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segunda-feira, agosto 19, 2024

Júlio César, o primeiro Imperador Romano, morreu há 2010 anos

  
Caio Júlio César Otaviano Augusto (em latim Gaius Iulius Caesar Octavianus Augustus; 23 de setembro de 63 a.C. - 19 de agosto de 14 d.C.) foi um patrício e o primeiro imperador romano.
Herdeiro e filho adotivo de Júlio César, chegou ao poder através do segundo triunvirato, formado com Marco António e Lépido. Após a deterioração da relação entre os três homens e a batalha de Áccio, onde Marcos Vipsânio Agripa, seu general e amigo pessoal, derrotou António, Augusto tornou-se o único governante de Roma. Foi o Imperador com maior tempo de mandato de Roma, com 44 anos.
 
Nascido em Roma, com o nome de Caio Octaviano Júlio Turino (Gaius Octavianus Iulius Thurinus), pertencia a uma das famílias mais abastadas da aristocracia romana, tendo parentesco somente e com diversas famílias patrícias, e portanto, nobres. O seu avô tinha sido banqueiro e o pai, Caio Octaviano Turino, em latim: Gaius Octavianus Thurinus, foi edil, pretor e senador em Roma e, mais tarde, procônsul na Macedónia. Átia, sua mãe e sobrinha de Júlio César, casou com o nobre Felipe, senador de certo reconhecimento no senado romano. Apesar do reconhecimento, Felipe era pouco influente e sua família estava fora dos círculos aristocráticos de Roma, e a única hipótese de progressão política era o tio-avô, Júlio César, então o homem mais poderoso de Roma. Este, interessando-se pela carreira do sobrinho-neto, deu-lhe educação aprimorada. Júlio César orgulhava-se do jovem, apresentando-o no Colégio de Pontífices, principal sacerdócio romano, quando tinha apenas 16 anos. Quando César, que adotara Otaviano como filho em testamento, foi assassinado por um grupo de senadores, em 15 de março de 44 a.C., Otaviano estava na Ilíria, servindo no exército. Ao retornar a Itália, foi informado de que era o herdeiro adotivo de César.
Começa então a busca de Otaviano pelo poder. Nessa época, adotou a efige de Filho de Deus (Divi filius, em latim). O termo aparece daí para frente em moedas com a efígie de Otávio (ele queria que o seu pai adoptivo, Júlio César fosse glorificado como um deus e ele próprio fosse considerado uma figura divina). O assassinato de César havia deixado Roma em uma situação caótica. Otaviano decidiu vingar o seu pai adotivo e assegurar a sua própria posição. Otaviano então parte para Roma. Ao chegar em Brundisium (atual Brindisi), a Décima Segunda Legião jura lealdade a Otaviano e, em discurso às tropas, ele declara ser filho adotivo de Júlio César. Em Roma, Marco António, ambicioso companheiro de César, pede o controle das tropas de Otaviano em troca de proteção e privilégios políticos, mas ele recusa. Otaviano reivindicara a sua herança, apesar do perigo que corria, e lutou por ela contra António, que se apropriara do dinheiro e dos papéis de César. Pagou com uma parte da fortuna de sua família, os legados do testamento e presidiu aos jogos em memória de César. Alia-se com Cícero, o qual começa a elogiar Otaviano no senado e atacar Marco António.
Revoltado com a aliança, Marco António acusa publicamente Otaviano de planear o seu assassinato. Otaviano publica então uma resposta ridicularizando a acusação. Otaviano une-se a Bruto dos Júnios contra António, que simplesmente junta todas as tropas que pode e fecha o cerco sobre Décimo Bruto em Modena.
Enquanto Marco António se ocupava com a guerra, Otaviano marcou uma audiência no Templo de Castor. O tribuno Tito Canúcio falou primeiro, atacando Marco António. Logo depois, Otaviano começou seu discurso, que foi muito mal-aceito. Otaviano, que derrotara António em Modena, exige o consulado (a que não tinha direito, dada sua pouca idade). Agripa contornou a situação, mas os senadores romanos deixaram de apoiar Otaviano. Na mesma noite, Otaviano foi obrigado a fugir de Roma.
Temporariamente estabeleceu-se na Sabina, onde reuniu o seu estado-maior e logo depois foi para Arezzo, onde recrutou tropas para invadir Roma pela força das armas.
Otaviano marchou sobre Roma e impôs a própria investidura como cônsul (19 de agosto de 43 a.C.). Fez a Corte sancionar a sua adoção (ver adopção em Roma) por Júlio César, tornando-se Caio Júlio César Otaviano (Gaius Julius Caesar Octavianus) e passou a ser conhecido como Otaviano. António, entrementes, aliara-se ao general Marco Emílio Lépido, governador da Gália.

O segundo triunvirato
Otaviano sela a paz com António e Lépido e formaram, no final de 43 a.C. o segundo triunvirato para governar as províncias romanas, que o senado reconheceu (por cinco anos). Seguiu-se a repressão: os trezentos senadores e dois mil cavaleiros, oponentes dos triúnviros, foram proscritos e numerosas propriedades confiscadas. Entre eles, estava o orador Cícero.
Otaviano e Marco António começaram uma campanha contra os líderes do assassinato de César, os republicanos Marco Júnio Bruto e Caio Cássio Longino, que culminou com o suicídio de ambos em 42 a.C., depois da sua derrota na Macedónia (batalha de Filipos). Para recompensar as legiões, Otávio confiscou as terras de 18 cidades italianas. O descontentamento resultante foi explorado pelos amigos de António. Ajudado por Agripa, grande chefe militar, Otaviano tomou Perugia (40 a.C.) e silenciou os seus adversários.
Aproximadamente no ano 40 a.C., o controle do mundo romano foi dividido entre os triúnviros com os os acordos de Brindisi. Otaviano assumiu a maior parte das províncias ocidentais, Marco António as orientais e Lépido, a África. Marco António e Otávio, que disputavam o controle da Itália, resolveram suas diferenças e, para selar o acordo, no ano 37 a.C., o segundo entregou sua irmã Otávia em matrimónio ao primeiro. Inaugurou-se, então, uma era de paz e em 37 a.C., o triunvirato foi renovado por mais cinco anos. Restava a ameaça de Sexto Pompeu, filho de Cneu Pompeu Magno e o último opositor importante do triunvirato. Com uma esquadra fornecida por António, Otávio derrotou-o em Nauloque, na Sicília (36 a.C.). Pouco depois, sem consultar António, que estava no Oriente lutando contra o Império Parta, Otaviano afasta Lépido do poder, deixando-lhe apenas a dignidade pontifícia.
Finalmente, o triunvirato foi dissolvido quando Marco António devolveu Otávia a Roma e pouco depois desposou Cleópatra, a quem Júlio César tinha nomeado rainha do Egito. Mediante o reconhecimento de Cesarión - Ptolomeu XV - filho de Cleópatra e César, como seu co-dirigente, Marco António, que permanecera no Egito e se instalara como potentado oriental, ameaçou a posição de Otaviano como único sucessor de César e a guerra tornou-se inevitável. Otaviano consolidou a sua situação, pacificou a Ilíria e contribuiu para a prosperidade romana, com o desenvolvimento da agricultura. As campanhas orientais de António serviram de pretexto para que Otávio proclamasse a traição do adversário e sua intenção de formar um reino independente de Roma. Esta declarou guerra ao Egito e Otaviano foi nomeado cônsul para combater António e Cleópatra, cujos exércitos foram vencidos na batalha de Áccio (31 a.C.). Depois da derrota, o território egípcio foi incorporado por Roma. No ano seguinte, Marco António e Cleópatra suicidaram-se e Cesarión foi assassinado. No ano 29 a.C., Otaviano voltou para Roma triunfalmente como senhor único do poder e recebeu, com o nome de Augusto (27 a.C.), os poderes repartidos até então entre os magistrados.

