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sexta-feira, abril 28, 2023

O poeta brasileiro Alberto de Oliveira nasceu há 166 anos

Caricatura do poeta Alberto de Oliveira, feita pelo pintor Belmiro de Almeida (Museu de Arte de São Paulo, São Paulo)

      
Antônio Mariano de Oliveira (Saquarema, 28 de abril de 1857 - Niterói, 19 de janeiro de 1937), mais conhecido pelo pseudónimo de Alberto de Oliveira, foi um poeta, professor e farmacêutico brasileiro. Foi o líder do parnasianismo brasileiro, na famosa tríade composta por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac.
   


Flor de caverna

Fica às vezes em nós um verso a que a ventura
Não é dada jamais de ver a luz do dia;
Fragmento de expressão de ideia fugidia,
Do pélago interior boia na vaga escura.

Sós o ouvimos conosco; à meia voz murmura,
Vindo-nos da consciência a flux, lá da sombria
Profundeza da mente, onde erra e se enfastia,
Cantando, a distrair os ócios da clausura.

Da alma, qual por janela aberta par e par,
Outros livre se vão, voejando cento e cento
Ao sol, à vida, à glória e aplausos. Este não.

Este aí jaz entaipado, este aí jaz a esperar
Morra, volvendo ao nada, – embrião de pensamento
Abafado em si mesmo e em sua escuridão.

 

Alberto de Oliveira

sábado, março 11, 2023

Gonçalves Crespo nasceu há 177 anos

 

 

António Cândido Gonçalves Crespo (Rio de Janeiro, 11 de março de 1846 - Lisboa, 11 de junho de 1883) foi um jurista e poeta português, de influência parnasiana, membro das tertúlias intelectuais portuguesas do último quartel do século XIX. Nascido nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, filho de mãe escrava, fixou-se em Lisboa aos 14 anos de idade e estudou Direito na Universidade de Coimbra. Dedicou-se essencialmente à poesia e ao jornalismo.

 

in Wikipédia


 

ALGUÉM

Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais de Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra existe, é porque existo.

Esse alguém, que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!

Quando, alta noite, me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.

Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! esse alguém
É de meus olhos a esplendente aurora;
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!

 

Gonçalves Crespo

sexta-feira, dezembro 16, 2022

Olavo Bilac nasceu há 157 anos

 
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1865 - Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1918) foi um jornalista e poeta brasileiro, membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.

 

  

      
 
Língua Portuguesa
 
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
 
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
  
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
  
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O génio sem ventura e o amor sem brilho!

  

 
 
Olavo Bilac

domingo, outubro 23, 2022

Théophile Gautier morreu há cento e cinquenta anos

       
Pierre Jules Théophile Gautier (Tarbes, 31 de agosto de 1811 - Paris, 23 de outubro de 1872) foi um escritor, poeta, jornalista e crítico literário francês.
Enquanto Gautier fosse um ardente defensor do romantismo, a sua obra é difícil de classificar e continua a ser um ponto de referência para muitas tradições literárias posteriores, como parnasianismo, simbolismo, modernismo e decadentismo. Este autor foi amplamente valorizado por escritores tão diversos como Balzac, Baudelaire, os irmãos Goncourt, Flaubert, Proust e Oscar Wilde.
   

 

Absence

Reviens, reviens, ma bien-aimée !
Comme une fleur loin du soleil,
La fleur de ma vie est fermée
Loin de ton sourire vermeil.

Entre nos cœurs tant de distance !
Tant d'espace entre nos baisers !
Ô sort amer ! Ô dure absence !
Ô grands désirs inapaisés !

D'ici là-bas, que de campagnes,
Que de villes et de hameaux,
Que de vallons et de montagnes,
À lasser le pied des chevaux !

Au pays qui me prend ma belle,
Hélas ! Si je pouvais aller ;
Et si mon corps avait une aile
Comme mon âme pour voler !

Par-dessus les vertes collines,
Les montagnes au front d'azur,
Les champs rayés et les ravines,
J'irais d'un vol rapide et sûr.

Le corps ne suit pas la pensée ;
Pour moi, mon âme, va tout droit,
Comme une colombe blessée,
S'abattre au rebord de son toit.

Descends dans sa gorge divine,
Blonde et fauve comme de l'or,
Douce comme un duvet d'hermine,
Sa gorge, mon royal trésor ;

Et dis, mon âme, à cette belle :
« Tu sais bien qu'il compte les jours,
Ô ma colombe ! À tire d'aile
Retourne au nid de nos amours. »

 

Théophile Gautier

segunda-feira, junho 20, 2022

O poeta António Feijó morreu há 105 anos


António Joaquim de Castro Feijó
(Ponte de Lima, 1 de junho de 1859 - Estocolmo, 20 de junho de 1917) foi um poeta e diplomata português. Como poeta, António Feijó é habitualmente associado ao parnasianismo e o final da sua obra tende a um certo tom fúnebre.  
  
