quarta-feira, outubro 23, 2024

Poema para chamar uma estação que nunca mais chega...

Outono

 (imagem daqui)

 

Olvidado en otoño

 

Eran las siete y media
del otoño
y yo esperaba
no importa a quién.
El tiempo,
cansado de estar allí conmigo,
poco a poco se fue
y me dejó solo.
Me quedé con la arena
del día, con el agua,
sedimentos
de una semana triste, asesinada.

-Qué pasa? –me dijeron
las hojas de París-, a quién esperas?

Y así fui varias veces humillado
primero por la luz que se marchaba,
luego por perros, gatos y gendarmes.

Me quedé solo
como un caballo solo
cuando en el pasto no hay noche ni día,
sino sal de invierno.

Me quedé
tan sin nadie, tan vacío
que lloraban las hojas,
las últimas, y luego
caían como lágrimas.

Nunca antes
ni después tan de repente solo.
Y fue esperando a quién,
no me recuerdo,
fue tontamente,
pasajeramente,
pero aquello
fue la instantánea soledad,
aquella
que se había perdido en el camino
y que de pronto como propia sombra
desenrolló su infinito estandarte.

Luego me fui de aquella
esquina loca
con los pasos más rápidos que tuve,
fue como si escapara
de la noche
o de una piedra oscura y rodadora.
No es nada lo que cuento
pero eso me pasó cuando esperaba
a no sé quién un día.

 

 

in Estravagario (1958) - Pablo Neruda

 

NOTA - para os que fingem que não entendem castelhano, uma excelente tradução deste poema: 



Esquecido no outono




Eram sete e meia
do Outono
e eu esperava
não interessa quem.
O tempo
cansado de estar ali comigo
a pouco e pouco desandou
e deixou-me ali sozinho.
Fiquei então com a areia
do dia, com a água,
sedimentos
duma semana triste, assassinada.

– Que foi? – perguntaram-me
as folhas de Paris. – Quem é que esperas?

E assim fui várias vezes humilhado
primeiro pela luz que se apagava
depois por cães, por gatos e gendarmes.

Fiquei só
como um cavalo só
quando no pasto não há noite nem dia,
apenas sal do Inverno.
Fiquei
tão sem ninguém, tão vazio
que choravam as folhas,
as últimas, e depois
caíam como lágrimas.

Nunca antes
nem depois
fiquei tão de repente só.
E foi à espera de quem,
não me recordo,
foi tolamente,
passageiramente,
mas aquilo
foi a instantânea solidão,
a mesma
que se tinha perdido no caminho
e num instante como a própria sombra
desenrolou o seu infinito estandarte.

Então saí daquela
esquina louca
com os passos mais rápidos que tive,
foi como se fugisse
da noite
ou duma pedra escura e roladora.
Não é isto que eu conto
mas passou-se quando estava à espera
de não sei quem um dia.




Pablo Neruda - tradução de Fernando Assis Pacheco

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