou o folheto e procurou logo Scalvini,
que também se impressionou pela originalidade da história. E, assim,
surgiu O Guarani, que apesar de não ser a sua maior nem a melhor obra, foi aquela que o imortalizou. A noite de estreia da nova ópera foi 19 de março de 1870.
Não
há quem não conheça os maravilhosos acordes de sua estupenda abertura.
A ópera ganhou logo enorme projeção, pois se tratava de música
agradável, com sabor bem brasileiro, onde os índios tinham papel de
primeiro plano. Foi representada em toda a Europa e na América do Norte.
O grande Verdi, já glorioso e consagrado, teria dito de Carlos Gomes, nessa noite memorável: "Questo giovane comincia dove finisco io!" ("Este jovem começa de onde eu termino!").
E, na noite de 2 de dezembro
de 1870, aniversário do Imperador D. Pedro II, em grande gala, foi
estreada a ópera no Teatro Lírico Provisório, no Rio de Janeiro. Os
principais trechos foram cantados por amadores da Sociedade Filarmónica.
O maestro viveu horas de intensa consagração e emoção. Depois, O Guarani
foi levado à cena nos dias 3 e 7 de dezembro, sendo que, nesta última
noite, em benefício do autor. Nesta data, o maestro ficou conhecendo André Rebouças. Após o espetáculo, houve uma alegre marche au flambeaux, com música, até ao Largo da Carioca,
onde estava hospedado Carlos Gomes, em casa de seu amigo Júlio de
Freitas. Por intermédio de André Rebouças, o compositor foi apresentado
ao ministro do Império, João Alfredo Correia de Oliveira, em sua casa, nas Laranjeiras. Em 1871, a 1 de janeiro, Carlos Gomes vai a Campinas, visitar o seu irmão e protetor José Pedro Santana Gomes. Em 18 de fevereiro, com André Rebouças, despede-se do Imperador, em São Cristóvão. E, no dia 23, segue para a Europa novamente.
Outros triunfos
Na
Itália, Carlos Gomes casou-se com Adelina Péri, que devotou toda a sua
vida ao maestro. Desse casamento nasceram cinco filhos, muito amados
pelo compositor. Todavia, um a um foram morrendo em tenra idade, tendo
restado somente Ítala Gomes Vaz de Carvalho, que escreveu um livro, em
que honrou a memória do seu glorioso pai. Na península itálica, Carlos
Gomes escreveu, a seguir, Fosca, considerada por ele sua melhor obra, Salvador Rosa e Maria Tudor.
Em 1866, recebeu Carlos Gomes, de novo no Brasil, uma justa consagração na Bahia, onde, a pedido do grande pianista português, Artur Napoleão, compôs o Hino a Camões, para o Quarto Centenário Camoniano, executado simultaneamente ali e na Corte, com grande sucesso.
Carlos
Gomes, porém, não mais perseguia somente a glória. Abalado por
seguidos e profundos desgostos, doente, desiludido, procurava uma
situação que lhe permitisse viver em sua pátria e ser-lhe útil. Seu
estado, contudo, era mais grave do que supunha.
De volta à Itália, compôs a grande ópera Lo Schiavo, que entretanto, por vários motivos, não pôde ser representada ali. Foi levada à cena, pela primeira vez, em 27 de setembro de 1887, no Rio de Janeiro, em homenagem à Princesa Isabel,
a Redentora, com esplêndido sucesso. Interessante dizer que a abertura
desta ópera, Alvorada, foi composta na Ilha de Paquetá, no Município
do Rio de Janeiro, onde se encontra um busto de Carlos Gomes, pouco
conhecido.
Final
Em 3 de fevereiro de 1891, outra vez na Itália, Carlos Gomes estreia, no Scala de Milão, a ópera Condor, com grande êxito, pois, nessa peça, apresentara uma nova forma, muito mais próxima do recitativo moderno.
O
tumor maligno na língua e garganta que o levaria ao túmulo, nessa
época, fazia-o sofrer dolorosamente. Todavia, as desilusões, as
decepções, a ingratidão de seus compatriotas e as dores físicas ainda
não lhe haviam quebrado a resistência. Ainda estava à espera de sua
nomeação para o cargo de diretor do Conservatório de Música, no Brasil.
Nesse tempo foi proclamada a República, e o seu grande amigo e protetor, Dom Pedro II, é exilado, com grande mágoa de Carlos Gomes. Compôs, ainda, Colombo em 1892, poema sinfónico que, incompreendido pelo grande público, não obteve êxito.
Finalmente, após tanto sofrimento, chegou-lhe um convite. Lauro Sodré, então governador do Pará,
pediu-lhe para organizar e dirigir o Conservatório daquele Estado.
Carlos Gomes volta para a Itália, a fim de pôr em ordem suas coisas,
despedir-se dos filhos e reunir elementos para uma obra grandiosa que,
apesar de seu estado, sempre mais grave, ainda conseguiu realizar.