O Amor e o Tempo

Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Porque voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!
 
 
   

in Sol de Inverno - António Feijó

segunda-feira, junho 06, 2022

António Gomes Leal nasceu há 174 anos

Gomes Leal, caricaturado por Rafael Bordalo Pinheiro
      
António Duarte Gomes Leal (Lisboa, 6 de junho de 1848 - Lisboa, 29 de janeiro de 1921) foi um poeta e crítico literário português.
Nasceu na praça do Rossio, freguesia da Pena, em Lisboa, filho natural de João António Gomes Leal (m. 1876), funcionário da Alfândega, e de Henriqueta Fernandina Monteiro Alves Cabral Leal.
Frequentou o Curso Superior de Letras, mas não o concluiu, empregando-se como escrevente de um notário de Lisboa. Durante a sua juventude assumiu pose de poeta boémio e janota, mas, com a morte da sua mãe, em 1910, caiu na pobreza e reconverteu-se ao catolicismo. Vivia da caridade alheia, chegando a passar fome e a dormir ao relento, em bancos de jardim, como um vagabundo, tendo uma vez sido brutalmente agredido pela canalha da rua. No final da vida, Teixeira de Pascoaes e outros escritores lançaram um apelo público para que o Estado lhe atribuísse uma pensão, o que foi conseguido, apesar de diminuta.
Foi um dos fundadores do jornal "O Espectro de Juvenal" (1872) e do jornal "O Século" (1881), tendo colaborado também na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro e Diário de notícias. Tem ainda colaboração na revista ilustrada Nova Silva (1907) e outras publicações periódicas, nomeadamente: O berro (1896), Branco e Negro (1896-1898), Brasil-Portugal (1899-1914), A corja (1898), A galeria republicana (1882-1883), A imprensa (1885-1891), Jornal de domingo (1881-1888) A leitura (1894-1896), A mulher (1879), As quadras do povo (1909), Ribaltas e gambiarras (1881), O Thalassa (1913-1915) e o Xuão (1908-1910). A sua obra insere-se nas correntes ultra-romântica, parnasiana, simbolista e decadentista.
       
    
        
Carta ao Mar
 
Deixa escrever-te, verde mar antigo,
Largo Oceano, velho deus limoso,
Coração sempre lírico, choroso,
E terno visionário, meu amigo!

Das bandas do poente lamentoso
Quando o vermelho sol vai ter contigo,
- Nada é mais grande, nobre e doloroso,
Do que tu, - vasto e húmido jazigo!

Nada é mais triste, trágico e profundo!
Ninguém te vence ou te venceu no mundo!...
Mas tambem, quem te pode consolar?!

Tu és Força, Arte, Amor, por excelência! -
E, contudo, ouve-o aqui, em confidência;
- A Música é mais triste inda que o Mar!


 

in Claridades do Sul (1875) - António Gomes Leal

quinta-feira, maio 19, 2022

Júlio Dantas nasceu há 146 anos


Júlio Dantas  (Lagos, 19 de maio de 1876 - Lisboa, 25 de maio de 1962) foi um escritor, médico, político, e diplomata, que se distinguiu como um dos mais conhecidos intelectuais portugueses das primeiras décadas do século XX. Na sua actividade intelectual foi um polígrafo, cultivando os mais variados géneros literários, da poesia ao romance e ao jornalismo, mas foi como dramaturgo que ficou mais conhecido, em particular pela sua peça A Ceia dos Cardeais (1902), uma das mais populares produções teatrais portuguesas de sempre. Na política foi deputado, Ministro da Instrução Pública e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1921-1922 e 1923), terminando a sua carreira pública como embaixador de Portugal no Brasil (1941-1949). Considerado retrógrado por alguns intelectuais coevos, como foi o caso de Almada Negreiros, que escreveu o Manifesto Anti-Dantas, muito polémico, conseguiu granjear durante a vida grande prestígio social e literário, prestígio que decaiu após a sua morte. Foi eleito sócio da Academia de Ciências de Lisboa (1908), instituição a que presidiu a partir de 1922. 

   

Biografia

Filho de Casimiro Augusto Vanez Dantas, militar, escritor e jornalista, e de sua mulher Maria Augusta Pereira de Eça, estudou no Colégio Militar, em Lisboa, sendo admitido com o número 114 em 1887, inscrevendo-se seguidamente no curso de Medicina da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, que concluiu em 1900 com uma tese intitulada Pintores e poetas de Rilhafoles. Pouco depois ingressou no Exército Português, sendo oficial médico a partir de 1902.