O primeiro cidadão
Apesar de assumir o poder, Otaviano não aceitou a ditadura. Temendo ser vítima da mesma sorte de Júlio César, abdicou solenemente de todos os poderes extraordinários (exceto o consulado) e propôs um novo regime, de compromisso - o principado - que centralizava o poder em torno de si mas mantinha as formas tradicionais da república romana. Longe de destruir as antigas magistraturas, assumiu-as quase todas e fez-se reeleger cônsul, sem interrupção, até o ano 23 a.C.. Na aparência, não passava, então, de um magistrado como os outros. Era apenas o primeiro, isto é, princeps, em autoridade.
O senado concedeu-lhe muitos títulos e poderes de que já tinham desfrutado diferentes funcionários da república. No ano 36 a.C., recebeu a concessão de inviolabilidade de um tribuno plebeu e, em 30 a.C., recebeu os poderes de um tribuno, com o qual passou a ter o poder de veto e controle sobre as assembleias. O senado também lhe concedeu a máxima autoridade nas províncias.
Em 29 a.C., recebeu o título de imperator (comandante-em-chefe das forças armadas). Em 28 a.C., recebeu o título de princeps senatus. No ano 27 a.C., o senado romano deu a Otaviano o título de augusto - "consagrado" ou "santo" - que mais tarde se converteu em sinónimo de imperador. O título passou desde então a identificar seu próprio nome e como "augusto" tem sido reconhecido pela história. A partir do ano 23 a.C., Augusto renunciou também ao consulado, guardando apenas a qualidade tribunícia, que lhe foi conferida em caráter vitalício. Morto Lépido, tornou-se máximo pontífice, com controle sobre a religião, a pedido do povo. O seu poder era, assim, fundado de certo modo no consentimento geral. Apesar da sua preeminência, como bem o mostram os títulos de príncipe ou primeiro cidadão e imperador, Augusto teve o cuidado de não levar demasiado longe as prebendas da monarquia, porém a sua autoridade era de facto a de um monarca absoluto.
Após a batalha de Filipos, Otaviano conheceu o poeta Virgílio e passou a financiar a sua arte. Além de Virgílio, o historiador Tito Lívio, o arquiteto Vitrúvio, os poetas Horácio e Ovídio foram protegidos por Augusto e pelo seu ministro Mecenas. Por isso, no plano cultural o século de Augusto foi muito produtivo e cheio de promessas criadoras, inaugurando uma época clássica para a arte europeia, um classicismo latino que, ainda na Renascença, mil anos depois, estava dando frutos. Augusto fundou bibliotecas públicas; a literatura latina, primitivamente, influenciada pelos gregos, adquiriu independência e se tornou uma das mais brilhantes do mundo ocidental.
Conservador e austero, Augusto fez um governo de ordem e hierarquia. Lutou contra a decadência dos costumes, reorganizou a administração e as forças armadas, tornando-as permanentes e fixando-as nas fronteiras. Como adepto das virtudes romanas em tempos em que era cada vez maior a tolerância, tentou controlar a moral pública mediante a aprovação da lei suntuária e do casamento. Criou organismos governamentais (conselho do príncipe, prefeitos), dividiu Roma em 14 regiões, para facilitar o censo e a cobrança de impostos, reorganizou a administração das províncias, dividindo-as em províncias senatoriais e províncias imperiais, medidas que tiveram como resultado o aumento da centralização. Em Roma e na Itália esforçou-se para fazer reviver as virtudes esquecidas das antigas tradições e religião. Deu privilégios aos pais de família e combateu o celibato. Construiu o fórum de Augusto que leva seu nome e, no campo de Marte, ergueu as primeiras termas, o Panteão de Roma e outros templos. O seu amor pela arquitetura foi revelado pelo seu orgulho em "ter encontrado Roma com tijolos e a ter deixado coberta de mármore". Elevaram-se templos à deusa Roma e a Augusto em todo o império. No âmbito económico, fomentou o desenvolvimento da agricultura na Itália e saneou as finanças do Estado.
Ordenou expedições militares, geralmente bem sucedidas, à Hispania, à Récia, à Panónia, à Germânia (onde, entretanto, seu lugar-tenente Varo foi derrotado), à Arábia, à Arménia, à África. Pacificou a Hispânia e os Alpes, conseguiu a anexação da Galácia e da Judeia e conquistou, graças a Tibério, as terras austríacas do Danúbio, que formaram as províncias de Récia e Vindelícia, mas a sua campanha na Germânia fracassou. Tibério debelou uma insurreição na Ilíria e os germanos, liderados por Armínio, aniquilaram Varo e três legiões, na Batalha da Floresta de Teutoburgo.
Augusto casou três vezes. A sua terceira esposa foi Lívia Drusilla, que já tinha dois filhos, Tibério e Druso, de um matrimónio anterior. Augusto, por sua vez, tinha uma filha, Júlia, também de um matrimónio anterior.
A tentativa de Augusto de conseguir um grande sucessor fracassou, pois o seu sobrinho Marcelo morreu jovem. Agripa, cujo casamento com sua filha Júlia ele tinha forçado, morreu em 12 a.C. Os filhos menores de Agripa morreram em 2 e 4 da era cristã. Druso e Júlia também faleceram. Restava Tibério. Adotando-o, Augusto deu-lhe participação cada dia mais ativa nos negócios do Estado. A partir de 13 d.C., Tibério tinha poderes quase iguais aos do imperador. Quando Augusto morreu, em Nola, na Campânia, em 19 de agosto do ano 14, já era o enteado quem de facto governava Roma.
A obra de Augusto foi imensa, tanto na paz como na guerra. Os quarenta anos do principado de Augusto marcaram uma das épocas mais brilhantes da história romana ("século de Augusto"). O mês Agosto foi baptizado como Augustus em sua homenagem; até então designava-se Sextilis. Após a morte de Augusto, o senado romano decretou a sua divinização, passando a ser adorado como "Divus Augustus" ("Divino Augusto"), e abrindo um precedente em Roma, que seria seguido pela maioria dos seus sucessores.
Tanto os escritores antigos como os mais recentes discordam quanto à importância de Augusto. Alguns condenaram a sua cruel luta pelo poder. Outros, dentre os quais se inclui o fiel partidário da república, Públio Cornélio Tácito, reconhecem as suas boas ações como dirigente. Às vezes, os pesquisadores atuais criticam os seus métodos pouco escrupulosos e o seu estilo autoritário, mas normalmente reconhecem suas realizações no estabelecimento de uma administração eficiente e um governo estável, bem como na obtenção de segurança e prosperidade para o Império Romano.
             