Amigos aconselharam-no a fazer uma estação em Salso Maggiore, mas ele
desejava partir, quanto antes, para sua pátria. Chegou a Lisboa, por estrada de ferro, e recebeu comovedora homenagem. A 8 de abril de 1895,
nessa mesma cidade, sofre a primeira intervenção cirúrgica na língua,
sem resultados animadores. Embarca, no vapor Óbidos, para o Brasil. De
passagem por Funchal, tem o prazer de abraçar o seu velho amigo André Rebouças, ali exilado.
Em 14 de maio,
foi recebido pelo povo paraense com enternecedoras manifestações de
apreço. No entanto os últimos dias de Carlos Gomes em Belém foram de
grande sofrimento. Seu mal era muito grave, e os esforços médicos não
conseguiam diminuir as dores.Uma única vez ele saiu de casa, quando foi
ao Conservatório de Música, que não chegou a dirigir. No dia 11 de julho,
data de seu aniversário, as homenagens tributadas ao compositor davam a
medida da afetividade que inspirava. Em vários pontos da cidade
ouviam-se os acordes da protofonia de O Guarani,
e os jornais alimentavam a dor pública com o relatório constante do
agravamento do estado geral do compositor. Estava montado o cenário onde
aconteceria a representação final do pathos do artista genial, do
brasileiro ilustre, do consagrado testa di leone (cabeça de leão,
devido à farta cabeleira), como algumas publicações italianas o
chamavam. Cercado por autoridades e amigos, com o governador Lauro Sodré
à cabeceira, Carlos Gomes morreu às 22.20 horas de 16 de setembro de
1896. O seu corpo foi embalsamado, fotografado e, em seguida, exposto
para a visitação pública, cercado de flores e objetos como partituras e
instrumentos, bem de acordo com a idealizada "morte bela" do
Romantismo. Descrevendo os cenários da morte, os joranaizadas ratavam
com solenidade o acontecimento, destacando o repouso, o sono intérmino,
o triunfo silente do grande artista. Diziam os jornais, o maestro não
morrera; antes, cruzara os umbrais da Fama!
Dois
dias depois do falecimento, o corpo do maestro foi transferido para o
Conservatório de Música. O cortejo varou a noite de Belém. Desatrelado
das parelhas de animais, o carro funerário era conduzido pelo povo,
numa insólita romaria colonial anunciada pelos acordes de O Guarani e
iluminado pelas velas e archotes levados no préstito ou dispostos nas
varandas das casas. De 18 a 20 de setembro de 1896, o corpo ficou
exposto em câmara ardente nos salões do Conservatório de Música, que se
transformou em santuário cívico e espaço para as representações do
afeto coletivo pelo compositor, como registram as imagens de época. Em
seguida, foi levado para o Cemitério da Soledade, um misto de panteão e cemitério-jardim, onde estavam sepultados heróis da guerra do Paraguai,
como o general Henrique Gurjão, acompanhado por aproximadamente 70 mil
pessoas, que levavam andores, quadros, alegorias e guirlandas. Numa
Belém cujos círculos letrados eram fortemente influenciados pelo
positivismo, mas a gente do povo cristã, o cortejo fúnebre tornou-se uma
verdadeira procissão cívica, em grande parte por iniciativa também do
governo do Pará, que instrumentalizou a morte de Carlos Gomes.
O maestro porém, não foi sepultado em Belém. A pedido do presidente do Estado de São Paulo, Campos Sales, o compositor foi levado para lá, com honras e transporte militares, a bordo do vapor Itaipu. Antes, na setecentista Catedral da Sé
no Pará, foi celebrada uma missa de réquiem entoando-se uma Elegia a
Carlos Gomes. O seu ataúde dominava o centro de um monumento funerário
de quatorze metros de altura, em um catafalco encomendado por Lauro
Sodré. O culto aos grandes homens dava forma à religião cívica do
positivismo e exaltava os nomes reconhecidos pela Humanidade. Ao final
das cerimónias litúrgicas e ao deixar o porto de Belém rumo a Santos, o
Itaipu não transportava apenas os restos de Carlos Gomes. Também
conduzia o corpo de um mito que alimentara a imaginação de um Brasil
singular até mesmo em suas representações.
Diante
de seu estado, pouco antes de morrer o governo de São Paulo autorizou
uma pensão mensal de dois contos de réis, enquanto ele vivesse e, por
sua morte, de quinhentos mil réis, aos seus filhos, até completarem a
idade de 25 anos. Nessa ocasião, existiam somente dois filhos do
glorioso maestro.
Dias antes de sua morte, Carlos Gomes diria, fatalista: "Qual, o mano Juca não chega… eu sou mesmo o mais caipora dos caipiras…"
Os gloriosos despojos do maestro, se encontram hoje no magnífico monumento-túmulo, em Campinas, sua terra natal, na Praça Antônio Pompeu. A duas ruas dali está o Museu Carlos Gomes, que reúne objetos e partituras do compositor.
Em 1936, em todo o País, foi comemorado o centenário de seu nascimento, com grandes solenidades.