A carreira de medicina militar, onde optou por uma prática no campo de psiquiatria, não o absorveu: dedicou-se simultaneamente à literatura e a uma intensa actividade intelectual e social, que o tornou conhecido nos meios políticos e nos círculos cultos de Lisboa. Em 1905 foi eleito deputado às Cortes.

Na literatura revelou-se um verdadeiro polígrafo, dedicando-se aos mais variados géneros literários, desde a poesia, o teatro, o conto, o romance e a crónica até ao ensaio. Alcançou grandes êxitos com as suas peças teatrais, com obras como A Severa, A Ceia dos Cardeais (obra que foi traduzida para mais de 20 línguas), Rosas de Todo o Ano e O Reposteiro Verde.

Publicou o seu primeiro artigo em 1893 no jornal Novidades, e o seu primeiro livro de versos em 1897. A maior parte das suas obras de teatro e novelas são sobre o passado histórico, mas as suas melhores obras, Paço de Veiros (1903) ou O Reposteiro Verde (1921) estão escritas num estilo naturalista.

Nas suas obras defende o culto do heroísmo, da elegância e do amor, situando a trama das suas obras quase invariavelmente no século XVIII, época que escolhia quase sempre como cenário das suas produções, salientando a decadência da vida aristocrática da época. Nas suas obras é também comum encontrar a exaltação do efémero, da morte e do sentimentalismo mais pungente. A sua obra poética é claramente inspirada na lírica palaciana do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende.

Do ponto de vista estilístico, a sua obra situa-se entre o romantismo e o parnasianismo, predominando nas obras de teatro e nas novelas os temas históricos. Contudo, as melhores obras de Júlio Dantas, nomeadamente Paço de Veiros (1903) e o O Reposteiro Verde (1921) têm um claro pendor para o naturalismo. Foi durante décadas um dos autores portugueses mais apreciados no estrangeiro.

A primeira produção de uma das suas peças ocorreu em 1899, no Teatro Dona Amélia (actual Teatro São Luiz) de Lisboa, com a apresentação da peça em quatro actos O que morreu de amor, pela Companhia Rosas & Brasão. Ainda no campo teatral dedicou-se à tradução, tendo publicado versões em língua portuguesa de Cyrano de Bregerac, de Edmond Rostand, e do Rei Lear, de William Shakespeare. Exímio tradutor, as suas traduções contam-se entre as melhores feitas para a língua portuguesa.

A Ceia dos Cardeais (1902) foi enormemente popular no seu tempo. Com base na sua obra teatral A Severa, José Leitão de Barros realizou o primeiro filme sonoro português em 1931. A sua peça Os Crucificados aborda, pela primeira vez no teatro português, a temática da homossexualidade.

Foi sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa a partir de 1908 e sócio efectivo desde 1913. Por várias vezes foi escolhido para presidente da instituição. Em 1949 recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Brasil, título que em 1954 também lhe foi atribuído pela Universidade de Coimbra.

Aceitou também uma carreira no ensino artístico e foi director do Conservatório Nacional de Lisboa, sendo ali professor de História da Literatura e director da Secção de Arte Dramática.

A 14 de fevereiro de 1920 foi feito Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.

Foi Ministro da Instrução Pública no outono de 1920, no governo presidido por António Granjo, e Ministro dos Negócios Estrangeiros no governo de Cunha Leal, no inverno de 1921-1922, e novamente em 1923 no governo de Ginestal Machado.

A 14 de fevereiro de 1930 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo e a 21 de março do mesmo ano foi elevado a Grã-Cruz da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.

Em 1938-1940 presidiu à Comissão Executiva dos Centenários, dirigindo a Exposição do Mundo Português que teve lugar em Lisboa e colaborou na Revista dos Centenários, órgão de propaganda da mesma.

Em 1941 foi um dos Embaixadores Especiais enviados ao Brasil para dignificar a cultura de Portugal e em 1949 foi nomeado embaixador de Portugal no Rio de Janeiro. Nessas funções teve papel destacada na elaboração de um acordo ortográfico com o Brasil.

Foi considerado retrógrado por alguns, como foi o caso de Almada Negreiros, que lhe dedicou o Manifesto Anti-Dantas. O facto de ter sido invectivado por aquele manifesto e se ter transformado num dos alvos dos jovens aderentes do modernismo comprova a sua notoriedade de homem público. Apesar disso, passado o teste do tempo e amainadas as paixões, Vitorino Nemésio e David Mourão Ferreira defenderam a sua qualidade literária e a sua invulgar mestria dramatúrgica, considerando-o merecedor de destaque nas letras portuguesas.

