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quinta-feira, junho 06, 2024

Gomes Leal nasceu há 176 anos...

Gomes Leal, caricaturado por Rafael Bordalo Pinheiro
      
António Duarte Gomes Leal (Lisboa, 6 de junho de 1848 - Lisboa, 29 de janeiro de 1921) foi um poeta e crítico literário português.
Nasceu na praça do Rossio, freguesia da Pena, em Lisboa, filho natural de João António Gomes Leal (m. 1876), funcionário da Alfândega, e de Henriqueta Fernandina Monteiro Alves Cabral Leal.
Frequentou o Curso Superior de Letras, mas não o concluiu, empregando-se como escrevente de um notário de Lisboa. Durante a sua juventude assumiu pose de poeta boémio e janota, mas, com a morte da sua mãe, em 1910, caiu na pobreza e reconverteu-se ao catolicismo. Vivia da caridade alheia, chegando a passar fome e a dormir ao relento, em bancos de jardim, como um vagabundo, tendo uma vez sido brutalmente agredido pela canalha da rua. No final da vida, Teixeira de Pascoaes e outros escritores lançaram um apelo público para que o Estado lhe atribuísse uma pensão, o que foi conseguido, apesar de diminuta.
Foi um dos fundadores do jornal "O Espectro de Juvenal" (1872) e do jornal "O Século" (1881), tendo colaborado também na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro e Diário de notícias. Tem ainda colaboração na revista ilustrada Nova Silva (1907) e outras publicações periódicas, nomeadamente: O berro (1896), Branco e Negro (1896-1898), Brasil-Portugal (1899-1914), A corja (1898), A galeria republicana (1882-1883), A imprensa (1885-1891), Jornal de domingo (1881-1888) A leitura (1894-1896), A mulher (1879), As quadras do povo (1909), Ribaltas e gambiarras (1881), O Thalassa (1913-1915) e o Xuão (1908-1910). A sua obra insere-se nas correntes ultra-romântica, parnasiana, simbolista e decadentista.
       
   
os Vencedores

 

Visto que tudo passa e as épicas memorias
Dos fortes, dos heroes, se vão cada vez mais,
Que tudo é luto e pó! ó vós que triumphaes
Não turbeis a razão nos vinhos das vãas glorias!

Não ergais alto a taça, á hora dos gemidos,
Esquecidos talvez nos gosos, nos regallos;
E não façaes jámais pastar vossos cavallos
Na herva que cobrir os ossos dos vencidos!

Não celebreis jámais as festas dos noivados,
Não encontreis na volta os lugubres cortejos!
- E se amardes, olhae que ao som dos vossos beijos
Não respondam da praça os ais dos fusilados!

Sim! - se venceste emfim, folgae todas as horas,
Mas deixae lastimar-se os orphãos, as amantes,
Nem façaes, junto a nós, altivos, triumphantes,
Pelas ruas demais tinir vossas esporas!

Pois toda a gloria é pó! toda a fortuna vã! -
- E nós lassos emfim dos prantos dolorosos,
Regámos já demais a terra - ó gloriosos
Vencedores! talvez, - vencidos d'amanhã!

 

in Claridades do Sul (1875) - António Gomes Leal

 

terça-feira, junho 06, 2023

Poema de aniversariante de hoje...


Aos Vencedores

 

Visto que tudo passa e as épicas memorias
Dos fortes, dos heroes, se vão cada vez mais,
Que tudo é luto e pó! ó vós que triumphaes
Não turbeis a razão nos vinhos das vãas glorias!

Não ergais alto a taça, á hora dos gemidos,
Esquecidos talvez nos gosos, nos regallos;
E não façaes jámais pastar vossos cavallos
Na herva que cobrir os ossos dos vencidos!

Não celebreis jámais as festas dos noivados,
Não encontreis na volta os lugubres cortejos!
- E se amardes, olhae que ao som dos vossos beijos
Não respondam da praça os ais dos fusilados!

Sim! - se venceste emfim, folgae todas as horas,
Mas deixae lastimar-se os orphãos, as amantes,
Nem façaes, junto a nós, altivos, triumphantes,
Pelas ruas demais tinir vossas esporas!

