Sobre esta conjuntura caracterizado pela
Guerra Fria, João XXIII, através deste
documento pontifício, defende que "
os conflitos entre as nações devem ser resolvidas com negociações e não com armas, e na confiança mútua (nº. 113)". Para ele, "
a Paz entre os povos exige: a verdade como fundamento, a justiça como norma, o amor como motor, a liberdade como clima" .
A
Pacem in Terris realçou "
o tema da paz, numa época marcada pela proliferação nuclear" e pela disputa perigosa entre os
EUA e a
URSS (a
Guerra Fria). Através desta encíclica, a Igreja reflectiu profundamente sobre a
dignidade, os
deveres e os "
direitos humanos, enquanto fundamentos da paz mundial". A
Pacem in terris, completando o discurso da
Mater et Magistra, sublinhou "
a
importância da colaboração entre todos: é a primeira vez que um
documento da Igreja é dirigido também a «todas as pessoas de boa
vontade», que são chamados a uma «imensa tarefa de recompor as relações
da convivência na verdade, na justiça, no amor, na liberdade»".
Este
documento pontifício defendeu também o
desarmamento, uma distribuição mais equitativa de recursos, um maior "
controlo das políticas das empresas multinacionais" e várias "
políticas estatais que favoreçam o acolhimento dos refugiados"; reconheceu de "
que todas as nações têm igual dignidade e igual direito ao seu próprio desenvolvimento"; propôs a construção de uma "
sociedade baseada na subsidiariadade"; e incentivou os católicos à ação e à transformação do presente e do futuro. Esta encíclica exortou também "
os poderes públicos da comunidade mundial" (sendo a
ONU a sua autoridade máxima) a promover o "
bem comum universal", através de uma resolução eficaz dos vários problemas que assolam o mundo.
No fundo, o
Papa João XXIII queria a consolidação da "
Paz
na terra, anseio profundo de todos os homens de todos os tempos, [que]
não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem
instituída por Deus". Para o Papa, esta ordem "
é de natureza espiritual" e "
é uma ordem que se funda na verdade, que se realizará segundo a justiça, que se animará e consumará no amor, que se recomporá sempre na liberdade, mas sempre também em novo equilíbrio, cada vez mais humano". Para ele, só esta nova ordem mundial pode preservar a
Paz, "
cujo sinal perfeito foi Cristo".
Quando a
Pacem in Terris foi publicada, ela provocou uma "
enorme impressão a todos, inclusivamente no bloco soviético". Pela primeira vez, esta encíclica defende que a paz só pode ser alcançada através da colaboração de todas as "
pessoas de boa vontade", incluindo aquelas que defendem "
ideologias erradas" (como o
comunismo). Devido a este apelo à colaboração e à
solidariedade, ela acabou por incitar a
Igreja Católica a começar a negociação com os governos comunistas, para que estes possam garantir o bem-estar dos seus cidadãos e habitantes
católicos. Esta política diplomática (a
ostpolitik) foi continuada pelo
Papa Paulo VI, apesar de a Igreja ainda continuar a condenar o comunismo como uma ideologia errada e maléfica. Devido à
ostpolitik, a vida dos católicos na
Polónia, na
Hungria e na
Roménia melhorou um pouco.
Devido à sua importância e popularidade, a
Pacem in Terris está atualmente depositada nos arquivos da
ONU.
NOTA: a tradução oficial, em português, da totalidade da Encíclica, pode ser lida
AQUI. Neste momento de guerra na Europa, todos os Homens de boa vontade a deviam tentar e compreender...