No jornalismo e na crítica literária, foi colaborador dos jornais mais importantes de Portugal, nomeadamente do Diário Ilustrado, Novidades, Correio da Manhã e Renascença e escreveu no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, e no La Nación, de Buenos Aires.

Na area da imprensa, também se encontra colaboração da sua autoria nas revistas Branco e Negro (1896-1898), Serões (1901-1911), Revista do Conservatório Real de Lisboa (1902), Illustração portugueza (1903-1980), Azulejos (1907-1909), O Palco (1912), Atlântida (1915-1920), Terra portuguesa (1916-1927), Revista de turismo iniciada em 1916, O domingo ilustrado (1925-1927), Ilustração (1926-), Feira da Ladra (1929-1943), Anais das bibliotecas, arquivo e museus municipais (1931-1936), Boletim cultural e estatístico (1937), Revista municipal (1939-1973) e Boletim do Sindicato Nacional dos Jornalistas (1941-1945).

Na política foi considerado oportunista, mostrando realmente uma grande versatilidade, servido como deputado na Monarquia, como ministro na Primeira República e finalmente como deputado, presidente da Comissão dos Centenários e embaixador em pleno Estado Novo. Sob a sua plasticidade política, Fernando Dacosta afirmou: "para se aproximar do Paço e da Rainha escreve a "Ceia dos Cardeais". Não recebendo os cargos e as honrarias a que julgava ter direito, aproveita-se da crise do regime monárquico e faz "Um Serão nas Laranjeiras", denúncia da decomposição da corte. Mas não se afasta dela." Quando foi proclamada a República, Júlio Dantas aderiu ao regime e publicou, no diário A Capital, o folhetim "Cruz de Sangue", depois em livro com o título Pátria Portuguesa (1914), fazendo a exaltação do povo e a condenação da nobreza. Em 1911, desencadeado o conflito entre a Igreja Católica e o Estado Português por causa da Lei da Separação de Afonso Costa, publica a peça A Santa Inquisição (1910), um libelo contra a Inquisição. Com o advento do salazarismo, publicou Frei António das Chagas, um "elogio de quem se sacrifica, se imola pela Pátria". Terminada a Segunda Guerra Mundial, prevendo a queda do Estado Novo, reformulou introduziu, em 1946, na Antígona, peça de estreia de Mariana Rey Monteiro, uma crítica velada ao velho ditador por meio da personagem de Creonte.

Foi um dos fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, a SECTP, de que foi o primeiro presidente. Aquela sociedade deu origem à Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).

Contrariando o estereótipo de conservadorismo ligado à sua imagem pública, quebrou com a tradição e resistiu à pressão social da época: casou civilmente, a 30 de maio de 1942, com Maria Isabel Penedo Cardoso e Silva, da qual não teve descendência, e recusou um funeral católico, mantendo-se fiel às suas convicções anticlericais dos inícios do século XX.

Júlio Dantas é lembrado na sua cidade natal, Lagos, por um busto, localizado em Santo Amaro, na área envolvente ao Mercado Novo, dando também o nome à biblioteca pública da cidade. É também patrono da Escola Secundária Júlio Dantas, a principal escola pública de ensino secundário daquela cidade.

     

Obra 

Um dos mais prolíficos polígrafos da literatura lusófona, Júlio Dantas cultivou os mais variados géneros literários, como o romance, a poesia, o teatro e conto, tendo-se também dedicado ao ensaio. Contudo, conseguiu os seus maiores êxitos como dramaturgo, com peças como A Severa, A Ceia dos Cardeais, Rosas de Todo o Ano e O Reposteiro Verde.

 

in Wikipédia

 

AS DUAS MÁSCARAS

 

Num doirado e antiquíssimo sossego

Vi num museu solene e venerando

Duas máscaras velhas,figurando

As duas formas do teatro grego.

 

E ao olhá-las (contraste singular

Que não sei compreender nem discutir)

A face da Tragédia fez-me rir

                   E a da Farsa chorar.

 

De tão contrárias impressões colhidas

Arranquei esta lúcida verdade:

Nas dores mais sinceras, mais sentidas,

Só vê trejeitos a humanidade...

 

Fui aprender a esse mundo antigo

Que o sofrimento tem o seu pudor:

Por isso te aconselho, meu amigo,

Quando sofreres, guarda a tua dor

                   E chora a sós contigo.

quinta-feira, abril 28, 2022

O poeta Alberto de Oliveira nasceu há 165 anos


 

Antônio Mariano de Oliveira (Saquarema, 28 de abril de 1857 - Niterói, 19 de janeiro de 1937), mais conhecido pelo pseudónimo de Alberto de Oliveira, foi um poeta, professor e farmacêutico brasileiro. Foi o líder do parnasianismo brasileiro, na famosa tríade composta por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac.