Pois toda a gloria é pó! toda a fortuna vã! -
- E nós lassos emfim dos prantos dolorosos,
Regámos já demais a terra - ó gloriosos
Vencedores! talvez, - vencidos d'amanhã!

 

in Claridades do Sul (1875) - António Gomes Leal

Gomes Leal nasceu há 175 anos...

Gomes Leal, caricaturado por Rafael Bordalo Pinheiro
      
António Duarte Gomes Leal (Lisboa, 6 de junho de 1848 - Lisboa, 29 de janeiro de 1921) foi um poeta e crítico literário português.
Nasceu na praça do Rossio, freguesia da Pena, em Lisboa, filho natural de João António Gomes Leal (m. 1876), funcionário da Alfândega, e de Henriqueta Fernandina Monteiro Alves Cabral Leal.
Frequentou o Curso Superior de Letras, mas não o concluiu, empregando-se como escrevente de um notário de Lisboa. Durante a sua juventude assumiu pose de poeta boémio e janota, mas, com a morte da sua mãe, em 1910, caiu na pobreza e reconverteu-se ao catolicismo. Vivia da caridade alheia, chegando a passar fome e a dormir ao relento, em bancos de jardim, como um vagabundo, tendo uma vez sido brutalmente agredido pela canalha da rua. No final da vida, Teixeira de Pascoaes e outros escritores lançaram um apelo público para que o Estado lhe atribuísse uma pensão, o que foi conseguido, apesar de diminuta.
Foi um dos fundadores do jornal "O Espectro de Juvenal" (1872) e do jornal "O Século" (1881), tendo colaborado também na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro e Diário de notícias. Tem ainda colaboração na revista ilustrada Nova Silva (1907) e outras publicações periódicas, nomeadamente: O berro (1896), Branco e Negro (1896-1898), Brasil-Portugal (1899-1914), A corja (1898), A galeria republicana (1882-1883), A imprensa (1885-1891), Jornal de domingo (1881-1888) A leitura (1894-1896), A mulher (1879), As quadras do povo (1909), Ribaltas e gambiarras (1881), O Thalassa (1913-1915) e o Xuão (1908-1910). A sua obra insere-se nas correntes ultra-romântica, parnasiana, simbolista e decadentista.
       
    
O Selvagem 
 
Eu não amo ninguem. Tambem no mundo
Ninguem por mim o peito bater sente,
Ninguem entende meu sofrer profundo,
E rio quando chora a demais gente.

Vivo alheio de todos e de tudo,
Mais callado que o esquife, a Morte e as lousas,
Selvagem, solitario, inerte e mudo,
- Passividade estupida das Cousas.

Fechei, de ha muito, o livro do Passado
Sinto em mim o despreso do Futuro,
E vivo só commigo, amortalhado
N'um egoismo barbaro e escuro.

Rasguei tudo o que li. Vivo nas duras
Regiões dos crueis indifferentes,
Meu peito é um covil, onde, ás escuras,
Minhas penas calquei, como as serpentes.

E não vejo ninguem. Saio sómente
Depois de pôr-se o sol, deserta a rua,
Quando ninguem me espreita, nem me sente,
E, em lamentos, os cães ladram à lua...


 