segunda-feira, janeiro 01, 2024

O nosso atual calendário faz 2069 anos


O calendário juliano foi implantado pelo líder romano Júlio César, em 46 a.C., como uma importante e substancial alteração no calendário romano. Foi modificado ainda mais em 8 d.C., pelo imperador Augusto, e os nomes dos meses sofreram ainda várias mudanças ao longo do Império Romano. O calendário juliano acabou por sofrer a sua última modificação em 1582, pelo Papa Gregório XIII, dando origem ao calendário gregoriano, que foi adotado progressivamente por diversos países, e hoje é utilizado pela maioria dos países ocidentais.

O calendário juliano, com as modificações feitas por Augusto, continua sendo utilizado pelos cristãos ortodoxos em vários países. Nele, os anos bissextos ocorrem sempre de quatro em quatro anos, enquanto no calendário gregoriano não são bissextos os anos seculares exceto os múltiplos de 400, o que hoje acumula uma diferença para o calendário gregoriano de 13 dias.
Em 46 a.C., Júlio César, percebendo que as festas romanas em comemoração à estação primaveril do ano, marcadas para março (que era o primeiro mês do ano), caíam em pleno Inverno, determinou que o astrónomo alexandrino Sosígenes corrigisse o calendário. As modificações realizadas a partir desses estudos modificaram radicalmente o calendário romano: dois meses, Unodecembris e Duocembris foram adicionados ao final do ano de 46 a.C., deslocando assim Januarius e Februarius para o início do ano de 45 a.C.. Os dias dos meses foram fixados numa sequência de 31, 30, 31, 30... de Januarius a December, à exceção de Februarius, que ficou com 29 dias e que, a cada três anos, teria 30 dias.
Com estas mudanças, o calendário anual passou a ter doze meses que somavam 365 dias. O mês de Martius, que era o primeiro mês do ano, continuou sendo a marcação do equinócio. Foi abandonado o formato luni-solar do calendário romano se fixando para um calendário predominantemente solar, se substituiu o mês intercalar Mercedonius de 22 e 23 dias por apenas um dia chamado de dia extra que deveria ser incluso após o 25º dia de Februarius, "ante die sextum kalenda martias", que, em função da forma de contagem dos romanos acabou criando o conceito de ano bissexto, de 366 dias que deveria ocorrer de três em três anos.
Os anos bissextos definidos no calendário juliano aproximavam o ano trópico por 365,25 dias, incorporando pequenos erros no alinhamento das estações ao longo dos anos. O imperador Augusto acabou corrigindo essas diferenças em 8 d.C., determinando que os anos bissextos ocorressem de quatro em quatro anos.

Calendário juliano após 8 d.C.


No. Mês Dias
1 Januarius 31
2 Februarius 28 ou 29
3 Martius 31
4 Abrilis 30
5 Maius 31
6 Junius 30
7 Julius 31
8 Augustus 31
9 September 30
10 October 31
11 November 30
12 December 31
 
Este calendário vigorou até a Idade Média aproxima o ano trópico por 365,25 dias, importando em um dia de erro no alinhamento dos equinócios a cada 128 anos. Por esse motivo foi modificado pelo Papa Gregório XIII, em 4 de outubro de 1582 quando suprimiu-se 10 dias do calendário juliano e mudou-se a regra do ano bissexto implementada por Augusto. Este novo calendário foi adotado por países da Igreja Católica, entretanto, a Igreja Ortodoxa não aceitou seguir esta mudança, optando pela permanência no calendário juliano o que explica hoje a diferença de 13 dias entre estes dois calendários.

sábado, agosto 19, 2023

O primeiro Imperador Romano morreu há 2009 anos

  
Caio Júlio César Otaviano Augusto (em latim Gaius Iulius Caesar Octavianus Augustus; 23 de setembro de 63 a.C. - 19 de agosto de 14 d.C.) foi um patrício e o primeiro imperador romano.
Herdeiro e filho adotivo de Júlio César, chegou ao poder através do segundo triunvirato, formado com Marco António e Lépido. Após a deterioração da relação entre os três homens e a batalha de Áccio, onde Marcos Vipsânio Agripa, seu general e amigo pessoal, derrotou António, Augusto tornou-se o único governante de Roma. Foi o Imperador com maior tempo de mandato de Roma, com 44 anos.
 