 

Caricatura do poeta Alberto de Oliveira, feita pelo pintor Belmiro de Almeida (Museu de Arte de São Paulo, São Paulo)

    

 

Beija-Flores

 

Os beija-flores, em festa,
Com o sol, com a luz, com os rumores,
Saem da verde floresta,
Como um punhado de flores.

E abrindo as asas formosas,
As asas aurifulgentes,
Feitas de opalas ardentes
Com coloridos de rosas,

Os beija-flores, em bando,
Boêmios enfeitiçados,
Vão como beijos voando
Por sobre os virentes prados;

Sobem às altas colinas,
Descem aos vales formosos,
E espraiam-se após ruidosos
Pela extensão das campinas.

Depois, sussurrando a flux
Dos cactos ensanguentados,
Bailam nos prismas da luz,
De solto pólen dourados.

Ah! como a orquídea estremece
Ao ver que um deles, mais vivo,
Até seu gérmen lascivo
Mergulha, interna-se, desce...

E não haver uma rosa
De tantas, uma açucena,
Uma violeta piedosa,
Que quando a morte sem pena

Um destes seres fulmina,
Abra-se em férvido enleio,
Como a alma de uma menina,
Para guardá-lo no seio!

sexta-feira, março 11, 2022

O poeta Gonçalves Crespo nasceu há 176 anos

 

 

António Cândido Gonçalves Crespo (Rio de Janeiro, 11 de março de 1846 - Lisboa, 11 de junho de 1883) foi um jurista e poeta português, de influência parnasiana, membro das tertúlias intelectuais portuguesas do último quartel do século XIX. Nascido nos arredores da cidade do Rio de Janeiro, filho de mãe escrava, fixou-se em Lisboa aos 14 anos de idade e estudou Direito na Universidade de Coimbra. Dedicou-se essencialmente à poesia e ao jornalismo.

 

in Wikipédia


 

ALGUÉM

Para alguém sou o lírio entre os abrolhos,
E tenho as formas ideais de Cristo;
Para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
E, se na Terra existe, é porque existo.

Esse alguém, que prefere ao namorado
Cantar das aves minha rude voz,
Não és tu, anjo meu idolatrado!
Nem, meus amigos, é nenhum de vós!

Quando, alta noite, me reclino e deito,
Melancólico, triste e fatigado,
Esse alguém abre as asas no meu leito,
E o meu sono desliza perfumado.

Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
Por mim além dos mares! esse alguém
É de meus olhos a esplendente aurora;
És tu, doce velhinha, ó minha mãe!

quinta-feira, dezembro 16, 2021

Olavo Bilac nasceu há 156 anos

 
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1865 - Rio de Janeiro, 28 de dezembro de 1918) foi um jornalista e poeta brasileiro, membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.

 

  

      
 
Língua Portuguesa
 
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
 
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
  
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
  
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O génio sem ventura e o amor sem brilho!

  

 
 
Olavo Bilac

 

sábado, outubro 23, 2021

Théophile Gautier morreu há 149 anos

Pierre Jules Théophile Gautier (Tarbes, 31 de agosto de 1811 - Paris, 23 de outubro de 1872) foi um escritor, poeta, jornalista e crítico literário francês.
Enquanto Gautier fosse um ardente defensor do romantismo, a sua obra é difícil de classificar e continua a ser um ponto de referência para muitas tradições literárias posteriores, como parnasianismo, simbolismo, modernismo e decadentismo. Este autor foi amplamente valorizado por escritores tão diversos como Balzac, Baudelaire, os irmãos Goncourt, Flaubert, Proust e Oscar Wilde.

 

Absence

Reviens, reviens, ma bien-aimée !
Comme une fleur loin du soleil,
La fleur de ma vie est fermée
Loin de ton sourire vermeil.

Entre nos cœurs tant de distance !
Tant d'espace entre nos baisers !
Ô sort amer ! Ô dure absence !
Ô grands désirs inapaisés !

D'ici là-bas, que de campagnes,
Que de villes et de hameaux,
Que de vallons et de montagnes,
À lasser le pied des chevaux !

Au pays qui me prend ma belle,
Hélas ! Si je pouvais aller ;
Et si mon corps avait une aile
Comme mon âme pour voler !

Par-dessus les vertes collines,
Les montagnes au front d'azur,
Les champs rayés et les ravines,
J'irais d'un vol rapide et sûr.

Le corps ne suit pas la pensée ;
Pour moi, mon âme, va tout droit,
Comme une colombe blessée,
S'abattre au rebord de son toit.

