No dia 4 de julho de 1885 Joseph, filho do padeiro Joseph Meister Anthony, como de costume vai à cervejaria
Witz na vizinha vila de Maisonsgoutte, distante alguns quilómetros, a fim de comprar fermento.
A criança, que contava então nove anos de idade, ao chegar à aldeia, foi
atacado pelo cão raivoso de Theodore Vonne, um taberneiro, que também
fora ferido levemente pelo animal; Joseph, contudo, sofreu mais
cruelmente - tendo ao todo catorze mordidelas na sua perna e braço
direito.
Segundo o seu próprio relato:
- "Passando pela povoação de Maisonsgoutte para ir à
cervejaria, de repente vi um cão de caça grande, que eu conhecia bem,
por entre duas casas, abaixando a cabeça e se atirando sobre mim.
Eu estava segurando na mão uma taça de estanho, e os cães raivosos não
gostam de nada que brilha.
Ele mordeu a minha mão primeiro e, vindo sobre mim, derrubou-me e mordeu-me gravemente nas pernas, fazendo catorze ferimentos.
Felizmente um serralheiro de Steige assistiu a cena de longe. Ele veio correndo com uma barra de ferro e bateu no cão.
Enquanto isso o proprietário chegou. Pegou o animal pelo pescoço e o trancou num celeiro, mas também foi ferido no dedo."
Enquanto a filha do taberneiro lhe cosia as calças, alguns moradores
lavaram-lhe os ferimentos. Meister foi depois, contudo, deixado sozinho
para regressar a casa e, ferido, tinha que parar a cada dez metros,
numa demorada jornada que preocupou os seus pais: a mãe, Marie
Angelique, chegou a pensar que o garoto faltara à aula, já que depois
de trazer o fermento deveria ir à escola. Mandam, então, alguém procurar
o menino.
Vendo o estado dele, ficaram apavorados e sua mãe levou-o até o
consultório do Dr. Weber, o médico da vila. Este procede à desinfecção
das feridas com
ácido carbólico mas, ante a gravidade e número das lesões, avisa que não há grandes expectativas, se fosse o caso de raiva.
Nesse momento, o proprietário do cão, vendo o seu estado agressivo, conduziu-o até
Sélestat - distante cerca de 25 km, para que um
veterinário o examine mas, no caminho, como o animal tentava atacar as pessoas, ele foi abatido por
gendarmes; Vonne continua a viagem e o cão é
autopsiado, sendo encontrados no seu estômago restos de palha, feno e madeira - constatando-se assim que estava realmente raivoso.
Vonne então, no caminho de volta, para num café onde relata o ocorrido;
ali alguns presentes contam ter lido nos jornais sobre as experiências
de um químico, o Sr. Pasteur, inoculando a vacina experimental em cães
com sucesso; ele, então, retorna à vila e, procurando os pais do
rapaz, relata-lhes o que soubera.
No dia seguinte o Sr. Vonne e a esposa do padeiro, conduzidos por um
seu familiar, partem para Paris, enquanto o pai permanece na vila,
cuidando dos negócios. Na capital francesa tiveram grande dificuldade
para encontrar o endereço de Pasteur; sobre isso Meister relatou:
- "O Sr. Pasteur tinha, naquela época, muitos inimigos,
especialmente no mundo da medicina, e tínhamos muita dificuldade
encontrá-lo.
Nos hospitais onde o procuramos queriam que ficasse por lá, dizendo que
ali eu teria cuidados iguais aos do Sr. Pasteur e que, além disso, ele
não estava em Paris.
Minha mãe, irritada, respondia que ela havia chegado muito longe para
encontrá-lo e queria saber onde ele se achava.
Uma vez que não lhe atendiam, sem dar-lhe o endereço dele, ela começou a
chorar. Vendo a sua insistência, fomos enviados para o Hotel Dieu,
onde nos encontramos com o seu diretor que finalmente nos deu o
endereço: ele trabalhava na Escola Normal, na rua d'Ulm..."
No dia 6 de julho, enfim, levam Meister a Pasteur.