Nascido em Roma, com o nome de Caio Octaviano Júlio Turino (Gaius Octavianus Iulius Thurinus), pertencia a uma das famílias mais abastadas da aristocracia romana, tendo parentesco somente e com diversas famílias patrícias, e portanto, nobres. O seu avô tinha sido banqueiro e o pai, Caio Octaviano Turino, em latim: Gaius Octavianus Thurinus, foi edil, pretor e senador em Roma e, mais tarde, procônsul na Macedónia. Átia, sua mãe e sobrinha de Júlio César, casou com o nobre Felipe, senador de certo reconhecimento no senado romano. Apesar do reconhecimento, Felipe era pouco influente e sua família estava fora dos círculos aristocráticos de Roma, e a única hipótese de progressão política era o tio-avô, Júlio César, então o homem mais poderoso de Roma. Este, interessando-se pela carreira do sobrinho-neto, deu-lhe educação aprimorada. Júlio César orgulhava-se do jovem, apresentando-o no Colégio de Pontífices, principal sacerdócio romano, quando tinha apenas 16 anos. Quando César, que adotara Otaviano como filho em testamento, foi assassinado por um grupo de senadores, em 15 de março de 44 a.C., Otaviano estava na Ilíria, servindo no exército. Ao retornar a Itália, foi informado de que era o herdeiro adotivo de César.
Começa então a busca de Otaviano pelo poder. Nessa época, adotou a efige de Filho de Deus (Divi filius, em latim). O termo aparece daí para frente em moedas com a efígie de Otávio (ele queria que o seu pai adoptivo, Júlio César fosse glorificado como um deus e ele próprio fosse considerado uma figura divina). O assassinato de César havia deixado Roma em uma situação caótica. Otaviano decidiu vingar o seu pai adotivo e assegurar a sua própria posição. Otaviano então parte para Roma. Ao chegar em Brundisium (atual Brindisi), a Décima Segunda Legião jura lealdade a Otaviano e, em discurso às tropas, ele declara ser filho adotivo de Júlio César. Em Roma, Marco António, ambicioso companheiro de César, pede o controle das tropas de Otaviano em troca de proteção e privilégios políticos, mas ele recusa. Otaviano reivindicara a sua herança, apesar do perigo que corria, e lutou por ela contra António, que se apropriara do dinheiro e dos papéis de César. Pagou com uma parte da fortuna de sua família, os legados do testamento e presidiu aos jogos em memória de César. Alia-se com Cícero, o qual começa a elogiar Otaviano no senado e atacar Marco António.
Revoltado com a aliança, Marco António acusa publicamente Otaviano de planear o seu assassinato. Otaviano publica então uma resposta ridicularizando a acusação. Otaviano une-se a Bruto dos Júnios contra António, que simplesmente junta todas as tropas que pode e fecha o cerco sobre Décimo Bruto em Modena.
Enquanto Marco António se ocupava com a guerra, Otaviano marcou uma audiência no Templo de Castor. O tribuno Tito Canúcio falou primeiro, atacando Marco António. Logo depois, Otaviano começou seu discurso, que foi muito mal-aceito. Otaviano, que derrotara António em Modena, exige o consulado (a que não tinha direito, dada sua pouca idade). Agripa contornou a situação, mas os senadores romanos deixaram de apoiar Otaviano. Na mesma noite, Otaviano foi obrigado a fugir de Roma.
Temporariamente estabeleceu-se na Sabina, onde reuniu o seu estado-maior e logo depois foi para Arezzo, onde recrutou tropas para invadir Roma pela força das armas.
Otaviano marchou sobre Roma e impôs a própria investidura como cônsul (19 de agosto de 43 a.C.). Fez a Corte sancionar a sua adoção (ver adopção em Roma) por Júlio César, tornando-se Caio Júlio César Otaviano (Gaius Julius Caesar Octavianus) e passou a ser conhecido como Otaviano. António, entrementes, aliara-se ao general Marco Emílio Lépido, governador da Gália.

O segundo triunvirato
Otaviano sela a paz com António e Lépido e formaram, no final de 43 a.C. o segundo triunvirato para governar as províncias romanas, que o senado reconheceu (por cinco anos). Seguiu-se a repressão: os trezentos senadores e dois mil cavaleiros, oponentes dos triúnviros, foram proscritos e numerosas propriedades confiscadas. Entre eles, estava o orador Cícero.
Otaviano e Marco António começaram uma campanha contra os líderes do assassinato de César, os republicanos Marco Júnio Bruto e Caio Cássio Longino, que culminou com o suicídio de ambos em 42 a.C., depois da sua derrota na Macedónia (batalha de Filipos). Para recompensar as legiões, Otávio confiscou as terras de 18 cidades italianas. O descontentamento resultante foi explorado pelos amigos de António. Ajudado por Agripa, grande chefe militar, Otaviano tomou Perugia (40 a.C.) e silenciou os seus adversários.
Aproximadamente no ano 40 a.C., o controle do mundo romano foi dividido entre os triúnviros com os os acordos de Brindisi. Otaviano assumiu a maior parte das províncias ocidentais, Marco António as orientais e Lépido, a África. Marco António e Otávio, que disputavam o controle da Itália, resolveram suas diferenças e, para selar o acordo, no ano 37 a.C., o segundo entregou sua irmã Otávia em matrimónio ao primeiro. Inaugurou-se, então, uma era de paz e em 37 a.C., o triunvirato foi renovado por mais cinco anos. Restava a ameaça de Sexto Pompeu, filho de Cneu Pompeu Magno e o último opositor importante do triunvirato. Com uma esquadra fornecida por António, Otávio derrotou-o em Nauloque, na Sicília (36 a.C.). Pouco depois, sem consultar António, que estava no Oriente lutando contra o Império Parta, Otaviano afasta Lépido do poder, deixando-lhe apenas a dignidade pontifícia.
Finalmente, o triunvirato foi dissolvido quando Marco António devolveu Otávia a Roma e pouco depois desposou Cleópatra, a quem Júlio César tinha nomeado rainha do Egito. Mediante o reconhecimento de Cesarión - Ptolomeu XV - filho de Cleópatra e César, como seu co-dirigente, Marco António, que permanecera no Egito e se instalara como potentado oriental, ameaçou a posição de Otaviano como único sucessor de César e a guerra tornou-se inevitável. Otaviano consolidou a sua situação, pacificou a Ilíria e contribuiu para a prosperidade romana, com o desenvolvimento da agricultura. As campanhas orientais de António serviram de pretexto para que Otávio proclamasse a traição do adversário e sua intenção de formar um reino independente de Roma. Esta declarou guerra ao Egito e Otaviano foi nomeado cônsul para combater António e Cleópatra, cujos exércitos foram vencidos na batalha de Áccio (31 a.C.). Depois da derrota, o território egípcio foi incorporado por Roma. No ano seguinte, Marco António e Cleópatra suicidaram-se e Cesarión foi assassinado. No ano 29 a.C., Otaviano voltou para Roma triunfalmente como senhor único do poder e recebeu, com o nome de Augusto (27 a.C.), os poderes repartidos até então entre os magistrados.