Descends dans sa gorge divine,
Blonde et fauve comme de l'or,
Douce comme un duvet d'hermine,
Sa gorge, mon royal trésor ;

Et dis, mon âme, à cette belle :
« Tu sais bien qu'il compte les jours,
Ô ma colombe ! À tire d'aile
Retourne au nid de nos amours. »

 

Théophile Gautier

domingo, junho 20, 2021

António Feijó morreu há 104 anos


António Joaquim de Castro Feijó
(Ponte de Lima, 1 de junho de 1859 - Estocolmo, 20 de junho de 1917) foi um poeta e diplomata português. Como poeta, António Feijó é habitualmente ligado ao Parnasianismo e o final da sua obra tende a um certo tom fúnebre.  
  
O Amor e o Tempo

Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Porque voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!
 
   

in Sol de Inverno - António Feijó

domingo, junho 06, 2021

António Gomes Leal nasceu há 173 anos

Gomes Leal, caricaturado por Rafael Bordalo Pinheiro
    
António Duarte Gomes Leal (Lisboa, 6 de junho de 1848 - Lisboa, 29 de janeiro de 1921) foi um poeta e crítico literário português.
Nasceu na praça do Rossio, freguesia da Pena, em Lisboa, filho natural de João António Gomes Leal (m. 1876), funcionário da Alfândega, e de Henriqueta Fernandina Monteiro Alves Cabral Leal.
Frequentou o Curso Superior de Letras, mas não o concluiu, empregando-se como escrevente de um notário de Lisboa. Durante a sua juventude assumiu pose de poeta boémio e janota, mas, com a morte da sua mãe, em 1910, caiu na pobreza e reconverteu-se ao catolicismo. Vivia da caridade alheia, chegando a passar fome e a dormir ao relento, em bancos de jardim, como um vagabundo, tendo uma vez sido brutalmente agredido pela canalha da rua. No final da vida, Teixeira de Pascoaes e outros escritores lançaram um apelo público para que o Estado lhe atribuísse uma pensão, o que foi conseguido, apesar de diminuta.
Foi um dos fundadores do jornal "O Espectro de Juvenal" (1872) e do jornal "O Século" (1881), tendo colaborado também na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro e Diário de notícias. Tem ainda colaboração na revista ilustrada Nova Silva (1907) e outras publicações periódicas, nomeadamente: O berro (1896), Branco e Negro (1896-1898), Brasil-Portugal (1899-1914), A corja (1898), A galeria republicana (1882-1883), A imprensa (1885-1891), Jornal de domingo (1881-1888) A leitura (1894-1896), A mulher (1879), As quadras do povo (1909), Ribaltas e gambiarras (1881), O Thalassa (1913-1915) e o Xuão (1908-1910). A sua obra insere-se nas correntes ultra-romântica, parnasiana, simbolista e decadentista.
    
    
      
Carta ao Mar
 
Deixa escrever-te, verde mar antigo,
Largo Oceano, velho deus limoso,
Coração sempre lírico, choroso,
E terno visionário, meu amigo!

Das bandas do poente lamentoso
Quando o vermelho sol vai ter contigo,
- Nada é mais grande, nobre e doloroso,
Do que tu, - vasto e húmido jazigo!

Nada é mais triste, trágico e profundo!
Ninguém te vence ou te venceu no mundo!...
Mas tambem, quem te pode consolar?!

Tu és Força, Arte, Amor, por excelência! -
E, contudo, ouve-o aqui, em confidência;
- A Música é mais triste inda que o Mar!

 

in Claridades do Sul (1875) - António Gomes Leal

quarta-feira, maio 19, 2021

Júlio Dantas nasceu há 145 anos - pim...


Júlio Dantas  (Lagos, 19 de maio de 1876 - Lisboa, 25 de maio de 1962) foi um escritor, médico, político, e diplomata, que se distinguiu como um dos mais conhecidos intelectuais portugueses das primeiras décadas do século XX. Na sua actividade intelectual foi um polígrafo, cultivando os mais variados géneros literários, da poesia ao romance e ao jornalismo, mas foi como dramaturgo que ficou mais conhecido, em particular pela sua peça A Ceia dos Cardeais (1902), uma das mais populares produções teatrais portuguesas de sempre. Na política foi deputado, Ministro da Instrução Pública e Ministro dos Negócios Estrangeiros (1921-1922 e 1923), terminando a sua carreira pública como embaixador de Portugal no Brasil (1941-1949). Considerado retrógrado por alguns intelectuais coevos, como foi o caso de Almada Negreiros, que escreveu o Manifesto Anti-Dantas, muito polémico, conseguiu granjear durante a vida grande prestígio social e literário, prestígio que decaiu após a sua morte. Foi eleito sócio da Academia de Ciências de Lisboa (1908), instituição a que presidiu a partir de 1922. 

