Vivem ali uns tantos cujo sangue
Vivem ali uns tantos cujo sangue
é morno
mas esfria sem demora se vertido. Incubam as crias
por longos meses. Dão-lhes um nome,
agasalho, teta.
Desfilam, vestidos de petroquímica, encaroçados
em cubos metálicos que rolam no crude
fundido, deitado sobre a terra morta.
Uns quantos, desvairados escalam pináculos,
cavalgam ondas colossais.
Outros puxam alavancas, carregam em botões,
colectam coisas, transportam sacas,
enchem recipientes.
Confinam. Formigam. Unem margens apartadas,
passadiços sobre o vazio. Percorrem túneis, tubos,
escavam buracos, tocas; queimam sem descanso a podridão antiga,
milhões de anos acumulada – tiram dela a flama
do movimento.
Tiveram outrora uma alma, ínfimo desvio
do azul
para o vermelho.
in Firmamento (2022) - Rui Lage
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