O primeiro cidadão
Apesar de assumir o poder, Otaviano não aceitou a ditadura. Temendo ser vítima da mesma sorte de Júlio César, abdicou solenemente de todos os poderes extraordinários (exceto o consulado) e propôs um novo regime, de compromisso - o principado - que centralizava o poder em torno de si mas mantinha as formas tradicionais da república romana. Longe de destruir as antigas magistraturas, assumiu-as quase todas e fez-se reeleger cônsul, sem interrupção, até o ano 23 a.C.. Na aparência, não passava, então, de um magistrado como os outros. Era apenas o primeiro, isto é, princeps, em autoridade.
O senado concedeu-lhe muitos títulos e poderes de que já tinham desfrutado diferentes funcionários da república. No ano 36 a.C., recebeu a concessão de inviolabilidade de um tribuno plebeu e, em 30 a.C., recebeu os poderes de um tribuno, com o qual passou a ter o poder de veto e controle sobre as assembleias. O senado também lhe concedeu a máxima autoridade nas províncias.
Em 29 a.C., recebeu o título de imperator (comandante-em-chefe das forças armadas). Em 28 a.C., recebeu o título de princeps senatus. No ano 27 a.C., o senado romano deu a Otaviano o título de augusto - "consagrado" ou "santo" - que mais tarde se converteu em sinónimo de imperador. O título passou desde então a identificar seu próprio nome e como "augusto" tem sido reconhecido pela história. A partir do ano 23 a.C., Augusto renunciou também ao consulado, guardando apenas a qualidade tribunícia, que lhe foi conferida em caráter vitalício. Morto Lépido, tornou-se máximo pontífice, com controle sobre a religião, a pedido do povo. O seu poder era, assim, fundado de certo modo no consentimento geral. Apesar da sua preeminência, como bem o mostram os títulos de príncipe ou primeiro cidadão e imperador, Augusto teve o cuidado de não levar demasiado longe as prebendas da monarquia, porém a sua autoridade era de facto a de um monarca absoluto.
Após a batalha de Filipos, Otaviano conheceu o poeta Virgílio e passou a financiar sua arte. Além de Virgílio, o historiador Tito Lívio, o arquiteto Vitrúvio, os poetas Horácio e Ovídio foram protegidos por Augusto e pelo seu ministro Mecenas. Por isso, no plano cultural o século de Augusto foi muito produtivo e cheio de promessas criadoras, inaugurando uma época clássica para a arte europeia, um classicismo latino que, ainda na Renascença, mil anos depois, estava dando frutos. Augusto fundou bibliotecas públicas; a literatura latina, primitivamente, influenciada pelos gregos, adquiriu independência e se tornou uma das mais brilhantes do mundo ocidental.
Conservador e austero, Augusto fez um governo de ordem e hierarquia. Lutou contra a decadência dos costumes, reorganizou a administração e as forças armadas, tornando-as permanentes e fixando-as nas fronteiras. Como adepto das virtudes romanas em tempos em que era cada vez maior a tolerância, tentou controlar a moral pública mediante a aprovação da lei suntuária e do casamento. Criou organismos governamentais (conselho do príncipe, prefeitos), dividiu Roma em 14 regiões, para facilitar o censo e a cobrança de impostos, reorganizou a administração das províncias, dividindo-as em províncias senatoriais e províncias imperiais, medidas que tiveram como resultado o aumento da centralização. Em Roma e na Itália esforçou-se para fazer reviver as virtudes esquecidas das antigas tradições e religião. Deu privilégios aos pais de família e combateu o celibato. Construiu o fórum de Augusto que leva seu nome e, no campo de Marte, ergueu as primeiras termas, o Panteão de Roma e outros templos. O seu amor pela arquitetura foi revelado pelo seu orgulho em "ter encontrado Roma com tijolos e a ter deixado coberta de mármore". Elevaram-se templos à deusa Roma e a Augusto em todo o império. No âmbito económico, fomentou o desenvolvimento da agricultura na Itália e saneou as finanças do Estado.
Ordenou expedições militares, geralmente bem sucedidas, à Hispania, à Récia, à Panónia, à Germânia (onde, entretanto, seu lugar-tenente Varo foi derrotado), à Arábia, à Arménia, à África. Pacificou a Hispânia e os Alpes, conseguiu a anexação da Galácia e da Judeia e conquistou, graças a Tibério, as terras austríacas do Danúbio, que formaram as províncias de Récia e Vindelícia, mas a sua campanha na Germânia fracassou. Tibério debelou uma insurreição na Ilíria e os germanos, liderados por Armínio, aniquilaram Varo e três legiões, na Batalha da Floresta de Teutoburgo.
Augusto casou três vezes. A sua terceira esposa foi Lívia Drusilla, que já tinha dois filhos, Tibério e Druso, de um matrimónio anterior. Augusto, por sua vez, tinha uma filha, Júlia, também de um matrimónio anterior.
A tentativa de Augusto de conseguir um grande sucessor fracassou, pois o seu sobrinho Marcelo morreu jovem. Agripa, cujo casamento com sua filha Júlia ele tinha forçado, morreu em 12 a.C. Os filhos menores de Agripa morreram em 2 e 4 da era cristã. Druso e Júlia também faleceram. Restava Tibério. Adotando-o, Augusto deu-lhe participação cada dia mais ativa nos negócios do Estado. A partir de 13 d.C., Tibério tinha poderes quase iguais aos do imperador. Quando Augusto morreu, em Nola, na Campânia, em 19 de agosto do ano 14, já era o enteado quem de facto governava Roma.
A obra de Augusto foi imensa, tanto na paz como na guerra. Os quarenta anos do principado de Augusto marcaram uma das épocas mais brilhantes da história romana ("século de Augusto"). O mês Agosto foi baptizado como Augustus em sua homenagem; até então designava-se Sextilis. Após a morte de Augusto, o senado romano decretou a sua divinização, passando a ser adorado como "Divus Augustus" ("Divino Augusto"), e abrindo um precedente em Roma que seria seguido pela maioria dos seus sucessores.
Tanto os escritores antigos como os mais recentes discordam quanto à importância de Augusto. Alguns condenaram a sua cruel luta pelo poder. Outros, dentre os quais se inclui o fiel partidário da república, Públio Cornélio Tácito, reconhecem as suas boas ações como dirigente. Às vezes, os pesquisadores atuais criticam os seus métodos pouco escrupulosos e o seu estilo autoritário, mas normalmente reconhecem suas realizações no estabelecimento de uma administração eficiente e um governo estável, bem como na obtenção de segurança e prosperidade para o Império Romano.
          

domingo, janeiro 01, 2023

O nosso atual calendário faz 2068 anos


O calendário juliano foi implantado pelo líder romano Júlio César, em 46 a.C., como uma importante e substancial alteração no calendário romano. Foi modificado ainda mais em 8 d.C., pelo imperador Augusto, e os nomes dos meses sofreram ainda várias mudanças ao longo do Império Romano. O calendário juliano acabou por sofrer a sua última modificação em 1582, pelo Papa Gregório XIII, dando origem ao calendário gregoriano, que foi adotado progressivamente por diversos países, e hoje é utilizado pela maioria dos países ocidentais.