   

Biografia

Filho de Casimiro Augusto Vanez Dantas, militar, escritor e jornalista, e de sua mulher Maria Augusta Pereira de Eça, estudou no Colégio Militar, em Lisboa, sendo admitido com o número 114 em 1887, inscrevendo-se seguidamente no curso de Medicina da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, que concluiu em 1900 com uma tese intitulada Pintores e poetas de Rilhafoles. Pouco depois ingressou no Exército Português, sendo oficial médico a partir de 1902.

A carreira de medicina militar, onde optou por uma prática no campo de psiquiatria, não o absorveu: dedicou-se simultaneamente à literatura e a uma intensa actividade intelectual e social, que o tornou conhecido nos meios políticos e nos círculos cultos de Lisboa. Em 1905 foi eleito deputado às Cortes.

Na literatura revelou-se um verdadeiro polígrafo, dedicando-se aos mais variados géneros literários, desde a poesia, o teatro, o conto, o romance e a crónica até ao ensaio. Alcançou grandes êxitos com as suas peças teatrais, com obras como A Severa, A Ceia dos Cardeais (obra que foi traduzida para mais de 20 línguas), Rosas de Todo o Ano e O Reposteiro Verde.

Publicou o seu primeiro artigo em 1893 no jornal Novidades, e o seu primeiro livro de versos em 1897. A maior parte das suas obras de teatro e novelas são sobre o passado histórico, mas as suas melhores obras, Paço de Veiros (1903) ou O Reposteiro Verde (1921) estão escritas num estilo naturalista.

Nas suas obras defende o culto do heroísmo, da elegância e do amor, situando a trama das suas obras quase invariavelmente no século XVIII, época que escolhia quase sempre como cenário das suas produções, salientando a decadência da vida aristocrática da época. Nas suas obras é também comum encontrar a exaltação do efémero, da morte e do sentimentalismo mais pungente. A sua obra poética é claramente inspirada na lírica palaciana do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende.

Do ponto de vista estilístico, a sua obra situa-se entre o romantismo e o parnasianismo, predominando nas obras de teatro e nas novelas os temas históricos. Contudo, as melhores obras de Júlio Dantas, nomeadamente Paço de Veiros (1903) e o O Reposteiro Verde (1921) têm um claro pendor para o naturalismo. Foi durante décadas um dos autores portugueses mais apreciados no estrangeiro.

A primeira produção de uma das suas peças ocorreu em 1899, no Teatro Dona Amélia (actual Teatro São Luiz) de Lisboa, com a apresentação da peça em quatro actos O que morreu de amor, pela Companhia Rosas & Brasão. Ainda no campo teatral dedicou-se à tradução, tendo publicado versões em língua portuguesa de Cyrano de Bregerac, de Edmond Rostand, e do Rei Lear, de William Shakespeare. Exímio tradutor, as suas traduções contam-se entre as melhores feitas para a língua portuguesa.

A Ceia dos Cardeais (1902) foi enormemente popular no seu tempo. Com base na sua obra teatral A Severa, José Leitão de Barros realizou o primeiro filme sonoro português em 1931. A sua peça Os Crucificados aborda, pela primeira vez no teatro português, a temática da homossexualidade.

Foi sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa a partir de 1908 e sócio efectivo desde 1913. Por várias vezes foi escolhido para presidente da instituição. Em 1949 recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade do Brasil, título que em 1954 também lhe foi atribuído pela Universidade de Coimbra.

Aceitou também uma carreira no ensino artístico e foi director do Conservatório Nacional de Lisboa, sendo ali professor de História da Literatura e director da Secção de Arte Dramática.

A 14 de fevereiro de 1920 foi feito Grande-Oficial da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.

Foi Ministro da Instrução Pública no outono de 1920, no governo presidido por António Granjo, e Ministro dos Negócios Estrangeiros no governo de Cunha Leal, no inverno de 1921-1922, e novamente em 1923 no governo de Ginestal Machado.

A 14 de fevereiro de 1930 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo e a 21 de março do mesmo ano foi elevado a Grã-Cruz da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico.

Em 1938-1940 presidiu à Comissão Executiva dos Centenários, dirigindo a Exposição do Mundo Português que teve lugar em Lisboa e colaborou na Revista dos Centenários, órgão de propaganda da mesma.

Em 1941 foi um dos Embaixadores Especiais enviados ao Brasil para dignificar a cultura de Portugal e em 1949 foi nomeado embaixador de Portugal no Rio de Janeiro. Nessas funções teve papel destacada na elaboração de um acordo ortográfico com o Brasil.