in Claridades do Sul (1875) - António Gomes Leal

segunda-feira, junho 06, 2022

António Gomes Leal nasceu há 174 anos

Gomes Leal, caricaturado por Rafael Bordalo Pinheiro
      
António Duarte Gomes Leal (Lisboa, 6 de junho de 1848 - Lisboa, 29 de janeiro de 1921) foi um poeta e crítico literário português.
Nasceu na praça do Rossio, freguesia da Pena, em Lisboa, filho natural de João António Gomes Leal (m. 1876), funcionário da Alfândega, e de Henriqueta Fernandina Monteiro Alves Cabral Leal.
Frequentou o Curso Superior de Letras, mas não o concluiu, empregando-se como escrevente de um notário de Lisboa. Durante a sua juventude assumiu pose de poeta boémio e janota, mas, com a morte da sua mãe, em 1910, caiu na pobreza e reconverteu-se ao catolicismo. Vivia da caridade alheia, chegando a passar fome e a dormir ao relento, em bancos de jardim, como um vagabundo, tendo uma vez sido brutalmente agredido pela canalha da rua. No final da vida, Teixeira de Pascoaes e outros escritores lançaram um apelo público para que o Estado lhe atribuísse uma pensão, o que foi conseguido, apesar de diminuta.
Foi um dos fundadores do jornal "O Espectro de Juvenal" (1872) e do jornal "O Século" (1881), tendo colaborado também na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro e Diário de notícias. Tem ainda colaboração na revista ilustrada Nova Silva (1907) e outras publicações periódicas, nomeadamente: O berro (1896), Branco e Negro (1896-1898), Brasil-Portugal (1899-1914), A corja (1898), A galeria republicana (1882-1883), A imprensa (1885-1891), Jornal de domingo (1881-1888) A leitura (1894-1896), A mulher (1879), As quadras do povo (1909), Ribaltas e gambiarras (1881), O Thalassa (1913-1915) e o Xuão (1908-1910). A sua obra insere-se nas correntes ultra-romântica, parnasiana, simbolista e decadentista.
       
    
        
Carta ao Mar
 
Deixa escrever-te, verde mar antigo,
Largo Oceano, velho deus limoso,
Coração sempre lírico, choroso,
E terno visionário, meu amigo!

Das bandas do poente lamentoso
Quando o vermelho sol vai ter contigo,
- Nada é mais grande, nobre e doloroso,
Do que tu, - vasto e húmido jazigo!

Nada é mais triste, trágico e profundo!
Ninguém te vence ou te venceu no mundo!...
Mas tambem, quem te pode consolar?!

Tu és Força, Arte, Amor, por excelência! -
E, contudo, ouve-o aqui, em confidência;
- A Música é mais triste inda que o Mar!


 

in Claridades do Sul (1875) - António Gomes Leal

domingo, junho 06, 2021

António Gomes Leal nasceu há 173 anos

Gomes Leal, caricaturado por Rafael Bordalo Pinheiro
    
António Duarte Gomes Leal (Lisboa, 6 de junho de 1848 - Lisboa, 29 de janeiro de 1921) foi um poeta e crítico literário português.
Nasceu na praça do Rossio, freguesia da Pena, em Lisboa, filho natural de João António Gomes Leal (m. 1876), funcionário da Alfândega, e de Henriqueta Fernandina Monteiro Alves Cabral Leal.
Frequentou o Curso Superior de Letras, mas não o concluiu, empregando-se como escrevente de um notário de Lisboa. Durante a sua juventude assumiu pose de poeta boémio e janota, mas, com a morte da sua mãe, em 1910, caiu na pobreza e reconverteu-se ao catolicismo. Vivia da caridade alheia, chegando a passar fome e a dormir ao relento, em bancos de jardim, como um vagabundo, tendo uma vez sido brutalmente agredido pela canalha da rua. No final da vida, Teixeira de Pascoaes e outros escritores lançaram um apelo público para que o Estado lhe atribuísse uma pensão, o que foi conseguido, apesar de diminuta.
Foi um dos fundadores do jornal "O Espectro de Juvenal" (1872) e do jornal "O Século" (1881), tendo colaborado também na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro e Diário de notícias. Tem ainda colaboração na revista ilustrada Nova Silva (1907) e outras publicações periódicas, nomeadamente: O berro (1896), Branco e Negro (1896-1898), Brasil-Portugal (1899-1914), A corja (1898), A galeria republicana (1882-1883), A imprensa (1885-1891), Jornal de domingo (1881-1888) A leitura (1894-1896), A mulher (1879), As quadras do povo (1909), Ribaltas e gambiarras (1881), O Thalassa (1913-1915) e o Xuão (1908-1910). A sua obra insere-se nas correntes ultra-romântica, parnasiana, simbolista e decadentista.
    
    
      
Carta ao Mar
 
Deixa escrever-te, verde mar antigo,
Largo Oceano, velho deus limoso,
Coração sempre lírico, choroso,
E terno visionário, meu amigo!

Das bandas do poente lamentoso
Quando o vermelho sol vai ter contigo,
- Nada é mais grande, nobre e doloroso,
Do que tu, - vasto e húmido jazigo!

Nada é mais triste, trágico e profundo!
Ninguém te vence ou te venceu no mundo!...
Mas tambem, quem te pode consolar?!

