Era uma esplêndida imagem
De olhos rasgados e belos;
Negros, negros os cabelos;
Boca gentil como a rosa,
Que à luz da manhã formosa
Sorri ao sopro da aragem.
Alta, graciosa, elegante,
Um ar de tal distinção,
Na figura e no semblante,
Que eu disse comigo ao vê-la:
«Como esta mulher é bela,
Sobre tudo na expressão
De palidez namorada,
Que tem na face encantada!
Esta sim, por Deus o juro,
Esta há-de ter coração!»
A estação, o sitio, a hora...
Era a hora do sol posto,
E um frouxo raio de luz
Vinha bater-lhe no rosto.
A estação o meigo outono,
Quando o prado se descora,
No bosque cessa a harmonia,
Quando tudo enfim seduz
Com vaga melancolia.
O sitio, ameno e saudoso,
Onde livre a alma podia
Dar-se inteira aos sentimentos
De paz, de amor, de poesia!
Aproximei-me da imagem
Meiga, risonha, singela;
Soltara a voz, era bela,
Bela sim, vibrante e pura,
Mas sem aquela ternura,
Sem aquele sentimento,
Que diz tudo num momento!
Sem tremor, sem sobressalto,
Voz que dos lábios saía,
Dos lábios só, que se via,
Não provir do coração;
Voz sonora, porem fria;
Bela sim, mas sem paixão.
«Pois essa gentil figura,
Esse pálido semblante,
Essa expressão de ternura
Que todo o teu ar respira,
A luz do olhar cintilante,
Diz enfim: quanto se admira,
Quanto ao ver-te nos encanta,
Será sem alma, e sem vida?!»
Sorrindo me respondeu:
«Aqui não há coração!»
Mas eu vi que ele bateu
D'essa vez precipitado
Por que a sua nívea mão
Tentou comprimi-lo em vão!
E no olhar enamorado,
E na voz que estremecia,
Oh! Deus! o que não dizia
A bela sem coração!
O Curso de Geologia de 85/90 da Universidade de Coimbra escolheu o nome de Geopedrados quando participou na Queima das Fitas. Ficou a designação, ficaram muitas pessoas com e sobre a capa intemporal deste nome, agora com oportunidade de partilhar as suas ideias, informações e materiais sobre Geologia, Paleontologia, Mineralogia, Vulcanologia/Sismologia, Ambiente, Energia, Biologia, Astronomia, Ensino, Fotografia, Humor, Música, Cultura, Coimbra e AAC, para fins de ensino e educação.
segunda-feira, março 03, 2025
Bulhão Pato, o poeta gastrónomo, nasceu há 197 anos
Retrato de Bulhão Pato, por Columbano Bordalo Pinheiro
Raimundo António de Bulhão Pato (Bilbau, 3 de março de 1828 - Monte da Caparica, 24 de agosto de 1912), conhecido como Bulhão Pato, foi um poeta, ensaísta e memorialista português, sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa. As suas Memórias,
escritas em tom íntimo e nostálgico, são interessantes pelas
informações biográficas e históricas que fornecem, retratando o ambiente
intelectual português da última metade do século XIX.
Biografia
Filho de Francisco de Bulhão Pato, poeta e fidalgo português, e da espanhola María de la Piedad Brandy, o poeta nasceu em Bilbau, no País Basco, e passou os seus primeiros anos no distrito de Deusto, na época dos dois primeiros cercos de Bilbau (em 1835 e 1836), durante a Primeira Guerra Carlista. Em 1837, depois de sofrer grandes transtornos, a sua família decide retirar-se para Portugal.
Em 1845, o jovem Raimundo António matricula-se na Escola Politécnica,
mas não completaria o curso. Ganhou a vida como 2º oficial da 1ª
repartição da Direcção-Geral do Comércio e Indústria. Bon vivant, era apreciador de caçadas, viagens, da gastronomia e dos saraus literários, na companhia de intelectuais, como Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Andrade Corvo, Latino Coelho, Mendes Leal, Rebelo da Silva e Gomes de Amorim. Com outras personalidades importantes da sociedade portuguesa da época, forneceu receitas para a obra O cozinheiro dos cozinheiros, editada em 1870 por Paul Plantier.
Aderiu à literatura ultrarromântica
então em voga, acrescentando elementos folclóricos e descrições de
cenas e tipos populares, em linguagem viva e coloquial. O poema narrativo Paquita, sucessivamente reeditado de 1866 a 1894 e que o tornou célebre, parece já prenunciar um certo realismo, enquanto a sua poesia satírica reflete uma certa preocupação social.
Em 1850, publica o seu primeiro livro, Poesias de Raimundo António de Bulhão Pato; em 1862 aparece o segundo, Versos de Bulhão Pato, e, em 1866, o poema Paquita. Publicaram-se depois, em 1867 as Canções da Tarde; em 1870 as Flôres agrestes; em 1871 as Paizagens, em prosa; em 1873 os Canticos e satyras; em 1881 o Mercador de Veneza; em 1879 Hamlet, traduções das tragédias de William Shakespeare e do Ruy Blas de Victor Hugo. Em 1881 seguindo-se outras publicações: Satyras, Canções e Idyllios; o Livro do Monte, em 1896.
Para o teatro, escreveu apenas uma comédia em um acto, Amor virgem n'uma peccadora, encenada no Teatro D. Maria II em 1858 e publicada nesse mesmo ano.
Foi colaborador em diferentes jornais: Pamphletos (1858), a Semana, Revista Peninsular, Revista Contemporanea e Revista Universal, entre outros.
Pelo seu ultrarromantismo, influenciado por Lamartine e Byron, e os seus dotes culinários, Bulhão Pato acreditou ter servido de inspiração a Eça de Queirós na composição do personagem - algo caricatural - do poeta "Tomás de Alencar", que aparece em Os Maias (1888). Ao se crer retratado no romance - o que Eça negou, numa deliciosa carta ao jornalista Carlos Lobo d'Ávila -, Bulhão Pato parece ter ficado furioso e, em resposta, escreveu as sátiras "O Grande Maia" (1888) e "Lázaro Cônsul" (1889).
in Wikipédia
Amêijoas à Bulhão Pato é um prato típico da culinária portuguesa, de origem da região de Estremadura. Alega-se que o nome deste petisco é um tributo ao poeta português Raimundo António de Bulhão Pato após este ter mencionado um cozinheiro nos seus escritos.
É um prato muito comum em marisqueiras e cervejarias, a par com a salada de polvo, salada de ovas e camarão. O prato é confecionado com amêijoas, azeite, alho, coentros, sal, pimenta e limão (para temperar antes de servir). Algumas receitas podem adicionar uma pequena porção de vinho branco.
As Amêijoas à Bulhão Pato foram um dos candidatos finalistas às 7 Maravilhas da Gastronomia portuguesa.
in Wikipédia
BELA SEM CORAÇÃO
Bulhão Pato
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