O calendário juliano, com as modificações feitas por Augusto, continua sendo utilizado pelos cristãos ortodoxos em vários países. Nele, os anos bissextos ocorrem sempre de quatro em quatro anos, enquanto no calendário gregoriano não são bissextos os anos seculares exceto os múltiplos de 400, o que hoje acumula uma diferença para o calendário gregoriano de 13 dias.
Em 46 a.C., Júlio César, percebendo que as festas romanas em comemoração à estação primaveril do ano, marcadas para março (que era o primeiro mês do ano), caíam em pleno Inverno, determinou que o astrónomo alexandrino Sosígenes corrigisse o calendário. As modificações realizadas a partir desses estudos modificaram radicalmente o calendário romano: dois meses, Unodecembris e Duocembris foram adicionados ao final do ano de 46 a.C., deslocando assim Januarius e Februarius para o início do ano de 45 a.C.. Os dias dos meses foram fixados numa sequência de 31, 30, 31, 30... de Januarius a December, à exceção de Februarius, que ficou com 29 dias e que, a cada três anos, teria 30 dias.
Com estas mudanças, o calendário anual passou a ter doze meses que somavam 365 dias. O mês de Martius, que era o primeiro mês do ano, continuou sendo a marcação do equinócio. Foi abandonado o formato luni-solar do calendário romano se fixando para um calendário predominantemente solar, se substituiu o mês intercalar Mercedonius de 22 e 23 dias por apenas um dia chamado de dia extra que deveria ser incluso após o 25º dia de Februarius, "ante die sextum kalenda martias", que, em função da forma de contagem dos romanos acabou criando o conceito de ano bissexto, de 366 dias que deveria ocorrer de três em três anos.
Os anos bissextos definidos no calendário juliano aproximavam o ano trópico por 365,25 dias, incorporando pequenos erros no alinhamento das estações ao longo dos anos. O imperador Augusto acabou corrigindo essas diferenças em 8 d.C., determinando que os anos bissextos ocorressem de quatro em quatro anos.

Calendário juliano após 8 d.C.


No. Mês Dias
1 Januarius 31
2 Februarius 28 ou 29
3 Martius 31
4 Abrilis 30
5 Maius 31
6 Junius 30
7 Julius 31
8 Augustus 31
9 September 30
10 October 31
11 November 30
12 December 31
 
Este calendário vigorou até a Idade Média aproxima o ano trópico por 365,25 dias, importando em um dia de erro no alinhamento dos equinócios a cada 128 anos. Por esse motivo foi modificado pelo Papa Gregório XIII, em 4 de outubro de 1582 quando suprimiu-se 10 dias do calendário juliano e mudou-se a regra do ano bissexto implementada por Augusto. Este novo calendário foi adotado por países da Igreja Católica, entretanto, a Igreja Ortodoxa não aceitou seguir esta mudança, optando pela permanência no calendário juliano o que explica hoje a diferença de 13 dias entre estes dois calendários.


NOTA: na península ibérica (e, em particular, em Portugal) usou-se uma variante deste calendário até ao reinado de D. João I:
A chamada Era de César ou Era Hispânica é uma variante do calendário Juliano, que começou a ser contada na Hispânia Romana a partir de 1º de janeiro de 38 a.C., o mesmo ano em que foi renovado o acordo do Triunvirato, que concedeu a César Otaviano Augusto o governo da Hispânia - e também das Gálias e da Itália. Contudo, o surgimento deste calendário está na verdade ligado à imposição, por Augusto, de uma nova taxa regular de impostos aos seus súbditos ibéricos em 38 a.C., o que teria sido um marco simbólico do estabelecimento definitivo da Pax Romana na região.


Este calendário foi usado durante mais de mil anos na península Ibérica, primeiro pelos romanos e romanizados, depois pelos cristãos até os tempos da Reconquista, quando finalmente começou a cair em desuso. Os catalães teriam sido os primeiros a abandoná-lo, em 1180; os últimos foram os portugueses, em 1422, quando o rei João I de Portugal decretou a adoção oficial da Era de Cristo, ou Era Anno Domini, por meio de uma Carta Régia.

sexta-feira, agosto 19, 2022

César Augusto, o primeiro Imperador Romano, morreu há 2008 anos

  
Caio Júlio César Otaviano Augusto (em latim Gaius Iulius Caesar Octavianus Augustus; 23 de setembro de 63 a.C. - 19 de agosto de 14 d.C.) foi um patrício e o primeiro imperador romano.
Herdeiro e filho adotivo de Júlio César, chegou ao poder através do segundo triunvirato, formado com Marco António e Lépido. Após a deterioração da relação entre os três homens e a batalha de Áccio, onde Marcos Vipsânio Agripa, seu general e amigo pessoal, derrotou António, Augusto tornou-se o único governante de Roma. Foi o Imperador com maior tempo de mandato de Roma, com 44 anos.
 