Tu és Força, Arte, Amor, por excelência! -
E, contudo, ouve-o aqui, em confidência;
- A Música é mais triste inda que o Mar!

 

in Claridades do Sul (1875) - António Gomes Leal

sábado, junho 06, 2020

O poeta António Gomes Leal nasceu há 172 anos

Gomes Leal, caricaturado por Rafael Bordalo Pinheiro
António Duarte Gomes Leal (Lisboa, 6 de junho de 1848 - Lisboa, 29 de janeiro de 1921) foi um poeta e crítico literário português.
Nasceu na praça do Rossio, freguesia da Pena, em Lisboa, filho natural de João António Gomes Leal (m. 1876), funcionário da Alfândega, e de Henriqueta Fernandina Monteiro Alves Cabral Leal.
Frequentou o Curso Superior de Letras, mas não o concluiu, empregando-se como escrevente de um notário de Lisboa. Durante a sua juventude assumiu pose de poeta boémio e janota, mas, com a morte da sua mãe, em 1910, caiu na pobreza e reconverteu-se ao catolicismo. Vivia da caridade alheia, chegando a passar fome e a dormir ao relento, em bancos de jardim, como um vagabundo, tendo uma vez sido brutalmente agredido pela canalha da rua. No final da vida, Teixeira de Pascoaes e outros escritores lançaram um apelo público para que o Estado lhe atribuísse uma pensão, o que foi conseguido, apesar de diminuta.
Foi um dos fundadores do jornal "O Espectro de Juvenal" (1872) e do jornal "O Século" (1881), tendo colaborado também na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro e Diário de notícias. Tem ainda colaboração na revista ilustrada Nova Silva (1907) e outras publicações periódicas, nomeadamente: O berro (1896), Branco e Negro (1896-1898), Brasil-Portugal (1899-1914), A corja (1898), A galeria republicana (1882-1883), A imprensa (1885-1891), Jornal de domingo (1881-1888) A leitura (1894-1896), A mulher (1879), As quadras do povo (1909), Ribaltas e gambiarras (1881), O Thalassa (1913-1915) e o Xuão (1908-1910). A sua obra insere-se nas correntes ultra-romântica, parnasiana, simbolista e decadentista.
   
    
    
Carta ao Mar
 
Deixa escrever-te, verde mar antigo,
Largo Oceano, velho deus limoso,
Coração sempre lírico, choroso,
E terno visionário, meu amigo!

Das bandas do poente lamentoso
Quando o vermelho sol vai ter contigo,
- Nada é mais grande, nobre e doloroso,
Do que tu, - vasto e húmido jazigo!

Nada é mais triste, trágico e profundo!
Ninguém te vence ou te venceu no mundo!...
Mas tambem, quem te pode consolar?!

Tu és Força, Arte, Amor, por excelência! -
E, contudo, ouve-o aqui, em confidência;
- A Música é mais triste inda que o Mar!

 

in Claridades do Sul (1875) - António Gomes Leal

quarta-feira, junho 06, 2018

O poeta António Gomes Leal nasceu há 170 anos

Gomes Leal, caricaturado por Rafael Bordalo Pinheiro
  
António Duarte Gomes Leal (Lisboa, 6 de junho de 1848 - Lisboa, 29 de janeiro de 1921) foi um poeta e crítico literário português.
  
Nasceu na praça do Rossio, freguesia da Pena, em Lisboa, filho natural de João António Gomes Leal (m. 1876), funcionário da Alfândega, e de Henriqueta Fernandina Monteiro Alves Cabral Leal.
Frequentou o Curso Superior de Letras, mas não o concluiu, empregando-se como escrevente de um notário de Lisboa. Durante a sua juventude assumiu pose de poeta boémio e janota, mas, com a morte da sua mãe, em 1910, caiu na pobreza e reconverteu-se ao catolicismo. Vivia da caridade alheia, chegando a passar fome e a dormir ao relento, em bancos de jardim, como um vagabundo, tendo uma vez sido brutalmente agredido pela canalha da rua. No final da vida, Teixeira de Pascoaes e outros escritores lançaram um apelo público para que o Estado lhe atribuísse uma pensão, o que foi conseguido, apesar de diminuta.
Foi um dos fundadores do jornal "O Espectro de Juvenal" (1872) e do jornal "O Século" (1881), tendo colaborado também na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro e Diário de notícias. Tem ainda colaboração na revista ilustrada Nova Silva (1907) e outras publicações periódicas, nomeadamente: O berro (1896), Branco e Negro (1896-1898), Brasil-Portugal (1899-1914), A corja (1898), A galeria republicana (1882-1883), A imprensa (1885-1891), Jornal de domingo (1881-1888) A leitura (1894-1896), A mulher (1879), As quadras do povo (1909), Ribaltas e gambiarras (1881), O Thalassa (1913-1915) e o Xuão (1908-1910). A sua obra insere-se nas correntes ultra-romântica, parnasiana, simbolista e decadentista.
 