Foi considerado retrógrado por alguns, como foi o caso de Almada Negreiros, que lhe dedicou o Manifesto Anti-Dantas. O facto de ter sido invectivado por aquele manifesto e se ter transformado num dos alvos dos jovens aderentes do modernismo comprova a sua notoriedade de homem público. Apesar disso, passado o teste do tempo e amainadas as paixões, Vitorino Nemésio e David Mourão Ferreira defenderam a sua qualidade literária e a sua invulgar mestria dramatúrgica, considerando-o merecedor de destaque nas letras portuguesas.

No jornalismo e na crítica literária, foi colaborador dos jornais mais importantes de Portugal, nomeadamente do Diário Ilustrado, Novidades, Correio da Manhã e Renascença e escreveu no Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, e no La Nación, de Buenos Aires.

Na area da imprensa, também se encontra colaboração da sua autoria nas revistas Branco e Negro (1896-1898), Serões (1901-1911), Revista do Conservatório Real de Lisboa (1902), Illustração portugueza (1903-1980), Azulejos (1907-1909), O Palco (1912), Atlântida (1915-1920), Terra portuguesa (1916-1927), Revista de turismo iniciada em 1916, O domingo ilustrado (1925-1927), Ilustração (1926-), Feira da Ladra (1929-1943), Anais das bibliotecas, arquivo e museus municipais (1931-1936), Boletim cultural e estatístico (1937), Revista municipal (1939-1973) e Boletim do Sindicato Nacional dos Jornalistas (1941-1945).

Na política foi considerado oportunista, mostrando realmente uma grande versatilidade, servido como deputado na Monarquia, como ministro na Primeira República e finalmente como deputado, presidente da Comissão dos Centenários e embaixador em pleno Estado Novo. Sob a sua plasticidade política, Fernando Dacosta afirmou: "para se aproximar do Paço e da Rainha escreve a "Ceia dos Cardeais". Não recebendo os cargos e as honrarias a que julgava ter direito, aproveita-se da crise do regime monárquico e faz "Um Serão nas Laranjeiras", denúncia da decomposição da corte. Mas não se afasta dela." Quando foi proclamada a República, Júlio Dantas aderiu ao regime e publicou, no diário A Capital, o folhetim "Cruz de Sangue", depois em livro com o título Pátria Portuguesa (1914), fazendo a exaltação do povo e a condenação da nobreza. Em 1911, desencadeado o conflito entre a Igreja Católica e o Estado Português por causa da Lei da Separação de Afonso Costa, publica a peça A Santa Inquisição (1910), um libelo contra a Inquisição. Com o advento do salazarismo, publicou Frei António das Chagas, um "elogio de quem se sacrifica, se imola pela Pátria". Terminada a Segunda Guerra Mundial, prevendo a queda do Estado Novo, reformulou introduziu, em 1946, na Antígona, peça de estreia de Mariana Rey Monteiro, uma crítica velada ao velho ditador por meio da personagem de Creonte.

Foi um dos fundadores da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, a SECTP, de que foi o primeiro presidente. Aquela sociedade deu origem à Sociedade Portuguesa de Autores (SPA).

Contrariando o estereótipo de conservadorismo ligado à sua imagem pública, quebrou com a tradição e resistiu à pressão social da época: casou civilmente, a 30 de maio de 1942, com Maria Isabel Penedo Cardoso e Silva, da qual não teve descendência, e recusou um funeral católico, mantendo-se fiel às suas convicções anticlericais dos inícios do século XX.

Júlio Dantas é lembrado na sua cidade natal, Lagos, por um busto, localizado em Santo Amaro, na área envolvente ao Mercado Novo, dando também o nome à biblioteca pública da cidade. É também patrono da Escola Secundária Júlio Dantas, a principal escola pública de ensino secundário daquela cidade.

     

Obra 

Um dos mais prolíficos polígrafos da literatura lusófona, Júlio Dantas cultivou os mais variados géneros literários, como o romance, a poesia, o teatro e conto, tendo-se também dedicado ao ensaio. Contudo, conseguiu os seus maiores êxitos como dramaturgo, com peças como A Severa, A Ceia dos Cardeais, Rosas de Todo o Ano e O Reposteiro Verde.

 

in Wikipédia

 

AS DUAS MÁSCARAS

 

Num doirado e antiquíssimo sossego

Vi num museu solene e venerando

Duas máscaras velhas,figurando

As duas formas do teatro grego.

 

E ao olhá-las (contraste singular

Que não sei compreender nem discutir)

A face da Tragédia fez-me rir

                   E a da Farsa chorar.

 

De tão contrárias impressões colhidas

Arranquei esta lúcida verdade:

Nas dores mais sinceras, mais sentidas,

Só vê trejeitos a humanidade...

 

Fui aprender a esse mundo antigo

Que o sofrimento tem o seu pudor:

Por isso te aconselho, meu amigo,

Quando sofreres, guarda a tua dor

                   E chora a sós contigo.