Nascido em Roma, com o nome de Caio Octaviano Júlio Turino (Gaius Octavianus Iulius Thurinus), pertencia a uma das famílias mais abastadas da aristocracia romana, tendo parentesco somente e com diversas famílias patrícias, e portanto, nobres. O seu avô tinha sido banqueiro e o pai, Caio Octaviano Turino, em latim: Gaius Octavianus Thurinus, foi edil, pretor e senador em Roma e, mais tarde, procônsul na Macedónia. Átia, sua mãe e sobrinha de Júlio César, casou com o nobre Felipe, senador de certo reconhecimento no senado romano. Apesar do reconhecimento, Felipe era pouco influente e sua família estava fora dos círculos aristocráticos de Roma, e a única hipótese de progressão política era o tio-avô, Júlio César, então o homem mais poderoso de Roma. Este, interessando-se pela carreira do sobrinho-neto, deu-lhe educação aprimorada. Júlio César orgulhava-se do jovem, apresentando-o no Colégio de Pontífices, principal sacerdócio romano, quando tinha apenas 16 anos. Quando César, que adotara Otaviano como filho em testamento, foi assassinado por um grupo de senadores, em 15 de março de 44 a.C., Otaviano estava na Ilíria, servindo no exército. Ao retornar a Itália, foi informado de que era o herdeiro adotivo de César.
Começa então a busca de Otaviano pelo poder. Nessa época, adotou a efige de Filho de Deus (Divi filius, em latim). O termo aparece daí para frente em moedas com a efígie de Otávio (ele queria que o seu pai adoptivo, Júlio César fosse glorificado como um deus e ele próprio fosse considerado uma figura divina). O assassinato de César havia deixado Roma em uma situação caótica. Otaviano decidiu vingar o seu pai adotivo e assegurar a sua própria posição. Otaviano então parte para Roma. Ao chegar em Brundisium (atual Brindisi), a Décima Segunda Legião jura lealdade a Otaviano e, em discurso às tropas, ele declara ser filho adotivo de Júlio César. Em Roma, Marco António, ambicioso companheiro de César, pede o controle das tropas de Otaviano em troca de proteção e privilégios políticos, mas ele recusa. Otaviano reivindicara a sua herança, apesar do perigo que corria, e lutou por ela contra António, que se apropriara do dinheiro e dos papéis de César. Pagou com uma parte da fortuna de sua família, os legados do testamento e presidiu aos jogos em memória de César. Alia-se com Cícero, o qual começa a elogiar Otaviano no senado e atacar Marco António.
Revoltado com a aliança, Marco António acusa publicamente Otaviano de planear o seu assassinato. Otaviano publica então uma resposta ridicularizando a acusação. Otaviano une-se a Bruto dos Júnios contra António, que simplesmente junta todas as tropas que pode e fecha o cerco sobre Décimo Bruto em Modena.
Enquanto Marco António se ocupava com a guerra, Otaviano marcou uma audiência no Templo de Castor. O tribuno Tito Canúcio falou primeiro, atacando Marco António. Logo depois, Otaviano começou seu discurso, que foi muito mal-aceito. Otaviano, que derrotara António em Modena, exige o consulado (a que não tinha direito, dada sua pouca idade). Agripa contornou a situação, mas os senadores romanos deixaram de apoiar Otaviano. Na mesma noite, Otaviano foi obrigado a fugir de Roma.
Temporariamente estabeleceu-se na Sabina, onde reuniu o seu estado-maior e logo depois foi para Arezzo, onde recrutou tropas para invadir Roma pela força das armas.
Otaviano marchou sobre Roma e impôs a própria investidura como cônsul (19 de agosto de 43 a.C.). Fez a Corte sancionar a sua adoção (ver adopção em Roma) por Júlio César, tornando-se Caio Júlio César Otaviano (Gaius Julius Caesar Octavianus) e passou a ser conhecido como Otaviano. António, entrementes, aliara-se ao general Marco Emílio Lépido, governador da Gália.

O segundo triunvirato
Otaviano sela a paz com António e Lépido e formaram, no final de 43 a.C. o segundo triunvirato para governar as províncias romanas, que o senado reconheceu (por cinco anos). Seguiu-se a repressão: os trezentos senadores e dois mil cavaleiros, oponentes dos triúnviros, foram proscritos e numerosas propriedades confiscadas. Entre eles, estava o orador Cícero.
Otaviano e Marco António começaram uma campanha contra os líderes do assassinato de César, os republicanos Marco Júnio Bruto e Caio Cássio Longino, que culminou com o suicídio de ambos em 42 a.C., depois da sua derrota na Macedónia (batalha de Filipos). Para recompensar as legiões, Otávio confiscou as terras de 18 cidades italianas. O descontentamento resultante foi explorado pelos amigos de António. Ajudado por Agripa, grande chefe militar, Otaviano tomou Perugia (40 a.C.) e silenciou os seus adversários.
Aproximadamente no ano 40 a.C., o controle do mundo romano foi dividido entre os triúnviros com os os acordos de Brindisi. Otaviano assumiu a maior parte das províncias ocidentais, Marco António as orientais e Lépido, a África. Marco António e Otávio, que disputavam o controle da Itália, resolveram suas diferenças e, para selar o acordo, no ano 37 a.C., o segundo entregou sua irmã Otávia em matrimónio ao primeiro. Inaugurou-se, então, uma era de paz e em 37 a.C., o triunvirato foi renovado por mais cinco anos. Restava a ameaça de Sexto Pompeu, filho de Cneu Pompeu Magno e o último opositor importante do triunvirato. Com uma esquadra fornecida por António, Otávio derrotou-o em Nauloque, na Sicília (36 a.C.). Pouco depois, sem consultar António, que estava no Oriente lutando contra o Império Parta, Otaviano afasta Lépido do poder, deixando-lhe apenas a dignidade pontifícia.
Finalmente, o triunvirato foi dissolvido quando Marco António devolveu Otávia a Roma e pouco depois desposou Cleópatra, a quem Júlio César tinha nomeado rainha do Egito. Mediante o reconhecimento de Cesarión - Ptolomeu XV - filho de Cleópatra e César, como seu co-dirigente, Marco António, que permanecera no Egito e se instalara como potentado oriental, ameaçou a posição de Otaviano como único sucessor de César e a guerra tornou-se inevitável. Otaviano consolidou a sua situação, pacificou a Ilíria e contribuiu para a prosperidade romana, com o desenvolvimento da agricultura. As campanhas orientais de António serviram de pretexto para que Otávio proclamasse a traição do adversário e sua intenção de formar um reino independente de Roma. Esta declarou guerra ao Egito e Otaviano foi nomeado cônsul para combater António e Cleópatra, cujos exércitos foram vencidos na batalha de Áccio (31 a.C.). Depois da derrota, o território egípcio foi incorporado por Roma. No ano seguinte, Marco António e Cleópatra suicidaram-se e Cesarión foi assassinado. No ano 29 a.C., Otaviano voltou para Roma triunfalmente como senhor único do poder e recebeu, com o nome de Augusto (27 a.C.), os poderes repartidos até então entre os magistrados.