 
Carta ao Mar
 
Deixa escrever-te, verde mar antigo,
Largo Oceano, velho deus limoso,
Coração sempre lírico, choroso,
E terno visionário, meu amigo!
 
Das bandas do poente lamentoso
Quando o vermelho sol vai ter contigo,
- Nada é mais grande, nobre e doloroso,
Do que tu, - vasto e húmido jazigo!
 
Nada é mais triste, trágico e profundo!
Ninguém te vence ou te venceu no mundo!...
Mas tambeém, quem te pode consolar?!
 
Tu és Força, Arte, Amor, por excelência! -
E, contudo, ouve-o aqui, em confidência;
- A Música é mais triste inda que o Mar!
 
 

in Claridades do Sul (1875) - António Gomes Leal

sexta-feira, junho 06, 2014

António Gomes Leal nasceu há 166 anos

Gomes Leal, caricaturado por Rafael Bordalo Pinheiro

António Duarte Gomes Leal (Lisboa, 6 de junho de 1848 - Lisboa, 29 de janeiro de 1921) foi um poeta e crítico literário português.

Nasceu na praça do Rossio, freguesia da Pena, em Lisboa, filho natural de João António Gomes Leal (m. 1876), funcionário da Alfândega, e de Henriqueta Fernandina Monteiro Alves Cabral Leal.
Frequentou o Curso Superior de Letras, mas não o concluiu, empregando-se como escrevente de um notário de Lisboa. Durante a sua juventude assumiu pose de poeta boémio e janota, mas, com a morte da sua mãe, em 1910, caiu na pobreza e reconverteu-se ao catolicismo. Vivia da caridade alheia, chegando a passar fome e a dormir ao relento, em bancos de jardim, como um vagabundo, tendo uma vez sido brutalmente agredido pela canalha da rua. No final da vida, Teixeira de Pascoaes e outros escritores lançaram um apelo público para que o Estado lhe atribuísse uma pensão, o que foi conseguido, apesar de diminuta.
Foi um dos fundadores do jornal "O Espectro de Juvenal" (1872) e do jornal "O Século" (1881), tendo colaborado também na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro e Diário de notícias. Tem ainda colaboração na revista ilustrada Nova Silva (1907) e outras publicações periódicas, nomeadamente: O berro (1896), Branco e Negro (1896-1898), Brasil-Portugal (1899-1914), A corja (1898), A galeria republicana (1882-1883), A imprensa (1885-1891), Jornal de domingo (1881-1888) A leitura (1894-1896), A mulher (1879), As quadras do povo (1909), Ribaltas e gambiarras (1881), O Thalassa (1913-1915) e o Xuão (1908-1910). A sua obra insere-se nas correntes ultra-romântica, parnasiana, simbolista e decadentista.


Carta ao Mar

Deixa escrever-te, verde mar antigo,
Largo Oceano, velho deus limoso,
Coração sempre lírico, choroso,
E terno visionário, meu amigo!

Das bandas do poente lamentoso
Quando o vermelho sol vai ter contigo,
- Nada é mais grande, nobre e doloroso,
Do que tu, - vasto e húmido jazigo!

Nada é mais triste, trágico e profundo!
Ninguém te vence ou te venceu no mundo!...
Mas tambem, quem te pode consolar?!

Tu és Força, Arte, Amor, por excelência! -
E, contudo, ouve-o aqui, em confidência;
- A Música é mais triste inda que o Mar!

 

in Claridades do Sul (1875) - António Gomes Leal