O primeiro cidadão
Apesar de assumir o poder, Otaviano não aceitou a ditadura. Temendo ser vítima da mesma sorte de Júlio César, abdicou solenemente de todos os poderes extraordinários (exceto o consulado) e propôs um novo regime, de compromisso - o principado - que centralizava o poder em torno de si mas mantinha as formas tradicionais da república romana. Longe de destruir as antigas magistraturas, assumiu-as quase todas e fez-se reeleger cônsul, sem interrupção, até o ano 23 a.C.. Na aparência, não passava, então, de um magistrado como os outros. Era apenas o primeiro, isto é, princeps, em autoridade.
O senado concedeu-lhe muitos títulos e poderes de que já tinham desfrutado diferentes funcionários da república. No ano 36 a.C., recebeu a concessão de inviolabilidade de um tribuno plebeu e, em 30 a.C., recebeu os poderes de um tribuno, com o qual passou a ter o poder de veto e controle sobre as assembleias. O senado também lhe concedeu a máxima autoridade nas províncias.
Em 29 a.C., recebeu o título de imperator (comandante-em-chefe das forças armadas). Em 28 a.C., recebeu o título de princeps senatus. No ano 27 a.C., o senado romano deu a Otaviano o título de augusto - "consagrado" ou "santo" - que mais tarde se converteu em sinónimo de imperador. O título passou desde então a identificar seu próprio nome e como "augusto" tem sido reconhecido pela história. A partir do ano 23 a.C., Augusto renunciou também ao consulado, guardando apenas a qualidade tribunícia, que lhe foi conferida em caráter vitalício. Morto Lépido, tornou-se máximo pontífice, com controle sobre a religião, a pedido do povo. O seu poder era, assim, fundado de certo modo no consentimento geral. Apesar da sua preeminência, como bem o mostram os títulos de príncipe ou primeiro cidadão e imperador, Augusto teve o cuidado de não levar demasiado longe as prebendas da monarquia, porém a sua autoridade era de facto a de um monarca absoluto.
Após a batalha de Filipos, Otaviano conheceu o poeta Virgílio e passou a financiar sua arte. Além de Virgílio, o historiador Tito Lívio, o arquiteto Vitrúvio, os poetas Horácio e Ovídio foram protegidos por Augusto e pelo seu ministro Mecenas. Por isso, no plano cultural o século de Augusto foi muito produtivo e cheio de promessas criadoras, inaugurando uma época clássica para a arte europeia, um classicismo latino que, ainda na Renascença, mil anos depois, estava dando frutos. Augusto fundou bibliotecas públicas; a literatura latina, primitivamente, influenciada pelos gregos, adquiriu independência e se tornou uma das mais brilhantes do mundo ocidental.
Conservador e austero, Augusto fez um governo de ordem e hierarquia. Lutou contra a decadência dos costumes, reorganizou a administração e as forças armadas, tornando-as permanentes e fixando-as nas fronteiras. Como adepto das virtudes romanas em tempos em que era cada vez maior a tolerância, tentou controlar a moral pública mediante a aprovação da lei suntuária e do casamento. Criou organismos governamentais (conselho do príncipe, prefeitos), dividiu Roma em 14 regiões, para facilitar o censo e a cobrança de impostos, reorganizou a administração das províncias, dividindo-as em províncias senatoriais e províncias imperiais, medidas que tiveram como resultado o aumento da centralização. Em Roma e na Itália esforçou-se para fazer reviver as virtudes esquecidas das antigas tradições e religião. Deu privilégios aos pais de família e combateu o celibato. Construiu o fórum de Augusto que leva seu nome e, no campo de Marte, ergueu as primeiras termas, o Panteão de Roma e outros templos. O seu amor pela arquitetura foi revelado pelo seu orgulho em "ter encontrado Roma com tijolos e a ter deixado coberta de mármore". Elevaram-se templos à deusa Roma e a Augusto em todo o império. No âmbito económico, fomentou o desenvolvimento da agricultura na Itália e saneou as finanças do Estado.
Ordenou expedições militares, geralmente bem sucedidas, à Hispania, à Récia, à Panónia, à Germânia (onde, entretanto, seu lugar-tenente Varo foi derrotado), à Arábia, à Arménia, à África. Pacificou a Hispânia e os Alpes, conseguiu a anexação da Galácia e da Judeia e conquistou, graças a Tibério, as terras austríacas do Danúbio, que formaram as províncias de Récia e Vindelícia, mas a sua campanha na Germânia fracassou. Tibério debelou uma insurreição na Ilíria e os germanos, liderados por Armínio, aniquilaram Varo e três legiões, na Batalha da Floresta de Teutoburgo.
Augusto casou três vezes. A sua terceira esposa foi Lívia Drusilla, que já tinha dois filhos, Tibério e Druso, de um matrimónio anterior. Augusto, por sua vez, tinha uma filha, Júlia, também de um matrimónio anterior.
A tentativa de Augusto de conseguir um grande sucessor fracassou, pois o seu sobrinho Marcelo morreu jovem. Agripa, cujo casamento com sua filha Júlia ele tinha forçado, morreu em 12 a.C. Os filhos menores de Agripa morreram em 2 e 4 da era cristã. Druso e Júlia também faleceram. Restava Tibério. Adotando-o, Augusto deu-lhe participação cada dia mais ativa nos negócios do Estado. A partir de 13 d.C., Tibério tinha poderes quase iguais aos do imperador. Quando Augusto morreu, em Nola, na Campânia, em 19 de agosto do ano 14, já era o enteado quem de facto governava Roma.
A obra de Augusto foi imensa, tanto na paz como na guerra. Os quarenta anos do principado de Augusto marcaram uma das épocas mais brilhantes da história romana ("século de Augusto"). O mês Agosto foi baptizado como Augustus em sua homenagem; até então designava-se Sextilis. Após a morte de Augusto, o senado romano decretou a sua divinização, passando a ser adorado como "Divus Augustus" ("Divino Augusto"), e abrindo um precedente em Roma que seria seguido pela maioria dos seus sucessores.
Tanto os escritores antigos como os mais recentes discordam quanto à importância de Augusto. Alguns condenaram a sua cruel luta pelo poder. Outros, dentre os quais se inclui o fiel partidário da república, Públio Cornélio Tácito, reconhecem as suas boas ações como dirigente. Às vezes, os pesquisadores atuais criticam os seus métodos pouco escrupulosos e o seu estilo autoritário, mas normalmente reconhecem suas realizações no estabelecimento de uma administração eficiente e um governo estável, bem como na obtenção de segurança e prosperidade para o Império Romano.